POLITICAS ESTRATÉGICAS

Nunca fui um simpatizante do governo de Eduardo Leite, sua postura politica, sempre me deixou com um pé na frente e outro atrás, seu jeito discreto e educado de bom moço, nunca me atraiu confiança. Sua posição de direita, não e a minha. Estou na contra mão dos que governam para empresários e as elites brancas deste país.  Sua saída do armário aberta na mídia, em nada modificou nem pra menos , nem pra mais, minha visão a seu respeito. Tenho a opinião de que políticos devem ser voltados aos interesses da maioria e do povo, o que não é o caso dele.
 
Leite já mostrou ser um bom estrategista dando apoio a o presidente da Republica nos momentos oportunos e se encolhendo nos mais difusos. Seu apoio a reeleição do atual presidente da republica abertamente anti-LGBT e genocida, não passa de uma jogada estratégica para disputarem a presidência onde vê chances de ser o eleito. 
 
É preciso ser muito ingênuo para não perceber que Leite quer concorrer à presidência da Republica em 2022, derrotando Jair Bolsonaro nas urnas. Seus passos calculados e sutis já estão conduzindo para este futuro embate. Uma vez que a popularidade de Bolsonaro vem declinando em decorrência de seu mal governo durante a pandemia e incontroláveis escândalos. 

As declarações de Leite me pareceram mais oportunistas do que sinceras. Em nenhum momento em suas entrevistas me pareceu um homem que se sentia aliviado por ter aberto as portas da sua liberdade sexual publicamente. Hoje é considerado o primeiro governador assumidamente gay do pais, quem sabe amanhã possa ser o primeiro presidente gay do país? 

PS:. Alguma coincidência?
Harvey MILK- (LEITE): Primeiro gay assumido, membro da Câmara de Supervisores de São Francisco.
Eduardo LEITE: Primeiro gay assumido, eleito Governador do RGS

NINGUEM AGUENTA MAIS

As mil e tantas vidas perdidas hoje no Brasil, ainda é uma altíssima estatística da dura realidade que ainda se segue, sem uma data marcada para terminar. As sequelas causadas pela doença, dos que conseguiram sobreviver, ainda são obscuras, mas sentidas no corpo e na alma. 

Nosso trabalho, rotinas, e hábitos de vida mudou, nos obrigando a ter uma vida muito diferente da que tínhamos e estávamos acostumados a usufruir. Muitas pessoas além de perderem grande parte da família, ainda perderam seus empregos. Tá difícil comer e manter uma vida digna neste país.

Ficamos ilhados em nossa cidade, nosso bairro, nossa casa. Não usufruímos mais de festas, praças, parques, praias, cinemas, teatros e mesmo que quiséssemos e pudéssemos sair de casa, como pagaríamos por estes lazeres que parecem não nos pertencer mais? Nos submetemos ao confinamento e a ver a vida numa tela de um computador ou televisão. Ninguém aguenta mais.

Alguns dizem que estamos entrando numa nova era, de novos valores, de diferentes formas de viver, de amar, de se relacionar com o meio ambiente, com o mundo, com nós mesmos.

LUGARES INCRÍVEIS


O sonho esta noite passada, de que eu estava viajando para algum lugar do mundo, me trouxe a lembrança, as palavras de uma amiga, (Alba), tentando me convencer a ir com ela para Machu Picchu a alguns anos atrás. Ela me disse bem assim: -Vamos Bebê é agora ou nunca, ou subimos a montanha agora, ou não teremos outra oportunidade. Estaremos velhos e nos faltará força, resistência, ar, saúde!..
Graças a Deus que depois de alguma resistência, eu lhe dei ouvidos. Depois subi mais uma vez com meu filho, conhecendo também o Lago Humantay por um pedido dele.
Este lago é formado pelo desgelo de algumas montanhas ao seu redor, dando-lhe este aspecto cristalino e de cor azul, que parece uma foto tratada por fotoshop de revista. 


Além das maravilhas naturais, o país é lindo, a cidade é acolhedora, as montanhas magnificas, os rios turbulentos, os lagos transparentes, os precipícios assustadores, a simplicidade do povo e a misticidade que se faz presente em todo os momentos, me faz eleger Cusco no Peru, o mais incrível dos lugares que já conheci.


Se os cânions daqui do Rio Grande do Sul, já nos dão aquele friozinho na barriga por sua beleza e profundidade, imagina o Cânion Colca, de 4 160 metros de profundidade nas proximidades de Arequipa e Chivay. É o mais profundo do mundo, com mais do que duas vezes a profundidade do Grand Canyon, nos Estados Unidos. É também a morada dos condores, ave típica que sobrevoam a região.
O condor foi considerado pelos incas um “mensageiro dos deuses” e simboliza a força, a inteligência e o enaltecimento.

PRETO POBRE E PUTO

Conheci Nega Lu, a o acaso no vernissage de um amigo, Will, Cava ou Cavalcante. Chegou como se diz, chegando: Usava sobre o corpo uma miscelânea de estilos e gêneros, sandálias feminina, calça jeans, uma jaqueta sobre uma camiseta, os braços cheios de pulseiras e um estranho chapéu de rafia com algumas  flores e tule. Assim era o visual da Nega Lu, nunca se sabia o que ela vestiria, para chamar atenção das pessoas com quem se relacionava nas noites boemias e artísticas de Porto Alegre. As vezes surpreendentemente aparecia com um simples tênis, camiseta e uma calça jeans e estava pronto para discutir, retrucar com pequenos deboches e  muito humor as opiniões filosóficas, culturais e politicas do mundo cão.

Negro, pobre e gay, desfilava pelos circuitos gays, culturais e políticos da cidade como o Doce Vicio onde era garçonete, o Copa 70, na Esquina Maldita  onde puxava um coro de bêbados entoando o clássico Summertime. Puxava uma mesa daqui e outra dali, e o palco já estava montado para um rápido recital de jazz à capela sobre o tablado montado às pressas. Nega Lu deixava os espectadores alucinados com seu vozeirão grave e afinado. 

Foi solista da OSPA e da UFRGS, crooner da Rabo de Galo banda de blues na década de 80, dançarino do Balé Clássico nos anos 60, Porta bandeira da Banda do Saldanha e ainda falava um pouco de francês que aprendeu quando aluno da Aliança Francesa de `Porto Alegre. Nega Lu deixou seu nome registrado na memória afetiva de Porto Alegre e agora virou livro. Sim, livro que fala de sua trajetória como um percussor das mudanças sociais e comportamentais que ainda hoje se consolidam na cultura moral do país e das pessoas ditas "De Bem". 

Nega Lu se dizia vitima dos três pês: Preto, pobre e puto. Nega Lu virou livro contada pelo escritor o autor, Paulo César Teixeira com titulo de, "Nega Lu - Uma Dama de Barba Malfeita", Se você nunca ouviu falar da Nega Lu,  assista AQUI no Youtube
Luiz Airton Farias Bastos, (seu verdadeiro nome), faleceu em 17 de setembro de 2005, dois meses antes de completar 55 anos, de complicações cardíacas.


O CHICO E A NET

Depois da visita de um veterinário conhecedor do funcionamento psicológico e emocional dos felinos, aqui na minha casa, passei a entender melhor as atitudes enlouquecidas do Chico, que é gato jovem e cheio de energia pra por pra fora. Desta forma, eu entendo, que não posso brigar ou ir contra o seu desenvolvimento natural.

Esta manhã depois de acordar e se espreguiçar de forma invejosa, como fazem os felinos, resolveu jogar basquetebol  sobre a minha cama e usando como bola, com um pequeno  pedaço de bolacha. Acontece que suas unhas afiadas arrancam não só a lã das tramas dos cobertores, como rasgam as cobertas mais lisas e finas, me causando prejuízo a não tão longo prazo. 

Mas como dizer isto pra ele e faze-lo entender?. É o mesmo que tentar convencer a NET, de que você não quer mais o serviço deles:  Te ignoram solenemente! É a vida que prossegue ao ritmo, mate-o pelo cansaço!

VOZES DO INTERIOR:


Um amigo do Facebook, postou uma frase, que me causou um certo impacto nesta manhã, fria de inverno, quando acordei com os pensamentos ainda revirados, retorcidos como as cobertas.

A frase que parece ser de autoria do pintor holandês Vincent Van Gogh,  diz o seguinte: Se escutar uma voz dentro de você dizendo 'Você não é pintor', então pinte sem parar, de todos os modos possíveis e aquela voz será silenciada.

Nossa, eu tenho tantas vozes dentro de mim, que por vezes falam, gritam, murmuram: A da razão, a do coração, a da intuição e esta outra voz de quem é? Como reconhece-la entre tantas?..


