Eduardo LEITE: Primeiro gay assumido, eleito Governador do RGS
POLITICAS ESTRATÉGICAS
Eduardo LEITE: Primeiro gay assumido, eleito Governador do RGS
NINGUEM AGUENTA MAIS
As mil e tantas vidas perdidas hoje no Brasil, ainda é uma altíssima estatística da dura realidade que ainda se segue, sem uma data marcada para terminar. As sequelas causadas pela doença, dos que conseguiram sobreviver, ainda são obscuras, mas sentidas no corpo e na alma.
Nosso trabalho, rotinas, e hábitos de vida mudou, nos obrigando a ter uma vida muito diferente da que tínhamos e estávamos acostumados a usufruir. Muitas pessoas além de perderem grande parte da família, ainda perderam seus empregos. Tá difícil comer e manter uma vida digna neste país.
Ficamos ilhados em nossa cidade, nosso bairro, nossa casa. Não usufruímos mais de festas, praças, parques, praias, cinemas, teatros e mesmo que quiséssemos e pudéssemos sair de casa, como pagaríamos por estes lazeres que parecem não nos pertencer mais? Nos submetemos ao confinamento e a ver a vida numa tela de um computador ou televisão. Ninguém aguenta mais.
Alguns dizem que estamos entrando numa nova era, de novos valores, de diferentes formas de viver, de amar, de se relacionar com o meio ambiente, com o mundo, com nós mesmos.
LUGARES INCRÍVEIS
PRETO POBRE E PUTO
Conheci Nega Lu, a o acaso no vernissage de um amigo, Will, Cava ou Cavalcante. Chegou como se diz, chegando: Usava sobre o corpo uma miscelânea de estilos e gêneros, sandálias feminina, calça jeans, uma jaqueta sobre uma camiseta, os braços cheios de pulseiras e um estranho chapéu de rafia com algumas flores e tule. Assim era o visual da Nega Lu, nunca se sabia o que ela vestiria, para chamar atenção das pessoas com quem se relacionava nas noites boemias e artísticas de Porto Alegre. As vezes surpreendentemente aparecia com um simples tênis, camiseta e uma calça jeans e estava pronto para discutir, retrucar com pequenos deboches e muito humor as opiniões filosóficas, culturais e politicas do mundo cão.
Negro, pobre e gay, desfilava pelos circuitos gays, culturais e políticos da cidade como o Doce Vicio onde era garçonete, o Copa 70, na Esquina Maldita onde puxava um coro de bêbados entoando o clássico Summertime. Puxava uma mesa daqui e outra dali, e o palco já estava montado para um rápido recital de jazz à capela sobre o tablado montado às pressas. Nega Lu deixava os espectadores alucinados com seu vozeirão grave e afinado.
Foi solista da OSPA e da UFRGS, crooner da Rabo de Galo banda de blues na década de 80, dançarino do Balé Clássico nos anos 60, Porta bandeira da Banda do Saldanha e ainda falava um pouco de francês que aprendeu quando aluno da Aliança Francesa de `Porto Alegre. Nega Lu deixou seu nome registrado na memória afetiva de Porto Alegre e agora virou livro. Sim, livro que fala de sua trajetória como um percussor das mudanças sociais e comportamentais que ainda hoje se consolidam na cultura moral do país e das pessoas ditas "De Bem".
O CHICO E A NET
Depois da visita de um veterinário conhecedor do funcionamento psicológico e emocional dos felinos, aqui na minha casa, passei a entender melhor as atitudes enlouquecidas do Chico, que é gato jovem e cheio de energia pra por pra fora. Desta forma, eu entendo, que não posso brigar ou ir contra o seu desenvolvimento natural.
Esta manhã depois de acordar e se espreguiçar de forma invejosa, como fazem os felinos, resolveu jogar basquetebol sobre a minha cama e usando como bola, com um pequeno pedaço de bolacha. Acontece que suas unhas afiadas arrancam não só a lã das tramas dos cobertores, como rasgam as cobertas mais lisas e finas, me causando prejuízo a não tão longo prazo.
Mas como dizer isto pra ele e faze-lo entender?. É o mesmo que tentar convencer a NET, de que você não quer mais o serviço deles: Te ignoram solenemente! É a vida que prossegue ao ritmo, mate-o pelo cansaço!
VOZES DO INTERIOR:
O VALE DAS BORBOLETAS AZUIS
Foi numa manhã de Outono, que a natureza com todo o seu mistério e beleza, resolveu presentear eu e minha amiga Alba, com algo absolutamente inesperado. Subíamos cautelosos a serra, por causa da espessa neblina que cobria tudo, deixando-nos com pouca visibilidade, quando percebemos nas proximidades de São Francisco de Paula, cidade que temos maior apreço por sua característica simples e interiorana, além da extensa mata de araucárias e cascatas escondidas, que o asfalto começou a ficar recoberto de pequenas folhas azuis e brilhosas que pareciam lantejoulas.
