SAIA JÁ DESSAS SESSÕES DE PSICANALISE

Tem assuntos sobre vc, sobre a sua vida, que você não está disposto a falar, por que não acha conveniente, naquele momento falar. Daí que a pessoa que está te questionando diretamente ou criando voltas para falar no assunto, acha que você tem problemas para falar sobre aquilo, se abrir.

Na verdade seu foco é outro, e a pessoa curiosa, só está querendo saber onde os conceitos dela de aceitação sobre você se enquadram, se positivo ou negativamente no julgamento dela. E lembre-se: Você nunca é o que diz ser, mas aquilo que o outro acha que você é.


COISAS QUE DEPOIS SE REVELAM

Eu não entendia o olhar amistoso e baixo da minha avó e da minha mãe para com os vizinhos e estranhos, principalmente se eles fossem brancos. Elas mantinham um olhar de humildade e resignação, passado de uma para a outra, sem que fosse justificado através de palavras a razão desta atitude. 

Minha mãe também passou silenciosamente para nós, (seus filhos), o que recebeu de nossa avó quanto a esta relação delicada, de lidar com estranhos e brancos. Nas suas atitudes com outras pessoas, este perfil de subserviência disfarçado de boa educação e humanidade com as pessoas, era uma carta, que valia uma aprovação ou não, por parte dos brancos. Só mais tarde, vim a perceber que não se tratava de fraternidade vinda delas, mas medo, um receio de serem retalhadas socialmente pela cor. Havia um esforço para serem aceitas pelas suas simplicidade e humildade. Acredito que por algum tempo, elas pensavam que serem negras era um erro.


Lembrei de uma entrevista do Djavan para a Bruna Lombardi no programa Conexão Internacional ou Conexão Nacional, onde ele dizia se sentir sempre deslocado em algumas festas ou eventos que participava, por ser um homem negro, mesmo com a sua fama, num mundo que parecia não lhe pertencer. 

Mais jovem, senti muitas injurias raciais e que algumas vezes por inocência, não me dava por conta se tratar disto, mas com o amadurecimento da idade, muitas coisas que pareciam inadequadas, foram ficando claras na minha cabeça e hoje meu olhar e ouvidos, tornaram-se atentos.

O MELHOR SUCO DE MELANCIA DE PORTO ALEGRE


Depois de uma breve passeada no Bric, decidi almoçar na Lancheiria do Parque, famosa nos tempos áureos, 60 e 80, dos porto-alegrenses, mas ainda bastante respeitada pelos moradores locais, intelectuais e grupos diversos que por ali param para beber uma cerveja, comer um Xis Burger. O almoço ainda continua com um cardápio simples, mas variado. Garçons simpáticos e prestativos. 
Aah, não se assustem pois os garçons gritam uns com os outros, como os vendedores nas bancas de peixe, na semana santa. 
"Sai um suco de melancia aí, a mesa tal precisa de atendimento, mesa tal está liberada, vamos repor o bife, .."


Pedi o famoso suco de melancia, já que nas mesas vizinhas, a preferencia da maioria eram por sucos, que que são servidos em copos grandes e o restante ficava na jarra do liquidificador sobre as mesas.
O suco de melancia e muito apreciado por ali. Você pede um copo e vem quase dois pra alegria do consumidor sedento,

DESCONFIANÇA GERAL

Vocês por certo vão dizer que eu não paro mais em casa, que ando queixoso demais, que eu estou preocupado demais com coisas banais, também com os outros, ou melhor, com o que eles pensam a meu respeito e materializam isto em suas atitudes. 
Eu vou dizer que sim: Estou sim, que fico preocupado, ansioso  principalmente quando apresentam indícios duvidosos quanto ao meu caráter.
Por outro lado, eu também duvido do caráter de muita gente que circula na minha volta. Então estão todos quites com estas questões! As vezes penso que o mal do século e a falta de confiança.

QUEM FOI CHIBATA



O médico-legista Harry Shibata é acusado de assinar laudos necroscópicos falsos de presos políticos assassinados pela ditadura. Seu nome aparece diversas vezes no “Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964”, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos.

Entre os laudos assinados por ele, estão o de Carlos Marighella, dado como morto em tiroteio, mas, na verdade, executado com diversos tiros; Vladimir Herzog, que segundo o regime teria cometido suicídio, versão já desmentida oficialmente pelo Estado brasileiro; e Sônia Maria Angel Jones, cuja tortura e estupro teria sido transformada por Shibata em morte por tiroteio.


Em abril de 2012, o médico sofreu um “escracho” em frente de sua casa, no Alto de Pinheiros, em São Paulo, organizado pela Frente de Esculacho Popular (FEP).

FRUTA ESTRANHA

Está cada vez mais comum nos nossos dias as discussões sobre racismo na TV, jornais e todo o suporte de difusão de informação, que se tem acesso. Mas a 100 anos, a dama do jaz, Billie Holiday chocou os EUA com sua interpretação da canção 'Strange Fruit'.

Billie Holiday com sua voz inigualavelmente triste e rouca e uma divisão espetacular, deixou os espectadores de maioria branca, em silencio no teatro em que se apresentava, até começar um primeiro depois o segundo aplauso. A musica era um soco no estomago da sociedade comandada por homens brancos da época. Nunca, ate então, uma composição musical fora tão direta numa ferida que nunca se fechou.


Dá pra imaginar as pessoas ouvindo esta musica e irem percebendo qual era a estranha fruta, pendurada no Álamo. Há um sentimento revelador quando a escutamos, e surge aquela imagem de olhos sofridos arregalados e boca distorcida, saltando na nossa direção impetuosamente.

Em 20 de abril de 1939, a cantora de jazz Billie Holiday (entrou num estúdio com uma banda de oito excelentes músicos para gravar Strange Fruit (Fruta Estranha).

Essa chocante música sobre os horrores dos linchamentos nos Estados Unidos, não foi apenas o maior sucesso de Billie Holiday, mas também se tornaria uma das mais influentes canções de protesto do século 20 – e que continua a nos dizer coisas sobre violência racial nos dias de hoje.
Em 1999, ela foi escolhida pela revista Time como a "canção do século".

FRUTA ESTRANHA:

1-Árvores do sul produzem uma fruta estranha
Sangue nas folhas e sangue nas raízes
Corpos negros balançando na brisa do sul
Fruta estranha pendurada nos álamos

2-Cena pastoril do valente sul
Os olhos inchados e a boca torcida
Essência de magnólias, doce e fresca
Então o repentino cheiro de carne queimando

3-Aqui está a fruta para os corvos arrancarem
Para a chuva recolher, para o vento sugar
Para o sol apodrecer, para as árvores derrubarem
Aqui está a estranha e amarga colheita

AS NUVENS NEGRAS DE 64

Em 1964, eu tinha 6 anos de idade, mas lembro-me de uma cena que sempre se repetia com alguma frequência na minha casa, na zona leste de Porto Alegre. Meu tio que morava no mesmo pátio, porem numa casa separada, estava no exercito e passava sempre lá em casa com um Jeep do exercito. Eram passadas rápidas, logo que anoitecia. Talvez fosse pegar algum pertence pessoal, não sei. 