O VALE DAS BORBOLETAS AZUIS


Foi numa manhã de Outono, que a natureza com todo o seu mistério e beleza, resolveu presentear eu e minha amiga Alba, com algo absolutamente inesperado. Subíamos cautelosos a serra, por causa da espessa neblina que cobria tudo, deixando-nos com pouca visibilidade, quando percebemos nas proximidades de São Francisco de Paula, cidade que temos maior apreço por sua característica simples e interiorana, além da extensa mata de araucárias e cascatas escondidas, que o asfalto começou a ficar recoberto de pequenas folhas azuis e brilhosas que pareciam lantejoulas. 

Era como se um tapete bordado, fosse colocado sobre a estrada deixando-nos maravilhados. Em seguida aquilo que pareciam folhas começaram a se mexer e também a cair das arvores sobre o para-brisas, mostrando-nos que se tratava de centenas de borboletas azuis que voavam na estrada na nossa direção, colidindo contra o carro. A borboleta é considerada o símbolo da transformação. Entre outros, simboliza felicidade, beleza, a alma, inconstância, efemeridade da natureza e da renovação. Ficamos boquiabertos, admirando aquela imagem do outro mundo, enquanto nos perguntávamos de onde tinham vindo tantas borboletas. Aquela imagem que lembrava uma cena de filme de fadas, gnomos, nunca me saiu da cabeça.



QUAL É A SUA LUTA

Você já se deparou algum dia na frente de um espelho e se perguntou qual é a sua luta? Pelo o que você briga?  O que você defende? E o que tem a dizer, para as pessoas sobre esta sua luta?

Talvez você tenha uma forma lúdica de expressar suas ideias, de defender suas verdades e isto também é uma forma de luta em defesa de outras novas e diferentes visões e pensamentos.

Se você não tem nada pelo que lutar, é melhor esticar-se no sofá da sala e assistir a um programa de gincanas na televisão, para diminuir o seu stress e ter a sensação de que pelo menos algumas pessoas tem sorte nesta vida.

ADÃOZINHO DO BARÁ



Existiu um Pai de Santo, dito muito poderoso chamado Adão, que morava perto da minha casa na Vila Sta. Isabel em Viamão e sempre que havia festas abertas ao publico, em seu terreiro, minha amiga Maria Helena me convidava pra ir com ela e eu amava aquilo tudo. A festa, as batidas de tambores, as danças em círculos, as danças dos orixás, as cores, as roupas, os brilhos, a comida que se comia com as mãos, tudo tinha um fundamento de santificação que me encantava. 

Todo o misticismo que envolvia aquele ambiente, me transportava mentalmente através de um fio condutor, para lugares sincréticos, mágicos, misteriosos, que eu acreditava ser a África, terra de meus ancestrais de que sempre fui ligado, através de revistas, jornais etc... 

Adão era um homem negro, magro, de estatura baixa, razão pela qual, os mais íntimos, chamavam-no de Adãozinho do Bará. Era da Nação Cambinda e batizado como ADÃOZINHO DE EXU BARÁ AJELÚ BIOMÍ. Seus conhecimentos e sabedoria deram-lhe fama e respeito no meio religioso, transformando-o dentro do batuque, (como é chamada a religião de matriz africana, aqui no Sul), num ícone por seus fundamentos e conhecimentos dos mistérios dos orixás. Adãozinho do Bará, faleceu em 1995 deixando um grande legado à religião africana e seus sucessores.

CUIDADOR E SEU PASSARINHO


Ontem fui convidado para jantar com amigos; Um carreteirão divino, vinho, fogão à lenha aceso, musica de fundo, mas antes que eu percebesse, já tinha caído na cilada daqueles bate-papos baixo astral e que muita gente adora falar na condição de vitima e os outros aplaudem por identificação.

Tem certas conversas, que não dá mais para se permitir ouvir, e a gente só ouve a contra gosto por que está cercado de pessoas que também alicerçam suas vidas, no mesmo pensamento errôneos de que pais devem proteger seus filhos com unhas e dentes pelo resto de suas vidas. 

Esta conversa chata entre pais super protetores de filhos já adultos, que são tratados como crianças desprotegidas e destratadas pela sociedade, não passa de culpa, muita culpa desde o seu desenvolvimento dentro da barriga. 

De um lado temos filhos extremamente dependentes, indecisos, despreparados e presos a o conforto e a proteção dos pais e do outro lado, pais doentes, infelizes e frustrados que nunca se permitiram buscar a própria liberdade e felicidade, em função de seus filhos. Eis ai o laço feito de interdependências, de circulo viciosos, de mutua dependência destrutiva, que nunca vai se desfazer, se uma das partes não cortar o laço, ou cordão umbilical.

Uma convidada começou a falar da relação com seu filho de trinta anos, que ela suava para pagar a faculdade e do seu desgosto quando ele informava que dormiria na casa da namorada. Ora!.. Eu pensei, um homem de trinta anos que não transa com a sua namorada, pra ficar do lado da mãe, deve estar com algum problema. Mas uma mãe que deu seu sangue por quase toda a sua vida, para o sustento do filho e ainda tenta mantê-lo debaixo de suas asas, é no mínimo uma egoísta, que não o preparou pra vida e que sente culpa, muita culpa, desde o momento que o pariu.

Penso que este tipo de relação mãe e filho, deveria ser como a de um cuidador e o seu passarinho machucado, depois de tratar, cuidar, alimentar, chega a hora de pega-lo na mão, leva-lo até o portão e abrir dedo por dedo, para que ele voe para a liberdade. Se não for assim o ciclo não se completa.


DANÇANDO EM VENEZA

Em 2018, estávamos eu e minha amiga Rose caminhando na Praça São Marcos em Veneza, quando percebemos a movimentação de alguns músicos sobre um palanque improvisado, se preparando para um possível espetáculo de musica a o ar livre. 

Nos aproximamos impressionados com a quantidade de instrumentos dourados e um ostensivo piano branco de cauda e logo começaram a tocar um jazz daqueles pegados. Eu embasbacado com todo aquele clima de blue/jazz Nova-iorquino, liberei meu impulso de coragem latino e tirei a Rose para dançar entre os transeuntes estrangeiros que se batiam entre si olhando vitrines. Dançamos até o final da musica sob os olhos curiosos e surpresos dos músicos e de algumas pessoas que passavam. Foi libertador!

Depois pensei comigo, rindo em silencio: Isto só podia ser coisa de brasileiro. Somos empolgados, comandados por estranhos impulsos que nos faz reconhecer a alegria ou qualquer outro sentimento, reagir na pele em qualquer lugar em que estamos. Tudo é tão instintivo, que faz nosso corpo tomar atitudes sem perguntar pro cérebro antes. Se fosse no Brasil e ouvíssemos o estampido de um tiro, nos jogaríamos no chão, sem pensar duas vezes.

NUM DIA DE DOMINGO


Tem dias como o de hoje, que eu tenho vontade de escrever somente bobagens, de encher este blog com coisas absurdas e irrelevantes, de ser mal educado, de mandar o vizinho chato ou esnobe, tomar no seu precioso cu, de chegar na janela escancarada do meu apartamento e expor minha bunda pra quem quiser olhar e se escandalizar, de perguntar bem alto, quase gritado, para quem passa: O que está acontecendo com vocês e comigo, que não tomam nenhuma providencia?

As pessoas iriam aos poucos se acumulando e possivelmente não intenderiam meu real motivo, para uma atitude tão descabida e nem de que "providencia" eu estaria falando.  Depois de algum consenso, iriam quem sabe, chamar a policia por atentado ao pudor e se aglomerariam na calçada com tantos outros, para assistirem a o desfecho da minha cena de mal gosto e esqueceriam de se perguntarem, de que "providencia" eu estaria falando. Perderiam o foco da minha revolta por uma simples curiosidade coletiva. E eu? Bem, eu diria apenas: Um péssimo Domingo à todos, para que tomemos alguma providencia!

SOU UM ENFILTRADO.


Ás vezes penso que se eu tivesse o poder de saber o meu futuro, preveniria tantos erros cometidos no passado, quanto as angustias geradas pelas incertezas do presente. Os acertos seriam sempre como um chute certeiro de Pelé  à gol e os erros perceberia antecipadamente para evita-los. Por outro lado eu não seria tão pulsátil, tão cheio de obscuridades e erros, que só me fazem crescer como individuo. Um dia já cheguei a pensar que eu era um extra terrestre infiltrado no planeta, enquanto chupava laranjas no pomar de uma vizinha. Mas esta é outra historia pra ser contada!..

