A HISTÓRIA DE IONE FERREIRA

Ione Ferreira era uma amiga de minha mãe; Uma mulher  charmosa, elegante, linda, negra,  que quando chegava no portão lá de casa, seu perfume de fragrância agradável, espalhava um cheiro maravilhoso pelo pátio como flor de jasmim ao anoitecer.

Até na cadeira onde sentava, carimbava aquela deliciosa fragrância, estonteante que não me saia das narinas desacostumadas aos bons cheiros da vida. Usava sapatos de salto altos, coloridos, com meias de seda, taiers de linho que pareciam ser costurados no próprio corpo. Cabelos lisos bruxados para traz, finalizando um coque bem acabado e perfeito. Boca bem delineada por um batom vermelho, porem discreto, anéis, brincos, pulseiras, colares, tudo do maior bom gosto. 

Ione não devia ser, pelo menos para mim, não se parecia com uma simples lavadeira como minha mãe, que se vestia com roupas mais simples. Tinha ares de secretaria executiva, estudada, esclarecida. Era casada com Wilson, a quem amava e tinha um casal de filhos ainda pequenos. 

Foi até a minha mãe, por que precisava se aconselhar, dividir um problema que parecia não conseguir resolver sozinha. Estava grávida e não podia ter outro filho, a situação financeira não era favorável e seu marido ainda continuava desempregado...

Neste dia, com minha mãe, houve cochichos que eu não pude escutar, nem tão pouco entender. Ione caminhava pela casa nervosa, lamentava e chorava. Falavam em dinheiro, que tudo aquilo era arriscado e também muito caro, mas que não encontrava outra solução. Minha curiosidade crescia com minha imaginação. Eu não entendia aquelas frases soltas, sem sentido, algumas palavras que nunca ouvi na vida. Tudo me parecia uma conspiração, que eu não sabia de que lado estavam os mocinhos e os bandidos.

Ione foi embora comentando que tudo daria certo. Passado alguns dias, minha mãe chorava disfarçadamente pelos cantos da casa. Acho que não podia chorar na minha frente, mães não se despedaçavam na frente dos filhos demonstrando fraqueza. Mães eram de pedra que saiam leite. Mães eram fortes e silenciosas como santas de madeira de lei. 

Quando se trocou no final da tarde, com uma roupa simples e discreta, olhos meio inchados, dizendo que Ione estava morta, eu me espremi num canto da casa tentando entender. Na verdade, passei anos sem conseguir entender!..

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