Era como se um tapete bordado, fosse colocado sobre a estrada deixando-nos maravilhados. Em seguida aquilo que pareciam folhas começaram a se mexer e também a cair das arvores sobre o para-brisas, mostrando-nos que se tratava de centenas de borboletas azuis que voavam na estrada na nossa direção, colidindo contra o carro. A borboleta é considerada o símbolo da transformação. Entre outros, simboliza felicidade, beleza, a alma, inconstância, efemeridade da natureza e da renovação. Ficamos boquiabertos, admirando aquela imagem do outro mundo, enquanto nos perguntávamos de onde tinham vindo tantas borboletas. Aquela imagem que lembrava uma cena de filme de fadas, gnomos, nunca me saiu da cabeça.
QUAL É A SUA LUTA
Você já se deparou algum dia na frente de um espelho e se perguntou qual é a sua luta? Pelo o que você briga? O que você defende? E o que tem a dizer, para as pessoas sobre esta sua luta?
Talvez você tenha uma forma lúdica de expressar suas ideias, de defender suas verdades e isto também é uma forma de luta em defesa de outras novas e diferentes visões e pensamentos.
Se você não tem nada pelo que lutar, é melhor esticar-se no sofá da sala e assistir a um programa de gincanas na televisão, para diminuir o seu stress e ter a sensação de que pelo menos algumas pessoas tem sorte nesta vida.
ADÃOZINHO DO BARÁ
CUIDADOR E SEU PASSARINHO
Ontem fui convidado para jantar com amigos; Um carreteirão divino, vinho, fogão à lenha aceso, musica de fundo, mas antes que eu percebesse, já tinha caído na cilada daqueles bate-papos baixo astral e que muita gente adora falar na condição de vitima e os outros aplaudem por identificação.
Tem certas conversas, que não dá mais para se permitir ouvir, e a gente só ouve a contra gosto por que está cercado de pessoas que também alicerçam suas vidas, no mesmo pensamento errôneos de que pais devem proteger seus filhos com unhas e dentes pelo resto de suas vidas.
Esta conversa chata entre pais super protetores de filhos já adultos, que são tratados como crianças desprotegidas e destratadas pela sociedade, não passa de culpa, muita culpa desde o seu desenvolvimento dentro da barriga.
De um lado temos filhos extremamente dependentes, indecisos, despreparados e presos a o conforto e a proteção dos pais e do outro lado, pais doentes, infelizes e frustrados que nunca se permitiram buscar a própria liberdade e felicidade, em função de seus filhos. Eis ai o laço feito de interdependências, de circulo viciosos, de mutua dependência destrutiva, que nunca vai se desfazer, se uma das partes não cortar o laço, ou cordão umbilical.
Uma convidada começou a falar da relação com seu filho de trinta anos, que ela suava para pagar a faculdade e do seu desgosto quando ele informava que dormiria na casa da namorada. Ora!.. Eu pensei, um homem de trinta anos que não transa com a sua namorada, pra ficar do lado da mãe, deve estar com algum problema. Mas uma mãe que deu seu sangue por quase toda a sua vida, para o sustento do filho e ainda tenta mantê-lo debaixo de suas asas, é no mínimo uma egoísta, que não o preparou pra vida e que sente culpa, muita culpa, desde o momento que o pariu.
Penso que este tipo de relação mãe e filho, deveria ser como a de um cuidador e o seu passarinho machucado, depois de tratar, cuidar, alimentar, chega a hora de pega-lo na mão, leva-lo até o portão e abrir dedo por dedo, para que ele voe para a liberdade. Se não for assim o ciclo não se completa.
DANÇANDO EM VENEZA
Em 2018, estávamos eu e minha amiga Rose caminhando na Praça São Marcos em Veneza, quando percebemos a movimentação de alguns músicos sobre um palanque improvisado, se preparando para um possível espetáculo de musica a o ar livre.
Nos aproximamos impressionados com a quantidade de instrumentos dourados e um ostensivo piano branco de cauda e logo começaram a tocar um jazz daqueles pegados. Eu embasbacado com todo aquele clima de blue/jazz Nova-iorquino, liberei meu impulso de coragem latino e tirei a Rose para dançar entre os transeuntes estrangeiros que se batiam entre si olhando vitrines. Dançamos até o final da musica sob os olhos curiosos e surpresos dos músicos e de algumas pessoas que passavam. Foi libertador!
Depois pensei comigo, rindo em silencio: Isto só podia ser coisa de brasileiro. Somos empolgados, comandados por estranhos impulsos que nos faz reconhecer a alegria ou qualquer outro sentimento, reagir na pele em qualquer lugar em que estamos. Tudo é tão instintivo, que faz nosso corpo tomar atitudes sem perguntar pro cérebro antes. Se fosse no Brasil e ouvíssemos o estampido de um tiro, nos jogaríamos no chão, sem pensar duas vezes.
NUM DIA DE DOMINGO
Tem dias como o de hoje, que eu tenho vontade de escrever somente bobagens, de encher este blog com coisas absurdas e irrelevantes, de ser mal educado, de mandar o vizinho chato ou esnobe, tomar no seu precioso cu, de chegar na janela escancarada do meu apartamento e expor minha bunda pra quem quiser olhar e se escandalizar, de perguntar bem alto, quase gritado, para quem passa: O que está acontecendo com vocês e comigo, que não tomam nenhuma providencia?