O GATO ENLOQUECEU:

Chico acordou enlouquecido. Desde que amanheceu o dia, corre pelo quarto de olhos arregalados, orelhas baixas e o dorso em forma de ferradura. Pula pra janela que agora tem tela e emite um som que não é miado, está mais pra um rugido de filhote de leão.

Será que é a chuva que está caindo lá fora, nos impedindo de ver o sol, de sair pra rua e ver as pessoas, outros bichos, o mundo? Será que esta pandemia está influenciando psicologicamente até  os inocentes gatinhos?

A PERFEIÇÃO É UMA META

Meus ensaios com os músicos, Gian no trompete, Wagner no 7 cordas e Cândido na percussão, tem sido tão produtivo quanto prazeroso. Tive a sorte de encontrar na minha caminhada, músicos competentes, que ajudaram no meu processo de crescimento com a musica, e mais que isso, conseguiram abrir em mim uma portinha que a muito, eu mantinha fechada com trancas e ferrolhos, que é a confiança em mim e nas pessoas que me rodeiam sem vê-las como adversários. 

Tenho meus fantasmas, minhas inseguranças e minhas exigências pra tudo que eu faço e esses músicos em especial, com muita paciência e sabedoria, conseguiram estabelecer diálogos para um senso comum no grupo, me pondo à vontade e verdadeiramente satisfeito. Isto é imprescindível para que alcancemos  os objetivos que queremos. 

Daí, que eu lembrei desta historinha, lida em algum lugar: |Deus deu para o homem como meta, a perfeição, mas estabeleceu como prazo a eternidade e como companheira dessa caminhada a paciência|. A eternidade é a única coisa que o homem não possui.|

LEOPOLDINO


Sabe aquelas pessoas que vivem rindo à toa, que ri da vida, das pessoas, das piores historias contadas como se tudo fosse uma piada? Assim era meu tio Leopoldino, de terceiro ou quarto grau familiar e que eu não o sentia como um tio, mas aquele camarada que sempre  tinha conversa pra tudo, até pra encher linguiça, se fosse o caso!..

Não lembro dele mais jovem, nem tão pouco, de ter percebido durante nossa convivência, aquelas mudanças graduais, que o tempo desenha nas pessoas, transformando-as em outra. Sim, o tempo nos transforma em outra pessoa!

Parecia sempre o mesmo homem, de traços cansados e olhos que buscavam o horizonte com certa tristeza nunca revelada. Passava as tarde sentado num banco de madeira sobre a calçada, uma boina de lã que raramente tirava da cabeça e uma bengala onde apoiava as duas mãos que com o tempo foi substituída por duas muletas. Sussurrava alguns sambas que só mais tarde vim a identifica-los.

Minha mãe contava, que quando jovem, ele perdera a metade do pé direito num acidente de bonde. Foi pular com o bicho de ferro andando, caiu com o pé sobre o trilho e a roda amputou todos os dedos como uma navalha afiada. Diabético, nunca conseguiu cicatrizar a ferida que ficou crônica e também o levou deste mundo. 

INUTIL PAISAGEM


Estou ensaiando neste momento a musica Inútil Paisagem do Tom e Aloysio de Oliveira registrada por Elis... no álbum Elis & Tom com gravações realizadas entre 22 de fevereiro e 9 de março de 1974... em Los Angeles.

Claro que eu já ouvi o disco centena de vezes, mas é sempre bom lembrar a beleza desta obra e em particular esta musica que me emociona demais. Eu fico me perguntando em que grau de  emoção e sensibilidade vive uma pessoa que compõe/escreve uma maravilha destas. É de uma profundidade poética e beleza, que não tem explicação.

Mas,.... pra quê?......... Pra quê tanto céu?... Pra quê tanto mar?.. Pra quê?..
De que serve esta onda que quebra, e o vento da tarde?.. De que serve a tarde?.. Inútil paisagem!

Pode ser....  que não venhas mais!  Que não voltes nunca mais!
De que servem as flores que nascem pelos caminhos?.. Se o meu caminho. Sozinho é nada! Nada!

MINHA TEORIA SOBRE ETS


Sempre acreditei na existência de seres extra terrenos mais inteligentes do que nós, espalhados pelo planeta, cruzando pela gente nas ruas, subindo em ônibus, descendo escadas rolantes, nos encarando estranhamente de um canto, de um restaurante ou supermercado. 

Não são anjos de asas mandados para nos proteger, mas seres diferenciados, sensitivos com poderes mentais capazes de se comunicarem por telepatia, lerem nossos pensamentos, entrarem em nossos sonhos e outros métodos não convencionais. 

Foram mandados pra cá com o objetivo de conhecerem a raça humana, se relacionarem e obterem  informações, de como funcionamos. Muitos híbridos, vivem entre nós com a aparência humana tentando interagir sem serem por nós identificados. 

Querem invadir nosso planeta? Quem sabe!.. Nos estudar? Talvez!.. É apenas uma teoria conspiratória? Pode ser! Mas que o mundo está cheio de coisas estranhas e inexplicáveis; Isto é uma verdade!



TATI A GAROTA DA MINHA RUA

Tati era uma garota que conheci na minha adolescência, quando mudou-se pra minha rua, numa casa simples com  quarto, sala e banheiro. Em pouco tempo fez amizade com toda a gurizada da rua que se sentiam orgulhos, machos com sua presença chamativa e exuberante. 

E quem não queria estar por perto daquele mulherão linda e perfumada que deixava alguns vizinhos de olhos esticados e outros de cara torcida? 

Tati nunca escondeu de ninguém o que fazia à noite, naquelas boates chiques de Porto Alegre, que nós sem um tostão no bolso, jamais poderíamos frequentar.

Nos finais de semana, quando tínhamos competição de voleibol com times de outras escolas do bairro, nos acompanhava como animadora de torcidas, nos deixando orgulhosos e felizes com sua presença. Era tão linda, que tirava a atenção dos nossos rivais embasbacados com sua beleza e simpatia. Evidentemente torcia por nosso time e estimulava cada um de nós enquanto jogávamos. Foi sem duvida a responsável por todos as nossas vitórias, naqueles tempos de glória, que não voltam mais. 


NO TEMPO DOS HOMENS

Vou vivendo este tempo de transformações, de vida recortada de fatos e acontecimentos que não entendo e sonhos que eu não decodifico, mas que vem das profundezas de mim, fazendo pequenos estragos e contrapontos ao que entendo e controlo. 

Quando exteriorizo, através de palavras, ou de algumas expressões que me identifico, minhas neuroses, parecem se abrirem a um esclarecimento. Fica mais leve e iluminado dentro de mim. Como se ascendessem candeeiros pelos caminhos obscuros.

Transferir estas emoções em palavras, em canto, significa uma forma intensa de esvaziamento de coisas que necessitam nivelamento do terreno mental, para o plantio de novas experiências. Faço isto porque é preciso morrer e nascer de novo, quantas vezes for necessário, ainda que no tempo dos homens!

TODA A MULHER É MEIO LEILA DINIZ

Minha vida social na adolescência se deu integralmente na esquina da rua onde morava com os meus pais. Nela se reuniam eu e mais quatro garotos que beiravam entre os doze e quatorze anos de idade e que tinham como teto para competir sabedoria e esperteza, o imenso céu estrelado nas noites de verão, Quando extrapolávamos com gargalhadas ou mesmo falando alto, um ou outro vizinho gritava de sua casa: -Vão pra casa dormir seus vagabundos, aqui tem gente que trabalha amanhã cedo!..

Discutíamos e disputávamos tudo, desde cenas de filmes de cowboy,  os personagens mais corajosos dos filmes de guerra, os heróis com maiores poderes extra humanos, quem cuspia mais longe, até os imaginários sonhos com garotas que nem sabiam da nossa existência. 

Um dia me encantei por uma garota da televisão, que eu não podia contar pra ninguém. Ela não era o tipo de garota, que se contasse estar apaixonado. Minha mãe a detestava, dizia que era vulgar, desbocada e que falava tudo que lhe vinha na cabeça, com a naturalidade de uma mulher sem classe. Eu descordava disso e cada vez que a via e ouvia tal garota, mais, me sentia preso nas malhas de sua sedução, que não eram dirigidas somente pra mim, mas para tantos quantos, se permitissem ouvi-la falar de suas fragilidades de mulher e desejos de liberdade não aceitas. 