Ele descia correndo do veiculo que dirigia e entrava no pátio gritando: Tá na hora do silencio gente, vamos apagar as luzes!.. Minha mãe colocava imediatamente eu e minha irmã de 5 anos na cama e desligava as luzes da casa. 

O governador do Estado era Ildo Meneghetti. Foi a última eleição antes da deposição do presidente João Goulart e instalação do Regime Militar de 1964.

Deitado na cama, eu não sei dizer o que se passava na minha cabeça de seis anos, além de muito medo, de alguma coisa que não conseguia ver e nem entender.  Mais tarde, na escola, já adolescente, soube que se tratava do Golpe de 64 e que não era uma coisa boa. Minha mãe dizia, que o Exercito estava defendendo o país dos comunistas, que matavam até crianças para conquistar seus objetivos. Mais maduro, consegui entender quem eram os verdadeiros vilões desta história



CAINDO A FICHA


Agora aos sessenta e três anos de idade é que estou sentindo a ficha cair, embora a cabeça ficou lá atrás nos quarenta e poucos anos de idade. Mas como disse uma vez Caetano Veloso, numa entrevista dada a um jornalista, sobre os aspectos negativos do avanço de sua idade.

Ele respondeu que era a falta de agilidade, que o corpo não respondia mais aos interesses e desejos de sua vontade, ou seja: a vontade de fazer certas coisas corria em tempo diferente do corpo, que ficou mais lento, mais sensível para realizar determinadas coisas.


Tenho me analisado algumas vezes e percebido que comigo, também tem sido assim, além de ter surgido outros interesses, como jardinagem que antes nem cogitava fazer. Gosto de observar as diferentes texturas das plantas, plantar mudas, podar, trocar de vaso

Gosto também de decorar a minha casa, mesmo que seja somente trocar os moveis de posição pra ver como é que fica... Quanto ao me relacionar com pessoas é sempre o mais difícil das etapas pra mim. Na verdade, sempre foi.

MEIA LEGUA O LIBERTADOR DE ESCRAVOS




O texto foi retirado integralmente da wikipedia.org/.

Benedito Caravelas era um escravo nascido na Villa Nova do Rio de Sam Matheus. O apelido Meia-Légua veio de suas várias viagens ao nordeste. Suas qualidades de líder, sua coragem e sua astúcia transformaram-no em símbolo de esperança de libertação para os escravos da região norte do Espírito Santo.

APELIDO DE MEIA LÉGUA:
Em um das várias vezes em que foi preso, Benedito chegou a São Mateus amarrado pelo pescoço, sendo puxado por um capitão do mato montado a cavalo. Os negros que foram presos junto a ele foram obrigados a surra-lo. Dado como morto, seu corpo foi entregue aos escravos para providenciarem seu sepultamento no Cemitério dos Escravos, na Cachoeira do Cravo. Deixaram seu corpo na Igreja de São Benedito e ficaram de fora rezando. No outro dia, quando entraram na igreja, não encontraram o corpo, mas apenas as pegadas com marcas de sangue. A partir dai surgiu a lenda de que Meia-Légua era protegido de São Benedito, pois andava com uma pequena imagem do santo em um embornal.

Meia-Légua pretendia invadir São Mateus no dia 26 de Julho de 1881. O plano era invadir a cidade no dia de Santa Ana, onde entrariam no Porto com o pretexto de louvarem a santa. Junto a ele havia outros líderes quilombolas, dentro os quais estavam Viriato Canção-de-Fogo, Constância D'Ângola, Negro Rugério e Clara Maria do Rosário dos Pretos. A tomada da cidade foi evitada porque o plano foi descoberto. Ao ser informado, o presidente da província enviou um destacamento para o local, a fim de combater os insurgentes. A força era composta por 24 praças de linha, um inferior e um corneta, sobe o comando de um oficial. Este destacamento, em conjunto com os capitães do mato da região, tomaram de assalto o quilombo de Negro Rugério, onde atualmente se localiza o bairro Santana e Conceição da Barra. Depois de cercado o quilombo, o Alferes, comandante do destacamento, penetrou nele sozinho, sendo que naquela ocasião foram ouvidos dois tiros. Benedito errou o alvo e fez-se em fuga, perseguido pelo mesmo alferes que não conseguiu captura-lo. A maioria dos negros aquilombados foram mortos nesta ocasião, sendo queimadas todas as casas de farinha ali presentes.

20 escravos fugidos, comandados pelo criminoso Benedito, condenado a galés, ex-escravo dos herdeiros de Dona Rita Cunha, mãe do Barão dos Aymorés, formavam um quilombo em São Mateus. O grupo, cujos elementos viviam dispersos por diferentes lugares da comarca, espalhavam o terror por onde passavam, atirando e roubando.

FAMA DE IMORTAL:
O bando de Benedito Meia-Légua saía sempre me pequenos grupos, sendo que cada grupo tinha um líder que mantinha sempre as características suas, a fim de confundir os perseguidores. Com tal artifício, Meia-Légua e seus companheiros conseguiram se manter durante quarenta anos, sempre perseguidos, mas nunca capturados. Quando era noticiada sua morte, ele reaparecia em outra fazendo com novas investidas. Graças a isso, espalhou-se o mito de que era imortal.

MORTE DE MEIA LÉGUA:
Velho, doente e mancando de uma perna, só foi morto por ter sido traído por um caçador, que denunciou as tropas seu esconderijo, sendo este o oco de uma árvore, onde sempre dormia. Aqueles que o perseguiam montaram tocaia em volta do tronco e ali ficaram até a noite, esperando que ele se recolhesse para dormir. Logo que o viram entrar, taparam o tronco e lhe atearam fogo, que ardeu durante dois dias e duas noites.


EM PROCESSO DE MUDANÇAS

Dai, que muita coisa mudou, em apenas um mês. Eu vinha sentindo transformações em minha vida, que estavam sendo processadas de alguma forma. Uso as palavras que o Chico Buarque usou numa musica: que talvez sejam os astros, os búzios, as cartas, os santos. Seja lá quem processou tudo isto, me avisando em sonho e intuitivamente, agindo possivelmente de acordo como o já previsto, o escrito, o determinado, por essas forças maiores que nossa compreensão não entende. 
Mas eu sabia que algumas coisas iriam mudar, mas não sabia quais e nem quando. Agora que os primeiros passos foram dados, aguardo os outros passos, que deverão acontecer gradualmente, para que o foco não se perca, assim como todo o processo. 
Essas mudanças as vezes nem são visíveis, por serem internas.
Se é bom? eu me pergunto: Ora, mudanças sempre são boas, mesmo parecendo no inicio que não são!

O VELHO (eu) E O MAR

O mar é bom, mas às vezes não e tão bom assim. É que para as coisas estarem boas, não depende somente de um dia ensolarado, um mar de aguas translucidas e mornas. É necessário que a gente esteja muito melhor que o mar, ensolarado pra além deste mundo. Daí rola.



