TEORICOS DA VERDADE

Tem pessoas que falam de amor, carinho, cuidado e atenção com a propriedade de quem os tivesse inventado e por isto, dando-nos a impressão de que dominam de tal forma o assunto que poderiam lecionar a respeito. Que através de suas palavras magicas poderiam modificar este mundo cão, tira-lo da obscuridade, conduzindo-o à luz da salvação. Ditam fórmulas, declamam frases feitas e estrofes poéticos com habilidade em resposta à tudo, porém não absorvem nada para suas vidas. Não conseguem transformar suas teorias em praticas verdadeiras; Sofrem com os percalços sentimentais como qualquer pessoa sofre. Erram, desconfiam, frustram-se sem perceberem que grande parte de sua dor surge por acreditarem em verdades falhas, em conceitos comprovadamente mancos. 
Possuem boa intenção porem são traídos por suas próprias certezas, criam estruturas conceituais frágeis que são destruídas por suas próprias condutas diante de si mesmos e dos outros. Não conseguem perceberem a necessidade de se renovarem e portanto culpam tudo que os cercam, menos o seu sonho de realidade ou sua realidade de sonho reticente e falha.

Relações com verdades

As vezes torna-se dificil sermos verdadeiros sem que nossas atitudes não sejam confundidas, sem que nossas intenções não sejam mal interpretadas e não corram o risco de ficarem a margem das instabilidades emocionais que minam por completo a relação de pequenos desafetos e frustrações. Dificil amar sem sermos nós mesmos, sem disponibilizar espaços pessoais necessários ao nosso crescimento individual. Vivemos diariamente no reconhecimento de nós mesmos e de nossos sentimentos ora bons, ora ruins, equilibrando-nos na corda bamba de emoções adolescentes que só amadurecem com as contradições, erros e também acertos. Relação madura deve ser portanto, a que zele pela liberdade, que se compromete á respeitar as oscilações de nossas verdades, das diferenças, sabendo que é difícil, mas necessario para a sobrevivencia de uma relação com a intensão de ser saudável.

Despedida

Há poucas horas atrás, eu olhava do mesanino envidraçado a grande planice verde que se estendia até o horizonte no escuro da noite. Bela planice gramada com um toldo azul-marinho solitário num canto e pequenas divisões numeradas no solo, onde se enterram corpos e que ficam catalogados em arquivos na entrada principal, bonita, clara, iluminada e extensa. As crianças passaram correndo e espalhando energia, uma delas perguntou debruçada na janela se era ali que enterrariam o seu avô. Enquanto eu olhava o corpo de seu Antônio, deitado no caixão, pensava comigo mesmo, que não parecia ser a mesma pessoa da qual lembrava antes, tão cheio de vida, sorridente e prestativo. Aquele rosto não parecia ser o dele nem tinham semelhanças. Era um semblante sério numa face pálida e inchada que jamais ví no antigo rosto alegre que corria para abrir o portão de sua casa quando eu chegava para visita-lo. Com certeza seu Antônio não estava ali, estava em minhas lembranças ainda sorridente e apressado para abrir novamente o portão.

PARAISO

Meu vizinho estava me falando sobre o paraíso. Depois de tentar varias indagações pessoais sobre o tema, enquanto limpava a grama do jardim, concluiu que só poderia formar e conceituar uma explicação definitiva sobre o assunto, depois que morresse; Mas como ainda está vivo!. Evidentemente falava através de sua visão cultural religiosa e também duvidosa. 
Ouvi-o em silencio, lembrando que no inicio da tarde tinha visitado o meu (paraíso), aqui bem perto de casa, com palmeiras Reais enormes, de uma beleza rara, flores e um pé de Amoreira onde colhi frutos e depois saboreei-os deitado em um tronco torto de um Cinamomo frondoso, sem precisar deixar o mundo dos vivos. No mesmo instante em que eu estava por ali, passaram alguns anjos, chutando bola e mascando chiclete, sem demostrarem a mínima culpa da algazarra que faziam. Decididamente o paraíso e o inferno podem estar tão perto de nós, sem que possamos enxerga-los de fato em função de nossos conceitos.

