Há poucas horas atrás, eu olhava do mesanino envidraçado a grande planice verde que se estendia até o horizonte no escuro da noite. Bela planice gramada com um toldo azul-marinho solitário num canto e pequenas divisões numeradas no solo, onde se enterram corpos e que ficam catalogados em arquivos na entrada principal, bonita, clara, iluminada e extensa. As crianças passaram correndo e espalhando energia, uma delas perguntou debruçada na janela se era ali que enterrariam o seu avô. Enquanto eu olhava o corpo de seu Antônio, deitado no caixão, pensava comigo mesmo, que não parecia ser a mesma pessoa da qual lembrava antes, tão cheio de vida, sorridente e prestativo. Aquele rosto não parecia ser o dele nem tinham semelhanças. Era um semblante sério numa face pálida e inchada que jamais ví no antigo rosto alegre que corria para abrir o portão de sua casa quando eu chegava para visita-lo. Com certeza seu Antônio não estava ali, estava em minhas lembranças ainda sorridente e apressado para abrir novamente o portão.
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