Tambor de Crioula

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Ontem à noite Athos e eu fomos ao Centro de Criatividade Odylo Costa Filho, na praia grande, centro histórico de São Luís, para assistirmos a uma apresentação de Tambor de Crioula, dança de origem africana praticada por descendentes negros daqui do Maranhão em louvor a São Benedito, santo muito popular entre os negros. O tambor de Crioula é uma dança alegre marcada com muito ritmo e giros tendo como motivo o pagamento de uma promessa, festa de aniversario ou outra comemoração de qualquer natureza e ainda uma reunião de amigos.
Não existe uma data fixa no calendário para ser dançada e que pode ser apresentada ao ar livre em qualquer época do ano.


Os dançantes que são mulheres, vestem-se com saias rodadas de estampas coloridas, blusas rendadas e muitas pulseiras e colares de adorno e algumas flores ou lenços torcidos no cabelo.
Aos homens que trajam calça comum e camisa estampada, fica a responsabilidade de puxar os cantos que é acompanhado pelas mulheres e ritmar a dança tocando os tambores que são tres, cada um de um tamanho, feitos de tronco de mangue, pau d'arco, soró e outras arvores de forma artesanal e rustico.. Um dos pontos altos da coreografia da dança, é a punga que é o convite entre as dançantes para entrar na roda. Quando a dançante que está no centro deseja sair, avança em direção a que quer entrar, aplicando-lhe a punga, que ´consiste num toque com a barriga, na barriga da outra dançante. A que estiver na roda vai para o centro dando continuidade a brincadeira.

Ninguém se posiciona

O hostel que nos hospedamos é o único de São Luís e fica localizado na rua da Palma 127, dentro do Centro histórico. É um prédio em estilo colonial português do século 19, com grossas paredes de pedra e uma fachada externa pintadas de azul. 
De noite, cansado da viagem, de caminhar por algumas ruelas e escadarias me recolhi para o albergue, mas antes me debrucei sobre a sacada e fiquei admirando as casas e sobrados que ficam iluminados de noite com postes de ferro estilizados e grandes luminarias.
No outro dia, levantei cedo e fui caminhar sozinho por estas ruas onde percebi que muito trabalho ainda precisa ser feito para que se guarde a memória desta cidade. Existem prédios em franco desmoronamento e alguns ainda servem como deposito de lixo e esconderijos de marginais e drogaditos.
Segundo o proprietário do hostel, Sr. Salomão, as ruas e praças estão por um longo tempo passando por um trabalho de restauração que se iniciou no subterrâneo na remodelagem da rede elétrica e de esgoto que dispensa muito trabalho, tempo e dinheiro. 
A maioria das casas são propriedades particulares cujos os donos não possuem condições financeiras para assumirem as exigências do governo que também esbarra nas desapropriação e indenizações.
O proprio IPHAN, que também faz suas exigências sobre o governo, já sinalizou a possibilidade de excluir o Centro histórico de S. Luis como patrimônio, pela morosidade nestes processos de restaurações. Enquanto nada se posiciona, é triste ver toda esta riqueza cair aos pedaços diante de nossos olhos.

Encontro marcado ao acaso

Chegamos ontem aqui em São Luís, porem ficamos um tanto confusos pois aqui é um dos Estados que não fazem horário de verão e estávamos uma hora na frente do cotidiano maranhense; pegamos um táxi e fomos direto para o hostel Solar das Pedras, no Centro Histórico da cidade, para acomodarmos as nossas bagagens e também fixarmos nossa antena de referencia. 
Não fizemos muitas fotos, ainda estamos meio tímidos para isto, mas conhecemos dois antropólogos, Rachel e Evaldo no restaurante "Da Antiga Mente", do qual passamos parte da tarde e da noite, conversando e bebendo cerveja. Eles são divertidissimos e estão na cidade para um Congresso sobre educação ou coisa assim, como outros hóspedes do hostel onde estou hospedado, que vieram de Salvador para este encontro. Experimentamos com a dupla, uma porção de arroz com cuxá, que me decepcionei e o doce de espécie, feito de coco e farinha de trigo, que apreciamos muito.
Rachel nos explicou a razão do nome do doce: Com a vinda do imperador até a cidade de Alcântara, as doceiras da cidade resolveram criar um doce que fosse diferente dos demais em sua homenagem, como o rei era um ser diferente de todas as pessoas, por sua espécie, rei, nobre e tudo mais, o doce recebeu este nome. 

Aguarde.., voooltaremos !

