PRETO POBRE E PUTO

Conheci Nega Lu, a o acaso no vernissage de um amigo, Will, Cava ou Cavalcante. Chegou como se diz, chegando: Usava sobre o corpo uma miscelânea de estilos e gêneros, sandálias feminina, calça jeans, uma jaqueta sobre uma camiseta, os braços cheios de pulseiras e um estranho chapéu de rafia com algumas  flores e tule. Assim era o visual da Nega Lu, nunca se sabia o que ela vestiria, para chamar atenção das pessoas com quem se relacionava nas noites boemias e artísticas de Porto Alegre. As vezes surpreendentemente aparecia com um simples tênis, camiseta e uma calça jeans e estava pronto para discutir, retrucar com pequenos deboches e  muito humor as opiniões filosóficas, culturais e politicas do mundo cão.

Negro, pobre e gay, desfilava pelos circuitos gays, culturais e políticos da cidade como o Doce Vicio onde era garçonete, o Copa 70, na Esquina Maldita  onde puxava um coro de bêbados entoando o clássico Summertime. Puxava uma mesa daqui e outra dali, e o palco já estava montado para um rápido recital de jazz à capela sobre o tablado montado às pressas. Nega Lu deixava os espectadores alucinados com seu vozeirão grave e afinado. 

Foi solista da OSPA e da UFRGS, crooner da Rabo de Galo banda de blues na década de 80, dançarino do Balé Clássico nos anos 60, Porta bandeira da Banda do Saldanha e ainda falava um pouco de francês que aprendeu quando aluno da Aliança Francesa de `Porto Alegre. Nega Lu deixou seu nome registrado na memória afetiva de Porto Alegre e agora virou livro. Sim, livro que fala de sua trajetória como um percussor das mudanças sociais e comportamentais que ainda hoje se consolidam na cultura moral do país e das pessoas ditas "De Bem". 

Nega Lu se dizia vitima dos três pês: Preto, pobre e puto. Nega Lu virou livro contada pelo escritor o autor, Paulo César Teixeira com titulo de, "Nega Lu - Uma Dama de Barba Malfeita", Se você nunca ouviu falar da Nega Lu,  assista AQUI no Youtube
Luiz Airton Farias Bastos, (seu verdadeiro nome), faleceu em 17 de setembro de 2005, dois meses antes de completar 55 anos, de complicações cardíacas.


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