PODE SER QUE SEJA QUALQUER COISA

Pode ser que seja um grande peixe descendo riacho a baixo, se debatendo nas raízes submersas, das arvores entorno. Pode ser que seja um galho seco arrastando outras objetos, que não dá pra ver o que é. Pode ser que seja um animal morto ou um corpo de alguém que se afogou. Tudo desce por este riacho caudaloso e sujo, indo parar na sua parte mais larga, que chamamos de panelão, depois afundam para não serem mais vistos pela cidade, cidade esta, de boa educação. To vendo agora da janela!

NÃO JOGUE MILHO AOS POMBOS

O pior é que eu tenho a resposta para os meus desconfortos, mas fico protelando pra tomar uma iniciativa radical, que dissolva completamente o mal estar. 
É como se eu quisesse dar uma chance, uma ultima chance que for, ao que pode ser um mal entendido.., e assim me provarem, que estou errado, que foi um desacerto e daí vou alimentando o ciclo de Falso conforto por algum tempo.
Outra coisa: Não jogue milho aos pombos, eles terminam cagando na tua cabeça.

DEPOIS DO TRABALHO:

E reconfortante chegar em casa depois de um dia de trabalho, tomar um banho quente, colocar uma boa musica para ouvir deitado no sofá da sala, depois preparar um prato, não exagerado, de feijão mexido e uma taça de vinho tinto chileno. É destas misturas que eu gosto: o simples e o refinado, o seguro e o arriscado. Afinal, a gente está sempre correndo riscos e a noite está tão fria e chove lá fora!..

EU E OS RATOS

Sempre há ratos rondando a nossa volta, tentando usufruir do que são e do que não são sobras. Eles nos vigiam astutamente achando que não são percebidos. Se escondem atrás dos moveis, dentro dos nossos sapatos e ate fazem traquinagens para ganhar nossa confiança, até darem o primeiro golpe pensando que não estamos percebendo que se trata de um roubo ou de um abuso. 

Mas a gente percebe até quando eles adquirem tamanha autoconfiança e querem trazer mais ratos para fazerem festa na nossa casa, utilizando os nossos recursos.

O fato de deixa-los comer alguns farelos que caem da nossa mesa, ou o queijo fresco que esquecemos de guardar, está longe de sermos desatentos. A gente se faz de bobo, de trouxa, que não está vendo, até estudar como agem e assim que possível eliminamo-nos de vez das nossas vidas.

FRAGMENTOS DA OPRESSÃO

Agora, já não há muito o que perder, as perdas foram tantas no decorrer da vida, que o saldo baixou a níveis de quase zerar. Mas a gente continua aprendendo a lidar com as faltas, com aqueles que te viram a cara, te ignoram, com os que são mentirosos, com os que te julgam um chato, mas fingem o contrario. Os que se acham melhores que você em vários âmbitos da vida e então não se permitem perderem tempo com o que consideram o menos. 

Mas tudo isto faz parte do grande pacote estabelecido pela elite, que carrega consigo alguns seguidores que pensam não fazer parte dos jogos de discriminações, dos boicotes, da falta de oportunidades, mas fazem parte. São os fantoches da elite que ajudam-na a ser mais forte, mais severa, mais podre. O curioso é que eles, enquanto fantoches, também se sentem vitimas da opressão.

SONHOS


Existem lugares que eu só conheço através de sonhos... São tão reais estes sonhos, que por vezes saio a procura-los na rua, por aqui, por ali, ou em algum canto da memória, esquecendo-me desta particularidade, que eu os conheci apenas em sonho.

URUTAU

Um dia caminhando numa estrada que fazia divisa com uma fazenda, no interior, vi um estranho pássaro pousado num tronco de uma cerca e nunca mais esqueci da sua exótica aparência. Estava quase anoitecendo e só consegui distingui-lo por pura sorte. Era um Urutau, pássaro solitário, de hábitos noturnos e que dificilmente se deixa ver. Estava estático naquele tronco, como se fizesse parte dele e mantinha o pescoço esticado para o alto e os olhos fechados. Sua cor mesclada em tons de marrom, preto e cinza, permitia-lhe ser confundido com um tronco velho de arvore e passando quase desapercebido.

1-Olha quem tá ali,
feito um galho seco, pra ninguém ver,
É o Urutau, ave de canto dito agourento.

2-Quem nunca viu, nunca vai vê-lo
em seu aposento.
Emenda Toco, como se fosse um complemento.

3-Ave Fantasma que vem trazer, algum sofrimento.
Pescoço em pé, feito um Page, de fundamento,
Ninguém aguenta ouvir de perto, o seu lamento.

4-É Mãe da Lua, que aparece, quando ela nasce.
De traz do mato, iluminando todo o espaço.

5-Tem olho magico, que enxerga tudo, quando fechado.  
Bebê que chora, pela mãe, abandonado.

 6-Seu canto triste, que se difere da passarada.
É um aviso da sua chegada pra toda a ninhada.
                   
7-É só um lamento, tristonho, de dor (amor).
É o Urutau, ave agourenta do mal.

E VEIO A CHUVA.



A chuva chegou sem desaforar, veio devagar sem causar surpresa no meio da tarde e a temperatura foi despencando sem fazer alardes. Quando percebi a rua estava exalando aquele cheiro de terra molhada e algumas plantas já  espalhavam seu cheiro peculiar de quando chove, e a gente corre pra fechar as janelas, ver os respingos na vidraça e olhar para as pessoas que passam.

DE ONDE VEIO O VENTO NORTE

Eu muito usei esta expressão: "Vento Norte" ou somente "Norte" para expressar ou complementar uma ideia nos textos que invento, que escrevo, sem saber ao certo sua significação. Por exemplo: "Estou em busca do meu norte!"
Mas alguma coisa me dizia (por adivinhação), que a expressão estava ligada a: Meu caminho certo, destino, minhas verdades...
Li então na coluna ocafezinho.com de Wellinton Calasans o significado da expressão Vento Norte que não está tão longe daquilo que eu pensei que fosse. No hebraico-diz ele, "Vento Norte" é definido como Aquilon ou tsaphown, é o vento que abre a nossa visão. Aquele que fala do desconhecido e permite a luz do Sol, pois faz com que os céus se abram ao afastar as nuvens. Show!

NÃO TEM EXPLICAÇÃO

Não posso mais beber vodca, como bebia antes, pura e gelada. Também não posso bebe-la como uma caipirinha com limão, que logo me causam náuseas, uma leve tonturinha e depois muita sede. 

É como algumas pessoas que transitam pela vida da gente, deixando esta desagradável sensação de secura interna. Não é possível aprecia-las, sem nenhum garrafa de agua por perto. 

UM POEMA QUALQUER

Faz algum tempo, me arrisquei a escrever poemas. Alguns eu gosto, de outros não e aprendi que assim como qualquer coisa que se constrói com sensibilidade, acaba tendo vida própria, onde você perde o domínio como autor e o próprio objeto, traço, desenho, pintura, escultura, escrita, se auto comanda. A própria composição determina seu caminho estético e então afloram, com pouco esforço seu. 