Gravida, numa tarde de sol, ela resolveu tomar banho de mar e virou um escândalo nacional, uma ofensa para as famílias de bem e de conduta social respeitáveis. Foi flagrada, fotografada com sua enorme barriga saindo do mar. Mulheres até então, não eram tão explicitas, não falavam abertamente sobre sexo, não mostravam suas barrigas gravidas publicamente, como não denunciavam assédios sofridos, muito menos por a boca no mundo como ela fazia.

Depois de algum tempo, minha paixão foi se acalmando, se transformando em admiração, meus interesses tomando outros rumos e meus amigos, substituídos por outros. Numa manhã fria de 1972, soube que ela havia partido e se calado para sempre, com a queda de um avião na Índia. Hoje toda a mulher que não se cala e se reconhece, é meio Leila Diniz.

A ESQUINA MALDITA

Poucos sabem que existiu aqui em Porto Alegre city, a Esquina Maldita, localizada no cruzamento da Avenida Oswaldo Aranha com a Rua Sarmento Leite. Entrou para a história da cidade, como um lugar de transgressão e debates políticos/sociais e culturais, num dos  períodos mais obscuro em que passou nosso país, a ditadura!

Entre as décadas de 1960 e 1970 nesta esquina, surgiram quatro bares: O Estudantil (1959), o Alaska (1965), o Copa 70 (1970) e Mariu’s (1975). Localizada diante do Campus Central da UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a área em torno da Esquina Maldita, tinha uma alta concentração de residentes universitários, artistas e intelectuais. 
Esse público, em sua maioria jovem, durante a ditadura militar, tinha seu ponto de encontro nesses bares, onde acirravam-se os debates sobre política, mas também sobre as mudanças sociais, comportamentais e culturais que os tempos traziam. 

Havia uma clara conexão entre esses bares e os bares do campus universitário e com os diretórios acadêmicos, onde a politização era intensa. Entre os jovens a participação contribuía para definir identidades e alianças tanto afetivas e sociais quanto ideológicas. Criava-se um espaço de expressão de ideias, símbolos e anseios que estavam sendo reprimidos ou estavam sendo articulados como novidades. 

Havia um certo cuidado entre seus frequentadores, que costumavam usar códigos cifrados para disfarçar os conteúdos das conversas, especialmente em presença de suspeitos e estranhos. 
O apelidado de Esquina Maldita, deu-se pelas autoridades policiais da época, que o consideravam um local de agitação, baderna e subversão ao sistema politico vigente.

MITOS DA INFANCIA

No quintal da minha casa, existia um pequeno pomar, onde todas as frutas eram aproveitadas por minha avó. Da casca a o bagaço, ela desenvolvia doces, sucos, farinhas e ate adubo para que a vida seguisse seu ciclo natural. 
O que nos proibia era de comer melancia com uva, pois segundo ela, empedrava na barriga. Dizia que a morte era lenta e dolorida, se comêssemos as duas frutas juntas. Minha mãe e tios, também tinham a mesma crença, que possivelmente receberam de minha avó. 
Quando me senti meio adulto, com isto a desenvolver dúvidas e questionamentos sobre tudo na vida, resolvi aplicar o teste do  "São Tomé" ou do “Ver para Crer”
Peguei da geladeira uma pedacinho de melancia, um pouco mais que uma colher de sopa, quatro bagos de uva e mandei ver, meio que assustado. Fiquei atento a tudo que pudesse me acontecer, observando a cada segundo, qualquer reação que pudesse ter na barriga, e nada...
Quando percebi, depois de algum tempo, que nada tinha acontecido, veio a certeza de que eu não morreria envenenado e que certas histórias contadas, nada mais são do que mitos sem fundamento. Saí gritando pra todos os meus irmãos sobre o meu feito, que nunca confiaram, dizendo que apenas tive sorte e que não comi o suficiente. Até hoje, depois de adultos, devem se recusar a comer as duas frutas junto.

GATOS E SUA ARTE DE ENGAMBELAR HUMANOS:

Chego do trabalho e surpreendo o Chico na minha cama. Abre uma frestinha do olho, fingindo que está fechado e que nem me enxergou entrando dentro do quarto. 
Encolhido nas dobras do cobertor, deste final de tarde fria, levanta, se estica, depois vem na minha direção bocejando com aquela cara de.., "não sabia que vc tinha chegado" e já começa a miar como se estivesse desesperado de fome. 

Sim, "fome", porque gatos não são como cachorros, que fazem festa na chegada dos donos e só depois vão reivindicar comida. 
Gatos pensam primeiro na própria barriga e só depois de alimentados, vão esfregar suavemente o corpo peludo nas tuas pernas, ronronando, pra dizer que gostam de ti. São incrivelmente egoístas e verdadeiros artistas na arte de engambelar. 

TENSÃO PANDEMICA

Ando tenso neste momento e acredito que não estou só neste sentimento que me amarga os dias. A pandemia me deixa tenso, tenso com a grande quantidade de mortes comprovadas, com gente passando fome, com o isolamento social, com as politicas ineficientes e muita corrupção envolvida, com a falta de vacinas, com o custo de vida altíssimo e o congelamento compulsório de salarios  sem nenhuma proposta de reposição. 

Li hoje uma notificação de conversa na Internet, que me deixou ainda mais tenso. 
-Hã?.. As vacinas só te imunizam por um prazo de seis meses, depois tem que vacinar de novo?..
-Sim, né!.. Ninguém sabe, da sua eficácia a longo prazo!.
-Olha: Morrendo os idosos, diminui o déficit da previdência; Morrendo os doentes crônicos, diminui os gastos do SUS; Morrendo os índios, a terra fica livre para a exploração. Nada no mundo dos homens é por acaso!

Coisas assim, faz eu me sentir como um passageiro num avião, que começa  a tripidar e fazer ruídos estranhos, Dai alguém pergunta pra aeromoça o que está acontecendo, e ela responde: Calma senhor, está tudo sobre controle, estamos trabalhando nisto! Será que estou entrando na teoria da conspiração?





A HISTÓRIA DE IONE FERREIRA

Ione Ferreira era uma amiga de minha mãe; Uma mulher  charmosa, elegante, linda, negra,  que quando chegava no portão lá de casa, seu perfume de fragrância agradável, espalhava um cheiro maravilhoso pelo pátio como flor de jasmim ao anoitecer.

Até na cadeira onde sentava, carimbava aquela deliciosa fragrância, estonteante que não me saia das narinas desacostumadas aos bons cheiros da vida. Usava sapatos de salto altos, coloridos, com meias de seda, taiers de linho que pareciam ser costurados no próprio corpo. Cabelos lisos bruxados para traz, finalizando um coque bem acabado e perfeito. Boca bem delineada por um batom vermelho, porem discreto, anéis, brincos, pulseiras, colares, tudo do maior bom gosto. 

Ione não devia ser, pelo menos para mim, não se parecia com uma simples lavadeira como minha mãe, que se vestia com roupas mais simples. Tinha ares de secretaria executiva, estudada, esclarecida. Era casada com Wilson, a quem amava e tinha um casal de filhos ainda pequenos. 

Foi até a minha mãe, por que precisava se aconselhar, dividir um problema que parecia não conseguir resolver sozinha. Estava grávida e não podia ter outro filho, a situação financeira não era favorável e seu marido ainda continuava desempregado...

Neste dia, com minha mãe, houve cochichos que eu não pude escutar, nem tão pouco entender. Ione caminhava pela casa nervosa, lamentava e chorava. Falavam em dinheiro, que tudo aquilo era arriscado e também muito caro, mas que não encontrava outra solução. Minha curiosidade crescia com minha imaginação. Eu não entendia aquelas frases soltas, sem sentido, algumas palavras que nunca ouvi na vida. Tudo me parecia uma conspiração, que eu não sabia de que lado estavam os mocinhos e os bandidos.

Ione foi embora comentando que tudo daria certo. Passado alguns dias, minha mãe chorava disfarçadamente pelos cantos da casa. Acho que não podia chorar na minha frente, mães não se despedaçavam na frente dos filhos demonstrando fraqueza. Mães eram de pedra que saiam leite. Mães eram fortes e silenciosas como santas de madeira de lei. 

Quando se trocou no final da tarde, com uma roupa simples e discreta, olhos meio inchados, dizendo que Ione estava morta, eu me espremi num canto da casa tentando entender. Na verdade, passei anos sem conseguir entender!..

PERSEGUINDO LUPICINIO


É fato que eu e um amigo, ainda novinhos, saindo da menor idade, percorríamos as noite porto-alegrense em busca  do paradeiro de Lupicínio Rodrigues, que sabíamos, fazia também suas incursões  pelos botecos da cidade, dando palhinhas de seus sambas Dor de Cotovelo, com sua inseparável caixinha de fósforos. 