Trancas

Moema decidiu afastar-se, optou por manter-se superficial, criou a distância que talvez achasse necessária, vital à si mesma. Tem dialogos reticentes, desassociados da ternura anterior. Transferiu parte das dores físicas para alma que também sofre. Joga sedas para cima na insistencia de caçar fantasmas que não existem. Fechou todas as suas portas de comunicação e reforçou-as com trancas de rancor invioláveis. Mantem-se no silêncio, no obscuro vão do silêncio, armada, desconfiada e triste. Talvez eu também devesse fechar as minhas e buscar "o nada" como resposta!

blogs

De manhã, café preto, pãozinho francês com manteiga aquecido no microondas e o laptop sobre a mesa da cozinha, onde visito todos os blogs registrados em minha lista de favaritos. Leio-os atentamente enquanto vou bebendo meu café. Alguns, tem novidades todos os dias, outros ainda permanecem com os mesmos textos de dias ou semanas anteriores, mas mesmo assim abro-os religiosamente. Li em algum lugar que os blogs são otimos companheiros pois voce não tem a obrigação de estar frequentemente em cima deles postando alguma coisa para ser fiel à conta adiquirida. Voce pode esquece-lo por dias, meses e então num momento de pura inspiração escrever algo que considere importante pra voce ou para quem queira lê-lo. Pode ser um intreterimento, uma válvula de escape nas horas de solidão e por que não arriscar dizer, um tipo de terapia onde voce pode expor suas opiniões, alegrias, intenções e etc... Interagir, se assim desejar, com outras pessoas com idéias semelhantes as suas ou não. No meu caso, tudo começou por brincadeira e curiosidade, depois de algumas semanas ja dominando e aprendendo mais sobre os recurssos e ferramentas do programa virou uma especie de prazer necessário. Talvez um vicio agradavel.

benção de criança

Piruletumbum pra cima, piruletumbum pra baixo esta dor virará capacho!
Estas eram as palavras mágicas ditas por minha prima Júlia, quando eu e meus irmãos, íamos a sua casa visita-la. Depois passava as mão em nossos rostos e sorria dizendo:
Estão curados, podemos brincar!
Será que existia alguma magia em suas palavras, em sua caricia em nossos rostos?
A verdade é que nos sentíamos melhor, mais aliviados como se aquilo fosse uma benção divina. Depois, brincávamos até perder o folego de tanto nos divertir.
Guardávamos segredo sobre isto, para que ela não perdesse estes poderes mágicos.

Dona Noêmia

Atendi ontem dona Noêmia que estava trancafiada em seu barraco pobre, numa vila da cidade. Sua família apavorada disse-me que ela sempre agia assim, por que não tomava seus remédios com freqüência conforme a indicação da receita médica. Passava as noites em claro fazendo barulho, arrastando os poucos móveis no barraco pobre, batendo portas, falando sozinha, chorando, brigando com os vizinhos e algumas vezes tentando agredir quem a olhasse com estranheza.
Depois de muita negociação, dona Noêmia abriu a porta e veio conversar comigo dentro da ambulância. Antes, trocou de roupa, maquiou-se, perfumou-se e se sentou na maca como uma dama convidada a tomar um chá da tarde. Contou-me sua história de vida de um jeito que parecia estar muito lucida e coerente naquele momento. Falou-me que casou-se uma vez só e deste enlace teve uma única filha, que lhe deu um neto. Criou este neto como se fosse seu filho pois a mãe fora assassinada quando o menino tinha apenas dois anos de idade. Morreu esfaqueada com mais de dez golpes, enquanto dormia em sua casa. Nunca descobriram quem a assassinou e por quais motivos. Sustentou, educou e deu amor ao menino até ficar homem, criar independência e casar-se. Disse-me ainda, que desconfiava das pessoas, e de seus parentes e que tinha saudades do neto-filho que não mais a visitava. Falou-me que era louca, por que nunca aceitou a morte violenta da filha, o esquecimento do neto e a falta de justiça... Que era louca por que não se calava, não aceitava, não compreendia o silencio cúmplice das pessoas em favor da injustiça e que jamais aceitaria enquanto vivesse aquela tamanha violência em sua vida. Despediu-se de mim na porta da emergência psiquiátrica com um aperto de mão e um pequeno sorriso nobre, discreto, talvez ciente de sua loucura e desconfiada de minha normalidade oportuna. Pensei em dona Noêmia com tristeza e um pouco de culpa. Culpa dos que podem fazer tão pouco por pessoas como ela. Pensei também que tínhamos algumas coisas em comum, talvez a insatisfação, a revolta, por situações ocorridas na vida que não se consegue entender. Dores acumuladas, disfarçadas mas que em certos momentos querem se exorcizar, se soltar com cara de loucura.