Existe um homem que tem meus traços,
A minha cara, minhas mãos,
meus braços.
Vejo ele através da vidraça quando passo.
No porta-retratos, no espelho, sobre o balcão da sala.
Ele toca violão e eu não.
Eu tomo analgésicos e ele não.
Ele canta, canta, canta e eu me encanto
com o seu canto.
Fico perplexo e sem atitude.
Me escondo, me fecho.
Ele é só meu reflexo e não tem nexo.
Eu que sou apenas 
complexo.

SEM CALCIFICAR DORES.

Sofrer isolado, não vale a pena, nunca valeu! A dor é sempre maior e o entendimento dela fica menor quando não existe troca de argumentos reais e entendimentos das partes. As vezes é necessário a ajuda dos não envolvidos, dos que estão de fora, ou que se mexa os pauzinhos mágicos dos neurônios, para o jogo virar e encontrarmos um norte, numa única sinapse. Se nada for feito, as dores e decepções, calcificam nossos sentimentos com amargura. 
Se a pagina não for virada, se não dermos um basta, um chega pra lá, o ressentimento ira pra nossa casa e dormirá na cama. Se olharmos pra dentro de nós, encontraremos as respostas, por que sempre temos as respostas para as nossas aflições e dores. Então: Vida nova, casa nova, amigos novos e emoções novas, sem a mediocridade dos que se acham grandes demais para você.

O SILENCIO DO NADA:

Fico aqui por horas, tentando materializar em palavras escritas, meus sentimentos e sua maior profundidade Azul, e o que somente consigo é o silencio do nada e a certeza de que me esvaziei por completo, por algo que me preencherá de maneira, a transbordar como vento ou agua, pra todos usufruírem  no depois.

Quando olho pra traz, percebo que o resto se transformou em peças de um jogo de sobrevivência, ou de vaidades. Razão clara do por que muitos desistem, fecham suas portas e partem pra outros lugares.

SERÁ QUE ERA O CAIO?

Eu posso jurar que vi o Caio numa noite de chuva, entrando num daqueles edifícios antigos e pouco iluminados, que quase não se percebe a porta de entrada, na rua Republica.

Será que estava embriagado? Seus passos largos eram tão irregulares, que quase caiu na irregularidade da calçada, desviando da lixeira, chutando baganas de cigarros e fazendo um movimento com o corpo, de quem já iria voar.

Eu posso afirmar que era ele, num daqueles dias em que não está bem e que um, dois, dez, infinitos goles lhe é apenas mais um gole, na defesa da vida e de mais um dia...

Talvez fosse o Caio, com seus óculos de aros arredondados, dentro da gaiola de seu próprio corpo franzino, tentando flutuar na calçada da Republica. Talvez não fosse ninguém, só uma lembrança, imaginação minha.


O OCEANO.

Entardecia e eu estava dentro de um barco, perdido no oceano, só eu e meus planos, assustado naquele ponto onde só se vê agua, um grande volume de agua formando volumes, se movimentando num único bloco e direção e mais nada. Não existia terra firme pra onde eu olhasse, só aquele gigantesco volume d'água, como um  pulmão liquido e volumoso num movimento sincronizado, como se estivesse respirando, respirando, me levando pra algum lugar, num cárcere ambulante. O oceano pode ser monstruoso e te puxar pra ele.


ABSOLUTAMENTE GRILADO.

Eu fiquei rouco de tanto gritar o teu nome, lá da janela do meu quarto, quando percebi que tinhas ido embora. Me joguei na cama arrasado e me pus a ouvir uma sinfonia de grilos, lá fora, que me fizeram adormecer absolutamente grilado. No outro dia, eles ainda faziam festa dentro da minha cabeça.

AUTO SABOTAGEM.

Apesar de já estar de barba branca, (e esse deveria ser o meu novo apelido agora) eu ainda me empolgo com projetos que me convidam para participar e trabalho com muita tesão para fazer com o que é da minha responsabilidade, dar certo. Sou desses que me apaixono rápido e esta paixão pode ser duradora desde que os envolvidos, cumpram com a sua parte que prometeram.

Nos dias de hoje, parece que os projetos nascem e com o passar dos dias, semanas e meses, vão se perdendo nos entraves que as próprias pessoas criam, impossibilitando que as coisas de fato aconteçam. Ora, um sonho não pode ser destruído por nossas auto sabotagens.

UM DESABAFO COM BAFO DE VODKA

Ontem saí em busca de respostas, e o que aparentemente parecia não ter resposta, por questões éticas, humanas e respeitosas, a resposta estava ali presente nas entre linhas do falar, nos pequenos gestos de evasão, no olhar de interlocutor que se mostrava meio que pela metade, temeroso que a outra metade falasse a verdade, quando eu, humildemente estava dando a liberdade pra que falasse a verdade. 

Sabe o que está faltando pra mim? .. Aquela voz única, mágica e reveladora, que me ataca a qualquer hora do dia, me dizendo no ouvido: Não, não se deixe abater e ser conduzido por rótulos e moldes, que te pré- definam, que te dê caminhos que não os seus, mas deles. 

Puta que pariu, eu já estou com a vida ganha, pra perder tempo com embates indissolúveis. Já estou no hangar aguardando a hora do voo.

Sabe oque está faltando pra eles?... Aquela mesma voz única, magica e reveladora lhes dizendo no ouvido: Tenha coragem de olhar no olho do cara e dizer a verdade:

É.., quando falta enfrentamento dessas pessoas bondosas que sentem medo de magoar, dizendo a verdade, só falta lhes dar a mão e distribuir algodão doce.


A VERDADE

Eu estou agora diante do espelho do banheiro, me perguntando: Como dizer a verdade pras pessoas, que queremos bem, sem magoa-las, mesmo sabendo que esta verdade poderia ajuda-las?.. 

Também estou me perguntando, como esperar de uma pessoa, que goste de mim, que ela me fale uma verdade, mesmo sentindo que esta verdade, pode também me magoar? 

Eu sinto que no fundo, ninguém se arrisca a dizer a verdade, sob pena de criar desafetos e culpa. Talvez seja mais fácil para uma relação, a omissão para algumas falhas, do que a verdade. Uma omissão aqui e outra ali e vamos vendo no que dá. 
Não somos suficientemente colhudos, para dizer ou ouvir a verdade, como se pensa e há momentos que precisamos dessa verdade, doa a quem doer, para não nos tornarmos um desastre. Por isto, eu prefiro sempre a verdade!

DAASANAH OS RECICLADORES DE LIXO



Vocês sabiam que os Daasanah, uma tribo seminômade de aproximadamente 50.000 indivíduos que ficam vagando pelas margens do rio Omo, no sudoeste da Etiópia, retiram todo o tipo de objetos considerados lixo, para confeccionarem adornos. Esses adornos feitos com descarte urbano, como tampinhas de refrigerante, pulseiras de relógios quebradas, fivelas, parafusos, etc. são reaproveitados com muita criatividade virando acessórios de beleza como perucas, brincos pulseiras, anéis, piercieng.
E tudo isso devidamente capturado pelas lentes de um fotógrafo francês Eric Lafforgue, que há anos acompanha os Daasanac, registrando a influência da vida moderna sobre a tribo.