As pessoas iriam aos poucos se acumulando e possivelmente não intenderiam meu real motivo, para uma atitude tão descabida e nem de que "providencia" eu estaria falando. Depois de algum consenso, iriam quem sabe, chamar a policia por atentado ao pudor e se aglomerariam na calçada com tantos outros, para assistirem a o desfecho da minha cena de mal gosto e esqueceriam de se perguntarem, de que "providencia" eu estaria falando. Perderiam o foco da minha revolta por uma simples curiosidade coletiva. E eu? Bem, eu diria apenas: Um péssimo Domingo à todos, para que tomemos alguma providencia!
SOU UM ENFILTRADO.
Ás vezes penso que se eu tivesse o poder de saber o meu futuro, preveniria tantos erros cometidos no passado, quanto as angustias geradas pelas incertezas do presente. Os acertos seriam sempre como um chute certeiro de Pelé à gol e os erros perceberia antecipadamente para evita-los. Por outro lado eu não seria tão pulsátil, tão cheio de obscuridades e erros, que só me fazem crescer como individuo. Um dia já cheguei a pensar que eu era um extra terrestre infiltrado no planeta, enquanto chupava laranjas no pomar de uma vizinha. Mas esta é outra historia pra ser contada!..
O GATO ENLOQUECEU:
Chico acordou enlouquecido. Desde que amanheceu o dia, corre pelo quarto de olhos arregalados, orelhas baixas e o dorso em forma de ferradura. Pula pra janela que agora tem tela e emite um som que não é miado, está mais pra um rugido de filhote de leão.
Será que é a chuva que está caindo lá fora, nos impedindo de ver o sol, de sair pra rua e ver as pessoas, outros bichos, o mundo? Será que esta pandemia está influenciando psicologicamente até os inocentes gatinhos?
A PERFEIÇÃO É UMA META
Meus ensaios com os músicos, Gian no trompete, Wagner no 7 cordas e Cândido na percussão, tem sido tão produtivo quanto prazeroso. Tive a sorte de encontrar na minha caminhada, músicos competentes, que ajudaram no meu processo de crescimento com a musica, e mais que isso, conseguiram abrir em mim uma portinha que a muito, eu mantinha fechada com trancas e ferrolhos, que é a confiança em mim e nas pessoas que me rodeiam sem vê-las como adversários.
Tenho meus fantasmas, minhas inseguranças e minhas exigências pra tudo que eu faço e esses músicos em especial, com muita paciência e sabedoria, conseguiram estabelecer diálogos para um senso comum no grupo, me pondo à vontade e verdadeiramente satisfeito. Isto é imprescindível para que alcancemos os objetivos que queremos.
Daí, que eu lembrei desta historinha, lida em algum lugar: |Deus deu para o homem como meta, a perfeição, mas estabeleceu como prazo a eternidade e como companheira dessa caminhada a paciência|. A eternidade é a única coisa que o homem não possui.|
LEOPOLDINO
Sabe aquelas pessoas que vivem rindo à toa, que ri da vida, das pessoas, das piores historias contadas como se tudo fosse uma piada? Assim era meu tio Leopoldino, de terceiro ou quarto grau familiar e que eu não o sentia como um tio, mas aquele camarada que sempre tinha conversa pra tudo, até pra encher linguiça, se fosse o caso!..
Não lembro dele mais jovem, nem tão pouco, de ter percebido durante nossa convivência, aquelas mudanças graduais, que o tempo desenha nas pessoas, transformando-as em outra. Sim, o tempo nos transforma em outra pessoa!
Parecia sempre o mesmo homem, de traços cansados e olhos que buscavam o horizonte com certa tristeza nunca revelada. Passava as tarde sentado num banco de madeira sobre a calçada, uma boina de lã que raramente tirava da cabeça e uma bengala onde apoiava as duas mãos que com o tempo foi substituída por duas muletas. Sussurrava alguns sambas que só mais tarde vim a identifica-los.
Minha mãe contava, que quando jovem, ele perdera a metade do pé direito num acidente de bonde. Foi pular com o bicho de ferro andando, caiu com o pé sobre o trilho e a roda amputou todos os dedos como uma navalha afiada. Diabético, nunca conseguiu cicatrizar a ferida que ficou crônica e também o levou deste mundo.
INUTIL PAISAGEM
MINHA TEORIA SOBRE ETS
Sempre acreditei na existência de seres extra terrenos mais inteligentes do que nós, espalhados pelo planeta, cruzando pela gente nas ruas, subindo em ônibus, descendo escadas rolantes, nos encarando estranhamente de um canto, de um restaurante ou supermercado.
Não são anjos de asas mandados para nos proteger, mas seres diferenciados, sensitivos com poderes mentais capazes de se comunicarem por telepatia, lerem nossos pensamentos, entrarem em nossos sonhos e outros métodos não convencionais.
Foram mandados pra cá com o objetivo de conhecerem a raça humana, se relacionarem e obterem informações, de como funcionamos. Muitos híbridos, vivem entre nós com a aparência humana tentando interagir sem serem por nós identificados.
