DIÁLOGO EMPRESTADO 1

Eu quero aquela lamina mais cara, que não me corte profundamente a pele. Chega de coisas ordinárias! -Disse apontando para o objeto no balcão de vidro.
Isso, aquelas com proteção pra rostos sensíveis e que não deixam marcas depois...
Senão tenho que remendar os buracos de sangue, com um reboco de talco que aprendi. Tudo se aprende nesta vida, né mesmo?..
É a única forma de parar de sangrar, embora eu fique com a cara branca,  parecendo um defunto, mas pronto pra me soltar nesta vida!

Lara com Z

Olha, eu juro que tentei!.. Me preparei positivamente depois do banho, com uma xícara de café no  colo, encostado na cama, para dar mais uma chance à Lara com Z, ontem de noite na TV Globo, mas não me convenceu.
Ninguém me tira da cabeça, que Susana Vieira não está interpretando senão ela mesma e que esta história construída por Agnaldo Silva e dirigida por Wolf Maya, falta tudo, principalmente elementos que convença. O encontro de Lara então, com sua arque inimiga dos tempos de escola, Sandra Heibert - atual critica de teatro, interpretada por Eliane  Jardini, foi de doer de tão fraco, infantil e pouco convincente.
Gente, que saudades dos tempos que se assistia Tenda dos Milagres, O tempo e o Vento, Grandes Sertões Veredas, Riacho Doce, Chiquinha Gonzaga, Presença de Anita, A Casa das Sete Mulheres, O Maias, JK e tantas outras mini series que eu corria para não perder um capitulo se quer.

Que decepção!

Eu não sei a opinião da maioria das pessoas, sobre as mini- séries apresentadas pela Globo nestas ultimas semanas, inicio do mês de Abril e que são: Lara com Z, Tapas e Beijos, Macho Man e Divã, todas com atores de primeira grandeza, mas com historias armadas à partir de tablóides previsíveis, repetitivos e sem graça, que não me causaram a simpatia esperada como nas outras mini séries realizadas pela Globo no passado. Eu arriscaria a dizer que talvez Divã reestruturado à partir do filme de mesmo nome e  que conquistou bom público e sucesso, protagonizada por Lília Cabral seja a menos ruim, contando as experiências e adversidades de uma mulher que tenta reconquistar seu espaço emocional e profissional após a separação com a ajuda de seu analista.
Lara com Z, protagonizada por Susana Vieira, é a repetição de tantos outras personagens glamurosas construída para ela e que só trocaram de nome. Acho até que Susana é a própria diva, contando sua história. Eu gosto de trabalho de Susana Vieira, mas acho que já esta na hora de lhe  concederem papeis mais consistentes como os que lhe consagraram como grande atriz.
Macho Man, com Jorge Fernando e Marisa Orth, talvez seja o pior de todos, construído em clichés estereotipados reforçando a ideia de que gays são simplesmente alegres e não tem mais nada na cabeça além de quererem se divertirem. Isto fica bem claro numa das cenas iniciais em que Valéria personagem vivida por Marisa Orth e que não tenho queixas de sua atuação, inicia um dialogo com Zuzu, gay assumido e vivido por Jorge Fernando na mini serie:
_Por que vocês gays são tão animados, o que vocês gays tem que nós não temos?..
_Gays só querem se divertir!..
Zuzu parece um  idiota recheado de gestos  excessivamente efeminados, gritinhos histéricos e danças escandalosas, numa época em que a sociedade gay luta por um reconhecimento  de igualdade de direitos e respeito social. Apesar dos autores terem dito em entrevistas que a mini serie não  tinham a intenção de mudar ou recriar  conceitos, mas  provocar risos, errou pela irresponsabilidade de reforçar o preconceito de que gays não devem ser levados à serio. 
Tapas e Beijos com Andréa Beltrão e Fernanda Torres, parecem seguir a linha das  las locas, onde duas mulheres, colegas de trabalho, numa loja de vestidos de noiva, mantém relações amorosas com homens que não as assumem fazendo-as se meterem nas mais varias  confusões e trapalhadas. Fernanda Torres que é uma excelente atriz, constrói bem estes papeis de mulheres já surtadas por natureza e a beira de um ataque de nervos, como já provou em Os Normais, fazendo o maior sucesso. A Globo não me pareceu ter entrado com pé direito neste ultimo projeto das mine séries brasileiras, espero que tenha algum tempo para retempera-las e causar um diferente sabor aos que apreciam este formato de entretenimento.

Broas de polvilho e mate doce


Logo que eu levantei da cama e me debrucei no parapeito da janela, o dia estava de uma cor verde ictérica, parecendo anormal. Uma cor que eu nunca tinha visto antes e que me deixou intrigado. A chuva logo veio atrás, conforme a previsão dada ontem no jornal da TV. "Chuva, muita chuva em algumas regiões do Sul e Sudeste do país".
Semana passada estive numa cidade no interior do Estado, com casinhas de madeira em estilo da campanha, sobre extensos campos e saindo fumaça de suas chaminés. Eu gostaria de estar hoje por lá, comendo broas de polvilho com mate doce. O resto eu deixo ainda por conta da imaginação...
Eu lembro quando estive em Cambara do Sul, com uma colega, na casa de uma amiga. O fogão à lenha aceso, pinhão assado na chapa, uns dias chovia, no outro fazia frio, banho em chuveiro improvisado, cavalgadas para recolher o gado, as ovelhas, uma simplicidade tamanha que só pode ser traduzida como a melhor qualidade de vida que ainda é possível de se ter acesso.
Faz tanto tempo que eu estive por lá, que quase não lembro do rosto das pessoas que me acolheram, mas o carinho ficou registrado na alma.

Pulga na orelha e borboletas no pensamento

Neste momento, me encontro numa espécie de  recesso ou hibernação emocional para interagir com as pessoas, como se algo me impedisse de me manter leve e a vontade nos  meios sociais por onde circulo. Me ponho camuflado, concordado, repetindo bordões que todos estão acostumados à ouvir, mas que não é o que  eu gostaria de dizer, me submetendo a repetições de idéias ou caindo  em abismos do [é.., pois é...] Será que é isto mesmo que eu estou sentindo ou é apenas cansaço do trabalho, da vida, de mim mesmo?.. Haverá alguma discussão ou poema novo a serem trocados?
Eu acho que  existe vários motivos de fecharmos nossas portas e janelas de acesso interno aos que estão a nossa volta. Primeiro, quando nos fechamos intencionalmente  por razões visíveis e autorizadas por nós mesmos e segundo, quando elas se fecham sem ter um motivo reconhecido e aparentemente sem razão. Me  sinto nas duas situação sem nenhuma justificativa para este impasse.
Este tipo de sentimento parece estar ligado a uma linha fina mas resistente de insatisfações introjetadas, que de uma hora para outra se rompe e volto a me sentir livre, aberto à novas perspectivas emocionais.
Mas independente destas situações comuns a quem respira, a vida mantém o seu ciclo incondicional e foi neste ciclo que se move independente, que ontem recebi um elogio de uma pessoa que eu não esperava receber e que meu colega jurou  ser uma cantada.
Cantada a esta altura do campeonato.., mas por que não?..
Eu sou um tanto lerdo para absorver algumas manifestações inesperadas como a de  ontem, mas também fiquei surpreso por ser clara e direta, me pondo uma pulga atrás da orelha e algumas borboletas no pensamento.

Um cadáver no supermercado

O frango à caipira exposto no balcão climatizado do supermercado, me causou tamanha sensação de mal estar, que carreguei aquela imagem por vários dias na cabeça. Além de ser uma ave grande, lembrando de um peru, estava acomodado dentro de uma sacola de plástico, praticamente inteiro. Os  pés, o pescoço, a cabeça com crista e olhos fechados de quem sofreu ao  se entregar ao abate, me dava a impressão de que era um cadáver e não um produto para o consumo. É claro que não deixava de ser um cadáver, mas alguns cuidados tomados com certos padrões estéticos e de apresentação de produtos, são capazes de modificar nossas impressões e conceitos, instigadas por nossos olhares morais; não é mesmo? Em outras palavras quero dizer que alguns distribuidores devem ter a preocupação de  expor seus produtos com uma apresentação que não assustem seus clientes.
Eu lembro de quando trabalhava no bloco cirúrgico do Pronto Socorro, os pacientes que se submetiam a cirurgias, eram posicionados e coberto por panos verdes e grossos, que chamávamos de campos, afim de manter a integridade do paciente e do procedimento cirúrgico, impedindo a proliferação de gemes e do risco de contaminações. Este é um procedimento normal e rotineiro nas salas de cirurgias. Esta proteção com panos (campos), sobre o corpo do paciente, protegia-o de tal forma, que me causava a impressão, e acho que também para quem trabalhava no procedimento, que não era uma pessoa, mas um corpo humano, com partes delimitadas a serem abertas com um bisturi, sem culpas e fricotes morais.
Tudo se tornava mais fácil e emocionalmente impessoal, quando alguns padrões estéticos são adicionados de modo a camuflar impactos visuais, eu pensava.
Aquela ave no supermercado, não estava cortada e embalada adequadamente de forma a atrair  consumidores, mas exposta como um cadáver para possíveis estudos periciais. Foi o que senti quando a avistei no balcão.