BODE EXPIATÓRIO



Acreditem vocês, que mesmo aos sessenta e três anos de idade, ainda sou algumas vezes criticado, por uma ou outra pessoa, sobre aquilo que estou vestindo, sobre o cabelo que está grande e volumoso, sobre a barba agora branca, que não foi raspada? As pessoas não permitem que você se experimente em outras cascas ou que ouse formas diferentes de se reconhecer, que você teste novidades e então se defina por suas próprias escolhas.

Se eu corajosamente colocar uma foto, numa rede social, que está fora dos padrões aceitáveis por esses críticos que defendem o institucionalizado, seja um boné, um chapéu, uma bandana, um óculos diferente, um novo corte de cabelo, vira uma tribuna de criticas, que eu nem pedi  opinião.

Mas eu aprendi com uma amiga, que quando somos criticados por algo em nossa aparência é porque de alguma forma está incomodando, o problema não é nosso, mas de quem se sente incomodado. As pessoas refletem em nós suas insatisfações, seus medos e tentam driblar suas frustrações criando um bonde expiatório, para se auto justificarem.

ENCAIXOTADOS













Todas as vezes que me enquadravam numa opinião ou em alguma regra da vida, que pra mim não fazia sentido, me sentia encaixotado como um boneco de cera, um manequim de vitrine pálido e estático, como alguém que toma um choque ao perder a autoridade sobre suas próprias escolhas.

Dai que eu lembrei de um filme, chamado Encaixotando Helena, que assisti a algum tempo. O filme, conta a historia de um jovem e famoso cirurgião, obcecado pela beleza de Helena, uma prostituta. Ela o rejeita, mas mesmo assim ele apaixonado, tenta convencê-la que um necessita do outro. No entanto ela tem outros planos, mas acaba sendo vítima de um terrível acidente que a deixa nas mãos do médico, que tem então a macabra ideia de ir amputando os membros de Helena, para evitar que ela vá embora e assim, ele a perca de vez.

O MERGULHO


Era só um mergulho, um único mergulho naquele mar azul profundo e sentir as vibrações envolvendo meu corpo, arrepiando meus pelos, embaralhando meus sentidos.
Não sei se retornaria a superfície pela ultima vez, pra respirar o ar da terra que me fez nascer, crescer e me jogar sem medo nestas profundezas obstantes.
Existe uma verdade nos homens que se jogam deliberadamente ao risco de morte, é a conquista da liberdade, mesmo sem a garantia de usufrui-la na volta.

VINHOS PAZUELLO

Pazuello, embora o nome sugere, não é uma  marca de vinho, mas um general de divisão do Exército Brasileiro. Foi ministro da Saúde do Brasil durante a pandemia de COVID-19, entre 2020 e 2021. designado pelo presidente da Republica, Jair Bolsonaro. Pazuello que já se mostrava um negacionista da pandemia junto com o presidente, foi filmado num shopping Center sem a utilização de mascara preventiva e obrigatória. Não bastasse isto, negociou com terceiros, 30 milhões de vacinas Coronavac pelo triplo do preço enquanto  milhares de brasileiros morriam por falta da mesma.
Este abutre através de negociação ilícita, tentou encher os bolsos de gorda propina, em troca da morte de milhares de cidadãos brasileiros que perderam a vida na pandemia por falta de vacina.
NÃO ESQUEÇAM DESTE ABUTRE!

VISUALIZOU E NÃO RESPONDEU?


Eu estava ficando perturbado depois de mandar varias mensagem no WhatsApp e não receber nenhuma resposta por quatro, cinco dias. Via que a pessoa tinha recebido e lido, mas não me retornava com qualquer sinal, nem um simples oquei.
Até que sem querer, entrei num site com uma postagem que dava alguns motivos pelos quais algumas pessoas liam mensagens e não respondiam. Era o que eu precisava ler para restabelecer a minha auto estima trucidada.


Tudo o que eu espero da vida é um pouquinho de cor, um pouquinho de sabor, um pouquinho de atenção, um pouquinho de educação. Portanto se visualizar uma mensagem minha e não responder em 24horas, caso você não tenha sofrido um AVC ou Infarto ou sido sequestrado por ETs, é falta de educação e quer dizer, sim: não me importo com você.
Acabou a minha angustia!...

GAFANHOTO DE GUERRA


Este helicóptero barulhento que sobrevoa agora a noite, sobre a minha cabeça e dos vizinhos, me causa a angustia dos que vivem em zona de guerra e a desconfiança de quem está sempre sendo vigiado por razões que desconhece os motivos.

Dizem que este gafanhoto de guerra, serve para a policia inibir e localizar facções criminosas em sua áreas de atuação. Talvez eu devesse arrumar um megafone e gritar pra eles: Minha casa e pequeninha, vive nela eu e meu gato, driblando uma vasta solidão e o desconforto de estar sob uma mira. 

COM A CARA DE LONDRES

O bairro aqui, onde eu moro, amanheceu com a cara das manhãs cinzentas de Londres. Uma densa neblina e um friozinho que parecia cortar a carne da gente e não parecia querer se dissipar tão cedo. Algumas pessoas caminhavam quietas na calçada bordada de gramas e grandes arvores; Iam ou voltavam de algum lugar secreto de suas vidas. Carregavam desejos em seus olhares disfarçados e uma certa cumplicidade com o que não podiam mudar, só aceitar a contragosto.

MONTANHA RUSSA



Devo parar, ou pelo menos diminuir significativamente, o meu excesso de exigências, que me sobrecarrega de frustrações e permite que eu também não seja cem por cento eficaz nos meus projetos. Como exigir alguns cuidados, responsabilidades e atitudes que são minhas e não pertence de todo, aos outros?
Cada dia que passa, sinto-me viver sobre uma montanha russa, cujas as oscilações me alternam a alma de satisfação e angustias, de grande estimulo e desistência. Dai que eu paro por alguns dias, mastigando frustrações e avaliando minha própria competência e esforços. Sentado na cadeira dessa montanha russa, respiro profundamente e me pergunto se devo prosseguir ou me jogar pra fora.

MAR DA AFLIÇÃO


Eu estava admirando a beleza do Mar Adriático, enquanto caminhava pela costa empilhada de edificações antigas, quando palavras me vieram a mente, como se fossem sopradas no ouvido.
Logo que pude, sentei numa mureta de pedras, retirando um pedaço de papel da bolsa tiracolo e comecei a escrever, como se fosse um sonho, que eu não poderia arriscar esquecer.
Brotou palavras, frases como uma revelação aparentemente não tão obvias a o entendimento, mas com algum sentido. Estava neste momento tão sensorial como poucas vezes fico. Nasceu então este poema que mostra o mar de outra forma, escuro, perigoso, traiçoeiro e cheio de segredos.

MAR DA AFLIÇÃO:

1-Vem ver o mar de noite,
Há um gigante vigiando-o pela madrugada.
Quem entrar:
Sabe do perigo de jamais voltar.