Eu conheço de perto a loucura

Eu conheço de perto a loucura. Ela mora no meu sangue e me fala com voz mansa que precisa se soltar, se desvencilhar das amarras, das malhas, do convencional, das regras elaboradas, dos intuitos perversos da moral, das violências pessoais e eu com medo reprimo-a, trancafio-a, afogo-a para que não grite, não arrebente, não transborde, não mostre sua cara para os outros. Fico repetindo frases feitas, reelaborando idéias medíocres, vigiando meus gestos e intenções para me sentir normal. Aceitavelmente normal. Mas eu conheço de perto esta loucura e sei do que seria capaz de me tirar completamente o sono, fazer-me arrastar moveis pela madrugada à fora, a vagar e a gritar feito louco, falar sozinho, de mim para mim, até cansar!

Cansaço estresse raiva.

Hoje foi mais um dia de trabalho e então cheguei muito cansado ao ponto de não ir direto para o banho como sempre faço. Deitei -me na cama com as pernas e os braços esticados, olhando para o teto branco e lembrando de todos os momentos estressantes que foi o meu dia. Penso que as vezes pode ser possível contornar estas situações de explosão, de raiva e insatisfação geral com o trabalho, mas em outros momentos a pressão gerada é tão intensa que acabamos cedendo a indignação que hora frustra, hora desacredita em dias melhores tornando-se quase impossível impedir que se acenda o pavio da desordem, e do descontrole pessoal. Acredito que todo o clima de dor, sofrimento, angustia vinda dos clientes e vitimas que atendo nas ruas muitas vezes em péssimas condições, quase mortos, não me causam tanto cansaço quanto os trâmites burocráticos, os desvios de responsabilidades, os desrespeitos, as omissões de uma fatia minima de profissionais da sociedade que acreditam piamente que tratam de saúde com decência e salvam vidas por trás de mesas, gabinetes, telefones e rádios de comunicação. Estes heróis deveriam aprender que vidas se salvam quando colocamos as mãos no sangue, ouvindo gemidos, gritos, queixas, arregaçando as mangas, respeitando limitações, desfazendo os laços das diferenças de cor, das diferenças sociais , objetivando unicamente a manutenção da vida, sem sentirem-se deuses ou juizes. Quem sabe um dia aprendam que para a realização de um trabalho serio deve haver respeito mutuo entre todas as partes envolvidas e sem divisão de castas. Quem sabe assim eu deitaria em minha cama tranqüilo e com a sensação absoluta de ter feito a minha parte com satisfação!

Perguntas e respostas

Pensei de repente, que talves não seja melhor que tudo fique absolutamente transparente, absolutamente visível, claro, entendível; um pouco de sombra pode ajudar a estabelecer certas duvidas naturais da vida, tão necessária ao nosso imaginario, a nossa fantasia, a nossa inocência. Fértil á sobrevivencia. Afinal por que saber dos reais motivos, das necessaria atitudes, dos verdadeiros conceitos e motivações? Faz-me bem algumas vezes ser embalado por minha própria ignorância e acreditar que algumas coisas não possuem respostas, por que surgem sem uma razão específica. Surgem desmioladas, sem origem, sem causa. Nasce por nascer...e quando se pensa nelas tentando esmiuça-las, surgem infinitas elocubrações indefinidas, volateis, complexas e perturbadoras. Hoje quero dormir sem respostas das perguntas que me fiz, sem o peso das buscas. Quero dormir solto, despreocupado no leito grandiosos da preguiça, irresponsável, talvez amanhã acorde cheio de perguntas numa ansia desesperada por respostas que hoje não estava afim de desvendar por que optei pela divina ignorância.