Querem invadir nosso planeta? Quem sabe!.. Nos estudar? Talvez!.. É apenas uma teoria conspiratória? Pode ser! Mas que o mundo está cheio de coisas estranhas e inexplicáveis; Isto é uma verdade!
TATI A GAROTA DA MINHA RUA
Tati era uma garota que conheci na minha adolescência, quando mudou-se pra minha rua, numa casa simples com quarto, sala e banheiro. Em pouco tempo fez amizade com toda a gurizada da rua que se sentiam orgulhos, machos com sua presença chamativa e exuberante.
E quem não queria estar por perto daquele mulherão linda e perfumada que deixava alguns vizinhos de olhos esticados e outros de cara torcida?
Tati nunca escondeu de ninguém o que fazia à noite, naquelas boates chiques de Porto Alegre, que nós sem um tostão no bolso, jamais poderíamos frequentar.
Nos finais de semana, quando tínhamos competição de voleibol com times de outras escolas do bairro, nos acompanhava como animadora de torcidas, nos deixando orgulhosos e felizes com sua presença. Era tão linda, que tirava a atenção dos nossos rivais embasbacados com sua beleza e simpatia. Evidentemente torcia por nosso time e estimulava cada um de nós enquanto jogávamos. Foi sem duvida a responsável por todos as nossas vitórias, naqueles tempos de glória, que não voltam mais.
NO TEMPO DOS HOMENS
Vou vivendo este tempo de transformações, de vida recortada de fatos e acontecimentos que não entendo e sonhos que eu não decodifico, mas que vem das profundezas de mim, fazendo pequenos estragos e contrapontos ao que entendo e controlo.
Quando exteriorizo, através de palavras, ou de algumas expressões que me identifico, minhas neuroses, parecem se abrirem a um esclarecimento. Fica mais leve e iluminado dentro de mim. Como se ascendessem candeeiros pelos caminhos obscuros.
Transferir estas emoções em palavras, em canto, significa uma forma intensa de esvaziamento de coisas que necessitam nivelamento do terreno mental, para o plantio de novas experiências. Faço isto porque é preciso morrer e nascer de novo, quantas vezes for necessário, ainda que no tempo dos homens!
TODA A MULHER É MEIO LEILA DINIZ
Minha vida social na adolescência se deu integralmente na esquina da rua onde morava com os meus pais. Nela se reuniam eu e mais quatro garotos que beiravam entre os doze e quatorze anos de idade e que tinham como teto para competir sabedoria e esperteza, o imenso céu estrelado nas noites de verão, Quando extrapolávamos com gargalhadas ou mesmo falando alto, um ou outro vizinho gritava de sua casa: -Vão pra casa dormir seus vagabundos, aqui tem gente que trabalha amanhã cedo!..
Discutíamos e disputávamos tudo, desde cenas de filmes de cowboy, os personagens mais corajosos dos filmes de guerra, os heróis com maiores poderes extra humanos, quem cuspia mais longe, até os imaginários sonhos com garotas que nem sabiam da nossa existência.
Um dia me encantei por uma garota da televisão, que eu não podia contar pra ninguém. Ela não era o tipo de garota, que se contasse estar apaixonado. Minha mãe a detestava, dizia que era vulgar, desbocada e que falava tudo que lhe vinha na cabeça, com a naturalidade de uma mulher sem classe. Eu descordava disso e cada vez que a via e ouvia tal garota, mais, me sentia preso nas malhas de sua sedução, que não eram dirigidas somente pra mim, mas para tantos quantos, se permitissem ouvi-la falar de suas fragilidades de mulher e desejos de liberdade não aceitas.
Gravida, numa tarde de sol, ela resolveu tomar banho de mar e virou um escândalo nacional, uma ofensa para as famílias de bem e de conduta social respeitáveis. Foi flagrada, fotografada com sua enorme barriga saindo do mar. Mulheres até então, não eram tão explicitas, não falavam abertamente sobre sexo, não mostravam suas barrigas gravidas publicamente, como não denunciavam assédios sofridos, muito menos por a boca no mundo como ela fazia.
Depois de algum tempo, minha paixão foi se acalmando, se transformando em admiração, meus interesses tomando outros rumos e meus amigos, substituídos por outros. Numa manhã fria de 1972, soube que ela havia partido e se calado para sempre, com a queda de um avião na Índia. Hoje toda a mulher que não se cala e se reconhece, é meio Leila Diniz.
A ESQUINA MALDITA
MITOS DA INFANCIA
GATOS E SUA ARTE DE ENGAMBELAR HUMANOS:
TENSÃO PANDEMICA
A HISTÓRIA DE IONE FERREIRA
Ione Ferreira era uma amiga de minha mãe; Uma mulher charmosa, elegante, linda, negra, que quando chegava no portão lá de casa, seu perfume de fragrância agradável, espalhava um cheiro maravilhoso pelo pátio como flor de jasmim ao anoitecer.
