O Sobrevivente do holocausto

Hoje pela manhã fazendo minha caminhada, nem sempre diária,  na praça em frente da minha casa, me surpreendi com a presença de um galo passeando garbosamente sobre a grama e olhar desconfiado para as pessoas que passavam por ali. Era uma recíproca troca de olhares curiosos, os das pessoas que estranhavam a sua presença e o dele que parecia estar num ambiente completamente estranho ao que deveria estar acostumado.
Fiquei curioso de encontra-lo solto e me perguntei quem teria deixado uma ave, em particular um galo, num lugar publico,  onde circulam tantas pessoas que se deslocam para o trabalho, faculdade, supermercados e também realizam caminhadas para gastar seus quilinhos extras, como eu. Seu dono, de hábitos exóticos estaria por perto, controlando a ave em um de seus passeios matinais?..; Afinal tem mania pra tudo neste mundo cujos direitos e liberdade são cada vez mais exigidos e ter um galo como animal de estimação, não seria uma grande surpresa!.._ pensei com meus botões.
Bem, continuei fazendo minha caminhada e quando comecei a sentir que meu limite estava chegando, depois de 40 minutos, resolvi voltar para casa pelo mesmo caminho. O galo ainda estava circulando pelo mesmo lugar enquanto um instrutor de auto-escola, tentava se aproximar sem assusta-lo. Quando passei por perto, era o meu caminho, o homem me comentou que ele e seu aluno o haviam solto do despacho da esquina onde encontrava-se amarrado por alguns barbantes e inacreditavelmente vivo.
Fiquei mais surpreso ainda. Existem despachos feito com animais mortos e que na maioria das vezes são sacrificados nas esquinas em rituais sangrentos, durante a madrugada e nesta região onde moro, pela riqueza de praças,  se torna um ambiente facilitador para estes sacrifícios religiosos, deixando os moradores revoltados quando se deparam com toda esta sujeira na beira das calçadas, na frente de seus portões. São velas, bebidas, doces e animais mortos que ficam dias se decompondo, criando moscas e doenças. 
Quanto ao Serviço de Limpeza Publica, muitas equipes fazem vistas grossas a este tipo de lixo, por questões culturais, muitos não gostam de mexer em coisas de caráter religioso. Vamos que eles peguem algum feitiço, não é mesmo? 
Existe a Lei 4114/07 votada e aprovada na Câmara Municipal de Porto Alegre e publicada no Diário Oficial, que proíbe depositar em passeios, vias ou logradouros públicos, rios, lagos, lagoas, riachos, córregos ou em suas margens, animais mortos ou parte deles sob pena ou multa de 50 a 150 UFMs.(unidade financeira Municipal) que agora em 2011  vale: R$ 2,6048 implicando em multas de R$ 130.24,00 à R$ 390.72,00.
Por outro lado, segundo a legislação Brasileira, nenhuma lei municipal ou estadual, pode sobrepor os desígnios da Carta Magna. Sendo assim, proibir religiosos Africanistas, Umbandistas e/ou Candomblecistas de realizarem ritos envolvendo despachos em rios, matas ou encruzilhadas o que fere o princípio de liberdade religiosa estabelecido no Artigo V da constituição nacional.
Mais uma vez o cidadão contribuinte fica submetido a leis mal elaboradas que se desencontram nas diferentes instancias e não fornecem os devidos subsídios  para execício de seus direitos e cidadania. Mas voltando a historia do galo, é inacreditável ter sobrevivido.

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