Conhecer uma cidade não se resume a visitar seus pontos turísticos, saborear seus pratos típicos, tirar fotos e trazer uma lembrancinha para a casa; mas tentar perceber muito além do que ela tem para mostrar, transcender o simples alcance do olhar, e isto pode ser feito inicialmente pelo conhecimento de sua história, de suas manifestações culturais, lendas, mitos, crenças, contadas pela boca do povo. A memória local muitas vezes criada pelo imaginário popular, pode ser um caminho profundo para entendermos a alma como também a composição identitária destes lugares.
Enquanto estive em São Luis, ouvi muitas lendas como a carruagem que trafega a noite pelas ruas de São Luis com a alma penada de Ana Jansen, sobre o palácio de Lagrimas, mas esta que vou descrever, foi a que achei a mais criativa dentre todas que ouvi.
Diz a lenda que uma serpente adormecida cresce pouco a pouco no subterrâneo da ilha de São Luís, e no dia em que sua cauda encontrar a cabeça, destruirá a cidade, fazendo com que ela seja tragada para sempre pelo oceano. Afirma-se também, que um dos locais em que é possível confirmar sua existência é a Fonte do Ribeirão com suas galerias subterrâneas construidas pelos jesuítas, onde está a cabeça do animal, e quem olhar através das grades da entrada, poderá reparar nos medonhos olhos da gigantesca cobra brilhando na escuridão. Segundo a crença, a serpente encantada habitaria as galerias subterrâneas que percorrem o Centro Histórico de São Luis, e do seu corpo descomunal a barriga encontra-se à altura da igreja do Carmo, e a cauda sob a igreja de São Pantaleão. No dia em que suas presas abocanharem seu rabo o animal acordará, levando a cidade às profundezas do mar, fechando assim, o ciclo de vida de São Luís no atar de suas duas pontas.
Quando visitei Alcântara, nosso guia Xibé, mostrando a cabeça de uma serpente esculpida num dos portais de entrada de um palácio em ruínas mencionou esta mesma história que eu já tinha ouvido.
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