Andávamos de bar em bar, madrugada à dentro, até encontra-lo e ficarmos completamente hipnotizados com sua presença simpática e voz doce.  Nas noites em que não o encontrávamos por pura falta de sorte, acabávamos em outros bares, (menos ou sem nenhuma exigência com a data de nascimento registrada em nossas carteiras de identidade) para ouvir outros dois mestres da musica: Plauto Cruz e Tulio Piva, que passou a tomar o lugar de destaque no coração do meu amigo, com a criação do samba Pandeiro de Prata, que ele considerava uma obra de arte.



Nunca trocamos uma única palavra com Lupicínio, por que tínhamos consciência da distancia entre os dois mundos que nos separavam. Ele um homem maduro, vivido, poeta, com uma grande carga de experiência pessoal e cultural que pra nós era inconcebível, inimaginável qualquer dialogo entre o Céu (ele) e a Terra (nós). Mas acredito que pela nossa insistência em persegui-lo pelos bares, deve um dia ter se perguntado sobre as nossas constantes aparições nos mesmo lugares em que frequentava.

Seu Hélio, pai deste meu amigo, era um boêmio incorrigível que passou grande parte de sua vida entre o Brasil e New Orleans, cidade de raiz cultural negra como o blue-jaz, conhecia praticamente todos os donos e funcionários de bares e botecos de Porto Alegre, como o Adelai's Bar, o Chão De Estrelas - na Rua José do Patrocínio, e o Gente Da Noite - na Av. João Pessoa; sendo assim; um aceno de positivo 👍ou um alô antecipado dele, garantia nossa entrada, sem grandes burocracias e perguntas.  
Quando nos apertávamos com a comanda, colocávamos na conta dele e tudo certo.

Outro "figuraça", que encontrávamos algumas vezes nestes lugares e que com o passar do tempo foi virando aquele amigo de bar que conta suas façanhas causticas e amorosas, foi o estimado Paulo Santana que nos deixou saudosos de sua alegria. Mas isto eu conto noutro post!



O ESCALER DO TONINHO

Nestes dias de grandes tristezas e insegurança no amanhã, é sempre bom lembrar de sonhos, por que sonhos acabam, mas não envelhecem!

Guaraci Rodrigues, um amigo de muitos anos, foi quem convidou a mim e um grupo de amigos, todos de relações em comum, para conhecer o bar do Toninho, um colega dele da Marinha Mercante, com jeitão de boa-praça, que passou 12 anos de sua vida juntando uma parcela de seu salario, para construir o sonho de sua vida. Um bar/ lancheira na farta flora do Parque da Redenção, que nesta época já era considerado um local de relativa periculosidade à noite, pela precariedade de iluminação pública. E quem foi que disse que sonhos envelhecem e não se realizam?.. O bar/lancheria, não sé deu certo, como entrou pra história na vida dos portoalegrenses



O Escaler, inaugurado no dia 24 de Outubro de 1982, às margens do histórico parque, na antiga peixaria Guaíba, no pequeno Mercado do Bom Fim, foi batizado de com este nome, por significar bote salva-vidas (palavra bem familiar na vida do Toninho que por anos fez uma rota marítima mar à fora, mas que pra nós, nosso grupo de amigos, continuava sendo: "O Bar do Toninho".


O ambiente era sempre uma festa, onde os amigos chegavam e descarregavam suas neuras e sonhos por vezes vanguardistas e ousados, para uma época de paz e amor e grandes transformações. Alguns até apelidaram o lugar com mesas espalhadas na rua, de woodstock porto-alegrense. 
Aconteceu até um show do Bebeto Alves, um dos assíduos frequentadores do bar que engarrafou quadras adjacentes impedindo o trafego dos fiéis frequentadores da Igreja Santa Teresinha. 
Poucos lugares em Porto Alegre simbolizaram tão bem a efervescência de uma geração sedenta de sonhos, mudanças e liberdade de expressão, quanto as noites  vividas no Escaler e sua fauna por vezes exótica, composta por boêmios, intelectuais, jornalistas e uma infinidade de artistas de diversos segmentos, que fermentavam ideias, loucuras, sonhos e elucubrações politicas e sociais. 
Passaram por ali, bandas como Bandaliera, Engenheiros do Hawaii, Cidadão Quem, Rabo de Galo, Câmbio Negro, Bebeto Alves, Nei Lisboa, Nega Lu, figura notória da noite porto-alegrense e tantos outros, que fizeram história e até viraram livro...
O estabelecimento fechou suas portas em 2006, mas viveu seu apogeu nos anos dourados da cidade, como um reduto cultural, numa época em que se acreditava que tudo era pra sempre, sem saber que pra sempre sempre acaba.

O DIA EM QUE A TARDE VIROU NOITE.


Eu estava de plantão no Hospital de Pronto Socorro, quando em algum momento daquela tarde, de💬 20 de Dezembro de 2019, tudo começou a escurecer e a virar noite, em particular no Bom Fim, em Porto Alegre, deixando-nos extasiados com o raro fenômeno. já anunciado nos jornais e TV. Ao se aproximar da hora, corri para o pátio com um pedaço de RX para proteger meus olhos e lembro-me de algum colega dizer, que aquilo que estávamos presenciando, não era o fim do mundo, mas um fato cientificamente histórico, o que me deixava ainda mais orgulhoso de fazer parte daquilo tudo.


Inicialmente o dia estava normal, claro, com sol, como qualquer dia de verão e de repente, na hora prevista, tudo começou a ficar cinza, como se uma grande tempestade se aproximasse e fosse cair sobre nossas cabeças. O dia foi gradualmente escurecendo e virando noite, sem estrelas no céu, como naqueles filmes de historias macabras de 💀bruxas e duendes, que assistimos no cinema ou TV e que são acidentalmente soltos por algum desavisado😒 e todo o planeta vira em algo cinza e obscuro. Porto Alegre ficou assim, absurdamente envolvida por uma noite cinza às 16:45, onde o sol teve 75% de sua área sombreada pela lua. Foi fantástico!


Não sei quanto a vocês, mas pra mim, é de extrema importância emocional quando a vida me põe de testemunha de acontecimento ou fenômeno como este, que raramente acontecem no dia a dia, quebrando as engrenagens repetitivas do cotidiano. O fenômeno que tive o privilégio de assistir, chama-se Eclipse Solar e ocorre quando a Lua fica entre a Terra e o Sol, ocultando total ou parcialmente a luz solar em uma faixa terrestre.

ASFIXIA

Acordei na madrugada, com a sensação de que não estava respirando direito, fazia um grande esforço para o ar entrar pelas minhas narinas e boca. Logo depois, percebi que realmente não conseguia respirar por completo, era como se meus pulmões não expandissem. Uma grande angustia bateu em mim, quase me levando ao desespero. Então me lembro que no extremo sofrimento de não ter folego, gritei por mãe.


Tenho a sensação de ter ouvido a minha própria voz emitindo o som, que pareceu invadir o quarto e se espalhar por todo o edifício. Será que meus vizinhos ouviram?.. Será que mãe é quem a gente chama, num momento de grande urgência na nossa vida?.. Lembrei também dos sintomas de maior gravidade do COVID -19

ROTINAS COM UM GATO NUM DIA CHUVOSO


Acordei nesta Terça-feira 12/06 relativamente cedo. O Chico já estava em alerta, me olhando, com toda a sua energia felina, correndo em alta velocidade pelo quarto, pulando na minha cadeira de home-office e dela, saltando (feito um malabarista) na minha cama, já semidestruída por suas unhas e dentes afiados. Depois correu em círculos, com dorso arrepiado e em forma de U sobre a cama indo esconder-se entre os travesseiros, olhando-me sempre de olhos arregalados e orelhas baixas, numa posição de ataque. Entendo que esta atitude parecendo agressiva, é no fundo um convite para brincadeiras entre amigos, o que já me rendeu dezenas de arranhões e mordidas nos meus braços e mãos.

Depois de servir meu café preto, sem acompanhamentos e debruçar-me na fresta da janela do quarto, é que percebi que a chuva que chegou meio despercebida, caia fina e gelada, conforme previsão das autoridades do tempo. Deixei correr meus pensamentos soltos e de um jeito leve, enquanto sorvia meu café ouvindo "Inútil Paisagem" do Tom e do Aluísio! 

Chico ainda corre aos saltos pelo quarto de olhos arregalados, esparramando acidentalmente sua areia e ração que troquei, minutos antes de servir meu café. Me olha com ar de desconfiança felina, talvez se perguntando, se eu quero continuar brincando,  ou se  deve parar por ter feito alguma coisa errada. É, pelo jeito, o dia vai permanecer assim até chegar a noite!