O que às vezes, mereço

Eu acabo na maioria das vezes fazendo coisas que me dão prazer sozinho e isto subtrai seu sabor quando não as divido com outras pessoas. Eu fico pensando, [que bom se fulano estivesse aqui, neste momento comigo para...] Mas...
Eu talvez me sinta um solitário ou um completo egoísta me pondo por vezes inseguro em dividir. No fundo eu tenho a preocupação de me mostrar e parecer infantil
Eu mereço doses de café amargo, com bofetadas terapêuticas para me acordar e acertar o prumo. É isto que eu mereço!
Dia desses eu estava com vontade de comer uma farofa com sobras de carne que só minha mãe sabe fazer. Terminei indo para a cozinha fazendo a tal farofa que comi acompanhado com uma garrafa de vinho e assistindo um daqueles filmes que  vi a tempo e bate saudades. Depois pensei que poderia levantar o telefone, ligar para alguém e dizer: Olha, ta afim de uma farofa maravilhosa?... Mas não fiz, fiquei preso em minhas tranqueiras e depois fui dormir contando manchinhas na parede do quarto. Pode?..

Lembranças e suas relações fragmentadas.


Eu vinha no carro ouvindo John Coltrane, quando lembrei de um amigo que gostava de comer cabeças de palitos de fósforos depois de risca-las.
Eu não sei por que lembrei disto, ao olhar para uma sacola xadrez vermelha, sobre o banco do carro.
Ele devorava uma infinidade de cabeças de palitos de fósforos e eu, picolés de groselha que sua mãe vendia para melhorar a renda da família.
Ele só abandonou este hábito, depois de começar a criar um filhote de pombo que caiu do telhado. Ele alimentou este pombo em sua mão, até a ave morrer velha e cega. O pombo nunca aprendeu a comer sozinho e também voar.
É estranho lembrar deste fato, que me parece não possuir nenhuma relação com eu estar voltando pra casa, dirigindo meu carro enquanto ouço John Coltrane e estar vendo a sacola xadrez vermelha no banco traseiro do carro.
Eu não gosto de pombos com seus olhinhos sinistros  assim como palitos de fósforos. Eu gosto de ouvir John Coltrane e de sacolas xadrez. 

DE OLHOS BEM FECHADOS PRA NÃO SE ASSUSTAR.


Seguindo na direção da serra pela estrada de Taquara, a RS-020, quem já não se deparou com uma construção retangular e de aspecto sinistro, com muros altos, cactos em volta e esculturas diabólicas (Gárgulas) sobre o portão de entrada como se fossem demônios vigiando quem se aproxima do lugar?
Já faz algum tempo que passo por ali e sempre me arrepio com a construção que dificilmente passa desapercebida. Quem faria um prédio destes, com um aspecto arquitetônico tão assustador capaz de chamar a atenção e provocar tantas suspeitas ao seu redor e do motivo de sua construção?
Lembro-me do filme, "De Olhos bem fechados" de Stanley Kubrick, onde Tom Cruze é o protagonista e que por uma serie de situações, acaba numa mansão como musico, onde acontece uma seita orgasmática, que envolve toda a sua vida numa história de muito suspense e tensão. Teria este prédio estranho a mesma finalidade, de ponto de encontro para algumas pessoas realizarem cerimonias pouco convencionais como no filme? Por que é tão espaçoso e num lugar tão desértico e de pouca movimentação de pessoas?


Alguns curiosos, já investigaram e postaram tantas coisas na Internet sobre este lugar, mas nada de conclusivo sobre o motivo de sua existência e modelo arquitetônico tão diferente e assustador.
Algumas informações relatam, que se tratava de uma fabrica de piscinas, mas os moradores da região dizem que nunca viram movimento de operários e caminhões. Quanto a sua construção, levou cerca de oito anos para ser acabada e nunca foi contratado qualquer morador da região para trabalhar no lugar. O prédio possui poucas portas e janelas externas, coibindo olhares indiscretos e desconfiam que possui dependências subterrâneas. Uma vez por semana (nas sextas-feiras à noite), vários carros de luxo são recepcionados por alguns funcionários do lugar de forma muito discreta e pouca iluminação. Pesquisas imobiliárias foram realizadas, sem que descobrissem o nome do proprietário do lugar. Uma colega me contou que a algum tempo, saiu uma reportagem na televisão sobre este lugar informando que era uma espécie de templo de adoração  a o demônio, e que não permitiram fotos e gravações de imagens. Eu não encontrei nada à respeito na Internet. É pouco ou quer mais?.. Se isto tudo não basta, pule o muro e depois venha me contar!..

O MUNDO ESTÁ AO CONTRARIO

                               

Eu fico impressionado com a direção que o mundo vem tomando e vem na minha cabeça a composição do Nando Reis: ["O que está acontecendo?.. O mundo está a o contrário e ninguém reparou. O que está acontecendo?.. Eu estava em paz quando você chegou".]
Eu acredito que o mundo está ao contrario sim e que muita gente já reparou!..

Eu lembro que já faz muitos anos, desde que assisti esta cena na televisão e fiquei chocado ao ver a Estátua da Liberdade enterrada na areia, sinalizando o fim dos tempos no filme "O Planeta dos Macacos". A Estátua da Liberdade era para mim um símbolo de força, resistência e riqueza, de um país indestrutível e que deu certo.
Eu pensava dentro da minha inocência seduzida pela mentira do capitalismo americano, que nada poderia abalar-los e se assim fosse; imaginem as outras potências que ficavam em segundo, terceiro e quarto plano na escala do poder mundial, comparados aos Estados Unidos? A destruição da maior potência econômica, era inevitavelmente a queda do resto do mundo em efeito dominó.
Numa manhã do dia 11 de Setembro de 2001, quando eu estava de plantão, outra cena de destruição chamaria a atenção dos meus olhos incrédulos, mas desta vez não era a imagem de um filme produzido pela FOX, mas a pura e cruel realidade de outro símbolo de poder sendo atingido e depois vindo abaixo sob o olhar perplexo do mundo.
O atentado terrorista coordenados pela Al-Qaeda de Osama Bin Laden, sequestrou quatro aviões comerciais, fazendo-os colidir intencionalmente contra as torres gêmeas do Word Trade Center em Nova Iorque, centro financeiro americano, além do Pentágono e arredores de Washington. O total de mortos nos ataques foi de 2.996 pessoas, a maioria civis inocentes, fragilizando o poder da grande nação e colocando o resto do mundo de sobre aviso. Depois, surgiram outros retratos da realidade como guerras, terremotos, Tsunamis, contaminações radioativas que só eram vistos na tela do cinema em forma de filmes milionários, para instigar a adrenalina dos espectadores apaixonados pelo gênero. Jamais imaginei que um dia isto faria parte da minha realidade. Tudo às vezes me parece tão irreal, que custo a crer no que estou assistindo, quando ligo no noticiário da TV. Tudo parece uma cena de ficção elaborada em estúdios de gravação cinematográfica. A imagem da Estátua  da Liberdade enterrada, no que sobrou de Nova Iorque no filme "O Planeta dos Macacos, me parece hoje tão possível quanto foi na sua lendária ficção. 

Jardins floridos e vasos na janela


Descobri que sou um ganhador, quando pensava estar perdendo oportunidades que a vida me oferecia, sem minha devida atenção e reconhecimento. Eu ficava preocupado, como diz uma amiga, de não estar regando adequadamente o meu jardim como devia regar e então, corria o risco de não nascerem flores.
Na verdade eu não tenho espaço para jardins grandiosos, tenho são vasinhos  agrupados no parapeito da janela e que molho quando necessário e me satisfaço por alegrar meus dias, mesmo me dando poucas flores. Isto é o que me basta, saber que não necessito de grandes jardins floridos, por que eles podem ser substituídos por outras coisas talvez menores e que também te dão prazer na vida.

