COM A CARA DE LONDRES

O bairro aqui, onde eu moro, amanheceu com a cara das manhãs cinzentas de Londres. Uma densa neblina e um friozinho que parecia cortar a carne da gente e não parecia querer se dissipar tão cedo. Algumas pessoas caminhavam quietas na calçada bordada de gramas e grandes arvores; Iam ou voltavam de algum lugar secreto de suas vidas. Carregavam desejos em seus olhares disfarçados e uma certa cumplicidade com o que não podiam mudar, só aceitar a contragosto.

MONTANHA RUSSA



Devo parar, ou pelo menos diminuir significativamente, o meu excesso de exigências, que me sobrecarrega de frustrações e permite que eu também não seja cem por cento eficaz nos meus projetos. Como exigir alguns cuidados, responsabilidades e atitudes que são minhas e não pertence de todo, aos outros?
Cada dia que passa, sinto-me viver sobre uma montanha russa, cujas as oscilações me alternam a alma de satisfação e angustias, de grande estimulo e desistência. Dai que eu paro por alguns dias, mastigando frustrações e avaliando minha própria competência e esforços. Sentado na cadeira dessa montanha russa, respiro profundamente e me pergunto se devo prosseguir ou me jogar pra fora.

MAR DA AFLIÇÃO


Eu estava admirando a beleza do Mar Adriático, enquanto caminhava pela costa empilhada de edificações antigas, quando palavras me vieram a mente, como se fossem sopradas no ouvido.
Logo que pude, sentei numa mureta de pedras, retirando um pedaço de papel da bolsa tiracolo e comecei a escrever, como se fosse um sonho, que eu não poderia arriscar esquecer.
Brotou palavras, frases como uma revelação aparentemente não tão obvias a o entendimento, mas com algum sentido. Estava neste momento tão sensorial como poucas vezes fico. Nasceu então este poema que mostra o mar de outra forma, escuro, perigoso, traiçoeiro e cheio de segredos.

MAR DA AFLIÇÃO:

1-Vem ver o mar de noite,
Há um gigante vigiando-o pela madrugada.
Quem entrar:
Sabe do perigo de jamais voltar.

2-Vem ver o mar, 
de ondas escuras,
com bordados de prata feitos pela lua

3-Quem tem coragem de enfrenta, sua envergadura,
Braços fortes de Netuno, decidindo o futuro.

4-vem ver o mar, de tantas galés e armadilhas
de ruídos vindo do porão.
O que são?
Ratos, restos e memorias
que nunca se vão.

5-Vem ver o mar, da aflição.
Seu amor partiu e nunca mais voltou.
Só ficou a saudades, de quem foi e não voltou.

6-Vem ver o mar, de noite...
Ele lambe com a maré, a ponta dos seus pés.

7-Vem ver o mar sobre a catedral de pedras.
Há um gigante vigiando-o pela madrugada.

AUTOANALISE

Poucos fazem uma autoanalise de si mesmos, de suas atitudes e sentimentos que desenvolvem no curso da vida e quando o fazem, se posicionam como vitimas ou heróis de suas próprias vaidades, trazendo de arrasto uma imensa carga de rancor e cegueira. É necessário alguns cuidados, pra não cair nesta armadilha


Conheço algumas mulheres que se sentem inteligentes, justas e liberadas. Penduram poemas de Cora Coralina nas paredes do quarto, colam pensamentos de Clarice Lispector na porta da geladeira, ate desfilam acessórios de Frida Kahlo, mas que na vida real, não seguem o exemplo. Agem como uma Lucrécia Bórgea, ou uma Anna Janssen, montando armadilhas por onde outras pessoas passam. Não possuem feeling pra se verem como realmente são.
Daí, que nada funciona ou então segue torto. É que nem sempre somos aquilo pensamos ser!

VENEZA É TRISTE



É impressionante perceber o quanto alguns lugares no mundo podem ser tão magnificamente belos e ao mesmo tempo tristonhos. Eu pensava nisto, enquanto caminhava pelas vielas estreitas, pontes e olhava para aquelas águas que me pareciam tão profundas no canal e tão distante no tempo. Veneza é triste, o tempo a deixou triste!..


UMA PROFECIA DE SUPERMERCADO.

Ouvi dia desses, de uma idosa na fila do caixa do supermercado, para o jovem empacotador de compras, que a grande prestação de contas cobrada pelo planeta ao desrespeito do homem, não era somente o aquecimento global, mas a falta de alimentos e ar para respirar, a falta de amigos para conversar e ouvir nossas solitárias queixas... 

A voz dessa senhora de cabelos brancos era tão alta e nítida, que parecia estar ligada em caixas acústicas e num amplificador de alta  potencia. Parte do supermercado se silenciou diante daquelas  palavras que vinham de tão frágil pessoa, lembrando uma profecia. E será que não eram?... 

FARELOS.

Fui surpreendido ao abrir a janela do meu quarto, hoje pela manhã e perceber que o dia não estava tão frio quanto os demais passado, desde que começou o inverno. Até rolou um olhinho de sol que foi se abrindo até iluminar toda a rua, a praça, o topo das arvores, os edifícios mais altos. Pessoas ainda com mascaras, faziam suas caminhadas em grupo como naqueles velhos tempos, antes da pandemia. Conversavam, gesticulavam, com o olhar mais sereno. Seria a influencia do Sol + pandemia? 