Até na cadeira onde sentava, carimbava aquela deliciosa fragrância, estonteante que não me saia das narinas desacostumadas aos bons cheiros da vida. Usava sapatos de salto altos, coloridos, com meias de seda, taiers de linho que pareciam ser costurados no próprio corpo. Cabelos lisos bruxados para traz, finalizando um coque bem acabado e perfeito. Boca bem delineada por um batom vermelho, porem discreto, anéis, brincos, pulseiras, colares, tudo do maior bom gosto.
Ione não devia ser, pelo menos para mim, não se parecia com uma simples lavadeira como minha mãe, que se vestia com roupas mais simples. Tinha ares de secretaria executiva, estudada, esclarecida. Era casada com Wilson, a quem amava e tinha um casal de filhos ainda pequenos.
Foi até a minha mãe, por que precisava se aconselhar, dividir um problema que parecia não conseguir resolver sozinha. Estava grávida e não podia ter outro filho, a situação financeira não era favorável e seu marido ainda continuava desempregado...
Neste dia, com minha mãe, houve cochichos que eu não pude escutar, nem tão pouco entender. Ione caminhava pela casa nervosa, lamentava e chorava. Falavam em dinheiro, que tudo aquilo era arriscado e também muito caro, mas que não encontrava outra solução. Minha curiosidade crescia com minha imaginação. Eu não entendia aquelas frases soltas, sem sentido, algumas palavras que nunca ouvi na vida. Tudo me parecia uma conspiração, que eu não sabia de que lado estavam os mocinhos e os bandidos.
Ione foi embora comentando que tudo daria certo. Passado alguns dias, minha mãe chorava disfarçadamente pelos cantos da casa. Acho que não podia chorar na minha frente, mães não se despedaçavam na frente dos filhos demonstrando fraqueza. Mães eram de pedra que saiam leite. Mães eram fortes e silenciosas como santas de madeira de lei.
Quando se trocou no final da tarde, com uma roupa simples e discreta, olhos meio inchados, dizendo que Ione estava morta, eu me espremi num canto da casa tentando entender. Na verdade, passei anos sem conseguir entender!..
PERSEGUINDO LUPICINIO
É fato que eu e um amigo, ainda novinhos, saindo da menor idade, percorríamos as noite porto-alegrense em busca do paradeiro de Lupicínio Rodrigues, que sabíamos, fazia também suas incursões pelos botecos da cidade, dando palhinhas de seus sambas Dor de Cotovelo, com sua inseparável caixinha de fósforos.
Andávamos de bar em bar, madrugada à dentro, até encontra-lo e ficarmos completamente hipnotizados com sua presença simpática e voz doce. Nas noites em que não o encontrávamos por pura falta de sorte, acabávamos em outros bares, (menos ou sem nenhuma exigência com a data de nascimento registrada em nossas carteiras de identidade) para ouvir outros dois mestres da musica: Plauto Cruz e Tulio Piva, que passou a tomar o lugar de destaque no coração do meu amigo, com a criação do samba Pandeiro de Prata, que ele considerava uma obra de arte.
Nunca trocamos uma única palavra com Lupicínio, por que tínhamos consciência da distancia entre os dois mundos que nos separavam. Ele um homem maduro, vivido, poeta, com uma grande carga de experiência pessoal e cultural que pra nós era inconcebível, inimaginável qualquer dialogo entre o Céu (ele) e a Terra (nós). Mas acredito que pela nossa insistência em persegui-lo pelos bares, deve um dia ter se perguntado sobre as nossas constantes aparições nos mesmo lugares em que frequentava.
Outro "figuraça", que encontrávamos algumas vezes nestes lugares e que com o passar do tempo foi virando aquele amigo de bar que conta suas façanhas causticas e amorosas, foi o estimado Paulo Santana que nos deixou saudosos de sua alegria. Mas isto eu conto noutro post!
O ESCALER DO TONINHO
O DIA EM QUE A TARDE VIROU NOITE.
ASFIXIA
ROTINAS COM UM GATO NUM DIA CHUVOSO
Acordei nesta Terça-feira 12/06 relativamente cedo. O Chico já estava em alerta, me olhando, com toda a sua energia felina, correndo em alta velocidade pelo quarto, pulando na minha cadeira de home-office e dela, saltando (feito um malabarista) na minha cama, já semidestruída por suas unhas e dentes afiados. Depois correu em círculos, com dorso arrepiado e em forma de U sobre a cama indo esconder-se entre os travesseiros, olhando-me sempre de olhos arregalados e orelhas baixas, numa posição de ataque. Entendo que esta atitude parecendo agressiva, é no fundo um convite para brincadeiras entre amigos, o que já me rendeu dezenas de arranhões e mordidas nos meus braços e mãos.
Depois de servir meu café preto, sem acompanhamentos e debruçar-me na fresta da janela do quarto, é que percebi que a chuva que chegou meio despercebida, caia fina e gelada, conforme previsão das autoridades do tempo. Deixei correr meus pensamentos soltos e de um jeito leve, enquanto sorvia meu café ouvindo "Inútil Paisagem" do Tom e do Aluísio!
Chico ainda corre aos saltos pelo quarto de olhos arregalados, esparramando acidentalmente sua areia e ração que troquei, minutos antes de servir meu café. Me olha com ar de desconfiança felina, talvez se perguntando, se eu quero continuar brincando, ou se deve parar por ter feito alguma coisa errada. É, pelo jeito, o dia vai permanecer assim até chegar a noite!