Amanhã às 11h40, segundo a previsão de vôo, estarei à 3.142km de minha casa em Porto Alegre, para conhecer uma cidade num Estado brasileiro que eu considero multicultural. Estou curioso para experimentar o arroz com Cuxá, o Sururu, o Sarabulho, peixe frito e Caranguejada, além do sabor doce e exótico de um guaraná chamado Jesus. 
Esta culinária que ganhou o mundo com sua influencia francesa, portuguesa e do índio, me enche a boca de saliva e a alma de curiosidade. Pretendo mandar noticias e informações sobre cada lugar que visitar e cada experiencia que tiver, através do blog.
Como diz o apresentador António Pinheiro Machado, do programa "Anonymus Gourmet", daqui do sul; Aguarde, voooltaremos!

Não olha prá mim, não olha !

Existe bichinho mais irritante na face da terra, do que papagaio stressado?.. Eu responderia que sim: Dois papagaios, se eu tivesse a certeza de que em dupla, conseguissem infernizar em conjunto a vida das pessoas, mas normalmente apenas um se sobressai na doença, enquanto o outro fica calado assistindo a histeria do companheiro, numa cumplicidade silenciosa ou submissa. O bom é que pudessem viverem livres e longe da cobiça e egocentrismo dos homens que os encarceram para servirem de troféus vivos, objetos de atenção, souvenirs. Uma vizinha apareceu com um casal, cujo um deles grita histericamente o tempo todo e quando a gente passa na calçada ele grita: Não olha prá mim, não olha prá mim, não olhaaa!..  Eu me pergunto como é possível uma ave passar toda sua vida engaiolada? Ele deve gritar deste geito de raiva e vergonha por estar impossibilitada de voar, não tem outra explicação!

Só saio abatido a bala !..

Ontem no mercadinho da esquina de minha casa, dois frequentadores assíduos dos fins de tarde nas Sextas- Feiras, comentavam entre alguns goles de cerveja:
_Mas o cara não tem condições, age como um adolescente que conquistou o primeiro cargo de importância na vida e acha que tá com tudo em cima, que já é intimo do chefe. Acredita numa imunidade que nem Jesus Cristo teve! _Risos.
_Um cara desses, tem que tomar aqueles comprimidos de tarja preta! _Disse o outro olhando prá mim como se pedisse apoio ao que falava. 
Eles estavam comentando o depoimento publico, mostrado na mídia, de Carlos Lupi, ministro do trabalho envolvido nas supostas denuncias de irregularidades em convênios da sua pasta e que declarou que só sairia do cargo se fosse "abatido à bala".

All That Jazz

Dormi com a TV ligada e na madrugada, me acordei assustado no meio de uma festa, quero dizer; uma cena de dança, incrivelmente coreografada e que me fez despertar de vez. Depois veio a segunda cena e a terceira cada vez mais instigantes e bonitas. Na verdade tratava-se do musical "All That Jazz" - (O Show deve continuarde 1979, dirigido por Bob Fosse, premiadíssimo e que conta aspectos biográficos de sua vida de forma muito curiosa e atraente. No decorrer do  filme ele sofre um enfarto que o leva para um hospital e com a vida por um fio, revê momentos do passado, transformando-os em números musicais. Sua atenção durante divagações pessoais e momentos de semi consciência e lucidez é disputada por quatro mulheres: A namorada, a ex-esposa, a filha e a morteEu acordei no inicio desta cena que posto aqui em baixo e só parei de assistir o filme, quando acabou. Vou correr atrás do filme em alguma locadora, para assisti-lo na integra.


O rapaz educado.

Encontrei por caso um colega de trabalho no corredor do shopping, ontem. Ele como sempre, elegante, de fala macia, educado, veio ao meu encontro assim que me viu, embora o tenha percebido antes, enquanto guardava distraído seu telefone celular dentro da pasta. Estava com pressa, assim como eu, mas conseguimos em poucos minutos, parar, conversar o necessário enquanto cada um tomava o seu destino sem entrar em assuntos demorados e dispersivos, ou rápidos e superficiais que ficam faltando palavras para ser claro e um entender ao outro. Falamos de férias, viagens..,foi tudo leve e prazeroso. Depois que nos despedimos e ele foi-se embora, fiquei pensando: Lá no trabalho, os outros colegas conceituavam-no como o rapaz "educado". Era talvez uma forma tímida e apropriada de levantarem suspeitas e firmarem para si mesmos e pros outros que ele era gay, já que não assumia publicamente que era, diante de ninguém. Quando referia-se a possíveis relacionamentos,  utilizava a seguinte expressão: "Aquela pessoa", uma forma implícita de se fazer entender o que não  queria dizer, enquanto todos na volta trocavam olhares maliciosos e reticentes. 