Eu não sou dos mais confiantes a ponto de me pendurar em cipós da esperança, eles às vezes arrebentam, mas tenho a leve sensação de que a vida lentamente está voltando a sua normalidade, pelo menos dentro das pessoas, mesmo com restrições. 

CHICO UM GATO CRESCIDO



Hoje o Chico sentou entre os meus pés, enquanto eu digitava qualquer coisa no computador. Ficou com o pescoço esticado me olhando curiosamente com seus olhos estranhamente amarelos e pupilas pretas. Fiquei observando seu olhar meio enigmático e pensando no que ele estaria pensando, pra me encarar tanto. Mas gatos não falam com humanos, se falassem seriam altamente polidos e discretos como mordomos ingleses

Nesses poucos meses de adoção ele cresceu a olhos vistos, assim como nossa relação cresceu e se aprumou, tornando-o quase um jovem membro da família. Virou aquela companhia necessária que te olha afetuosamente, vê e ouve tudo, mas não pergunta nem questiona nada. Não abre discussões e também não tenta impor seu alter ego... Divide seu tempo em alternadas sonecas, momentos de brincadeiras comigo e necessidades fisiológicas pessoais. Melhor do que isto?.., é não ter pandemia!..

POLITICAS ESTRATÉGICAS

Nunca fui um simpatizante do governo de Eduardo Leite, sua postura politica, sempre me deixou com um pé na frente e outro atrás, seu jeito discreto e educado de bom moço, nunca me atraiu confiança. Sua posição de direita, não e a minha. Estou na contra mão dos que governam para empresários e as elites brancas deste país.  Sua saída do armário aberta na mídia, em nada modificou nem pra menos , nem pra mais, minha visão a seu respeito. Tenho a opinião de que políticos devem ser voltados aos interesses da maioria e do povo, o que não é o caso dele.
 
Leite já mostrou ser um bom estrategista dando apoio a o presidente da Republica nos momentos oportunos e se encolhendo nos mais difusos. Seu apoio a reeleição do atual presidente da republica abertamente anti-LGBT e genocida, não passa de uma jogada estratégica para disputarem a presidência onde vê chances de ser o eleito. 
 
É preciso ser muito ingênuo para não perceber que Leite quer concorrer à presidência da Republica em 2022, derrotando Jair Bolsonaro nas urnas. Seus passos calculados e sutis já estão conduzindo para este futuro embate. Uma vez que a popularidade de Bolsonaro vem declinando em decorrência de seu mal governo durante a pandemia e incontroláveis escândalos. 

As declarações de Leite me pareceram mais oportunistas do que sinceras. Em nenhum momento em suas entrevistas me pareceu um homem que se sentia aliviado por ter aberto as portas da sua liberdade sexual publicamente. Hoje é considerado o primeiro governador assumidamente gay do pais, quem sabe amanhã possa ser o primeiro presidente gay do país? 

PS:. Alguma coincidência?
Harvey MILK- (LEITE): Primeiro gay assumido, membro da Câmara de Supervisores de São Francisco.
Eduardo LEITE: Primeiro gay assumido, eleito Governador do RGS

NINGUEM AGUENTA MAIS

As mil e tantas vidas perdidas hoje no Brasil, ainda é uma altíssima estatística da dura realidade que ainda se segue, sem uma data marcada para terminar. As sequelas causadas pela doença, dos que conseguiram sobreviver, ainda são obscuras, mas sentidas no corpo e na alma. 

Nosso trabalho, rotinas, e hábitos de vida mudou, nos obrigando a ter uma vida muito diferente da que tínhamos e estávamos acostumados a usufruir. Muitas pessoas além de perderem grande parte da família, ainda perderam seus empregos. Tá difícil comer e manter uma vida digna neste país.

Ficamos ilhados em nossa cidade, nosso bairro, nossa casa. Não usufruímos mais de festas, praças, parques, praias, cinemas, teatros e mesmo que quiséssemos e pudéssemos sair de casa, como pagaríamos por estes lazeres que parecem não nos pertencer mais? Nos submetemos ao confinamento e a ver a vida numa tela de um computador ou televisão. Ninguém aguenta mais.

Alguns dizem que estamos entrando numa nova era, de novos valores, de diferentes formas de viver, de amar, de se relacionar com o meio ambiente, com o mundo, com nós mesmos.

LUGARES INCRÍVEIS


O sonho esta noite passada, de que eu estava viajando para algum lugar do mundo, me trouxe a lembrança, as palavras de uma amiga, (Alba), tentando me convencer a ir com ela para Machu Picchu a alguns anos atrás. Ela me disse bem assim: -Vamos Bebê é agora ou nunca, ou subimos a montanha agora, ou não teremos outra oportunidade. Estaremos velhos e nos faltará força, resistência, ar, saúde!..
Graças a Deus que depois de alguma resistência, eu lhe dei ouvidos. Depois subi mais uma vez com meu filho, conhecendo também o Lago Humantay por um pedido dele.
Este lago é formado pelo desgelo de algumas montanhas ao seu redor, dando-lhe este aspecto cristalino e de cor azul, que parece uma foto tratada por fotoshop de revista. 


Além das maravilhas naturais, o país é lindo, a cidade é acolhedora, as montanhas magnificas, os rios turbulentos, os lagos transparentes, os precipícios assustadores, a simplicidade do povo e a misticidade que se faz presente em todo os momentos, me faz eleger Cusco no Peru, o mais incrível dos lugares que já conheci.