PARA UM AMIGO
Achei este post do dia 14/05/2008 que tanto procurava, e que simplesmente o perdi no meio de outras postagens. Ele foi escrito para um amigo de infância, que sempre encontrava-o nas minhas idas e vindas pelas ruas de Porto Alegre. Depois de um tempo, deixei de encontra-lo e desconfiei que pudesse ter partido. Foi o que realmente aconteceu!
DOMINGO NÃO PRECISAVA EXISTIR
Três coisas que eu me recusaria terminantemente de fazer hoje por ser Domingo e por força do meu temperamento destemperado ou temperado mas fora das medidas padrões. Hoje o dia está úmido, cinza, chuvoso, sem luminosidade, e Porto Alegre com cara dessas cidades europeias, que ninguém quer visitar, nem que seja de graça.
Eu por conta deste clima feio e desfavorável, acharia empecilhos até pra comer uma rapadura do tipo pé de moleque da serra. Me recusaria também a ler qualquer artigo, romance, poesia, reportagens em geral, cujo o texto começasse com a frase "Como fazer" que me faz lembrar de (receitas do tipo de faça você mesmo).
Também pularia do Décimo andar de um prédio, se me aparecesse alguma mulher evangélica, de cara lavada, com coquezinho preso na nuca, vestida com saia Maria mijona, com a bíblia na mão, tentando me pregar o evangelho. Ahf!... Gente hoje é Domingo, um dia que pra mim, nem precisava existir!
ALONGAMENTO NOTURNO
São exatamente cinco horas e cinquenta e um minutos, hora que resolvi escrever este post. Devo ter acordado por volta das quatro horas e qualquer coisa, com o Chico me olhando de olhos arregalados e eu com fortes dores nas costas. Depois de me mexer com cuidado, sentar e posicionar-me de barriga sobre o colchão, esticando os braços para baixo ao longo do corpo, me proporcionou uma rápida e considerável melhora da dor que venho sentindo desde as dezoito horas e trinta minutos de ontem, quando terminou meu ensaio com os músicos.
Esta posição corporal que tomei, talvez seja uma forma de alongar as hérnias da região lombar, descomprimindo-as e diminuindo consideravelmente a dor que começa a irradiar para os trocânteres, aqueles ossos redondos que ficam na base superior do fêmur.
Durante o dia faço minhas curtas e modestas caminhadas como posso, para não me entrevar de vez, e passar para a lastimável categoria dos dependentes. Na minha idade, facas e bisturis, nem pensar! Agora é quase seis e meia e o dia ainda não clareou, posso retornar pra cama, aproveitando o que restou da noite.
OLHOS TRISTES
Não sei se é simples impressão minha, mas quando saio de casa, vejo as pessoas na rua, com o olhar tristonho, parecendo cansadas, sem brilho, sem vida. Será que estou imaginando coisas?.. Você também vê isto?
Desde o motorista do aplicativo, que utilizo diariamente, do atendente da quitanda, do vigilante da rua, de alguns itinerantes, percebo um tipo de nuvem cinza que se espalha do olhar, um desanimo que transborda e por vezes um sorriso evasivo que é deixado escapar pelas dobras da máscara.
Tristeza que parece ser motivada por problemas não somente de ordem pessoal, mas de quem não aguenta mais tantos socos, tantas questões globais e gerais, de quem está por um fio da desistência, de quem não está aguentando mais as dificuldades geradas pelo homem. É. o dito cujo homem!
O advento da pandemia mundial, trouxe consigo o isolamento social necessário pela sobrevivência e o desuso do anti- stress usados nas reuniões familiares, de amigos, nas viagens, no barzinho dos finais de semana, nas academias de ginasticas. Também trouxe o uso compulsório de mascaras, nos transformando em outras pessoas; pessoas com meio rosto, com meia expressão, que teremos que nos acostumarmos.
A ROTA DOS AVIÕES
Da janela do meu quarto vejo tantas coisas, que me roubam a atenção, mas a noite deslumbro a rota dos aviões com suas luzes brilhantes, saindo do infinito para o infinito. È uma visão poética e solitária. Se parecem com naves espaciais brilhando no céu as vezes escuro e de poucas estrelas. Vão fazendo uma grande curva, na linha invisível até desaparecerem de vez. Não sei se estão saindo ou chegando na cidade. Passam por aqui, na minha janela, distantes e pequenos, como se eu simplesmente pudesse pega-los com a mão e ficar brincando...
A CARREATA BURGUESA
Dia desses, quando retornava pra minha casa, vi uma conhecida em seu carro, cheio de familiares, participando de uma carreata em favor do governo atual. Não me surpreendi, pois era óbvio que ela e sua família são de direita!.. Pensei.
Este governo que está no poder e que morre de medo de perder seus privilégios e se denomina defensor de uma sociedade cristã, composta de gente do bem, de família e que faz a economia girar com trabalho árduo e dos outros, é o que a republica quer como apoiadores de suas ideias. Uma nova burguesia que raramente estudou, leu um bom livro, que não expandiu seu intelecto e portanto não flexionou seu olhar as diferentes verdades. Uma nova burguesia folhada de valores absurdamente rasos e sem conteúdo.