Beijos e assassinatos

Se eu disser pra vocês que sou do tempo do 'Feelings' de Morris Albert, de 'Rock And Roll Lullaby' de B.J. Thomas e  'king lhe sofre' de Roberta flak, vão dizer que estou ficando louco. Apesar disto; devo me perguntar: Eu era outro, quando gostava destas musicas e dançava de rosto colado nas curtidas reuniões dançantes de bairro nos anos setenta? É, era anos 70 sim e eu era tão sonhador e inocente, que parecia sofrer mais por não me conformar com o rumo que a vida me apresentava
Eu não sei quando comecei a ouvir e a gostar de Nina Simone, Billie Holiday, Peter Gabriel, Miles Davis, Jean Luc Ponty, Cartola e tantos outros e me parecer estranho para as outras pessoas, mas certamente  não era em situações que eu necessitava de rostos colados em reuniões dançantes, eram em momentos mais intimistas e solitárias e que requeriam abraços, Whisky e rosto colado em mim mesmo. Beijos e assassinatos da própria alma, de cara em cima da vitrola, numa viagem que sempre tem volta para o mesmo lugar. As vezes sinto colar o rosto em meu próprio rosto, num único rosto, em vários rostos conhecidos de almas luminosas como vaga-lumes, mas sempre voltando a o mesmo lugar.

TELE DOMINGO E A CONSTRUÇÃO SINISTRA.

Assisti ao programa 'Tele domingo' de ontem- 06/11- na RBS TV, depois do 'Fantástico' e que trouxe num de seus blocos de reportagens, informações desmitificadoras sobre o prédio sinistro localizado na RS 020 em Taquara, nas proximidades do vilarejo chamado Parobé, com esculturas de gárgulas na entrada principal e paisagismo exótico, como pedras e cactus e que causa tanta curiosidade quanto medo nas pessoas que por aquela região cruzam normalmente de carro. Eu postei alguma coisa  aqui no blog com titulo de..."De Olhos bem Fechados". descrevendo minha impressão sobre o lugar, nas inumeras vezes que subi a serra, por Taquara.
A reportagem realizada pela RBS-TV e apresentada por Túlio Milman e Regina Lima, da qual eu achei pouco convincente e fraca, foi feita com tomadas tão rápidas e fragmentada do ambiente e de alguns funcionários dando entrevistas que pareciam treinados para dar informações marcadas, decoradas. Mostrou que nada de anormal existe naquele lugar, a não ser a sua arquitetura extravagante e pouco convencional aos prédios que habitualmente conhecemos e que nada passa de uma inocente fábrica de acessórios para piscina, alem da fértil imaginação de alguns viajantes que por ali passam. Puxa eu não pensei que fossem dar uma explicação tão simples numa reportagem tão fraca. Outra coisa que eu não entendi na matéria apresentada, foi a entrevista dada pelo pároco da região, que nada serviu para elucidar qualquer dúvida à respeito daquele lugar. Tudo foi tão opaco, que não garantiu bons esclarecimentos, pelo menos pra mim.

VOCÊ CONHECEU O CINEMA MIRAMAR?

Arquivo da Familia Pegorini

Não tem como passar na Avenida Aparício Borges 2730, para quem viveu nas décadas de 50 à 80 e deixar de lembrar do Cinema Miramar, quase esquina com a Avenida Bento Gonçalves, no Partenon, hoje ocupado por uma filial das Lojas Colombo. 
O Cinema foi inaugurado em Outubro de 1952 e considerado um marco para o bairro, cujos os moradores diziam ser muito triste antes de seu funcionamento, pela falta de opções de lazer à noite. Os moradores precisavam deslocarem-se para o centro da cidade, ou para outros bairros de vida social mais intensa para buscarem este tipo de entretenimento cultural. 

O Miramar, como outros cinemas de bairro, não trazia para suas telas filmes nacionais de grande importância social, cultural e politico, uma vez que tinham de concorrer com as grandes produções estrangeiras que davam lucro fácil e completamente fora da nossa realidade. Era de maior interesse das classes menos favorecidas e desinformadas sonhar com a irrealidade do cinema, além do próprio governo, em manter esta condição inatingível. Existia na sala de espera uma cabeça de índio esculpida e o comentário de alguns frequentadores orgulhosos, de que era a sala de cinema mais moderna da capital, com cerca de 1.400 assentos de madeira. O Miramar resistiu por 30 anos até entrar em decadência sistematicamente como outras salas de cinema de bairros, fechando suas portas em Fevereiro 1982. 


Um dos filmes que me marcou, quando frequentava a sala do Miramar foi: "Toda A Nudez Será Castigada" de Arnaldo Jabor em 1973, que num apanhado geral falava da hipocrisia das famílias tradicionais. A censura da época achou o filme IMORAL e tentou proibir o seu lançamento, mas como tinha ganho prêmios internacionais, acabou sendo liberado com alguns cortes. 

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...