2-Vem ver o mar, 
de ondas escuras,
com bordados de prata feitos pela lua

3-Quem tem coragem de enfrenta, sua envergadura,
Braços fortes de Netuno, decidindo o futuro.

4-vem ver o mar, de tantas galés e armadilhas
de ruídos vindo do porão.
O que são?
Ratos, restos e memorias
que nunca se vão.

5-Vem ver o mar, da aflição.
Seu amor partiu e nunca mais voltou.
Só ficou a saudades, de quem foi e não voltou.

6-Vem ver o mar, de noite...
Ele lambe com a maré, a ponta dos seus pés.

7-Vem ver o mar sobre a catedral de pedras.
Há um gigante vigiando-o pela madrugada.

AUTOANALISE

Poucos fazem uma autoanalise de si mesmos, de suas atitudes e sentimentos que desenvolvem no curso da vida e quando o fazem, se posicionam como vitimas ou heróis de suas próprias vaidades, trazendo de arrasto uma imensa carga de rancor e cegueira. É necessário alguns cuidados, pra não cair nesta armadilha


Conheço algumas mulheres que se sentem inteligentes, justas e liberadas. Penduram poemas de Cora Coralina nas paredes do quarto, colam pensamentos de Clarice Lispector na porta da geladeira, ate desfilam acessórios de Frida Kahlo, mas que na vida real, não seguem o exemplo. Agem como uma Lucrécia Bórgea, ou uma Anna Janssen, montando armadilhas por onde outras pessoas passam. Não possuem feeling pra se verem como realmente são.
Daí, que nada funciona ou então segue torto. É que nem sempre somos aquilo pensamos ser!

VENEZA É TRISTE



É impressionante perceber o quanto alguns lugares no mundo podem ser tão magnificamente belos e ao mesmo tempo tristonhos. Eu pensava nisto, enquanto caminhava pelas vielas estreitas, pontes e olhava para aquelas águas que me pareciam tão profundas no canal e tão distante no tempo. Veneza é triste, o tempo a deixou triste!..


UMA PROFECIA DE SUPERMERCADO.

Ouvi dia desses, de uma idosa na fila do caixa do supermercado, para o jovem empacotador de compras, que a grande prestação de contas cobrada pelo planeta ao desrespeito do homem, não era somente o aquecimento global, mas a falta de alimentos e ar para respirar, a falta de amigos para conversar e ouvir nossas solitárias queixas... 

A voz dessa senhora de cabelos brancos era tão alta e nítida, que parecia estar ligada em caixas acústicas e num amplificador de alta  potencia. Parte do supermercado se silenciou diante daquelas  palavras que vinham de tão frágil pessoa, lembrando uma profecia. E será que não eram?... 

FARELOS.

Fui surpreendido ao abrir a janela do meu quarto, hoje pela manhã e perceber que o dia não estava tão frio quanto os demais passado, desde que começou o inverno. Até rolou um olhinho de sol que foi se abrindo até iluminar toda a rua, a praça, o topo das arvores, os edifícios mais altos. Pessoas ainda com mascaras, faziam suas caminhadas em grupo como naqueles velhos tempos, antes da pandemia. Conversavam, gesticulavam, com o olhar mais sereno. Seria a influencia do Sol + pandemia? 

Eu não sou dos mais confiantes a ponto de me pendurar em cipós da esperança, eles às vezes arrebentam, mas tenho a leve sensação de que a vida lentamente está voltando a sua normalidade, pelo menos dentro das pessoas, mesmo com restrições. 

CHICO UM GATO CRESCIDO



Hoje o Chico sentou entre os meus pés, enquanto eu digitava qualquer coisa no computador. Ficou com o pescoço esticado me olhando curiosamente com seus olhos estranhamente amarelos e pupilas pretas. Fiquei observando seu olhar meio enigmático e pensando no que ele estaria pensando, pra me encarar tanto. Mas gatos não falam com humanos, se falassem seriam altamente polidos e discretos como mordomos ingleses

Nesses poucos meses de adoção ele cresceu a olhos vistos, assim como nossa relação cresceu e se aprumou, tornando-o quase um jovem membro da família. Virou aquela companhia necessária que te olha afetuosamente, vê e ouve tudo, mas não pergunta nem questiona nada. Não abre discussões e também não tenta impor seu alter ego... Divide seu tempo em alternadas sonecas, momentos de brincadeiras comigo e necessidades fisiológicas pessoais. Melhor do que isto?.., é não ter pandemia!..

POLITICAS ESTRATÉGICAS

Nunca fui um simpatizante do governo de Eduardo Leite, sua postura politica, sempre me deixou com um pé na frente e outro atrás, seu jeito discreto e educado de bom moço, nunca me atraiu confiança. Sua posição de direita, não e a minha. Estou na contra mão dos que governam para empresários e as elites brancas deste país.  Sua saída do armário aberta na mídia, em nada modificou nem pra menos , nem pra mais, minha visão a seu respeito. Tenho a opinião de que políticos devem ser voltados aos interesses da maioria e do povo, o que não é o caso dele.
 
Leite já mostrou ser um bom estrategista dando apoio a o presidente da Republica nos momentos oportunos e se encolhendo nos mais difusos. Seu apoio a reeleição do atual presidente da republica abertamente anti-LGBT e genocida, não passa de uma jogada estratégica para disputarem a presidência onde vê chances de ser o eleito. 
 
É preciso ser muito ingênuo para não perceber que Leite quer concorrer à presidência da Republica em 2022, derrotando Jair Bolsonaro nas urnas. Seus passos calculados e sutis já estão conduzindo para este futuro embate. Uma vez que a popularidade de Bolsonaro vem declinando em decorrência de seu mal governo durante a pandemia e incontroláveis escândalos. 

As declarações de Leite me pareceram mais oportunistas do que sinceras. Em nenhum momento em suas entrevistas me pareceu um homem que se sentia aliviado por ter aberto as portas da sua liberdade sexual publicamente. Hoje é considerado o primeiro governador assumidamente gay do pais, quem sabe amanhã possa ser o primeiro presidente gay do país? 

PS:. Alguma coincidência?
Harvey MILK- (LEITE): Primeiro gay assumido, membro da Câmara de Supervisores de São Francisco.
Eduardo LEITE: Primeiro gay assumido, eleito Governador do RGS

NINGUEM AGUENTA MAIS

As mil e tantas vidas perdidas hoje no Brasil, ainda é uma altíssima estatística da dura realidade que ainda se segue, sem uma data marcada para terminar. As sequelas causadas pela doença, dos que conseguiram sobreviver, ainda são obscuras, mas sentidas no corpo e na alma. 

Nosso trabalho, rotinas, e hábitos de vida mudou, nos obrigando a ter uma vida muito diferente da que tínhamos e estávamos acostumados a usufruir. Muitas pessoas além de perderem grande parte da família, ainda perderam seus empregos. Tá difícil comer e manter uma vida digna neste país.