AQUI

No carro, transparência nos sorrisos. Satisfação de estar ali um do lado do outro cantando musicas do repertório do arquivo mental. Todas as musica que se pudesse lembrar, a musica da hora, do gosto pessoal, do passado, do presente. Prazeroso isto!.. Isto é também uma espécie de namoro, talvez não muito diferente de tantos outros que devem pintar por aí. Cumplicidade no olhar, no sorriso, erro de compasso, de letras, desafinação, sei lá... Não precisa falar de muitas coisas, as musicas falam oque se gostaria de dizer, oportuna e sem constrangimentos.

[Eu nunca disse que iria ser A pessoa certa pra você Mas sou eu quem te adora]

[Se fico um tempo sem te procurar É pra saudade nos aproximar E eu já não vejo a hora]

[Eu não consigo esconder] Certo ou errado, eu quero ter você Ei, você sabe que eu não sei jogar Não é meu dom representar] [Não dá pra disfarçar Eu tento aparentar frieza mas não dá É como uma represa pronta pra jorrar Querendo iluminar A estrada, a casa, o quarto onde você está] [Não dá pra ocultar Algo preso quer sair do meu olhar Atravessar montanhas e te alcançar Tocar o seu olhar Te fazer me enxergar e se enxergar em mim] [Aqui Agora que você parece não ligar Que já não pensa e já não quer pensar Dizendo que não sente nada] [Estou lembrando menos de você Falta pouco pra me convencer Que sou a pessoa errada] [Eu não consigo esconder Certo ou errado, eu quero ter você Ei, você sabe que eu não sei jogar Não é meu dom representar] [Não dá pra disfarçar Eu tento aparentar frieza mas não dá É como uma represa pronta pra jorrar Querendo iluminar A estrada, a casa, o quarto onde você está] [Não dá pra ocultar Algo preso quer sair do meu olhar Atravessar montanhas e te alcançar Tocar o seu olhar Te fazer me enxergar e se enxergar em mim Em mim... Aqui]

Letra e musica de: Ana Carolina e Antônio Villeroy

Suburbano coração

Algumas musicas que ouço, me fazem lembrar de pessoas, de situações, de vivencias que compõe minha vida, meus dias, bordando emoções. Brilho solitário do vidrilho perdido e depois encontrado sem esforço, ao acaso.

Quem vem lá
Que horas são
Isso não são horas, que horas são
É você, é o ladrão
Isso não são horas, que horas são
Quem vem lá
Blim blem blão
Isso não são horas, que horas são

A casa está bonita
A dona está demais
A última visita
Quanto tempo faz
Balançam os cabides
Lustres se acenderão
O amor vai pôr os pés
No conjugado coração
Será que o amor se sente em casa
Vai sentar no chão Será que vai deixar cair
A brasa no tapete coração

Quando aumentar a fita
As línguas vão falar
Que a dona tem visita
E nunca vai casar
Se enroscam persianas
Louças se partirão
O amor está tocando
O suburbano coração
Será que o amor não tem programa
Ou ama com paixão
Mulher virando no sofá
Sofá virando cama coração
O amor já vai embora
Ou perde a condução
Será que não repara
A desarrumação
Que tanta cerimônia
Se a dona já não tem
Vergonha do seu coração.