Se os cânions daqui do Rio Grande do Sul, já nos dão aquele friozinho na barriga por sua beleza e profundidade, imagina o Cânion Colca, de 4 160 metros de profundidade nas proximidades de Arequipa e Chivay. É o mais profundo do mundo, com mais do que duas vezes a profundidade do Grand Canyon, nos Estados Unidos. É também a morada dos condores, ave típica que sobrevoam a região.
O condor foi considerado pelos incas um “mensageiro dos deuses” e simboliza a força, a inteligência e o enaltecimento.

PRETO POBRE E PUTO

Conheci Nega Lu, a o acaso no vernissage de um amigo, Will, Cava ou Cavalcante. Chegou como se diz, chegando: Usava sobre o corpo uma miscelânea de estilos e gêneros, sandálias feminina, calça jeans, uma jaqueta sobre uma camiseta, os braços cheios de pulseiras e um estranho chapéu de rafia com algumas  flores e tule. Assim era o visual da Nega Lu, nunca se sabia o que ela vestiria, para chamar atenção das pessoas com quem se relacionava nas noites boemias e artísticas de Porto Alegre. As vezes surpreendentemente aparecia com um simples tênis, camiseta e uma calça jeans e estava pronto para discutir, retrucar com pequenos deboches e  muito humor as opiniões filosóficas, culturais e politicas do mundo cão.

Negro, pobre e gay, desfilava pelos circuitos gays, culturais e políticos da cidade como o Doce Vicio onde era garçonete, o Copa 70, na Esquina Maldita  onde puxava um coro de bêbados entoando o clássico Summertime. Puxava uma mesa daqui e outra dali, e o palco já estava montado para um rápido recital de jazz à capela sobre o tablado montado às pressas. Nega Lu deixava os espectadores alucinados com seu vozeirão grave e afinado. 

Foi solista da OSPA e da UFRGS, crooner da Rabo de Galo banda de blues na década de 80, dançarino do Balé Clássico nos anos 60, Porta bandeira da Banda do Saldanha e ainda falava um pouco de francês que aprendeu quando aluno da Aliança Francesa de `Porto Alegre. Nega Lu deixou seu nome registrado na memória afetiva de Porto Alegre e agora virou livro. Sim, livro que fala de sua trajetória como um percussor das mudanças sociais e comportamentais que ainda hoje se consolidam na cultura moral do país e das pessoas ditas "De Bem". 

Nega Lu se dizia vitima dos três pês: Preto, pobre e puto. Nega Lu virou livro contada pelo escritor o autor, Paulo César Teixeira com titulo de, "Nega Lu - Uma Dama de Barba Malfeita", Se você nunca ouviu falar da Nega Lu,  assista AQUI no Youtube
Luiz Airton Farias Bastos, (seu verdadeiro nome), faleceu em 17 de setembro de 2005, dois meses antes de completar 55 anos, de complicações cardíacas.


O CHICO E A NET

Depois da visita de um veterinário conhecedor do funcionamento psicológico e emocional dos felinos, aqui na minha casa, passei a entender melhor as atitudes enlouquecidas do Chico, que é gato jovem e cheio de energia pra por pra fora. Desta forma, eu entendo, que não posso brigar ou ir contra o seu desenvolvimento natural.

Esta manhã depois de acordar e se espreguiçar de forma invejosa, como fazem os felinos, resolveu jogar basquetebol  sobre a minha cama e usando como bola, com um pequeno  pedaço de bolacha. Acontece que suas unhas afiadas arrancam não só a lã das tramas dos cobertores, como rasgam as cobertas mais lisas e finas, me causando prejuízo a não tão longo prazo. 

Mas como dizer isto pra ele e faze-lo entender?. É o mesmo que tentar convencer a NET, de que você não quer mais o serviço deles:  Te ignoram solenemente! É a vida que prossegue ao ritmo, mate-o pelo cansaço!

VOZES DO INTERIOR:


Um amigo do Facebook, postou uma frase, que me causou um certo impacto nesta manhã, fria de inverno, quando acordei com os pensamentos ainda revirados, retorcidos como as cobertas.

A frase que parece ser de autoria do pintor holandês Vincent Van Gogh,  diz o seguinte: Se escutar uma voz dentro de você dizendo 'Você não é pintor', então pinte sem parar, de todos os modos possíveis e aquela voz será silenciada.

Nossa, eu tenho tantas vozes dentro de mim, que por vezes falam, gritam, murmuram: A da razão, a do coração, a da intuição e esta outra voz de quem é? Como reconhece-la entre tantas?..


O VALE DAS BORBOLETAS AZUIS


Foi numa manhã de Outono, que a natureza com todo o seu mistério e beleza, resolveu presentear eu e minha amiga Alba, com algo absolutamente inesperado. Subíamos cautelosos a serra, por causa da espessa neblina que cobria tudo, deixando-nos com pouca visibilidade, quando percebemos nas proximidades de São Francisco de Paula, cidade que temos maior apreço por sua característica simples e interiorana, além da extensa mata de araucárias e cascatas escondidas, que o asfalto começou a ficar recoberto de pequenas folhas azuis e brilhosas que pareciam lantejoulas. 