Ficamos ilhados em nossa cidade, nosso bairro, nossa casa. Não usufruímos mais de festas, praças, parques, praias, cinemas, teatros e mesmo que quiséssemos e pudéssemos sair de casa, como pagaríamos por estes lazeres que parecem não nos pertencer mais? Nos submetemos ao confinamento e a ver a vida numa tela de um computador ou televisão. Ninguém aguenta mais.

Alguns dizem que estamos entrando numa nova era, de novos valores, de diferentes formas de viver, de amar, de se relacionar com o meio ambiente, com o mundo, com nós mesmos.

LUGARES INCRÍVEIS


O sonho esta noite passada, de que eu estava viajando para algum lugar do mundo, me trouxe a lembrança, as palavras de uma amiga, (Alba), tentando me convencer a ir com ela para Machu Picchu a alguns anos atrás. Ela me disse bem assim: -Vamos Bebê é agora ou nunca, ou subimos a montanha agora, ou não teremos outra oportunidade. Estaremos velhos e nos faltará força, resistência, ar, saúde!..
Graças a Deus que depois de alguma resistência, eu lhe dei ouvidos. Depois subi mais uma vez com meu filho, conhecendo também o Lago Humantay por um pedido dele.
Este lago é formado pelo desgelo de algumas montanhas ao seu redor, dando-lhe este aspecto cristalino e de cor azul, que parece uma foto tratada por fotoshop de revista. 


Além das maravilhas naturais, o país é lindo, a cidade é acolhedora, as montanhas magnificas, os rios turbulentos, os lagos transparentes, os precipícios assustadores, a simplicidade do povo e a misticidade que se faz presente em todo os momentos, me faz eleger Cusco no Peru, o mais incrível dos lugares que já conheci.


Se os cânions daqui do Rio Grande do Sul, já nos dão aquele friozinho na barriga por sua beleza e profundidade, imagina o Cânion Colca, de 4 160 metros de profundidade nas proximidades de Arequipa e Chivay. É o mais profundo do mundo, com mais do que duas vezes a profundidade do Grand Canyon, nos Estados Unidos. É também a morada dos condores, ave típica que sobrevoam a região.
O condor foi considerado pelos incas um “mensageiro dos deuses” e simboliza a força, a inteligência e o enaltecimento.

PRETO POBRE E PUTO

Conheci Nega Lu, a o acaso no vernissage de um amigo, Will, Cava ou Cavalcante. Chegou como se diz, chegando: Usava sobre o corpo uma miscelânea de estilos e gêneros, sandálias feminina, calça jeans, uma jaqueta sobre uma camiseta, os braços cheios de pulseiras e um estranho chapéu de rafia com algumas  flores e tule. Assim era o visual da Nega Lu, nunca se sabia o que ela vestiria, para chamar atenção das pessoas com quem se relacionava nas noites boemias e artísticas de Porto Alegre. As vezes surpreendentemente aparecia com um simples tênis, camiseta e uma calça jeans e estava pronto para discutir, retrucar com pequenos deboches e  muito humor as opiniões filosóficas, culturais e politicas do mundo cão.

Negro, pobre e gay, desfilava pelos circuitos gays, culturais e políticos da cidade como o Doce Vicio onde era garçonete, o Copa 70, na Esquina Maldita  onde puxava um coro de bêbados entoando o clássico Summertime. Puxava uma mesa daqui e outra dali, e o palco já estava montado para um rápido recital de jazz à capela sobre o tablado montado às pressas. Nega Lu deixava os espectadores alucinados com seu vozeirão grave e afinado. 

Foi solista da OSPA e da UFRGS, crooner da Rabo de Galo banda de blues na década de 80, dançarino do Balé Clássico nos anos 60, Porta bandeira da Banda do Saldanha e ainda falava um pouco de francês que aprendeu quando aluno da Aliança Francesa de `Porto Alegre. Nega Lu deixou seu nome registrado na memória afetiva de Porto Alegre e agora virou livro. Sim, livro que fala de sua trajetória como um percussor das mudanças sociais e comportamentais que ainda hoje se consolidam na cultura moral do país e das pessoas ditas "De Bem". 

Nega Lu se dizia vitima dos três pês: Preto, pobre e puto. Nega Lu virou livro contada pelo escritor o autor, Paulo César Teixeira com titulo de, "Nega Lu - Uma Dama de Barba Malfeita", Se você nunca ouviu falar da Nega Lu,  assista AQUI no Youtube
Luiz Airton Farias Bastos, (seu verdadeiro nome), faleceu em 17 de setembro de 2005, dois meses antes de completar 55 anos, de complicações cardíacas.


O CHICO E A NET

Depois da visita de um veterinário conhecedor do funcionamento psicológico e emocional dos felinos, aqui na minha casa, passei a entender melhor as atitudes enlouquecidas do Chico, que é gato jovem e cheio de energia pra por pra fora. Desta forma, eu entendo, que não posso brigar ou ir contra o seu desenvolvimento natural.

Esta manhã depois de acordar e se espreguiçar de forma invejosa, como fazem os felinos, resolveu jogar basquetebol  sobre a minha cama e usando como bola, com um pequeno  pedaço de bolacha. Acontece que suas unhas afiadas arrancam não só a lã das tramas dos cobertores, como rasgam as cobertas mais lisas e finas, me causando prejuízo a não tão longo prazo. 

Mas como dizer isto pra ele e faze-lo entender?. É o mesmo que tentar convencer a NET, de que você não quer mais o serviço deles:  Te ignoram solenemente! É a vida que prossegue ao ritmo, mate-o pelo cansaço!

VOZES DO INTERIOR:


Um amigo do Facebook, postou uma frase, que me causou um certo impacto nesta manhã, fria de inverno, quando acordei com os pensamentos ainda revirados, retorcidos como as cobertas.

A frase que parece ser de autoria do pintor holandês Vincent Van Gogh,  diz o seguinte: Se escutar uma voz dentro de você dizendo 'Você não é pintor', então pinte sem parar, de todos os modos possíveis e aquela voz será silenciada.

Nossa, eu tenho tantas vozes dentro de mim, que por vezes falam, gritam, murmuram: A da razão, a do coração, a da intuição e esta outra voz de quem é? Como reconhece-la entre tantas?..


O VALE DAS BORBOLETAS AZUIS


Foi numa manhã de Outono, que a natureza com todo o seu mistério e beleza, resolveu presentear eu e minha amiga Alba, com algo absolutamente inesperado. Subíamos cautelosos a serra, por causa da espessa neblina que cobria tudo, deixando-nos com pouca visibilidade, quando percebemos nas proximidades de São Francisco de Paula, cidade que temos maior apreço por sua característica simples e interiorana, além da extensa mata de araucárias e cascatas escondidas, que o asfalto começou a ficar recoberto de pequenas folhas azuis e brilhosas que pareciam lantejoulas. 