A GANGUE DE VIGILANTES DE BANCOS

Existe coisa pior do que vigilante em porta giratória de banco, com olhar de desconfiança e superioridade nos impedindo de entrar?
Eles parecem fazer de tudo para complicar e nos colocar em situações comprometedoras diante do publico que fica no aguardo de um grande alvoroço, quando se tenta cruzar uma, duas, três vezes a porta giratória e ela tranca impedindo a passagem. 
Na verdade todos tem vontade de fazer um alvoroço, mas ninguém se sente com coragem de faze-lo e ser taxado de mal educado. Por outro, lado os vigilantes se sentem vitoriosos do outro lado da parede de vidro, donos do impedimento e rindo disfarçadamente enquanto te fazem de bobo.
Eu agora, quase não vou à bancos e quando preciso ir, me preparo pelo menos com um mês de antecedência, tomando banhos de ervas e inalando fumaça de descarregos. 
Quando me deparo com algum olhar de superioridade ou desconfiança, imagino que suas "virilhas fedem" debaixo daqueles uniformes escuros, como a de qualquer simples humano. Este truque me ajuda a desmistificar a ideia de que são superiores e eu um fantoche brigando para ter acesso livre a o que tenho direito de usufruir.

Aracnofobia

Jamais me passou pela cabeça que o Ademir tivesse tanto medo de aranhas, mas ontem ele confessou pra mim e outra colega, durante a troca de plantão o seu pavor, descrevendo detalhadamente esse seu comportamento e ilustrando com muitas historias e fazendo  interpretações teatrais à respeito. 
Eu já sabia do seu medo por cobras e por altura quando fizemos alguns passeios juntos, mas aranhas é algo que pensei que só eu e algumas mulheres histéricas pudessem ter. 
Eu tinha certa vergonha de admitir este meu medo para as pessoas das minhas relações e que elas por alguma vingança ou brincadeira de mal gosto, jogassem este bicho de oito olhos e oito patas em cima de mim, mas depois trabalhei tanto neste medo, que pareceu ter aliviado grande parte do que foi e hoje já consigo até mata-las ou simplesmente deixa-las passar.  
Ter medo de um bicho assim, pode parecer para algumas pessoas tão ridículo, como ter medo de uma formiga ou mariposa, mas ele existe de fato e deve ser respeitado como se fosse um leão.
Os medos às vezes, se parecem com os vícios, a gente pensa que se livrou, mas eles estão apenas adormecidos, esquecidos em nossas gavetas e num certo momento adquirem dimensões que pareciam não mais ter.

A violência de cada dia


O massacre ocorrido na escola Municipal Tasso da Silveira, zona oeste do Rio de Janeiro ontem pela manhã, assim como o atropelamento dos ciclistas no bairro Cidade Baixa em Porto Alegre, Fevereiro passado, me deixou sem saber o que dizer, porem muito chocado e com a certeza de que muito deve ser feito para conter ou diminuir estes processos  crescentes de violência que  vem atingindo a sociedade como um todo.
Mas o que fazer de real e eficiente para conter tudo isto? Será que já estamos no beco sem saída à espera de uma destruição em massa?
O que percebo é que tudo parece ineficiente para erradicar o que carece de uma saída urgente e cuja as  politicas sociais não conseguem acertar. Tudo parece vir se afunilando gradualmente, dia após dia sem resultados positivos e com mecanismos capengas que corrigem de um lado, mas deformam do outro, caindo num ciclo de tentativas intermináveis e sem esperança.
Acho que todos já perceberam, que estamos vivemos dias de gerra e sem a mínima perspectiva de melhora, nestes quadros deprimentes e que parecem não acabar.
Talvez seja imperativo buscarmos nossas próprias saídas, através de uma auto analise pessoal como indivíduos e cidadãos e tentarmos controlar nossas pequenas violências, afim de suprimir pela raiz as grandes e que atingem tantos inocentes.

O segredo das Ursulas

Eu preciso desvendar o segredo das Ursulas, que construí dentro de mim; por que este nome sempre me causou uma desagradável sensação sonora dentro dos meus ouvidos, transformando-se num preconceito que ainda não consegui desfazer.  É verdade!., eu reluto muito contra isto!
Eu não consigo pensar neste nome, sem que me venha na cabeça, a imagem de uma governanta belga, feia e mau humorada à procura de uma vingança por sua infelicidade. Por que belga?.. Nem eu saberia explicar, afinal poderia ter tantas nacionalidades, mas ainda assim, seria uma Ursula cheia de facetes de crueldade e finalidades obscuras. As Ursulas guardam segredos à sete chaves e que não revelam para ninguém.
As Ursulas se escondem atrás de portas semi abertas e num  minuto de distração, surgem das sombras com suas mãos brancas e enrugadas, obrigando-me a comer sementes de linhaça com óleo de fígado de bacalhau, somente por maldade.
As Ursulas sempre me deixaram de pé atrás e ouvidos atentos.
Eu guardei estas impressões em meus alçapões com cortinas de renda rasgadas e moveis empoeirados que não me sinto com coragem de abri-los.
Eu até que tentei, ser amigo de uma, mas ela se revelou a mais amarga e infeliz das mulheres que já conheci.

AS CRIANÇAS


Estas crianças moram numa barraco que estive hoje prestando atendimento à uma senhora diabética e desnutrida, por falta do que comer. O lugar, não dá nem para lembrar, de tanta pobreza, miséria e desleixo. Eu ficava me cuidando para não enfiar meu pé num dos buracos do assoalho e cair numa ribanceira morro abaixo. Apesar de toda a cena triste de desconforto e pobreza que as envolviam, elas estavam lá, curiosas, atentas, olhinhos brilhantes, no meio de tanta sujeira e quando falei então se poderia fotografa-las para o meu álbum, a alegria das duas floresceram, fazendo até pose para parecerem mais bonitas. Existe uma alegria de viver na infância que deixa nós adultos perplexos e nos perguntando como podem ser felizes vivendo daquele jeito.

Mentiras sinceras me interessam

Eu só precisei encostar o carro numa esquina, pegar o celular e fazer um pedido de socorro. Apesar de não fazer estardalhaço, era um pedido de socorro sim.
Eu  necessitei ainda, que me perguntassem como eu estava, para responder de um jeito meio sombrio, que não estava legal e não sabia o porquê me sentia daquele jeito.
Faz muito tempo que venho me sentindo assim e antes que receba acusações, devo informar que tenho consciência de que sou deprimido e meu humor muda tão rápido, quando a cor de um camaleão que se sente ameaçado. Eu me sinto ameaçado e também me camuflo.
Na verdade eu preciso muito mais de artifícios para me livrar destes mal estares emocionais, do que conceitos explicativos de como eles se processam dentro em mim. Eu não preciso de psiquiatra, mas um ilusionista. Eu preciso de desculpas plausíveis para não me sentir o único culpado; Preciso de co-autores e de coadjuvantes para dividir as responsabilidades destes  sentimentos que se criam em mim. [..Mentiras sinceras me interessam..]
Talvez o Sol não tenha brilhado na intensidade que costumava brilhar, nem as árvores tenham se movimentado ao curso do vento como costumavam fazer, parecendo estáticas e sem vida nesta manhã e isto, mesmo não parecendo uma boa desculpa, pode ser uma desculpa para me desestabilizar.
Eu preciso só de alguns minutos para ouvir e ser ouvido, depois eu ligo o carro novamente e vou embora sem culpas.

Sem título

Eu fiquei tentado a fotografar o homem que atendi ontem e sua casa que era pior que um deposito de lixo, mas acabei por desistir. Fazia seis dias que não se alimentava e seu ultimo cardápio tinha sido cascas de batata que arrecadara no lixo de um vizinho. De tão magro e debilitado, era possível contar suas costelas salientes no tórax. Quase não conseguia levantar do que chamava de cama. Me contou ser usuário de crack,  HIV positivo e mais uma infinidade de doenças oportunistas.
Eu quase pedi para fotografa-lo e também sua casa, mas bati em meus princípios éticos e de respeito à privacidade, etc., etc.., que me põe desconfortado para algumas atitudes mais ousadas, como fotografar estas situações lastimáveis a que sou exposto quase que diariamente pelo tipo de trabalho que faço; mas por outro lado, fiquei pensando que seria instrutivo mostrar, a que ponto da vida chega o ser humano, diante da total desistência e abandono, colocando-se no mais alto grau de privação.

