Na adolescência, quando eu fazia algo de errado, sentia uma espécie de arrepio que me doía o canto da boca, algo parecido com a sensação de comer uma fruta muito azeda onde a língua ficava áspera e um gosto desagradável se espalhava por toda a boca...
Um dia ouvi meu pai dizer que só aceitaria dentro da sua casa, pessoas com cigarros na boca, se pudessem sustentar o seu próprio vicio. A palavra "sustentar", tinha pra mim um peso muito grande, um peso que elevava qualquer pessoa à uma categoria de poder e liberdade, de ser dono de seu próprio nariz. Então passei a fumar escondido dele com alguns amigos de rua, sentindo este arrepio desconfortavel. Depois veio o vicio, o primeiro trabalho com a falsa sensação de "sustentar-se", mas a liberdade de fato, ainda estou atrás.
Meu pai nunca foi, nem poderia ser referencia positiva para ninguém; Era analfabeto, alcoolatra, ausente, incapaz de manifestar qualquer tipo de carinho aos filhos e na maioria das vezes apresentava atitudes de desvio de carácter, herdado de sua educação cheia de preconceitos, traumas e desafetos. Um dia eu jurei pra mim mesmo, nem de perto, ser parecido com ele, embora eu seguisse caminhos que buscassem a sua aprovação.
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