Era como se um tapete bordado, fosse colocado sobre a estrada deixando-nos maravilhados. Em seguida aquilo que pareciam folhas começaram a se mexer e também a cair das arvores sobre o para-brisas, mostrando-nos que se tratava de centenas de borboletas azuis que voavam na estrada na nossa direção, colidindo contra o carro. A borboleta é considerada o símbolo da transformação. Entre outros, simboliza felicidade, beleza, a alma, inconstância, efemeridade da natureza e da renovação. Ficamos boquiabertos, admirando aquela imagem do outro mundo, enquanto nos perguntávamos de onde tinham vindo tantas borboletas. Aquela imagem que lembrava uma cena de filme de fadas, gnomos, nunca me saiu da cabeça.



QUAL É A SUA LUTA

Você já se deparou algum dia na frente de um espelho e se perguntou qual é a sua luta? Pelo o que você briga?  O que você defende? E o que tem a dizer, para as pessoas sobre esta sua luta?

Talvez você tenha uma forma lúdica de expressar suas ideias, de defender suas verdades e isto também é uma forma de luta em defesa de outras novas e diferentes visões e pensamentos.

Se você não tem nada pelo que lutar, é melhor esticar-se no sofá da sala e assistir a um programa de gincanas na televisão, para diminuir o seu stress e ter a sensação de que pelo menos algumas pessoas tem sorte nesta vida.

ADÃOZINHO DO BARÁ



Existiu um Pai de Santo, dito muito poderoso chamado Adão, que morava perto da minha casa na Vila Sta. Isabel em Viamão e sempre que havia festas abertas ao publico, em seu terreiro, minha amiga Maria Helena me convidava pra ir com ela e eu amava aquilo tudo. A festa, as batidas de tambores, as danças em círculos, as danças dos orixás, as cores, as roupas, os brilhos, a comida que se comia com as mãos, tudo tinha um fundamento de santificação que me encantava. 

Todo o misticismo que envolvia aquele ambiente, me transportava mentalmente através de um fio condutor, para lugares sincréticos, mágicos, misteriosos, que eu acreditava ser a África, terra de meus ancestrais de que sempre fui ligado, através de revistas, jornais etc... 

Adão era um homem negro, magro, de estatura baixa, razão pela qual, os mais íntimos, chamavam-no de Adãozinho do Bará. Era da Nação Cambinda e batizado como ADÃOZINHO DE EXU BARÁ AJELÚ BIOMÍ. Seus conhecimentos e sabedoria deram-lhe fama e respeito no meio religioso, transformando-o dentro do batuque, (como é chamada a religião de matriz africana, aqui no Sul), num ícone por seus fundamentos e conhecimentos dos mistérios dos orixás. Adãozinho do Bará, faleceu em 1995 deixando um grande legado à religião africana e seus sucessores.

CUIDADOR E SEU PASSARINHO


Ontem fui convidado para jantar com amigos; Um carreteirão divino, vinho, fogão à lenha aceso, musica de fundo, mas antes que eu percebesse, já tinha caído na cilada daqueles bate-papos baixo astral e que muita gente adora falar na condição de vitima e os outros aplaudem por identificação.

Tem certas conversas, que não dá mais para se permitir ouvir, e a gente só ouve a contra gosto por que está cercado de pessoas que também alicerçam suas vidas, no mesmo pensamento errôneos de que pais devem proteger seus filhos com unhas e dentes pelo resto de suas vidas. 

Esta conversa chata entre pais super protetores de filhos já adultos, que são tratados como crianças desprotegidas e destratadas pela sociedade, não passa de culpa, muita culpa desde o seu desenvolvimento dentro da barriga. 

De um lado temos filhos extremamente dependentes, indecisos, despreparados e presos a o conforto e a proteção dos pais e do outro lado, pais doentes, infelizes e frustrados que nunca se permitiram buscar a própria liberdade e felicidade, em função de seus filhos. Eis ai o laço feito de interdependências, de circulo viciosos, de mutua dependência destrutiva, que nunca vai se desfazer, se uma das partes não cortar o laço, ou cordão umbilical.

Uma convidada começou a falar da relação com seu filho de trinta anos, que ela suava para pagar a faculdade e do seu desgosto quando ele informava que dormiria na casa da namorada. Ora!.. Eu pensei, um homem de trinta anos que não transa com a sua namorada, pra ficar do lado da mãe, deve estar com algum problema. Mas uma mãe que deu seu sangue por quase toda a sua vida, para o sustento do filho e ainda tenta mantê-lo debaixo de suas asas, é no mínimo uma egoísta, que não o preparou pra vida e que sente culpa, muita culpa, desde o momento que o pariu.

Penso que este tipo de relação mãe e filho, deveria ser como a de um cuidador e o seu passarinho machucado, depois de tratar, cuidar, alimentar, chega a hora de pega-lo na mão, leva-lo até o portão e abrir dedo por dedo, para que ele voe para a liberdade. Se não for assim o ciclo não se completa.


DANÇANDO EM VENEZA

Em 2018, estávamos eu e minha amiga Rose caminhando na Praça São Marcos em Veneza, quando percebemos a movimentação de alguns músicos sobre um palanque improvisado, se preparando para um possível espetáculo de musica a o ar livre. 

Nos aproximamos impressionados com a quantidade de instrumentos dourados e um ostensivo piano branco de cauda e logo começaram a tocar um jazz daqueles pegados. Eu embasbacado com todo aquele clima de blue/jazz Nova-iorquino, liberei meu impulso de coragem latino e tirei a Rose para dançar entre os transeuntes estrangeiros que se batiam entre si olhando vitrines. Dançamos até o final da musica sob os olhos curiosos e surpresos dos músicos e de algumas pessoas que passavam. Foi libertador!

Depois pensei comigo, rindo em silencio: Isto só podia ser coisa de brasileiro. Somos empolgados, comandados por estranhos impulsos que nos faz reconhecer a alegria ou qualquer outro sentimento, reagir na pele em qualquer lugar em que estamos. Tudo é tão instintivo, que faz nosso corpo tomar atitudes sem perguntar pro cérebro antes. Se fosse no Brasil e ouvíssemos o estampido de um tiro, nos jogaríamos no chão, sem pensar duas vezes.

NUM DIA DE DOMINGO


Tem dias como o de hoje, que eu tenho vontade de escrever somente bobagens, de encher este blog com coisas absurdas e irrelevantes, de ser mal educado, de mandar o vizinho chato ou esnobe, tomar no seu precioso cu, de chegar na janela escancarada do meu apartamento e expor minha bunda pra quem quiser olhar e se escandalizar, de perguntar bem alto, quase gritado, para quem passa: O que está acontecendo com vocês e comigo, que não tomam nenhuma providencia?

As pessoas iriam aos poucos se acumulando e possivelmente não intenderiam meu real motivo, para uma atitude tão descabida e nem de que "providencia" eu estaria falando.  Depois de algum consenso, iriam quem sabe, chamar a policia por atentado ao pudor e se aglomerariam na calçada com tantos outros, para assistirem a o desfecho da minha cena de mal gosto e esqueceriam de se perguntarem, de que "providencia" eu estaria falando. Perderiam o foco da minha revolta por uma simples curiosidade coletiva. E eu? Bem, eu diria apenas: Um péssimo Domingo à todos, para que tomemos alguma providencia!

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...