PARA UM AMIGO

Achei este post do dia 14/05/2008 que tanto procurava, e que simplesmente o perdi no meio de outras postagens. Ele foi escrito para um amigo de infância, que sempre encontrava-o nas minhas idas e vindas pelas ruas de Porto Alegre. Depois de um tempo, deixei de encontra-lo e desconfiei que pudesse ter partido. Foi o que realmente aconteceu!



E se eu cair assim como folha amarela e morta da arvore mais alta deste meu mundo, serei arrastado pelo vento forte dos meus outonos. Dos meus muitos saudosos e amados outonos.

Serei lambido deliciosamente pelo vento, para rumos incertos, eu de olhos fechados sobre nuvens brancas, meus braços e pernas estendidas e meu corpo em movimentos circulares, perpendiculares, transversais, atravessará as estações desta vida, ignorando o tempo, rumo ao que acredito ser a liberdade. Então liberto, poderei oferecer minha mão de encontro a tua, firme e densa para onde me quiseres carregar.
De lá faremos poesias, ouviremos ópera, aquela Ópera do Malandro. Beberemos vinho até cair, dançaremos Edith Piaf , até nos esquecerem.:

DOMINGO NÃO PRECISAVA EXISTIR

Três coisas que eu me recusaria terminantemente de fazer hoje por ser Domingo e por força do meu temperamento destemperado ou temperado mas fora das medidas padrões. Hoje o dia está úmido, cinza, chuvoso, sem luminosidade, e Porto Alegre com cara dessas cidades europeias, que ninguém quer visitar, nem que seja de graça.

Eu por conta deste clima feio e desfavorável, acharia empecilhos até pra comer uma rapadura do tipo pé de moleque da serra. Me recusaria também a ler qualquer artigo, romance, poesia, reportagens em geral, cujo o texto começasse com a frase "Como fazer" que me faz lembrar de (receitas do tipo de faça você mesmo). 

Também pularia do Décimo andar de um prédio, se me aparecesse alguma mulher evangélica, de cara lavada, com coquezinho preso na nuca, vestida com saia Maria mijona, com a bíblia na mão, tentando me pregar o evangelho. Ahf!... Gente hoje é Domingo, um dia que pra mim, nem precisava existir!



ALONGAMENTO NOTURNO

São exatamente cinco horas e cinquenta e um minutos, hora que resolvi escrever este post. Devo ter acordado por volta das quatro horas e qualquer coisa, com o Chico me olhando de olhos arregalados e eu com fortes dores nas costas. Depois de me mexer com cuidado, sentar e posicionar-me de barriga sobre o colchão, esticando os braços para baixo ao longo do corpo, me proporcionou uma rápida e considerável melhora da dor que venho sentindo desde as dezoito horas e trinta minutos de ontem, quando terminou meu ensaio com os músicos. 



Esta posição corporal que tomei, talvez seja uma forma de alongar as hérnias da região lombar, descomprimindo-as e diminuindo consideravelmente a dor que começa a irradiar para os trocânteres, aqueles ossos redondos que ficam na base superior do fêmur.

Durante o dia faço minhas curtas e modestas caminhadas como posso, para não me entrevar de vez, e passar para a lastimável categoria dos dependentes. Na minha idade, facas e bisturis, nem pensar! Agora é quase seis e meia e o dia ainda não clareou, posso retornar pra cama, aproveitando o que restou da noite.

OLHOS TRISTES

Não sei se é simples impressão minha, mas quando saio de casa, vejo as pessoas na rua, com o olhar tristonho, parecendo cansadas, sem brilho, sem vida. Será que estou imaginando coisas?.. Você também vê isto?

Desde o motorista do aplicativo, que utilizo diariamente, do atendente da quitanda, do vigilante da rua, de alguns itinerantes, percebo um tipo de nuvem cinza que se espalha do olhar, um desanimo que transborda e por vezes um sorriso evasivo que é deixado escapar pelas dobras da máscara.

 

Tristeza que parece ser motivada por problemas não somente de ordem pessoal, mas de quem não aguenta mais tantos socos, tantas questões globais e gerais, de quem está por um fio da desistência, de quem não está aguentando mais as dificuldades geradas pelo homem. É. o dito cujo homem!

O advento da pandemia mundial, trouxe consigo  o isolamento social necessário pela sobrevivência e o desuso do anti- stress usados nas reuniões familiares, de amigos, nas viagens, no barzinho dos finais de semana, nas academias de ginasticas. Também trouxe o uso compulsório de mascaras, nos transformando em outras pessoas; pessoas com meio rosto, com meia expressão, que teremos que nos acostumarmos.

A ROTA DOS AVIÕES

Da janela do meu quarto vejo tantas coisas, que me roubam a atenção, mas a noite deslumbro a rota dos aviões com suas luzes brilhantes, saindo do infinito para o infinito. È uma visão poética e solitária. Se parecem com naves espaciais brilhando no céu as vezes  escuro e de poucas estrelas. Vão fazendo uma grande curva, na linha invisível até desaparecerem de vez. Não sei se estão saindo ou chegando na cidade. Passam por aqui, na minha janela, distantes e pequenos, como se eu simplesmente pudesse pega-los com a mão e ficar brincando...



A CARREATA BURGUESA

Dia desses, quando retornava pra minha casa, vi uma conhecida em seu carro, cheio de  familiares, participando de uma carreata em favor do governo atual. Não me surpreendi, pois era óbvio que ela e sua família são de direita!.. Pensei.

Este governo que está no poder e que morre de medo de perder seus privilégios e se denomina defensor de uma sociedade cristã, composta de gente do bem, de família e que faz a economia girar com trabalho árduo e dos outros, é o que a republica quer como apoiadores de suas ideias. Uma nova burguesia que raramente estudou, leu um bom livro, que não expandiu seu intelecto e portanto não flexionou seu olhar as diferentes verdades. Uma nova burguesia folhada de valores absurdamente rasos e sem conteúdo.

Havia muito buzinaços e bandeiras do Brasil esticadas pra fora das janelas dos carros, flamulando ao vento, chamando a atenção dos transeuntes desatentos, dos que se deixam levar a o vento sem um rumo certo, dos invisíveis.

Lembrei que esta vizinha e seus familiares, só podiam ser de direita, afinal são brancos, empresários bem sucedidos cuja a luta é se manter no poder, assim como o governo, monopolizando as grossas fatias da torta para o seu consumo próprio, sem dividir com quem não reza na mesma cartilha. 

Seus privilégios de hoje, que consideram um mérito, por terem vindo de baixo e conquistado uma boa fatia econômica no mercado onde atuam, não pode ser perdido ou dividido com a escória, com o lixo da sociedade. Quanto a os estudiosos e intelectuais que pensam diferente, são comunistas, de esquerda, também não merecem nem o merengue que cobre a torta  mas é bom deixa-los afastados, pois eles comem criancinhas!


MUNDOS PARALELOS

Tem momentos em que o nosso universo fecha as suas portas para o universo paralelo existente ao lado do nosso, (aquele que não acreditamos e não seguimos, por ser contra nossas verdades morais, sociais e politicas, mas a gente sabe que ele esta ali, na espreita, esperando oportunidades). Mesmo trancando janelas, desligando lâmpadas, abajures, celulares, televisão, ele continuara existindo e atuando com suas forças negativas sobre nossas vidas, causando-nos insatisfações, revoltas internas, injustiças, nos deixando doentes e a beira de um colapso.


É como se tudo aquilo em que não acreditamos, não parasse nunca com suas truculências, continuasse trabalhando incessantemente para cumprir seus objetivos próprios e que são o inverso do nosso, transformando-nos em seres neuróticos e altamente nocivos a nós mesmos e a sociedade. Os golpes vem de todos os lados impedindo-nos de respirar, de acreditar numa melhora, nos roubando toda a credibilidade. E olha que as vezes consegue!

Ontem entrei acidentalmente numa pagina da Internet, cujo o autor fazia elogiosa propaganda aberta para o presidente Jair Bolsonaro, avultando seu caráter de liderança como chefe de estado, sua nobreza como ser humano, seus feitos pelo país, seu inerente patriotismo. 

Como assim?, pensei de imediato, não acreditando no que estava lendo. Me perguntava como podia existir  uma pessoa descrevendo aquilo tudo de positivo sobre o Jair e outras o apoiando sem conseguirem enxergar o quão nefasto é o seu governo. Não perceberem suas verdadeiras intenções, seus excessos cometidos, seu radicalismos, sua falta de educação, assim como seu evidente descomprometimento com as pessoas e seu país, Como é possível?.. Como é possível algumas pessoas desejarem o retorno da Ditadura?