Burocratas da moralidade

Tô passado com alguns colegas de cabelos grisalhos e que ficam encostados no portão que as vezes cruzo. Eles falam tantas bobagens e sobre sacanagens alheias. Eles no fundo gostam destas proibições que eles mesmos inventaram e que para outros, pode ser alguns simples recursos para aumentar a felicidade. 
Eles se escondem atrás de suas mascaras de homens de dignidade que criticam e fazem piadas morais, embora abram pequenos fios de possibilidades que os  excitam a cometerem o que eles mesmos  chamam de sujeira. Também não é a toa que não fixam o olhar em ninguém e a nada, com medo de serem flagrados em seus pensamentos silenciosos.

Vida de cachorro

Quando conheci Bicudo, ele se chamava Rex, mas quando olhei para ele e percebi que um cão daquele porte, pequeno mas entroncado e forte, olhar desconfiado e focinho comprido lembrando  de um tatu ou um Bull Terrier inglês, pensei que ele jamais poderia ter aquele nome, tão simplificado de um cão  franzino e sem personalidade. Foi daí que eu o apelidei de Bicudo e assim ficou, um cão que atende por dois nomes.
Bicudo, não tinha nenhuma namorada, até chegar a Raíssa, uma cadela vira-latas e de pelagem amarela, que como ele, também foi deixada no pátio, onde funciona uma das bases do Samu, na Lomba do Pinheiro. Raíssa tem uma personalidade muito juvenil  e de tão brincalhona que é, só serviu para amizade e despertar o espírito de proteção em Bicudo. 
Acho que eles nunca transaram, embora ele até tentasse!..
Bicudo só despertou sua sexualidade e instinto machista, egoísta e dominador, quando surgiu uma outra cadela, de porte grande e aparência mais velha,  com jeito de experiente na arte da sacanagem, que apelidamos de Cadelona. Na verdade esta outra cadela, não foi muito aceita, pela equipe do Samu, que adotou Bicudo (e que inclusive tem plano de saúde); mas quando ele a viu, transando com outros cachorros que a perseguiam na rua, ele pirou de vez e passou a brigar com cães até maiores do que ele,  para também conquistar seu espaço junto a Cadelona. Inúmeras vezes, ficou desaparecido por dias, causando preocupação e a desconfiança de que  seria encontrado morto, esticado no meio da rua, atropelado por algum carro. Até que voltava todo machucado, magro e com cara de piedoso.
Algumas semanas se passaram, até Bicudo reaparecer com a Cadelona em sua companhia, dentro do pátio. Relação firmada, fazia sexo a todo instante e dava sua casinha de madeira, para a amada dormir, enquanto ele se acomodava em constante vigia ao relento. Dividia sua comida e tinha crises de ciumes quando um outro cachorro se aproximava.
Neste período, até Raíssa  foi esquecida e nem se aproximava do seu espaço de domínio. 
Mas sua paixão não durou para sempre, e um dia até a Cadelona foi deixada de lado e depois rejeitada. Expulsou-a de sua casinha e nem a comida quis mais dividir. Esta semana, Bicudo voltou a dar suas fugidas, não come direito, voltou a emagrecer e surgiu com o corpo todo machucado, provavelmente em luta por uma nova conquista.

CASCATA DA PEDRA BRANCA EM TRÊS FORQUILHAS.


No Sábado pela manhã, dia 02/04/2011, fui fazer o passeio pela Rota do Sol, em direção a Três Forquilhas, cujo roteiro eu havia idealizado no mês passado e que foi adiado em função dos fins de semanas chuvosos. A rota inclusive foi planejada com a ajuda de um colega de trabalho o Eduardo Justin, que foi guarda florestal na região e desenhou um mapa de orientação à mão pra mim,  com algumas referencias de lugares bacanas que eu deveria conhecer, mas que em decorrência do pouco tempo, (um dia apenas), se tornaria difícil de conhecer todos. Tudo é muito bonito lá pra cima e a gente fica tão admirado, que quando percebe as horas já se passaram e não deu tempo pra ver tudo!
Saí em torno das 9 horas da manhã de Viamão pela RS 118, até a BR- 290 (Freeware) em direção à BR-101, com seus dois novos túneis que deram um aspecto de primeiro mundo à  rodovia, depois cheguei na Rota do Sol, que cruza por cima da BR- 101 em forma de um viaduto. A Rota do Sol foi inaugurada em 2007 pelo governo do Estado  se tornando o orgulho do povo gaúcho, depois de uma espera de 38 anos. Neste ponto de acesso da BR 101 para a Rota do Sol é preciso estar atento, pois há pouca sinalização.


De Viamão, até o acesso à Rota do Sol, em Terra de Areia, (ponto de partida  para quem vem do litoral com destino à Serra), são mais ou menos 141 quilometros e  até  Três Forquilhas mais 7,3 quilômetros de rodovia com asfalto liso, bem sinalizado e alguns controladores de velocidade.
Entre tantas placas na Rota do Sol, uma indicava o acesso à Três Forquilhas e a  Cascata da Pedra Branca, na altura do quilômetro 58, que eu tinha curiosidade de conhecer.


Três Forquilhas é uma cidade pequena, limpa, de aspecto organizado e com uma igreja matriz na área central, como qualquer outra cidade do interior do Rio Grande do Sul.  Sua economia baseia-se principalmente no cultivo de hortifrutigranjeiros,  em pequenas propriedades locais e sua formação étnica, é basicamente de descendentes de origens alemãs, açorianos, portugueses, italianos e uma pequena parcela de índios e africanos (que eu não vi pelo caminho). 


Para se chegar a cascata é necessário entrar no centro da cidade e seguir em direção a área mais rural, margeando-se o rio, até a parte mais isolada, no meio da mata preservada e com imensos paredões de pedra visíveis à uma certa distancia. A estrada é de terra e em alguns pontos pedregosa  ficando à cerca de 30 quilômetros do centro da cidade. As informações para se chegar são desencontradas, pois não existe sinalizações e cada morador informa uma distancia diferente. O jeito é ir parando, perguntando e observando o rio sempre a esquerda, até o momento em que a estrada acaba, obrigando a  cruzar para o outro lado, numa pequena ponte sobre rio. Neste momento o rio fica à nossa direita. Anda-se mais uns dois ou três quilômetros pelas encostas do morro até chegar.


Na medida em que vai-se aproximando da cascata, a paisagem vai ficando mais selvagem, o rio mais limpo e turbulento e a estrada mais pedregosa e úmida, propiciando sem a devida atenção, do carro atolar ou derrapar sobre o barro e pedras soltas na estrada.


Em cada canto que a gente para, em contemplação à natureza é posivel se surpreender, se admirar e se encantar com a beleza de um lugar,  que nos remete a simplicidade, bucolismo e inocência de uma cidade do interior,  como esta Ponte Pênsil, escondida sobre a mata e que cruza o rio até a outro lado da margem. A ponte é feita de madeira e fios de aço, mas quando subi sobre ela começou a rangir como se a qualquer momento fosse rebentar.


Depois deste ponto, já no carro, passei por uma estrada coberta de folhas azuis, que ao chegar mais perto, pude observar se tratarem de borboletas. Elas estavam sobre a estrada úmida e quando me aproximei, alçaram voo em direção as árvores, que formavam um túnel natural sobre a rústica estrada vazia.


Mais adiante, onde o carro já não podia mais subir, à cerca de uns 100 metros de distancia, a Cascata da Pedra Branca, esculpida pela natureza, saltava de uma altura de 110 metros por entre os paredões rochosos de uma pedra com manchas branca e que possivelmente seja esta a razão de seu nome. Estas pedras também se espalhavam por todo o leito do rio turbulento.


Sua visualização é algo fora do comum e de muita beleza, talvez por isto, eu tenha sentido um certo receio de me aproximar de sua base, onde forma uma piscina de aguas revoltas, que eu desconheço a profundidade e não arriscaria tomar banho. Mas mesmo não entrando na piscina, se chega muito perto da cascata, que salpica todo o nosso corpo, com água  e a sua volta, forma-se uma especie de nevoa muito fina e gelada.


O deslumbre por sua beleza é tão grande, que não dá  vontade de ir embora, mas apenas ficar ali, olhando e ouvindo o ruído de sua força, raspando os paredões de pedra e transformando-se num rio selvagem e turbulento que desce montanha abaixo formando  os braços do Rio Três Forquilhas que deságua na Lagoa Itapéva e dos Quadros ao lado da BR-101. A mata ao redor é coberta por um tipo de samambaia gigantesca que cresce nas partes mais altas da beira da estrada e que eu acredito ser encontrada somente neste lugar de muita umidade.



De lá, fiz o caminho de volta retornando à Rota do Sol no sentido a cidade de Tainhas, cruzando por novos túneis e viadutos cujo a altura é de tirar o fôlego e onde se tem uma visão privilegiada  da serra, inacreditavelmente bela.