Composição:
Chico Buarque

LUZ E SOMBRA do Livro Morangos Mofados de Caio Fernando de Abreu

LUZ E SOMBRA:
[Deve haver alguma especie de sentido ou o que virá depois?- São coisas assim as que penso pelas tardes, parado aqui nesta janela, em frente aos intermináveis telhados de zinco onde às vezes pousam pombas, e dito desse jeito você logo imagina poéticas pombinhas esvoaçantes, arrulhantes. São cinza as pombas, e o ruido que fazem é sinistro como o de asas de morcegos. Conheço bem os morcegos, seus gritinhos agudos, estridentes. Mas não quero me apressar. Penso que se conseguir dar algum tipo de ordem nisto que vou dizendo haverá em conseqüência também algum tipo de sentido. E penso junto, ou logo depois, não sei ao certo, que após essa ordem e esse sentido deve vir alguma coisa. O que depois?- pergunto então para a tarde suja atrás dos vidros, e sinto reconfortado como se houvesse qualquer coisa feito um futuro à minha espera. Assim como se depois do chá fumasse lentamente um cigarro mentolado, olhando para longe, aquecido pelo chá, tranqüilizado pelo cigarro, enlevado pelo longe e principalmente atento ao que virá depois deste momento. Faz tempo não tomo chá, e controlo tanto os cigarros que, cada vez que acendo um, a sensação é de culpa, não de prazer, você me entende? Não, você não me entende. Sei que você não me entende porque não estou conseguindo ser suficientemente claro, e por não ser suficientemente claro, além de você não me entender, não conseguirei dar ordem a nada disto. Portanto não haverá sentido, portanto não haverá depois. Antes que me faça entender, se é que conseguirei, queria pelo menos que você compreendesse antes, antes de qualquer palavra, apague tudo, faz de conta que começamos agora, neste segundo, e nesta próxima frase que direi. Assim: é um terrível esforço para mim. Se permanecer aqui, parado nesta janela, estou certo que acontecerá alguma cosa grave- e quando digo grave quero dizer morte, loucura, que parecem leves assim ditas. Preciso de algo que me tire desta janela e logo após, ainda, do depois. Querer um sentido me leva a querer um depois, os dois vêm juntos, se é que você me entende...] 

Por que postei este pedaço do texto de Caio Fernando de Abreu as seis horas da manhã? Não sei a o certo!...talvez por identificação e porque perdi o sono. Por causa da janela como pano de fundo descrito no texto e coincidentemente algumas vezes tento ver o meu mundo através de uma delas? Obter minhas respostas? Pelas pombas cinzas sobre os telhados que também arrulham sobre as casas vizinhas daqui?... Infinitos telhados, a duvida sobre o sentido das coisas, e a compreensão do fluxo quem sabe monótono ou apressado da vida, do nosso interior, a ânsia de se compreender e ter respostas a tudo isto? Algo neste texto descreve pontos que me são pessoais, particularmente especial em minha vida, em minha loucura particular, batendo em minhas duvidas, cutucando reticencias que há em mim e acredito também, em ti e que se falarmos ninguém compreende.

Raros momentos com Gal.

Hoje retornando do serviço pra casa, coloquei o cd de Gal Costa, Acústico-MTV no som do carro e fiquei fissurado naquelas musicas que tantas vezes já ouvi e que quando retorno à ouvi-las, bem... Baixou um clima de saudosismo gostoso, principalmente quando ouvi as canções como: Não Identificado de Caetano Veloso, Sua estupidez de Roberto Carlos, Vapor barato de Zeca Baleiro e camisa amarela de Ary Barroso. Nestes momentos de rara intimidade, tenho a impressão de que somos belos e imortais como estas musicas maravilhosas.

Práticas de amar

Existem pessoas que modificam o conceito de amar por que cometem praticas destorcidas contra quem ama. Tentam ditar regras, sufocar liberdade, impor suas verdades. Puxam ganchos de problemas vazios ou que não existem para te pendurar neles. Esticam cordas para se equilibrarem com sentimentos ora de alegria, ora de frustração tentando te arrastar com elas nesta dança absurda. Sempre querem mais do que se tem para dar, ficam insaciáveis, insatisfeitas, perigosamente letais. Eu estou fora desta.

A despedida

Moema partiu sábado à tarde com a finalidade de vivenciar a alegria da qual chama de vida. Retomar contatos de seu convívio do passado. Despediu-se com olhar profundo, mesclado de doce e azedo, dominada talvez pelo cansaço de suas antigas intensões. Percebi que fará uma desintoxicação de mim. Limpará sua alma, suas feridas ainda abertas para que seja breve a cicatrização, a cura. Fiquei sentado com o olhar fixo no laminado do chão, procurando oque pensar, ouvindo o ruido da chuva imaginaria que não caiu sobre o telhado . Senti seus batimentos do coração junto dos meus numa sinfonia desgovernada, seu cheiro de priprioca, sua coragem de gigante. Em breve retornará outra à procura urgente de sua nova vida.