A bem da verdade, é que vivemos de escolhas por vezes não tão simples e cada um escolhe o melhor caminho para si. Também é certo dizer que não existe certo e errado, somente aquilo que ressoa como verdadeiro em cada um de nós e o  futuro, é o resultado dessas escolhas

QUANDO JOÃO GILBERTO MOROU EM PORTO ALEGRE



Vocês sabiam que João Gilberto morou em Porto Alegre? Bom eu também não sabia e só soube disto lendo um trabalho de mestrado, cujo o tema tratava-se da influencia da Bossa Nova no Rio Grande do Sul.
Apesar de ter sido por pouco tempo, ele morou sim, aqui na capital gaúcha, antes de se tornar o grande Ícone que por décadas revolucionou a musica popular brasileira.
Foi em 1955 que João Gilberto ainda um jovem de vinte e três anos e poucos meses, desembarcou por aqui na capital, depois de tentar a vida artística no Rio de Janeiro sem muito retorno. 
Foi através do porto-alegrense Luiz Telles (1915-1984), radicado no Rio de Janeiro e líder do quarteto vocal Quitandinha Serenaders, que preocupado com o declínio emocional e financeiro de João, o convenceu, a passar uns tempos com ele na capital gaúcha.


Em Porto Alegre, hospedado no Hotel Magestic, hoje Casa de Cultura Mario Quintana, João foi apresentado como “cantor de rádio do Rio de Janeiro” cantou e tocou em emissoras gaúchas, e em restaurantes como o (Treviso, Farolito), boate Cote D’Azur e clubes sociais (Comércio, Leopoldina Juvenil).
Luiz Telles também apresentara João a o advogado gaúcho Alberto Fernandes, no Rio de Janeiro, que a o reencontrar João em Porto Alegre, o levou a casa de sua mãe, Dona Boneca Regina no bairro Cidade Baixa. Dona Boneca Regina, era casada com um crítico de arte e fazia de sua casa um entra e sai de gente ligada à cultura, o que não foi difícil receber João e rapidamente transforma-lo num membro da família.
Apesar de discrepâncias, João morou por aqui, em Porto Alegre, cerca de oito meses, ate seguir viagem para Diamantina, Salvador e Rio de Janeiro em 1957.



FELIZ DAQUELE QUE SABE SOFRER:

Nelson do Cavaquinho compositor carioca (29/10/1911#18/02/1986) tinha toda razão a o escrever estes versos: "Se eu for pensar muito na vida, morro cedo amor, meu peito é forte nele tenho acumulado tanta dor. As rugas fizeram residência no meu rosto, não choro pra ninguém me ver sofrer de desgosto. Eu que sempre soube esconder as minhas magoas, nunca ninguém me viu com os olhos rasos d'água. Finjo-me alegre pro meu pranto ninguém ver. Feliz daquele que sabe sofrer".


SOBRE A SEDUÇÃO:




Na minha infância, uma tia muito querida, que já mencionei aqui no blog, disse-me certa vez no meu ouvido, que eu seria, uma pessoa sedutora. Lembro-me deste momento como se fosse hoje, eu deitado do lado dela, com a cabeça apoiada em seu peito, aproveitando o calor do seu corpo numa noite fria, como a de hoje.

Aquela revelação me deixou assustado e pensativo, por que inicialmente não compreendia do que ela estava falando exatamente. 
A sedução que eu entendia era a de induzir a o mal ou a um erro por meio de artifícios, de desencaminhar ou desonrar valendo-se de encantos e promessas mentirosas. Ela, no entanto, referia-se a conceitos empíricos, mais amplos e no sentido da minha personalidade apresentar certas características que levariam algumas pessoas a minha volta, estabelecerem  algum tipo de encanto,  fascínio, atração por minhas ideias e atitudes, quem sabe diferentes, da maioria. Talvez, uma falsa ideia! ..
Demorou um bocado, pra mim entender do que ela estava falando e não me tornar quem sabe, um vaidoso. Quando percebo isto acontecendo, puxo o freio de mão, na esperança de diminuir as expectativas alheias num ser, que em parte, não sou eu.

EM QUALQUER LUGAR:


Onde tudo vai dar? me perguntou o menino de apenas seis anos de idade, me deixando absolutamente temeroso do que lhe responder. 

Fiquei temeroso sim! Primeiro porque é incomum uma pergunta dessas vir de alguém tão jovem e eu tomado de surpresa, não tinha nenhuma resposta pronta para lhe dar. Eu também até hoje nem faço ideia onde tudo irá dar. 

Mas eu não poderia deixa-lo sem uma resposta e pensava  na responsabilidade de falar a verdade não lhe dizendo mentiras. Mas quando se vive num mundo de incertezas, qualquer informação pode ser falsa. Eu deveria ter lhe mostrado esta foto quando me fez a pergunta.


NA VELOCIDADE DO TEMPO:

Me submeto a ter algumas atividades para não cair em rotinas que  me leve a seguinte equação: (ansiedade + tédio = depressão). Então, rabisco em folhas de papel, digito frases sem sentido, fotografo imagens, pessoas, canto algumas composições que me emocionam, para ocupar o tempo que é de ouro, que é frágil e veloz. 

Eu acredito não ser deste tempo em que vivo, então me sinto dividido entre o ontem e o hoje, num tempo intermediário há apenas um passo, uma piscada de olhos, no marco zero da porta gigante que separam o passado do presente. 

Vivo disfarçando estar num tempo seguro em que nos roubam tudo, inclusive a alma já negociada por algumas garantias prometidas e não cumpridas. 

Finjo sorrisos, simulo gestos de aceitação pra que as dores sejam menores. Me debato convulsivo sobre paredes finas de gesso, se eu chorar, a lágrima a desmancha, se eu bater, a raiva a quebra em mil pedacinhos. Um grande risco!

CHICO FURDUNÇO E SEUS ATAQUES OUSADOS



Chico Furdunço, tem crescido a olhos vistos, Inacreditávelmente o seu tamanho em apenas poucos dias dividindo o mesmo ambiente comigo, duplicou de tamanho. Será que é a ração? Além de já reconhecer a casa e lugares onde não pode entrar e aprontar, suas patifarias também cresceram proporcionalmente. Corre pela casa inteira, pula sobre a cama e quase sobe as paredes acima, em busca de insetos que nem eu consigo enxergar.

Sua melhor diversão e criar guerrinhas de ataque contra mim, onde num único pulo se lança sobre uma das minha mãos e começa a arranhar e morder com cara de selvagem. No inicio suas lançadas na minha mão, eram leves, mas agora tem deixado marcas visiveis.
Acho bom que seja assim, afinal trata-se de um felino e felinos permissíveis, bonzinhos e fofinhos, a o meu ver, não se parecem com felinos.
As brincadeiras de corre-corre, esconde-esconde sob as cobertas, são cheias de estratégias de ataques, olhares curiosos e ousados e movimentos habilidosos que somente os gatos são capazes de fazer.

AS CORRELAÇÕES:

Ontem enquanto conversávamos, eu e um amigo, chegamos num momento em que percebemos o quanto a vida é cheia de fatos que se correlacionam, sem que se possa explica-los de fato.
Por exemplo: Contei que o primeiro marido da minha avó materna, do qual ela teve um filho e mais tarde, se tornou viúva, foi funcionário da Prefeitura de Porto Alegre durante anos. Após a morte do primeiro marido, ela voltou a se casar com outro que também era funcionário da Prefeitura de Porto Alegre, os dois, mesmo sendo colegas, funcionários da mesma estatal, não se conheciam. Com este segundo marido ela teve dois filhos, um menino e uma menina. Esta menina mais tarde veio a ser minha mãe. Viuvando mais uma vez, minha avó, não bem vista por alguns de seus parentes, casou-se pela terceira vez, com um homem que já era viúvo e tinha uma filha adulta que era funcionaria da prefeitura. Com este homem minha avó, ja uma mulher bastante madura, não teve filhos e que conheci como avô.
A correlação de que falo é que, os dois maridos da minha avó, foram funcionários da mesma empresa publica e seus filhos, do primeiro e do segundo casamento, também, com exceção da minha mãe, que tomou outros rumos. 
A filha do terceiro marido de minha avó, coincidentemente também era funcionaria do mesmo estabelecimento.
Naquela época se entrava no serviço publico por indicação, não havia concurso publico. Mais tarde foi minha vez de entrar e fazer parte desta coincidente lista, assim como minha prima, filha do primeiro filho de minha avó, que adivinhem, trabalha na Prefeitura de Porto Alegre.
Mas eu não acredito nas coincidências, essas correlações me parecem apresentarem uma certa lógica que nós simples mortais, temos pouco conhecimento e compreensão.
Outras correlações acontecem em nosso dia a dia e que por vezes, nem percebemos a sua presença. Vamos percebe-las dias, meses, anos depois!