Ainda na estrada, pode-se encontrar alguns estabelecimentos e quiosques que vendem produtos coloniais, como pães, biscoitos, queijos, mel, rapaduras, doces, licores, salames, etc., alem de restaurantes e estabelecimentos que oferecem cafés coloniais. Cheguei em São Francisco de Paula já à noite, com a intensão de retornar para casa pelo município de Taquara, via RS 020.


Bem, todo o passeio foi compensador e de muita beleza, mas o ponto alto, sem sombra de dúvidas, foi a Cascata da Pedra Branca, que um dia pretendo fazer outra visita, pela impressionante sensação de liberdade, imponência e misticidade que me causou.
 

Até o próximo passeio!

Fruta azeda

Na adolescência, quando eu  fazia algo de errado, sentia uma espécie de arrepio que me doía o canto da boca, algo parecido com a sensação de comer uma fruta muito azeda onde a língua ficava áspera e um gosto desagradável se espalhava por toda a boca...
Um dia ouvi meu pai dizer que só aceitaria dentro da sua casa, pessoas com cigarros na boca, se pudessem sustentar o seu próprio vicio. A palavra "sustentar", tinha pra mim um peso muito grande, um peso que elevava qualquer pessoa à uma categoria de poder e liberdade, de ser dono de seu próprio nariz. Então passei a fumar escondido dele com alguns amigos de rua, sentindo este arrepio desconfortavel. Depois veio o vicio, o primeiro trabalho com a falsa sensação de "sustentar-se", mas a liberdade de fato, ainda estou atrás.
Meu pai nunca foi, nem poderia ser referencia positiva para ninguém; Era analfabeto, alcoolatra, ausente, incapaz de manifestar qualquer tipo de carinho aos filhos e na maioria das vezes apresentava  atitudes de desvio de carácter, herdado de sua educação cheia de preconceitos, traumas e desafetos. Um dia eu jurei pra mim mesmo, nem de perto, ser parecido com ele, embora eu seguisse caminhos que buscassem a sua aprovação.

Pequenos algozes

Aos onze e dez anos de idade, eu me minha irmã, éramos as crianças mais cruéis da rua onde morávamos. Atraíamos a atenção de alguns amiguinhos da vizinhança para o nosso pátio e torturávamos somente para sentir prazer. Claro que pegávamos os mais franzinos e inocentes que aceitavam nossos convites para brincar, curiosos com a nossa mentira de um brinquedo novo.  
Levávamos a vitima para o fundo do pátio, vendávamos seus olhos, amarrávamos seus pés e braços nas goiabeiras e daí iniciávamos as seções compostas de puxões de cabelos, beliscões, formigas nos pés, comer frutos podres caídos das árvores e banhos de agua fria. 
Inventávamos uma história qualquer que só nos sabíamos e então motivávamos as torturas fazendo perguntas insistentes que a vitima evidentemente não saberia responder. Quando a soltávamos, alertávamos que se falassem alguma coisa para alguém, da próxima vez seria pior, muito pior!
Um dia minha irmã veio com a história de que poderíamos ser presos se fossemos descobertos e achava que deveríamos parar de vez.  Então por medo, deixamos nossos dias de criminalidade de lado. Na verdade não tínhamos nenhum conhecimento ou orientação moral sobre este tipo de violência e seus malefícios, embora soubéssemos que estávamos fazendo algo errado e que poderíamos ser punidos por isto.

LAGRIMA SOLITÁRIA.


Lágrima solitária é aquela que escorre do olho, sem que se  saiba o motivo pela qual está escorrendo, por que faz parte de mecanismos autônomos, do qual  não se tem nenhum controle sobre eles.
É como se nossas próprias entranhas estivessem chorando por nós, em soluços incontroláveis e nos emprestando uma profunda e amarga tristeza.
Depois que tudo passa e ficamos mais aliviados, basta apenas fingir que nos emocionamos com qualquer coisa tão boba que nem lembramos o que é ou alguma cena da novela das nove;  Depois se anseia-se pelo próximo capitulo.

Pra declarar minha saudade

Agora pela manhã, recebi no celular uma mensagem que me dizia: 
_Vem jantar aqui hoje à noite, não me abandonem... O amor não é suficiente para ficar sem amigos! _Confirma!..
Confesso que fiquei angustiado com o convite e com nós querendo sair da garganta, quando deveria ficar lisonjeado e feliz, mas os sentimentos por vezes, são tão tortuosos e estranhos dentro da gente, que confundem a nossa razão, nas atitudes mais simples e delicadas; Acho realmente importante a companhia de amigos, então confirmei. 
Existem outros nós de tristeza a me sufocar desde o inicio do mês, que não tenho encontrado uma forma de desata-los e transforma-los em pétalas. Ah!.., e esse novo toque musical no meu celular com Maria Rita cantando: "Pra declarar minha saudade", me põe ainda mais sensibilizado, quando ouço!

Indiferença

Hoje o dia foi daqueles, que não fazia nenhuma diferença se me oferecessem banana verde com pão d'agua, ou um enfeitado prato de salmão com alcaparras e vinho tinto; tudo me parecia tão igual e sem novidades.  E é incrível  como os dias se tornam mais longos nestes momentos em que os pensamentos parecem estar  tão longe (e livre), mas também não se fixam em coisa alguma.
O que eu lembro ao final do plantão, foi de um colega dizer para sua chefe ao ser cobrado por algo que não fez ou esqueceu de fazer:  _Mas se eu der tudo de mim, ficarei sem nada!..

Num corredor de supermercado.

Enquanto isto, agora à tarde no corredor do supermercado, fui abordado por uma senhora com uma garrafa de vodka na mão, me perguntando se a bebida era muito forte. Eu meio perdido com  a pergunta inesperada, disse  que achava que sim, mas...que; e ela sem me dar fôlego e  percebendo minha dificuldade em dar uma resposta objetiva, já foi complementando uma nova observação e uma nova pergunta em cima, fazendo comparações com a cachaça e a bebida em sua mão. Dali, esticou a conversa para falar sobre sua vida pessoal e a do seu companheiro para quem estava levando a bebida e que segundo ela se transformou numa outra pessoa depois que a conheceu num baile da terceira idade a seis anos atrás.
Ficamos conversando por mais de  quinze minutos sobre a sua vida, seu companheiro e filhos adultos, que num corredor apertado de supermercado, parecia uma eternidade de uma avenida engarrafada na hora do hach em que todos pareciam ter pressa. Na verdade eu a ouvia mais do que falava e me preocupava por estar obstruindo o fluxo das outras pessoas no corredor, o que ela não parecia  nem um pouco estar preocupada. Ela tinha os cabelos num tom avermelhado, estatura baixa, gordinha e do tipo que prendia as pessoas com sua simpatia e prosas pessoais, sem parecer inconveniente. Eu acredito que ficaríamos por horas conversando, se não fosse o local inadequado, com pessoas a todo o instante, pedindo com licença. Depois, antes de se despedir, desculpou-se  por ter tomado meu tempo e finalizou dizendo que eu era uma pessoa que lhe passava uma sensação de bondade e credibilidade, por isto teve vontade de parar para conversar.

Uma questão de gerenciamento

A U.P.A- Unidade de Pronto Atendimento na Lomba do Pinheiro, responsável por inúmeros atendimentos de emergência da região, passou por um longo período de reformas que por vezes  colocavam em risco a eficácia de seu funcionamento, em função da demora da obra que restringia  o espaço disponível para o atendimento dos pacientes. As equipes de saúde, também se queixavam da  falta de funcionários no seu quadro de serviços. Mas outra questão de importância  a ser abordada, é o  espaço inadequado para as ambulâncias do SAMU que não conseguem estacionar, durante o fluxo de chegada e saída de pacientes que necessitam serem atendidos ou removidos. O espaço alem de pequeno, serve como estacionamento para veículos particulares que ocupam e obstruem toda a área. Muitas vezes a ambulância é estacionada longe da entrada do posto e alguns pacientes precisam ser  transportados sobre as macas em terreno pouco seguro e desviando de carros e buracos. Em dias chuvosos, a situação se torna ainda mais complexa e constrangedora, uma vez que os pacientes são molhados pela chuva, ate serem levados para as dependências do posto ou para o interior das ambulâncias. Acho que esta ultima questão esbarra muito mais num problema de gerenciamento do que na disponibilidade de uma área física disponível. Inúmeras vezes foi colocado para as chefias imediatas do posto, sobre as dificuldades e riscos de se trafegar com pacientes no local, sem que fossem tomada as devidas providencias. Ontem, diante desta repetida situação, resolvi fotografar o local e postar  aqui no blog.