Era como se um tapete bordado, fosse colocado sobre a estrada deixando-nos maravilhados. Em seguida aquilo que pareciam folhas começaram a se mexer e também a cair das arvores sobre o para-brisas, mostrando-nos que se tratava de centenas de borboletas azuis que voavam na estrada na nossa direção, colidindo contra o carro. A borboleta é considerada o símbolo da transformação. Entre outros, simboliza felicidade, beleza, a alma, inconstância, efemeridade da natureza e da renovação. Ficamos boquiabertos, admirando aquela imagem do outro mundo, enquanto nos perguntávamos de onde tinham vindo tantas borboletas. Aquela imagem que lembrava uma cena de filme de fadas, gnomos, nunca me saiu da cabeça.



QUAL É A SUA LUTA

Você já se deparou algum dia na frente de um espelho e se perguntou qual é a sua luta? Pelo o que você briga?  O que você defende? E o que tem a dizer, para as pessoas sobre esta sua luta?

Talvez você tenha uma forma lúdica de expressar suas ideias, de defender suas verdades e isto também é uma forma de luta em defesa de outras novas e diferentes visões e pensamentos.

Se você não tem nada pelo que lutar, é melhor esticar-se no sofá da sala e assistir a um programa de gincanas na televisão, para diminuir o seu stress e ter a sensação de que pelo menos algumas pessoas tem sorte nesta vida.

ADÃOZINHO DO BARÁ



Existiu um Pai de Santo, dito muito poderoso chamado Adão, que morava perto da minha casa na Vila Sta. Isabel em Viamão e sempre que havia festas abertas ao publico, em seu terreiro, minha amiga Maria Helena me convidava pra ir com ela e eu amava aquilo tudo. A festa, as batidas de tambores, as danças em círculos, as danças dos orixás, as cores, as roupas, os brilhos, a comida que se comia com as mãos, tudo tinha um fundamento de santificação que me encantava. 

Todo o misticismo que envolvia aquele ambiente, me transportava mentalmente através de um fio condutor, para lugares sincréticos, mágicos, misteriosos, que eu acreditava ser a África, terra de meus ancestrais de que sempre fui ligado, através de revistas, jornais etc... 

Adão era um homem negro, magro, de estatura baixa, razão pela qual, os mais íntimos, chamavam-no de Adãozinho do Bará. Era da Nação Cambinda e batizado como ADÃOZINHO DE EXU BARÁ AJELÚ BIOMÍ. Seus conhecimentos e sabedoria deram-lhe fama e respeito no meio religioso, transformando-o dentro do batuque, (como é chamada a religião de matriz africana, aqui no Sul), num ícone por seus fundamentos e conhecimentos dos mistérios dos orixás. Adãozinho do Bará, faleceu em 1995 deixando um grande legado à religião africana e seus sucessores.

CUIDADOR E SEU PASSARINHO


Ontem fui convidado para jantar com amigos; Um carreteirão divino, vinho, fogão à lenha aceso, musica de fundo, mas antes que eu percebesse, já tinha caído na cilada daqueles bate-papos baixo astral e que muita gente adora falar na condição de vitima e os outros aplaudem por identificação.

Tem certas conversas, que não dá mais para se permitir ouvir, e a gente só ouve a contra gosto por que está cercado de pessoas que também alicerçam suas vidas, no mesmo pensamento errôneos de que pais devem proteger seus filhos com unhas e dentes pelo resto de suas vidas. 

Esta conversa chata entre pais super protetores de filhos já adultos, que são tratados como crianças desprotegidas e destratadas pela sociedade, não passa de culpa, muita culpa desde o seu desenvolvimento dentro da barriga. 

De um lado temos filhos extremamente dependentes, indecisos, despreparados e presos a o conforto e a proteção dos pais e do outro lado, pais doentes, infelizes e frustrados que nunca se permitiram buscar a própria liberdade e felicidade, em função de seus filhos. Eis ai o laço feito de interdependências, de circulo viciosos, de mutua dependência destrutiva, que nunca vai se desfazer, se uma das partes não cortar o laço, ou cordão umbilical.

Uma convidada começou a falar da relação com seu filho de trinta anos, que ela suava para pagar a faculdade e do seu desgosto quando ele informava que dormiria na casa da namorada. Ora!.. Eu pensei, um homem de trinta anos que não transa com a sua namorada, pra ficar do lado da mãe, deve estar com algum problema. Mas uma mãe que deu seu sangue por quase toda a sua vida, para o sustento do filho e ainda tenta mantê-lo debaixo de suas asas, é no mínimo uma egoísta, que não o preparou pra vida e que sente culpa, muita culpa, desde o momento que o pariu.

Penso que este tipo de relação mãe e filho, deveria ser como a de um cuidador e o seu passarinho machucado, depois de tratar, cuidar, alimentar, chega a hora de pega-lo na mão, leva-lo até o portão e abrir dedo por dedo, para que ele voe para a liberdade. Se não for assim o ciclo não se completa.


DANÇANDO EM VENEZA

Em 2018, estávamos eu e minha amiga Rose caminhando na Praça São Marcos em Veneza, quando percebemos a movimentação de alguns músicos sobre um palanque improvisado, se preparando para um possível espetáculo de musica a o ar livre. 

Nos aproximamos impressionados com a quantidade de instrumentos dourados e um ostensivo piano branco de cauda e logo começaram a tocar um jazz daqueles pegados. Eu embasbacado com todo aquele clima de blue/jazz Nova-iorquino, liberei meu impulso de coragem latino e tirei a Rose para dançar entre os transeuntes estrangeiros que se batiam entre si olhando vitrines. Dançamos até o final da musica sob os olhos curiosos e surpresos dos músicos e de algumas pessoas que passavam. Foi libertador!