Havia muito buzinaços e bandeiras do Brasil esticadas pra fora das janelas dos carros, flamulando ao vento, chamando a atenção dos transeuntes desatentos, dos que se deixam levar a o vento sem um rumo certo, dos invisíveis.
Lembrei que esta vizinha e seus familiares, só podiam ser de direita, afinal são brancos, empresários bem sucedidos cuja a luta é se manter no poder, assim como o governo, monopolizando as grossas fatias da torta para o seu consumo próprio, sem dividir com quem não reza na mesma cartilha.
Seus privilégios de hoje, que consideram um mérito, por terem vindo de baixo e conquistado uma boa fatia econômica no mercado onde atuam, não pode ser perdido ou dividido com a escória, com o lixo da sociedade. Quanto a os estudiosos e intelectuais que pensam diferente, são comunistas, de esquerda, também não merecem nem o merengue que cobre a torta mas é bom deixa-los afastados, pois eles comem criancinhas!
MUNDOS PARALELOS
Tem momentos em que o nosso universo fecha as suas portas para o universo paralelo existente ao lado do nosso, (aquele que não acreditamos e não seguimos, por ser contra nossas verdades morais, sociais e politicas, mas a gente sabe que ele esta ali, na espreita, esperando oportunidades). Mesmo trancando janelas, desligando lâmpadas, abajures, celulares, televisão, ele continuara existindo e atuando com suas forças negativas sobre nossas vidas, causando-nos insatisfações, revoltas internas, injustiças, nos deixando doentes e a beira de um colapso.
É como se tudo aquilo em que não acreditamos, não parasse nunca com suas truculências, continuasse trabalhando incessantemente para cumprir seus objetivos próprios e que são o inverso do nosso, transformando-nos em seres neuróticos e altamente nocivos a nós mesmos e a sociedade. Os golpes vem de todos os lados impedindo-nos de respirar, de acreditar numa melhora, nos roubando toda a credibilidade. E olha que as vezes consegue!
Ontem entrei acidentalmente numa pagina da Internet, cujo o autor fazia elogiosa propaganda aberta para o presidente Jair Bolsonaro, avultando seu caráter de liderança como chefe de estado, sua nobreza como ser humano, seus feitos pelo país, seu inerente patriotismo.
Como assim?, pensei de imediato, não acreditando no que estava lendo. Me perguntava como podia existir uma pessoa descrevendo aquilo tudo de positivo sobre o Jair e outras o apoiando sem conseguirem enxergar o quão nefasto é o seu governo. Não perceberem suas verdadeiras intenções, seus excessos cometidos, seu radicalismos, sua falta de educação, assim como seu evidente descomprometimento com as pessoas e seu país, Como é possível?.. Como é possível algumas pessoas desejarem o retorno da Ditadura?
QUANDO JOÃO GILBERTO MOROU EM PORTO ALEGRE
FELIZ DAQUELE QUE SABE SOFRER:
Nelson do Cavaquinho compositor carioca (29/10/1911#18/02/1986) tinha toda razão a o escrever estes versos: "Se eu for pensar muito na vida, morro cedo amor, meu peito é forte nele tenho acumulado tanta dor. As rugas fizeram residência no meu rosto, não choro pra ninguém me ver sofrer de desgosto. Eu que sempre soube esconder as minhas magoas, nunca ninguém me viu com os olhos rasos d'água. Finjo-me alegre pro meu pranto ninguém ver. Feliz daquele que sabe sofrer".
SOBRE A SEDUÇÃO:
EM QUALQUER LUGAR:
Onde tudo vai dar? me perguntou o menino de apenas seis anos de idade, me deixando absolutamente temeroso do que lhe responder.
Fiquei temeroso sim! Primeiro porque é incomum uma pergunta dessas vir de alguém tão jovem e eu tomado de surpresa, não tinha nenhuma resposta pronta para lhe dar. Eu também até hoje nem faço ideia onde tudo irá dar.
Mas eu não poderia deixa-lo sem uma resposta e pensava na responsabilidade de falar a verdade não lhe dizendo mentiras. Mas quando se vive num mundo de incertezas, qualquer informação pode ser falsa. Eu deveria ter lhe mostrado esta foto quando me fez a pergunta.
NA VELOCIDADE DO TEMPO:
Me submeto a ter algumas atividades para não cair em rotinas que me leve a seguinte equação: (ansiedade + tédio = depressão). Então, rabisco em folhas de papel, digito frases sem sentido, fotografo imagens, pessoas, canto algumas composições que me emocionam, para ocupar o tempo que é de ouro, que é frágil e veloz.
Eu acredito não ser deste tempo em que vivo, então me sinto dividido entre o ontem e o hoje, num tempo intermediário há apenas um passo, uma piscada de olhos, no marco zero da porta gigante que separam o passado do presente.
Vivo disfarçando estar num tempo seguro em que nos roubam tudo, inclusive a alma já negociada por algumas garantias prometidas e não cumpridas.