Uma peça descartavel- Part 2


Hoje é o terceiro dia que passo na rua Leopoldo Machado Soares, do lado do edifício onde moro e vejo a peça descartada, ainda na caixa de plástico vermelha. Tenho preferido andar pelo outro lado da calçada, pois as moscas tomaram conta e o cheiro deve estar insuportável.
Muitas pessoas como eu, devem ter visto aquele cão morto, jogado por ali, mas ninguém quer tomar partido desta coisa tão cruel e desrespeitosa, nem mesmo o serviço de limpeza publica.
Eu pensei em colocar do lado dele, algum tipo de cartaz escrito: "Aqui um cão morto e abandonado por seus donos,  que não tiveram a dignidade de enterra-lo." - mas a chuva destes dias com certeza apagariam as letras. Eu talvez ainda me dê ao trabalho de fazer isto, antes de sobrar apenas seus ossos.
Ah! enquanto escrevia este texto, aqui no blogue, percebi da janela, que três homens de uniforme laranja, do serviço de limpeza publica, se  aproximavam do local. Certamente o levaram embora.

Andróides e bonecos de cera.

Eu fico sempre com pé atrás, com aqueles caras, que usam a barba cortada bem fininha, delineando o contorno da face e não usam bigode; O cabelo bem cortado e brilhante como se  faltasse alguma coisa de humanos neles, um tipo que me lembra um boneco de cera, ou um androide cujo o modelo saiu de circulação. Esta figura que considero estranha, me causa uma certa apreensão. Eu sinto uma vontade de jogar água sobre eles, para ver se entram em curto circuito.

Modificações pessoais necessarias

Resolvi modificar a forma de como escrevo os textos no meu blog. Acho que meus textos estavam muito politicamente corretos e isto fazia com que eu me sentisse um pouco afastado do que eu particularmente considero ser eu mesmo e do que acredito. Não acho que sou sempre correto e equilibrado, para escrever coisas politicamente corretas e que pareçam estar posicionadas no conforto das palavras que todos gostariam de ler. Acho que devo ser mais incisivo, mais profundo, mais duvidoso e contraditório nas minhas colocações do que atualmente tenho sido, sem medo de parecer emocionalmente doentio e mal resolvido. Afinal é tudo isto que somos, um amontoado de sentimentos  paradoxais a procura de uma verdade ou mentira incontestável. Na Sexta-feira quando recebi alguns amigos em minha casa, discutimos sobre essas questões. Por que esta necessidade de parecer-mos aquilo que não somos ou de tentar-mos esconder nossos ódios, rancores ou mesmo parecer-mos equilibrados neste mundo que nos dá tombos a toda hora? A  transcrição no papel ou em gestos e palavras de nossos medos, anseios, alegrias, burrices, futilidades e loucuras, nada mais é do que  a revelação corajosa  do que somos, como indivíduos únicos e com o objetivo de causar reações a quem as recebe mesmo achando tudo uma idiotice.

QUANDO É QUE EU FIQUEI MALUCO.

Eu lembro muito bem quando foi que eu fiquei maluco. Eu fiquei maluco, quando minha mãe me segurou pelos braços com medo e meu pai bêbado, me mijou na cara, um liquido quente e cheirando `a cachaça.
Daí por diante, eu também passei a mijar, só que nas próprias calças, até os seis anos de idade e virei piada em toda a família. Acho que eu intimamente, queria voltar a sentir aquele cheiro horrível de mijo em cima de mim. 
Depois passei a ter medo de aranhas e de um homem apelidado de João do Poço. A não dormir à noite e a falar com fantasmas. A acreditar que o correto era usar os calçados nos pés de forma contraria. A beber somente suco de uva, achando que era sangue e eu um vampiro imortal. A mastigar bagana de cigarros que encontrava na rua. A odiar minha mãe, por que ela gostava do meu pai. A não confiar na minha avó, após ela ter me convencido a colocar meu dedo na boca de um rato, preso numa ratoeira para testar minha masculinidade. A trancar minha irmão menor dentro do guarda-roupas, só para vê-la chorar. A ter raiva do professor de biologia, que um dia me passou a mão na bunda. A sentir vergonha quando meu tio descobriu que eu me masturbava no banheiro e contou para todo mundo na minha frente... 
Depois eu fiquei por um longo tempo calado, simulando sorrisos e vigiando meus gestos, para que acreditassem que eu era um ser absolutamente normal.

O passeio michou!

O passeio planejado pela Serra do Pinto, michou por conta da cara feia do tempo neste final de semana. Achei inadequado num dia encoberto de nuvens e chuvoso como o de hoje, subir a serra onde pouca coisa poderia ser vista. Oportunidade de dias melhores e ensolarados não faltará para conhecer-mos  este belo lugar e tirar muitas fotografias. Agradeço a presteza de meu colega que foi guarda florestal do lugar e teve a gentileza de desenhar um mapa com os principais pontos a serem conhecidos.

Uma peça descartavel.

Pela manhã, quando saí para o trabalho, encontrei um cão morto, dentro de uma caixa de plástico sobre a calçada da Rua Leopoldo Machado Soares, na Intercap onde eu moro.
A forma como ele estava acomodado, ainda deveria estar vivo quando foi largado ao relento e a própria sorte. As pessoas  não tem mais a dignidade de enterrar seus mortos; parece mais conveniente abandona-los na rua, em qualquer lugar, em qualquer situação como uma peça descartável e isto me revolta demais.
Algumas vezes eu penso em mudar-me da cidade para algum lugar mais rural, cercado de mato  e   tranquilidade, embora eu sinta um pouco de receio de morar isolado e ser assaltado ou morto por algum delinquente de plantão ou ainda morrer de depressão cercado de árvores e muito silencio. Não sei o que seria pior, mas ainda não desisti de tratar estes medos e providenciar alguma mudança neste sentido, mesmo que seja apenas experimental. Hoje decididamente me senti numa nova estação, este clima meio chuvoso, me deixa mais introspectivo e também menos cansado. O cansaço para algumas pessoas como eu, é mais mental do que físico, mais emocional do que muscular.

Meu inimigo mora do lado

Tem um cara que mora na pensão de estudantes aqui do lado de casa, que não gosta de mim. Eu sinto isto por que quando eu passo por ele, ele fica com aquele jeito camuflado de quem esta em vigilância, que é quando a pessoa te observa pelo canto do olho, embora pareça estar olhando na outra direção. Nós nunca trocamos uma única palavra, mas sei que não sou aceito por alguma razão que talvez eu nunca  venha a descobrir.  
No principio, ele nada significava para mim, apenas uma imagem comum, de alguém comum, fazendo coisas comuns, até o dia em que fixou seus olhos sobre mim e percebi sua  expressão de desaprovação, náusea e falta de simpatia. Eu agora estou no aguardo de reconquistar meus velhos poderes mágicos, chegar na sua frente e desintegra-lo com meus próprios olhos, por que me cansei de fingir ser correto.

Teoria da positividade

Hoje li no blog Canudos Coloridos, um texto escrito por Guy Franco, que eu chamarei de "receita pratica para a felicidade", embora não seja própriamente esta a função do texto, mas achei muito engraçado e diz o seguinte:

"_Sem medo de ser feliz, sem medo de ser feliz, sem medo de ser feliz. Repita isso umas cinco vezes até a expressão começar a fazer sentido na sua cabeça. Vamos lá. Em frente ao espelho, repita: Sem medo de ser feliz, sem medo de ser feliz. Entende do que eu estou falando?"

Esta teoria da positividade fez eu lembrar de uma amiga, já falecida e que foi casada com um  cara muito magro. Ela depois de experimentar varias correntes filosóficas e espirituais com o objetivo de ter uma vida emocional mais centrada, encontrou uma que veio de encontro ao que ela chamava de (menos complexa e possível de seguir). Ensinaram-lhe um exercício, que segundo ela, era capaz de modificar o perfil emocional e energético das coisas não aceitáveis ou que produzissem energias negativas com o meio, interferindo-se nas boas relações de convivência. Através de pensamentos positivos era possível  provocar verdadeiros  milagres de transformação. Ela então repetia, inicialmente em voz alta, inúmeras vezes para o marido do qual ela não  aceitava que fosse tão magro: 
"_O  fulano é gordo, o  fulano é gordo, o fulano é gordo, ele é perfeitamente gordo!" E enquanto conversava com ele, interiorizava esta situação imaginaria repetindo pra si  em silencio. Na verdade ele nunca aumentou nenhum centímetro se quer do que era, somente a falta de paciência com ela.