Depois pensei comigo, rindo em silencio: Isto só podia ser coisa de brasileiro. Somos empolgados, comandados por estranhos impulsos que nos faz reconhecer a alegria ou qualquer outro sentimento, reagir na pele em qualquer lugar em que estamos. Tudo é tão instintivo, que faz nosso corpo tomar atitudes sem perguntar pro cérebro antes. Se fosse no Brasil e ouvíssemos o estampido de um tiro, nos jogaríamos no chão, sem pensar duas vezes.

NUM DIA DE DOMINGO


Tem dias como o de hoje, que eu tenho vontade de escrever somente bobagens, de encher este blog com coisas absurdas e irrelevantes, de ser mal educado, de mandar o vizinho chato ou esnobe, tomar no seu precioso cu, de chegar na janela escancarada do meu apartamento e expor minha bunda pra quem quiser olhar e se escandalizar, de perguntar bem alto, quase gritado, para quem passa: O que está acontecendo com vocês e comigo, que não tomam nenhuma providencia?

As pessoas iriam aos poucos se acumulando e possivelmente não intenderiam meu real motivo, para uma atitude tão descabida e nem de que "providencia" eu estaria falando.  Depois de algum consenso, iriam quem sabe, chamar a policia por atentado ao pudor e se aglomerariam na calçada com tantos outros, para assistirem a o desfecho da minha cena de mal gosto e esqueceriam de se perguntarem, de que "providencia" eu estaria falando. Perderiam o foco da minha revolta por uma simples curiosidade coletiva. E eu? Bem, eu diria apenas: Um péssimo Domingo à todos, para que tomemos alguma providencia!

SOU UM ENFILTRADO.


Ás vezes penso que se eu tivesse o poder de saber o meu futuro, preveniria tantos erros cometidos no passado, quanto as angustias geradas pelas incertezas do presente. Os acertos seriam sempre como um chute certeiro de Pelé  à gol e os erros perceberia antecipadamente para evita-los. Por outro lado eu não seria tão pulsátil, tão cheio de obscuridades e erros, que só me fazem crescer como individuo. Um dia já cheguei a pensar que eu era um extra terrestre infiltrado no planeta, enquanto chupava laranjas no pomar de uma vizinha. Mas esta é outra historia pra ser contada!..

O GATO ENLOQUECEU:

Chico acordou enlouquecido. Desde que amanheceu o dia, corre pelo quarto de olhos arregalados, orelhas baixas e o dorso em forma de ferradura. Pula pra janela que agora tem tela e emite um som que não é miado, está mais pra um rugido de filhote de leão.

Será que é a chuva que está caindo lá fora, nos impedindo de ver o sol, de sair pra rua e ver as pessoas, outros bichos, o mundo? Será que esta pandemia está influenciando psicologicamente até  os inocentes gatinhos?

A PERFEIÇÃO É UMA META

Meus ensaios com os músicos, Gian no trompete, Wagner no 7 cordas e Cândido na percussão, tem sido tão produtivo quanto prazeroso. Tive a sorte de encontrar na minha caminhada, músicos competentes, que ajudaram no meu processo de crescimento com a musica, e mais que isso, conseguiram abrir em mim uma portinha que a muito, eu mantinha fechada com trancas e ferrolhos, que é a confiança em mim e nas pessoas que me rodeiam sem vê-las como adversários. 

Tenho meus fantasmas, minhas inseguranças e minhas exigências pra tudo que eu faço e esses músicos em especial, com muita paciência e sabedoria, conseguiram estabelecer diálogos para um senso comum no grupo, me pondo à vontade e verdadeiramente satisfeito. Isto é imprescindível para que alcancemos  os objetivos que queremos. 

Daí, que eu lembrei desta historinha, lida em algum lugar: |Deus deu para o homem como meta, a perfeição, mas estabeleceu como prazo a eternidade e como companheira dessa caminhada a paciência|. A eternidade é a única coisa que o homem não possui.|

LEOPOLDINO


Sabe aquelas pessoas que vivem rindo à toa, que ri da vida, das pessoas, das piores historias contadas como se tudo fosse uma piada? Assim era meu tio Leopoldino, de terceiro ou quarto grau familiar e que eu não o sentia como um tio, mas aquele camarada que sempre  tinha conversa pra tudo, até pra encher linguiça, se fosse o caso!..

Não lembro dele mais jovem, nem tão pouco, de ter percebido durante nossa convivência, aquelas mudanças graduais, que o tempo desenha nas pessoas, transformando-as em outra. Sim, o tempo nos transforma em outra pessoa!

Parecia sempre o mesmo homem, de traços cansados e olhos que buscavam o horizonte com certa tristeza nunca revelada. Passava as tarde sentado num banco de madeira sobre a calçada, uma boina de lã que raramente tirava da cabeça e uma bengala onde apoiava as duas mãos que com o tempo foi substituída por duas muletas. Sussurrava alguns sambas que só mais tarde vim a identifica-los.

Minha mãe contava, que quando jovem, ele perdera a metade do pé direito num acidente de bonde. Foi pular com o bicho de ferro andando, caiu com o pé sobre o trilho e a roda amputou todos os dedos como uma navalha afiada. Diabético, nunca conseguiu cicatrizar a ferida que ficou crônica e também o levou deste mundo. 