Profissão de risco

Transferi ontem à noite, do posto de saúde da Restinga para o Pronto Socorro, um soldado aposentado da brigada militar que foi baleado no abdome e braço, em defesa sua e da comunidade, contra uma ação criminosa em um supermercado nas redondezas da Estrada do Barro Vermelho. Lembrei deste fato, por que enquanto deslocávamos na ambulância, ele me comentava sobre a sua necessidade de ainda ter que trabalhar depois da aposentadoria, para puder manter a família. Havia momentos em que ele chorava e depois rezava agradecendo à Deus por sua vida e também pedia que livrasse seu filho do caminho desta profissão tão pouco remunerada e arriscada.

Sexo à três

Uma amiga que não vou dizer o nome nem que a vaca tussa, me contou que seu namorado perguntou-lhe certa vez oque ela gostaria de experimentar de "novo" com ele, quando iam ao seu apartamento transar. Depois de alguns dias, fazendo charminho, boquinhas e vencer a timidez, ela disse-lhe que tinha vontade de transar a três.
-Ha três? Como à três? Perguntou ele dividido entre mesclas de curiosidade, surpresa e desconfiança.
-Eu, tu e outra mulher! Confessou-lhe revelando seu segredo de muito tempo. Ele então excitado, comprometeu-se de providenciar outra parceira, e quando conseguiu, a o contrario do que minha amiga pensava, tudo transcorreu a mil maravilhas, em perfeita harmonia e sem comprometer a satisfação dos três.
Algumas semanas depois, envergonhada, ela terminou tudo com ele, que a ligava insistentemente insinuando que as duas teriam iniciado um caso. Ela disse-lhe então, que nunca mais vira a moça de novo e que só com ele não achava mais graça.
Bem, postei este texto sobre minha amiga, não com o objetivo de contar uma história de sacanagem ou uma piada vulgar para aborrecer os preconceituosos e puritanos, mas com o intuito de alertar as pessoas sobre nossos desejos muitas vezes sufocados e reprimidos por falta de coragem e vergonha. Medo de assumi-los diante de nós mesmos, de descobrir interesse por coisas ditas fora do normal.
Acho que vale a pena o experimento de nossa libido desde que não prejudique a nos nem a ninguem, desde que todos fiquem felizes e satisfeitos com seus fetiches e desejos "proibidos".

Será que estou ficando louco?

Tenho deixado de cortar os meus cabelos, que são crespos, pra mais de três meses. Resolvi mudar de cara ou estou ficando completamente louco. Como trabalho nas ruas, pescando gente atropelada, acidentada e outras coisitas mais, as vezes não dá tempo para ajeita-lo. Hoje quando levei um paciente para a emergência clinica do Pronto Socorro, a doutora Carmem me perguntou assustada enquanto eu entrava na sala:
-Oque é isto?
-É um paciente!
-Não, o teu cabelo?..
Todos riram, menos ela com a expressão de preocupada.

O FUJÃO


Hoje Bili resolveu passear. Aproveitou o descuido de sua dona e escapolio às pressas pelo cantinho do portão entre aberto quase derrubando-a no chão. Contam que Bili é um labrador de natureza dócil e educada, mas a possibilidade de dar uma fugidinha em direção a liberdade das ruas, praças e qualquer canto que pudesse enfiar seu focinho curioso, fazia-o sempre esquecer as boas maneiras. Mobilizou toda a família durante o dia em sua procura e nada. Já no final da tarde, quando já escurecia e todos demonstravam exaustão, brabeza e uma certa preocupação por estar quem sabe morto, atropelado, preso em algum cativeiro, retornou sujo, de orelhas caídas, rabo entre as pernas e olhar de resignação. Quando chegou silencioso, foi uma festa geral, mistura de risos, alívio e advertência: Se tu fizeres isto de novo, vais para a corrente!
Bili deitou sobre o seu tapete na entrada da garagem e dormir a noite toda com cara de criança cansada.