A grande Lua.

Foi algo de encher os olhos no Sábado passado - dia 18, quando olhei para o céu da janela do meu quarto e percebi que a lua estava tão grande e brilhante que parecia antecipar situações de ordem sobre naturais. A lua deste Sábado foi a maior em quase 20 anos. Dados publicados por especialistas na Internet, informaram que este é um fenômeno raro, bem mais raro do que a Lua Azul que acontece uma vez a cada dois anos e meio. A última Lua Cheia tão grande e tão perto da Terra ocorreu em Março de 1993, foi o que informou Geoff Chester, do Observatório Naval dos EUA, em Washington.

Alguma armadilhas que não consigo lidar...

Foi uma surpresa encontrar o Jerson ontem, aquela hora da tarde tão chuvosa, numa das ruas da cidade que não parecia a nossa, mas outra cidade desconhecida de um lugar qualquer. Nos reconhecemos de imediato, eu de macacão azul, muitos quilos à mais e ele de jeans, camisa social e um suéter bege que não combinava com os cabelos de um amarelo queimado pelo Sol e muitos fios grisalhos.  
Acho que no primeiro momento, quando cruzamos nossos olhares, houve uma reciproca negação, como se não quiséssemos nos reconhecer depois de mais de 30 anos, com os aspectos físicos bem diferente do que fomos no passado aos 16 anos.
 _Nossa que coincidência, tu por aqui?.. Eu estava passando, quando esta senhora desmaiou e então decidi chamar a ambulância! Será que ela vai ficar bem? -Acho que foi isto que ele falou num meio sorriso...
_Eu já te informo assim que terminar!- respondi num tom de voz tenso e desajeitado, enquanto examinava a paciente sentada numa cadeira de plástico colocada sobre a calçada e protegida pela marquise.
Lembrei rapidamente que muitas e muitas noites em que varamos a madrugada jogando conversa fora, ele tocando musicas de Jorge Ben e Vinicius de Moraes no violão, enquanto tentávamos encontrar respostas para aquelas perguntas complexas guardadas em nós e que quando se é jovem,  se tem aos montes e  só são respondidas com a maturidade que mais tarde, exige novas questões urgentes. 
Ele estava parado na rua entre outras pessoas que amparavam uma senhora de rosto muito pálido e então levei alguns minutos para me localizar diante de toda a situação. 
Sua voz continuava a mesma, pontilhada, controlada, porém  tomada de uma timidez e nervosismo talvez  atribuída a toda a  situação incomum em que se encontrava.
Eu me achava em alguns momentos ausente do que estava fazendo e também incomodado, uma vez que me desconforto ao trabalhar sob olhares curiosos e mais ainda, com a armadilha que o destino  havia me provocado, sem eu estar preparado. 
Nunca imaginei este encontro e se tivesse que idealiza-lo não seria desta forma, num momento atribulado do trabalho e sob o olhar publico de desconhecidos.
Sua presença me inibia tanto quanto me causava um sentimento nostálgico. Inexplicavelmente não conseguia aceitar este encontro cujo o espaço de tempo nos roubou afinidades e agora nos posicionava um diante do outro de forma tão formal e distante. Fiquei sem ação. O que dizer naquele momento: É.., pois é..,vai continuar chovendo hoje?..
Depois de colocar-mos a paciente dentro da ambulância, ele posicionou-se na porta com  a expressão menos assustado e despediu-se agradecendo nossa atenção com um breve sorriso reticente. 
Depois que cheguei em casa, fiquei pensando no porquê coloquei a culpa em coisas tão subjetivas, me eximindo de responsabilidades. Era só apertar o botão, me desarmar, abrir um sorriso e depois contar uma outra história final.

Roendo ossos e lambendo os dedos

Num dado momento, tudo começa a ficar chato e repetitivo e então você passa a roer os ossos da relação, que foi somente o que sobrou.., mesmo estando noutra...
Enquanto você vai roendo, vai lembrando do que foi antes, do quanto saboroso e  prazeroso foi um dia, sem as queixas diárias de cansaço, de desafetos e perseguições no trabalho, da falta de dinheiro e de sexo, da solidão e tantas outras conversas que se tornaram  desnecessárias por que afinal, estamos noutra à lamber os dedos.
Eu gostaria antes de publicar esta postagem, de uma totalidade que esmagasse o prescindível!
Devo pedir desculpas quando uso algumas  palavras rudes para esclarecer o que estou sentindo? A franqueza por vezes é uma arma, não é um bom negócio também nas amizades, não mantém de pé a politica da boa vizinhança e isto provoca magoas. Eu sinto muito por não aceitar e deixar registrado em palavras o que me incomoda e que me abstém de leveza e tranquilidade.

Aproveito a musica gravada por Bethânia para completar minha idéia:
"Eu sei que eu tenho um jeito meio estúpido de ser e de dizer coisas que podem magoar e te ofender mas cada um tem o seu jeito todo próprio de amar e de se defender.."

Perdendo referências

Somos cobertos por referencias que vamos enfileirando dentro de nós, a cada passo que damos e absorvemos da vida, através de gestos, atitudes, sons, imagens, compondo o que talvez somos  interiormente hoje. É a rua e a casa onde vivemos nossa infância, a árvore que subimos para colher o primeiro fruto com a própria mão, o botequim onde bebemos a melhor cerveja, o filme que mais nos emocionou ou nos deixou pensativos, a musica que lembramos de alguém, a viagem mais bonita e ai se vão uma infinidade de lembranças, que talvez sejam substituídas mais tarde  por outras, mas que num dado momento, são despertadas por algum fato marcante ou não, pois estavam apenas adormecidas dentro de nós e refazem a importância que tiveram sobre nossas vidas.

Desde a morte de Elis, Tom Jobim, Cazuza, Renato Russo, Cassia Eller e muitos outros que  tornaram-se referencia, contribuindo com sua arte na formação intelectual das pessoas, é que tenho percebido distanciar-se uma fatia do tempo tão rica e  que embalou emoções contribuindo na formação de opiniões e atitudes que se deslancharam  para as questões sociais, ecológicas e politicas. A morte destas pessoas publicas, que  num dado momento, serviram de sustentação em nossas vidas, quebram a ilusão de imortalidade, deixando claro para nós, que o que é eterno  foi o que deixaram como legado. Hoje pela manhã, quando soube da  morte,  aos 79 anos, de Elizabeth Taylor, uma das grandes lendas do cinema mundial e que ajudou através de suas atuações, em mais de 50 filmes, no questionamento e revisão de atitudes da época, fiquei pensando sobre isto.
Mesmo sem estar atuando a algum tempo, por questões de saúde, senti estar perdendo mais uma referencia da minha vida. Dos tantos filmes que assisti e me senti contribuído com sua atuação, lembro-me de: “Quem Tem Medo de Virginia Wolf?”  “Assim Caminha a Humanidade“, “Gata em Teto de Zinco Quente“, “A Megera Domada”  e o épico “Cleópatra“.

A pergunta cuja as respostas não me convencem

Por vezes penso estar vivendo num mundo que eu não gostaria de estar fazendo parte e não me refiro as  guerras, catástrofes ou acidentes naturais, mostrados constantemente na TV e que de certo modo, parecem estarem tão distantes de mim, separados por uma tela  com micro pontos luminosos, formando imagens surpreendentes. Nesta área de conforto entre meu sofá e a tela, sinto que nada pode me atingir. Existe uma onipotencia estruturada dentro de nós, seres humanos, que alimenta a falsa certeza de que  temos poder de suplantar fatalidades impostas e inclusive a própria  morte.
Num dia estamos felizes e sorridentes e no outro triturando magoas, decepções, desajustes que não temos controle e nem podemos modificar por serem ditadas pela vida. Existem muitas outras dores espalhadas entre nós e não divulgadas na tela da TV e que por  desatenção ou comodidade passam desapercebidas diante de nossos olhos que se negam a enxergar o que é duro de aceitar.
Tenho convivido com a perda de amigos, doenças graves em familiares de outros amigos, que parecem verdadeiros pesadelos e cuja a impotência  humana diante disto me desestabiliza  em incertezas. 
Algumas dores são inimagináveis para quem não esta diretamente envolvido e mesmo buscando através de uma simulada transferência,  se pôr no lugar, não é possível ter uma noção da sua verdadeira dimensão. 
Se somos colocados diante destas situações difíceis, para exercício e entendimento de nossas fragilidades, crescimento pessoal, emocional e espiritual, do qual temos tanta intuição mas pouco manejo, ainda assim  parece sobrar a simples pergunta "por que", cuja as respostas ainda não me convenceram de fato.