INUTIL PAISAGEM


Estou ensaiando neste momento a musica Inútil Paisagem do Tom e Aloysio de Oliveira registrada por Elis... no álbum Elis & Tom com gravações realizadas entre 22 de fevereiro e 9 de março de 1974... em Los Angeles.

Claro que eu já ouvi o disco centena de vezes, mas é sempre bom lembrar a beleza desta obra e em particular esta musica que me emociona demais. Eu fico me perguntando em que grau de  emoção e sensibilidade vive uma pessoa que compõe/escreve uma maravilha destas. É de uma profundidade poética e beleza, que não tem explicação.

Mas,.... pra quê?......... Pra quê tanto céu?... Pra quê tanto mar?.. Pra quê?..
De que serve esta onda que quebra, e o vento da tarde?.. De que serve a tarde?.. Inútil paisagem!

Pode ser....  que não venhas mais!  Que não voltes nunca mais!
De que servem as flores que nascem pelos caminhos?.. Se o meu caminho. Sozinho é nada! Nada!

MINHA TEORIA SOBRE ETS


Sempre acreditei na existência de seres extra terrenos mais inteligentes do que nós, espalhados pelo planeta, cruzando pela gente nas ruas, subindo em ônibus, descendo escadas rolantes, nos encarando estranhamente de um canto, de um restaurante ou supermercado. 

Não são anjos de asas mandados para nos proteger, mas seres diferenciados, sensitivos com poderes mentais capazes de se comunicarem por telepatia, lerem nossos pensamentos, entrarem em nossos sonhos e outros métodos não convencionais. 

Foram mandados pra cá com o objetivo de conhecerem a raça humana, se relacionarem e obterem  informações, de como funcionamos. Muitos híbridos, vivem entre nós com a aparência humana tentando interagir sem serem por nós identificados. 

Querem invadir nosso planeta? Quem sabe!.. Nos estudar? Talvez!.. É apenas uma teoria conspiratória? Pode ser! Mas que o mundo está cheio de coisas estranhas e inexplicáveis; Isto é uma verdade!



TATI A GAROTA DA MINHA RUA

Tati era uma garota que conheci na minha adolescência, quando mudou-se pra minha rua, numa casa simples com  quarto, sala e banheiro. Em pouco tempo fez amizade com toda a gurizada da rua que se sentiam orgulhos, machos com sua presença chamativa e exuberante. 

E quem não queria estar por perto daquele mulherão linda e perfumada que deixava alguns vizinhos de olhos esticados e outros de cara torcida? 

Tati nunca escondeu de ninguém o que fazia à noite, naquelas boates chiques de Porto Alegre, que nós sem um tostão no bolso, jamais poderíamos frequentar.

Nos finais de semana, quando tínhamos competição de voleibol com times de outras escolas do bairro, nos acompanhava como animadora de torcidas, nos deixando orgulhosos e felizes com sua presença. Era tão linda, que tirava a atenção dos nossos rivais embasbacados com sua beleza e simpatia. Evidentemente torcia por nosso time e estimulava cada um de nós enquanto jogávamos. Foi sem duvida a responsável por todos as nossas vitórias, naqueles tempos de glória, que não voltam mais. 


NO TEMPO DOS HOMENS

Vou vivendo este tempo de transformações, de vida recortada de fatos e acontecimentos que não entendo e sonhos que eu não decodifico, mas que vem das profundezas de mim, fazendo pequenos estragos e contrapontos ao que entendo e controlo. 

Quando exteriorizo, através de palavras, ou de algumas expressões que me identifico, minhas neuroses, parecem se abrirem a um esclarecimento. Fica mais leve e iluminado dentro de mim. Como se ascendessem candeeiros pelos caminhos obscuros.

Transferir estas emoções em palavras, em canto, significa uma forma intensa de esvaziamento de coisas que necessitam nivelamento do terreno mental, para o plantio de novas experiências. Faço isto porque é preciso morrer e nascer de novo, quantas vezes for necessário, ainda que no tempo dos homens!

TODA A MULHER É MEIO LEILA DINIZ

Minha vida social na adolescência se deu integralmente na esquina da rua onde morava com os meus pais. Nela se reuniam eu e mais quatro garotos que beiravam entre os doze e quatorze anos de idade e que tinham como teto para competir sabedoria e esperteza, o imenso céu estrelado nas noites de verão, Quando extrapolávamos com gargalhadas ou mesmo falando alto, um ou outro vizinho gritava de sua casa: -Vão pra casa dormir seus vagabundos, aqui tem gente que trabalha amanhã cedo!..

Discutíamos e disputávamos tudo, desde cenas de filmes de cowboy,  os personagens mais corajosos dos filmes de guerra, os heróis com maiores poderes extra humanos, quem cuspia mais longe, até os imaginários sonhos com garotas que nem sabiam da nossa existência. 

Um dia me encantei por uma garota da televisão, que eu não podia contar pra ninguém. Ela não era o tipo de garota, que se contasse estar apaixonado. Minha mãe a detestava, dizia que era vulgar, desbocada e que falava tudo que lhe vinha na cabeça, com a naturalidade de uma mulher sem classe. Eu descordava disso e cada vez que a via e ouvia tal garota, mais, me sentia preso nas malhas de sua sedução, que não eram dirigidas somente pra mim, mas para tantos quantos, se permitissem ouvi-la falar de suas fragilidades de mulher e desejos de liberdade não aceitas. 

