Nestes dias de grandes tristezas e insegurança no amanhã, é sempre bom lembrar de sonhos, por que sonhos acabam, mas não envelhecem!
Guaraci Rodrigues, um amigo de muitos anos, foi quem convidou a mim e um grupo de amigos, todos de relações em comum, para conhecer o bar do Toninho, um colega dele da Marinha Mercante, com jeitão de boa-praça, que passou 12 anos de sua vida juntando uma parcela de seu salario, para construir o sonho de sua vida. Um bar/ lancheira na farta flora do Parque da Redenção, que nesta época já era considerado um local de relativa periculosidade à noite, pela precariedade de iluminação pública. E quem foi que disse que sonhos envelhecem e não se realizam?.. O bar/lancheria, não sé deu certo, como entrou pra história na vida dos portoalegrenses
O Escaler, inaugurado no dia 24 de Outubro de 1982, às margens do histórico parque, na antiga peixaria Guaíba, no pequeno Mercado do Bom Fim, foi batizado de com este nome, por significar bote salva-vidas (palavra bem familiar na vida do Toninho que por anos fez uma rota marítima mar à fora, mas que pra nós, nosso grupo de amigos, continuava sendo: "O Bar do Toninho".
O ambiente era sempre uma festa, onde os amigos chegavam e descarregavam suas neuras e sonhos por vezes vanguardistas e ousados, para uma época de paz e amor e grandes transformações. Alguns até apelidaram o lugar com mesas espalhadas na rua, de woodstock porto-alegrense.
Aconteceu até um show do Bebeto Alves, um dos assíduos frequentadores do bar que engarrafou quadras adjacentes impedindo o trafego dos fiéis frequentadores da Igreja Santa Teresinha.
Poucos lugares em Porto Alegre simbolizaram tão bem a efervescência de uma geração sedenta de sonhos, mudanças e liberdade de expressão, quanto as noites vividas no Escaler e sua fauna por vezes exótica, composta por boêmios, intelectuais, jornalistas e uma infinidade de artistas de diversos segmentos, que fermentavam ideias, loucuras, sonhos e elucubrações politicas e sociais.
Passaram por ali, bandas como Bandaliera, Engenheiros do Hawaii, Cidadão Quem, Rabo de Galo, Câmbio Negro, Bebeto Alves, Nei Lisboa, Nega Lu, figura notória da noite porto-alegrense e tantos outros, que fizeram história e até viraram livro...
O estabelecimento fechou suas portas em 2006, mas viveu seu apogeu nos anos dourados da cidade, como um reduto cultural, numa época em que se acreditava que tudo era pra sempre, sem saber que pra sempre sempre acaba.
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