Acreditando em mudanças

A vinda do presidente Barack Obama ao nosso país, me causou além de surpresa, uma pontinha de contentamento e isto esta ligado ao fato de emocionalmente eu ter torcido por sua vitoria na eleição presidencial americana e desta forma ter sido o primeiro homem negro a conquistar o comando de um pais tão racista quanto os USA. Isto indiscutivelmente criou-se uma linha de esperança e a expectativa de que certas coisas estagnadas e incompreensíveis nas politicas e filosofia dos pensamentos mundiais, tenham grandes possibilidades de um dia mudarem seu perfil para melhor.
Bom não estou aqui tentando discutir politica internacional, assunto que não domino, como também não sou tão inocente para acreditar que sua visita, não tenha sido de cunho politico e económico, por que afinal das contas é  esta a função dos governantes, como é disto que depende todas as mudanças que ocorrem no mundo e interferem em nossas vidas até quando damos descarga no vaso sanitário. 
Debaixo dos sorrisos, abraços, poses para fotos e cerimonias protocolares ou não, existem interesses paralelos entre os dois governos em prol de favorecimentos mútuos. O que quero na verdade, é colocar minha esperança e credibilidade nas alianças que tem sido discutidas e que trata de Democracia, Direitos Humanos, Igualdade Racial, e Inclusão Social. Decisões importantes para que possamos deixar aos nossos filhos e netos um mundo mais digno, justo e menos hostil.
Quanto a minha simpatia por Obama, vai alem da sua cor de pele, postura simples de comunicar-se e atitude menos austera de fazer politica, algo  que inegavelmente aproxima-se do referencial  que nos brasileiros conhecemos, a tentativa e esforço de acertar na raça.

Relações necessárias

Fiquei três dias sem Internet, isto serviu para testar minha dependência, minha paciência e também  abstinência neste vicio que fiquei dependente a pelo menos uns quatro anos. 
Bom já que estou aqui, evidencia que sobrevivi, por que afinal das contas, sobrevivemos a tantas coisas que não nos dá prazer, imagina as que dão?.. Nos faz correr atrás para não ficarmos com aquela desagradável sensação de que falta superfície em baixo dos pés.
Mas hoje alem de recuperar meu vício, ganhei um grande abraço, com direito a uma declaração de amor, fraternal, e isto me deixou tão pra cima, me fez sentir tão importante, tão indispensável que agora me faltam palavras para explicar estas relações de aféto que se fazem tão necessárias a o brilho da alma, sem garantias impostas.

Um dia diferente

Sabe aqueles dias em que você parece estar diferente e que tudo a sua volta também?.. E eu quero dizer diferentemente bem! O dia não foi como na maioria dos outros, pesado, cansativo, embora estivesse chuvoso e eu diante das maiores atrocidades e desgrasseiras humanas que meu trabalho é capaz de mostrar e sem qualquer alteração emocional que me deixasse incomodado. O dia parecia orvalhado e eu  me sentia no mesmo clima.
No final do plantão, pensei que hoje é Sexta-feira e eu até poderia me sentar  num boteco de rua, beber alguma coisa, olhar a lua que estava magnifica, falar com alguem sobre coisas fúteis etc.. e tal, mas não é sempre que se encontra companhia disponível para estas coisas e que esteja no mesmo clima e vibração que a gente, então resolvi ir  para casa. O celular até que tocou, mas decidi não arriscar em atende-lo com a possibilidade de outros programas. Eu não poderia nem pensar na possibilidade de receber algum convite que não fosse o que idealizei  hoje, mesmo que seja somente em minha própria companhia.

Rosa Passos


Rosa Passos é cantora baiana, compositora e violinista, talves pouco conhecida da maioria dos brasileiros. Sua voz afinadissima e de rara beleza interpretando "Dunas", faz a gente pensar  na delicadeza das pequenas coisas exibidas pela natureza e nos presenteando  com dias melhores na delicadeza de sua voz.
Rosa estreou no mercado fonográfico com o disco "Recriação". Mais tarde lançou Curare, onde gravou clássicos da musica popular brasileira, em 1993 o CD "Festa", interpretando parcerias com Fernando de Oliveira e Aldir Blanc, entre outros, e três anos depois, gravou o CD "Pano pra manga", predominantemente autoral.
Em 2002, lançou somente para o mercado americano o CD "Me and my heart" com Paulo Paulelli (baixo acústico e percussão de boca) e participou de diversos festivais de jazz, acompanhada por vários músicos de renome internacional, como Toots Thielemans e Paquito D'Rivera. No mesmo ano, lançou o CD "Azul", contendo composições de Djavan, Gilberto Gil e João Bosco.
A fama de Rosa Passos cresceu a partir do CD Curare (1991), quando se aproxima definitivamente do repertório de bossa nova, gravando temas de Tom Jobim como "Dindi", "A felicidade" e "Só danço samba". Desde então vem realizando turnês pelos Estados Unidos, Europa e Japão com um extenso repertório de temas próprios e interpretações de clássicos como Gilberto Gil, Djavan, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Edu Lobo, etc.

Entre fases e fezes


Foram apenas 72 horas de plantões para que a ficha caísse e eu percebesse estar de volta a dura realidade dos dias, que parecem estar do mesmo jeito que deixei, com a mesma rotina absurda e incomoda, parecendo estar me aguardando do retorno das férias.
É curioso perceber que nos arrastamos longos meses com esses entraves provocados pelo trabalho e problemas pessoais de toda a ordem, até tirarmos alguns dias de merecido descanso; Levamos  algum tempo a nos adaptarmos ao novo modelo de vida relaxado, com os problemas sendo postos de lado e em busca de coisas que nos dão alegria e prazer...Estes dias maravilhosos passam tão rápido que quando percebemos, acabaram...
Na volta, as mesmas caras feias, os mesmos problemas crônicos, os mesmos nós não desatados...
Hoje pela manhã (no termino do plantão), assistindo uma entrevista de uma jovem na TV que falava sobre sua reabilitação física e emocional após ter ficado tetraplégica, recebi uma dose terapêutica de ânimo que eu talvez estivesse precisando.  
Entre tantas coisas que ela falou na sua entrevista, algumas frases ditas, ficaram na minha cabeça servindo-me como uma verdadeira lição de adaptação as controvérsias da vida e é bom ouvir isto.
_Eu não nasci tetraplégica, entrei caminhando no hospital para uma consulta e sai  algumas semanas depois, numa cadeira de roda!..
_A cada momento de aceitação a minha nova condição de vida, fui aprendendo a valorizar as pequenas coisas que antes não valorizava, por simplesmente não dar importância para elas. Hoje sei da importância que deve-se dar a cada dia e não tentar viver o passado que se foi e o futuro que é incerto!..
_Nossa vida é cheia de altos e baixos e somos pressionados a aceitar a "ditadura da felicidade". Não acho que deva ser assim. Precisamos é viver com intensidade cada momento apresentado. Afinal vivemos entre fases e fezes!..

Fagocitose

Eu fiquei observando disfarçadamente aquele casal que já conheço de muito tempo, tão próximos um do outro e de mãos entrelaçadas, enquanto todos conversavam no grande grupo de pessoas em volta da mesa com doces, bebidas e salgados. Eles pareciam retratar a equilibrada relação que todos esperam de um casamento, uma cumplicidade de gestos e olhares, sem qualquer expressão  de reprovação ao que o outro falava. A resposta de um, parecia a permissividade silenciosa do outro que finalizava tudo  numa ideia unilateral, de simetria cuidadosa. 
As frases pareciam consentidas, pré aprovadas, politicamente corretas, equilibradas nas normas que envolvem o enlace e suas regras do bem viver a dois.  
Não pareciam dois indivíduos com pensamentos independentes, mas uma só pessoa, uma única personalidade em dois corpos com liberdade de movimentos, ligados a um fio condutor de regras incorporadas e com mesmo enfoque de pensamentos, de ideias morais, de opiniões que se combinam perfeitamente.  
Falar com um, dava a sensação de se falar com o outro, um eco da mesma voz; Uma espécie de instituição organizada, uma célula fagocitada, que parecia suprimir as diferenças  existentes entre as personalidades, que sabe-se, são diferentes entre si por natureza.  
Enfim.., faltava-lhes naturalidade, as dobras que não se encaixam, as pequenas diferenças que faz tudo parecer naturalmente normal.
Diante de tanta perfeição, me senti o mais imperfeito dos convidados presentes!

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