COISAS QUE DEPOIS SE REVELAM

Eu não entendia o olhar amistoso e baixo da minha avó e da minha mãe para com os vizinhos e estranhos, principalmente se eles fossem brancos. Elas mantinham um olhar de humildade e resignação, passado de uma para a outra, sem que fosse justificado através de palavras a razão desta atitude. 

Minha mãe também passou silenciosamente para nós, (seus filhos), o que recebeu de nossa avó quanto a esta relação delicada, de lidar com estranhos e brancos. Nas suas atitudes com outras pessoas, este perfil de subserviência disfarçado de boa educação e humanidade com as pessoas, era uma carta, que valia uma aprovação ou não, por parte dos brancos. Só mais tarde, vim a perceber que não se tratava de fraternidade vinda delas, mas medo, um receio de serem retalhadas socialmente pela cor. Havia um esforço para serem aceitas pelas suas simplicidade e humildade. Acredito que por algum tempo, elas pensavam que serem negras era um erro.


Lembrei de uma entrevista do Djavan para a Bruna Lombardi no programa Conexão Internacional ou Conexão Nacional, onde ele dizia se sentir sempre deslocado em algumas festas ou eventos que participava, por ser um homem negro, mesmo com a sua fama, num mundo que parecia não lhe pertencer. 

Mais jovem, senti muitas injurias raciais e que algumas vezes por inocência, não me dava por conta se tratar disto, mas com o amadurecimento da idade, muitas coisas que pareciam inadequadas, foram ficando claras na minha cabeça e hoje meu olhar e ouvidos, tornaram-se atentos.

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