FÉRIAS PARA A PANDEMIA:

Depois de 425 dias, eu já não sinto mais falta de muita gente a minha volta, por que me cerco das melhores que posso ter, mesmo on-line, assim, meio que artificial. Sinto falta de outras coisas e da minha cidade que sempre achei bucólica, mas infinitamente acolhedora.
De caminhar por suas ruas, algumas estreitas, de portas altas, janelas amplas e trameladas que traziam mistérios. Ruas sombreadas e de um passado não tão longe. Dos pés de plátanos nas calçadas e suas folhas coloridas que marcavam páginas.
Páginas de alguns livros de histórias contadas por alguém. Páginas que envelheceram como eu e sumiram as letras no amarelado do tempo...
Cidade de um porto aberto ao nosso sorriso e que poucos ainda se lembram. De um tempo que tudo era mais simples, menos burocrático, menos perigoso.
Sinto falta de algum sentimento que senti, de algumas conversas que ficaram perdidas lá pra traz, num tempo em que pandemias estavam de férias.

UM SUJEITO DE SORTE



Eu sou um cara de sorte! Eu sou um cara feliz e satisfeito!.. _ Repito isto pra mim mesmo todas as manhãs quando me acordo e levanto da cama. Um rápido ritual antes de escovar os dentes e tomar meu café escorado na janela do quarto. É somente, quando começa a movimentação de pessoas nas calçadas, indo para o trabalho, é que volto a me questionar sobre esta minha felicidade e prazer, que nem sempre funciona
Lembro-me daquela canção do Belchior que diz: 
"Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte, porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte. E tenho comigo pensado, Deus é brasileiro e anda do meu lado, E assim já não posso sofrer no ano passado. Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro. Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro...Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro!" Esta letra é de uma grande profundidade, profundidade Belchioriana.

DEPOIS DA ADOÇÃO

Cinco horas da manhã, doze horas após sua adoção, o gato começou a miar alto dentro do quarto. Saiu do seu esconderijo, (meu guarda roupas com portas de correr) e começou a caminhar pelo quarto com ar de insatisfeito, miando cada vez mais alto e olhando na minha direção.
Andava de rabo em pé, o corpo por vezes em forma de U, procurando por onde entrava a luz da manhã que já dava sinais, na janela. Subiu na minha cama, deu uma bela mijada e continuou reclamando da vida por longos minutos. Percebi que seu objetivo era dar no pé, como dizem. Depois que subiu algumas vezes na cama, começou a brincar com as cobertas e os movimentos que eu fazia com os pés. Percebi então que sua aparente revolta não era comigo, mas com o ambiente onde se sentia preso.
A adoção foi muito rápida, não dando tempo pra eu providenciar algumas necessidades como areia, ração e cama pro bichano.
Ao que parece, aos poucos vamos nos conhecendo e nos entendendo, eu espero!

CHICO FURDUNÇO



A pandemia me fez adotar um gato. Na verdade não foi bem assim, o saco de ficar sozinho e eu já vivia sozinho antes dela se espalhar pelo mundo, me fez tomar uma medida preventiva contra uma possível depressão.

Desde o dia que ele chegou na minha casa, trazido de carro numa gaiola, por seu doador, tenho postado no Face book sua façanhas de gato que não é bebezinho, mas ainda é infantil por suas atitudes serelepes.

No primeiro dia alojei-o em meu quarto pois não estava preparo para espera-lo. A adoção aconteceu num único dia. Alguém me falou, liguei para seu ex dono que fez contato rapidamente e me entregou-o no portão do edifício.

Sem caixa de areia e ração para felinos, só pude disponibilizar de imediato um pratinho com agua e uns farelos de pães, pra ele ir se virando.

Ficou pelo menos dois dias no meu quarto escondido, no guarda- roupas, dentro de um tênis vermelho e de olhos arregalados quando eu o localizava.

Enquanto tentava firmar amizade com ele, pedi para amigos que me sugerissem um nome. Veio muitas sugestões, mas acabei me decidindo por Chico Furdunço, nome que mais se parece com sua personalidade agitada e cara de doido.

Passou por vários estágios de adaptação como greve de fome, miar alto as 4 horas da madrugada com ar de insatisfeito, até ir se acalmando e fazer amizade comigo.

INSPIRAÇÃO

A inspiração é como uma visita surpresa, que bate inesperadamente na tua porta e quando vai embora, não faz promessa de quando vai voltar. Tudo pode acontecer nestes momentos de pura sensibilidade, de encontro marcado ou de puro acaso.

CONDENAÇÃO COM RETOMADA DE VALORES


Parece que o joelho de um policial  americano branco, sobre o pescoço de um homem americano negro, com o objetivo de somente imobiliza-lo, acabou numa morte trágica por asfixia, sensibilizando e mobilizando não só americanos, mas boa parte do mundo e provando que este tipo de atitude (protocolo de imobilização dito pela policia como normal), já não é mais aceitável. 
Este não foi o primeiro caso nos Estados Unidos, mas foi o primeiro de grande repercussão internacional, em meio a uma pandemia, que ilustra um mundo inseguro, frágil e violento na retomada  de novos parâmetros econômicos e sociais.

Sim, é inegável que o mundo precisa de mais justiça, mais fraternidade e isto só se dará através de mudanças profundas nas relações sociais e politicas, com regras e leis igualitárias, justas e não abusivas e discriminatórias. A condenação unanime do policial americano, foi um passo decisivo nos valores que por décadas deixaram de ser discutidas.


NOS TEMPOS EM QUE EU VOAVA

Nos meus sonhos de criança e também na adolescência eu sempre sonhava que voava mesmo não tendo asas, para escapar de alguns perigos e de qualquer coisa que me causasse muito medo. Era como se uma força desconhecida me impulsionasse pra cima e eu saia como Icaro, voando solenemente  ileso sobre o mundo.

Com o tempo, eu fui me perguntando, se esta facilidade magica e inexplicável que me acontecia, não era algum tipo de facilitação emocional somatizada pelos meus conflitos internos, para não enfrenta-los de frente. Voando, eu nunca era pego por supostos inimigos e me tornava inatingível. Também não me esforçava em demasia para ter enfrentamentos. Era somente fechar os olhos e fugir num voo espetacular e sem esforços.

QUANDO EU VIREI UM BRUXO,

Eu acreditava que a vida vivia sempre me empurrando para becos escuros, buracos, valas, sarjetas. Eu não tinha escolha, era um, dois e lá estava eu, num deles, ansioso, com medo, num desses becos escuros, frios e sem saída, que na minha ânsia de escapulir, fazia-me caminhar em círculos, voltando sempre pro mesmo lugar, perdido, sem encontrar uma saída, uma perfeita saída como numa cena de ação do James Bond. 

Mas o tempo me fez descobrir que existem algumas magicas, que fazem o cotidiano se transformar, sem receitas, sem caldeirões mágicos com perninhas de sapo, e esta magica só acontece depois de algum tempo de vida, de penúria, de sofrimento, de procura por si mesmo. É quando a gente sem perceber, se transforma em outro, num bruxo, sem perceber que adquirimos poderes transformadores que modificam os nossos pensamentos, reações e atitudes, também a nossa rota, o nosso destino, onde os becos e buracos, não são tão assustadores e obscuros. Mas como toda a bruxaria que se preze, é necessário que se adquira com o tempo, alguma quantidade de vivencias, de lágrimas, de cabelos brancos e rugas na cara. A varinha mágica é coisa opcional.

A VISITA INESPERADA.

Enquanto eu a olhava pela janela, percebia sua figura espreitando-se entre o jardim e as arvores que cobriam o pátio. Ela colhia margaridas, sua flor predileta, enquanto olhava pra mim, por vezes desconfiada, tentando reconhecer-me de algum lugar, talvez de uma vida que já não lhe pertencia mais. Era isto que traduzia em seu olhar

Seu corpo vestido de névoa, miúdo e perfeito, quase não fazia sombra nos movimentos de zig zag entre as arvores, que por vezes a revelava e a escondia no tempo de um lampejo.

Será que amanhã retornará ao meu jardim de frondosas arvores, que meus pais plantaram e que hoje eu cuido? Voltará com seu olhar de desconfiança?

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