Gravida, numa tarde de sol, ela resolveu tomar banho de mar e virou um escândalo nacional, uma ofensa para as famílias de bem e de conduta social respeitáveis. Foi flagrada, fotografada com sua enorme barriga saindo do mar. Mulheres até então, não eram tão explicitas, não falavam abertamente sobre sexo, não mostravam suas barrigas gravidas publicamente, como não denunciavam assédios sofridos, muito menos por a boca no mundo como ela fazia.

Depois de algum tempo, minha paixão foi se acalmando, se transformando em admiração, meus interesses tomando outros rumos e meus amigos, substituídos por outros. Numa manhã fria de 1972, soube que ela havia partido e se calado para sempre, com a queda de um avião na Índia. Hoje toda a mulher que não se cala e se reconhece, é meio Leila Diniz.

A ESQUINA MALDITA

Poucos sabem que existiu aqui em Porto Alegre city, a Esquina Maldita, localizada no cruzamento da Avenida Oswaldo Aranha com a Rua Sarmento Leite. Entrou para a história da cidade, como um lugar de transgressão e debates políticos/sociais e culturais, num dos  períodos mais obscuro em que passou nosso país, a ditadura!

Entre as décadas de 1960 e 1970 nesta esquina, surgiram quatro bares: O Estudantil (1959), o Alaska (1965), o Copa 70 (1970) e Mariu’s (1975). Localizada diante do Campus Central da UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a área em torno da Esquina Maldita, tinha uma alta concentração de residentes universitários, artistas e intelectuais. 
Esse público, em sua maioria jovem, durante a ditadura militar, tinha seu ponto de encontro nesses bares, onde acirravam-se os debates sobre política, mas também sobre as mudanças sociais, comportamentais e culturais que os tempos traziam. 

Havia uma clara conexão entre esses bares e os bares do campus universitário e com os diretórios acadêmicos, onde a politização era intensa. Entre os jovens a participação contribuía para definir identidades e alianças tanto afetivas e sociais quanto ideológicas. Criava-se um espaço de expressão de ideias, símbolos e anseios que estavam sendo reprimidos ou estavam sendo articulados como novidades. 

Havia um certo cuidado entre seus frequentadores, que costumavam usar códigos cifrados para disfarçar os conteúdos das conversas, especialmente em presença de suspeitos e estranhos. 
O apelidado de Esquina Maldita, deu-se pelas autoridades policiais da época, que o consideravam um local de agitação, baderna e subversão ao sistema politico vigente.

MITOS DA INFANCIA

No quintal da minha casa, existia um pequeno pomar, onde todas as frutas eram aproveitadas por minha avó. Da casca a o bagaço, ela desenvolvia doces, sucos, farinhas e ate adubo para que a vida seguisse seu ciclo natural. 
O que nos proibia era de comer melancia com uva, pois segundo ela, empedrava na barriga. Dizia que a morte era lenta e dolorida, se comêssemos as duas frutas juntas. Minha mãe e tios, também tinham a mesma crença, que possivelmente receberam de minha avó. 
Quando me senti meio adulto, com isto a desenvolver dúvidas e questionamentos sobre tudo na vida, resolvi aplicar o teste do  "São Tomé" ou do “Ver para Crer”
Peguei da geladeira uma pedacinho de melancia, um pouco mais que uma colher de sopa, quatro bagos de uva e mandei ver, meio que assustado. Fiquei atento a tudo que pudesse me acontecer, observando a cada segundo, qualquer reação que pudesse ter na barriga, e nada...
Quando percebi, depois de algum tempo, que nada tinha acontecido, veio a certeza de que eu não morreria envenenado e que certas histórias contadas, nada mais são do que mitos sem fundamento. Saí gritando pra todos os meus irmãos sobre o meu feito, que nunca confiaram, dizendo que apenas tive sorte e que não comi o suficiente. Até hoje, depois de adultos, devem se recusar a comer as duas frutas junto.

GATOS E SUA ARTE DE ENGAMBELAR HUMANOS:

Chego do trabalho e surpreendo o Chico na minha cama. Abre uma frestinha do olho, fingindo que está fechado e que nem me enxergou entrando dentro do quarto. 
Encolhido nas dobras do cobertor, deste final de tarde fria, levanta, se estica, depois vem na minha direção bocejando com aquela cara de.., "não sabia que vc tinha chegado" e já começa a miar como se estivesse desesperado de fome. 

Sim, "fome", porque gatos não são como cachorros, que fazem festa na chegada dos donos e só depois vão reivindicar comida. 
Gatos pensam primeiro na própria barriga e só depois de alimentados, vão esfregar suavemente o corpo peludo nas tuas pernas, ronronando, pra dizer que gostam de ti. São incrivelmente egoístas e verdadeiros artistas na arte de engambelar. 

TENSÃO PANDEMICA

Ando tenso neste momento e acredito que não estou só neste sentimento que me amarga os dias. A pandemia me deixa tenso, tenso com a grande quantidade de mortes comprovadas, com gente passando fome, com o isolamento social, com as politicas ineficientes e muita corrupção envolvida, com a falta de vacinas, com o custo de vida altíssimo e o congelamento compulsório de salarios  sem nenhuma proposta de reposição. 

Li hoje uma notificação de conversa na Internet, que me deixou ainda mais tenso. 
-Hã?.. As vacinas só te imunizam por um prazo de seis meses, depois tem que vacinar de novo?..
-Sim, né!.. Ninguém sabe, da sua eficácia a longo prazo!.
-Olha: Morrendo os idosos, diminui o déficit da previdência; Morrendo os doentes crônicos, diminui os gastos do SUS; Morrendo os índios, a terra fica livre para a exploração. Nada no mundo dos homens é por acaso!