Finjo sorrisos, simulo gestos de aceitação pra que as dores sejam menores. Me debato convulsivo sobre paredes finas de gesso, se eu chorar, a lágrima a desmancha, se eu bater, a raiva a quebra em mil pedacinhos. Um grande risco!
CHICO FURDUNÇO E SEUS ATAQUES OUSADOS
AS CORRELAÇÕES:
FÉRIAS PARA A PANDEMIA:
UM SUJEITO DE SORTE
DEPOIS DA ADOÇÃO
CHICO FURDUNÇO
Desde o dia que ele chegou na minha casa, trazido de carro numa gaiola, por seu doador, tenho postado no Face book sua façanhas de gato que não é bebezinho, mas ainda é infantil por suas atitudes serelepes.
No primeiro dia alojei-o em meu quarto pois não estava preparo para espera-lo. A adoção aconteceu num único dia. Alguém me falou, liguei para seu ex dono que fez contato rapidamente e me entregou-o no portão do edifício.
Sem caixa de areia e ração para felinos, só pude disponibilizar de imediato um pratinho com agua e uns farelos de pães, pra ele ir se virando.
Ficou pelo menos dois dias no meu quarto escondido, no guarda- roupas, dentro de um tênis vermelho e de olhos arregalados quando eu o localizava.
Enquanto tentava firmar amizade com ele, pedi para amigos que me sugerissem um nome. Veio muitas sugestões, mas acabei me decidindo por Chico Furdunço, nome que mais se parece com sua personalidade agitada e cara de doido.
Passou por vários estágios de adaptação como greve de fome, miar alto as 4 horas da madrugada com ar de insatisfeito, até ir se acalmando e fazer amizade comigo.
INSPIRAÇÃO
A inspiração é como uma visita surpresa, que bate inesperadamente na tua porta e quando vai embora, não faz promessa de quando vai voltar. Tudo pode acontecer nestes momentos de pura sensibilidade, de encontro marcado ou de puro acaso.
CONDENAÇÃO COM RETOMADA DE VALORES
Sim, é inegável que o mundo precisa de mais justiça, mais fraternidade e isto só se dará através de mudanças profundas nas relações sociais e politicas, com regras e leis igualitárias, justas e não abusivas e discriminatórias. A condenação unanime do policial americano, foi um passo decisivo nos valores que por décadas deixaram de ser discutidas.
NOS TEMPOS EM QUE EU VOAVA
Nos meus sonhos de criança e também na adolescência eu sempre sonhava que voava mesmo não tendo asas, para escapar de alguns perigos e de qualquer coisa que me causasse muito medo. Era como se uma força desconhecida me impulsionasse pra cima e eu saia como Icaro, voando solenemente ileso sobre o mundo.
Com o tempo, eu fui me perguntando, se esta facilidade magica e inexplicável que me acontecia, não era algum tipo de facilitação emocional somatizada pelos meus conflitos internos, para não enfrenta-los de frente. Voando, eu nunca era pego por supostos inimigos e me tornava inatingível. Também não me esforçava em demasia para ter enfrentamentos. Era somente fechar os olhos e fugir num voo espetacular e sem esforços.
QUANDO EU VIREI UM BRUXO,
Eu acreditava que a vida vivia sempre me empurrando para becos escuros, buracos, valas, sarjetas. Eu não tinha escolha, era um, dois e lá estava eu, num deles, ansioso, com medo, num desses becos escuros, frios e sem saída, que na minha ânsia de escapulir, fazia-me caminhar em círculos, voltando sempre pro mesmo lugar, perdido, sem encontrar uma saída, uma perfeita saída como numa cena de ação do James Bond.
Mas o tempo me fez descobrir que existem algumas magicas, que fazem o cotidiano se transformar, sem receitas, sem caldeirões mágicos com perninhas de sapo, e esta magica só acontece depois de algum tempo de vida, de penúria, de sofrimento, de procura por si mesmo. É quando a gente sem perceber, se transforma em outro, num bruxo, sem perceber que adquirimos poderes transformadores que modificam os nossos pensamentos, reações e atitudes, também a nossa rota, o nosso destino, onde os becos e buracos, não são tão assustadores e obscuros. Mas como toda a bruxaria que se preze, é necessário que se adquira com o tempo, alguma quantidade de vivencias, de lágrimas, de cabelos brancos e rugas na cara. A varinha mágica é coisa opcional.
A VISITA INESPERADA.
Enquanto eu a olhava pela janela, percebia sua figura espreitando-se entre o jardim e as arvores que cobriam o pátio. Ela colhia margaridas, sua flor predileta, enquanto olhava pra mim, por vezes desconfiada, tentando reconhecer-me de algum lugar, talvez de uma vida que já não lhe pertencia mais. Era isto que traduzia em seu olhar
Seu corpo vestido de névoa, miúdo e perfeito, quase não fazia sombra nos movimentos de zig zag entre as arvores, que por vezes a revelava e a escondia no tempo de um lampejo.
Será que amanhã retornará ao meu jardim de frondosas arvores, que meus pais plantaram e que hoje eu cuido? Voltará com seu olhar de desconfiança?
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