Coisas assim, faz eu me sentir como um passageiro num avião, que começa  a tripidar e fazer ruídos estranhos, Dai alguém pergunta pra aeromoça o que está acontecendo, e ela responde: Calma senhor, está tudo sobre controle, estamos trabalhando nisto! Será que estou entrando na teoria da conspiração?





A HISTÓRIA DE IONE FERREIRA

Ione Ferreira era uma amiga de minha mãe; Uma mulher  charmosa, elegante, linda, negra,  que quando chegava no portão lá de casa, seu perfume de fragrância agradável, espalhava um cheiro maravilhoso pelo pátio como flor de jasmim ao anoitecer.

Até na cadeira onde sentava, carimbava aquela deliciosa fragrância, estonteante que não me saia das narinas desacostumadas aos bons cheiros da vida. Usava sapatos de salto altos, coloridos, com meias de seda, taiers de linho que pareciam ser costurados no próprio corpo. Cabelos lisos bruxados para traz, finalizando um coque bem acabado e perfeito. Boca bem delineada por um batom vermelho, porem discreto, anéis, brincos, pulseiras, colares, tudo do maior bom gosto. 

Ione não devia ser, pelo menos para mim, não se parecia com uma simples lavadeira como minha mãe, que se vestia com roupas mais simples. Tinha ares de secretaria executiva, estudada, esclarecida. Era casada com Wilson, a quem amava e tinha um casal de filhos ainda pequenos. 

Foi até a minha mãe, por que precisava se aconselhar, dividir um problema que parecia não conseguir resolver sozinha. Estava grávida e não podia ter outro filho, a situação financeira não era favorável e seu marido ainda continuava desempregado...

Neste dia, com minha mãe, houve cochichos que eu não pude escutar, nem tão pouco entender. Ione caminhava pela casa nervosa, lamentava e chorava. Falavam em dinheiro, que tudo aquilo era arriscado e também muito caro, mas que não encontrava outra solução. Minha curiosidade crescia com minha imaginação. Eu não entendia aquelas frases soltas, sem sentido, algumas palavras que nunca ouvi na vida. Tudo me parecia uma conspiração, que eu não sabia de que lado estavam os mocinhos e os bandidos.

Ione foi embora comentando que tudo daria certo. Passado alguns dias, minha mãe chorava disfarçadamente pelos cantos da casa. Acho que não podia chorar na minha frente, mães não se despedaçavam na frente dos filhos demonstrando fraqueza. Mães eram de pedra que saiam leite. Mães eram fortes e silenciosas como santas de madeira de lei. 

Quando se trocou no final da tarde, com uma roupa simples e discreta, olhos meio inchados, dizendo que Ione estava morta, eu me espremi num canto da casa tentando entender. Na verdade, passei anos sem conseguir entender!..

PERSEGUINDO LUPICINIO


É fato que eu e um amigo, ainda novinhos, saindo da menor idade, percorríamos as noite porto-alegrense em busca  do paradeiro de Lupicínio Rodrigues, que sabíamos, fazia também suas incursões  pelos botecos da cidade, dando palhinhas de seus sambas Dor de Cotovelo, com sua inseparável caixinha de fósforos. 

Andávamos de bar em bar, madrugada à dentro, até encontra-lo e ficarmos completamente hipnotizados com sua presença simpática e voz doce.  Nas noites em que não o encontrávamos por pura falta de sorte, acabávamos em outros bares, (menos ou sem nenhuma exigência com a data de nascimento registrada em nossas carteiras de identidade) para ouvir outros dois mestres da musica: Plauto Cruz e Tulio Piva, que passou a tomar o lugar de destaque no coração do meu amigo, com a criação do samba Pandeiro de Prata, que ele considerava uma obra de arte.



Nunca trocamos uma única palavra com Lupicínio, por que tínhamos consciência da distancia entre os dois mundos que nos separavam. Ele um homem maduro, vivido, poeta, com uma grande carga de experiência pessoal e cultural que pra nós era inconcebível, inimaginável qualquer dialogo entre o Céu (ele) e a Terra (nós). Mas acredito que pela nossa insistência em persegui-lo pelos bares, deve um dia ter se perguntado sobre as nossas constantes aparições nos mesmo lugares em que frequentava.

Seu Hélio, pai deste meu amigo, era um boêmio incorrigível que passou grande parte de sua vida entre o Brasil e New Orleans, cidade de raiz cultural negra como o blue-jaz, conhecia praticamente todos os donos e funcionários de bares e botecos de Porto Alegre, como o Adelai's Bar, o Chão De Estrelas - na Rua José do Patrocínio, e o Gente Da Noite - na Av. João Pessoa; sendo assim; um aceno de positivo 👍ou um alô antecipado dele, garantia nossa entrada, sem grandes burocracias e perguntas.  
Quando nos apertávamos com a comanda, colocávamos na conta dele e tudo certo.

Outro "figuraça", que encontrávamos algumas vezes nestes lugares e que com o passar do tempo foi virando aquele amigo de bar que conta suas façanhas causticas e amorosas, foi o estimado Paulo Santana que nos deixou saudosos de sua alegria. Mas isto eu conto noutro post!



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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...