Voadeiras



Tenho paixões que se alternam periodicamente em minha vida. Elis, Zizi, Cássia Eller, Marisa Monte e ai se vão. Há alguns dias descobri Mônica Salmaso a partir do programa Som Brasil em homenagem a Edu Lobo realizado pela TV Globo dia 25/07 do qual postei comentário em meu blog. Entrei na internet, pesquisei sobre a cantora, ouvi suas musicas e foi um encantamento total. Baixei seu cd Voadeira do qual destaco as musicas: Dançapé de Mario Gil, Senhorinha de Guinga, Canto em qualquer canto de Ná Ozzetti, Silenciosa de Fátima Guedes, Ave Maria no Morro de Herivélto Martins. Curioso com o titulo escolhido para seu cd, chamado Voadeira, fui em busca do significado da palavra que a principio não tinha referencia no dicionário do Microsoft Office Word, mas que encontrei por teimosia no site: , da jornalista Carol Costa que explica: Voadeira, um tipo de barco, tem um pouco cara de roça, de alçar vôos particulares, de coisas simples.
*Mais informações sobre a cantora: Entre em seu site:aqui

A Morte

A morte não tem conceito exato, nem raso. Não é apenas um corpo sem vida sob uma cova, mas ausência total de trocas elementares, boas ou ruins!

VÔ ANTÔNIO.

Antônio Barbosa, era o homem que conheci como avô. Era o terceiro marido de minha avó, que antes viuvou de dois e com ele não teve filhos. Era um homem quieto, autoritário e pouco simpático. Raramente dirigia-me a palavra e seu olhar sisudo demonstrava a pouca simpatia que tinha por mim.
Quando morreu, seu corpo foi velado sobre a mesa da cozinha, onde tantas vezes orou antes de fazer as refeições. Seu caixão era simples e sem adornos e nem flores foi jogado sobre o seu corpo porque era contra cerimonias ou homenagens fúnebres.
Meus tios contavam que um mês antes de sua morte, ele chamou minha avó e disse-lhe que já estava perto a sua partida. Entregou-lhe uma pasta com documentos e dinheiro para que não fosse pega de surpresa na hora de seu enterro. Apesar de nossa pouca ligação de afeto, eu sabia que era um homem integro, sensível e temeroso á Deus e pelo qual toda a família lhe tinha respeito...

O VELÓRIO


Meu avô e eu tinha uma relação de distancia...( distancia essa imposta por ele e que só mais tarde vim saber a razão). No dia de seu velório, aproximei-me para vê-lo deitado no caixão de terno escuro e mãos sobrepostas, cobertas por um lenço branco. Era um dever de todos os entes queridos independente da idade, dar o ultimo adeus, com um beijo de despedida na testa de quem morresse. Embora não me sentisse querido, sentia-me na obrigação de faze-lo por uma questão de respeito a minha avó e aos que estavam presentes. Sentia arrepios só em pensar em ter que encostar minha boca naquele rosto que parecia de cera, pálido e frio, mas precisava me imbuir de coragem e seguir em frente. 
Quando o representante do templo que ele frequentava chegou para encomendar-lhe a alma, senti que teria ainda alguns minutos antes do temido sacrifício, embora soubesse que cada vez mais se aproximava do momento. Todos se despediram e então chegou minha vez. O beijo foi rápido e com aquela sensação de que tinha recebido um castigo e que duraria para toda a minha vida. O caixão foi lacrado e então todos saíram para a rua, de cabeças baixas, em silencio, acompanhando-o até sua morada final.
O corpo quando é preparado e entregue aos familiares, não é o mesmo da pessoa que conhecemos, vem alterado, completamente alterado. A face vem maquiada  com pó de mármore e os lábios de cor desbotado, fugindo do que habitualmente conhecemos. Tudo perde a cor, até os traços marcados por sentimentos desaparecem e não são mais reconhecidos por nós. Há uma falsa serenidade presente, uma imobilidade impactante que assusta.
A alma foge do corpo e não é mais possível ver o brilho nos olhos, por hora fechados, para sempre fechados. Desta forma, sem alma, não pode existir serenidade.
Já não temos presente a pessoa que conhecíamos, temos apenas um pedaço de carne, diferente de  quem conhecíamos e então começamos a sentir saudades do que está faltando e que não está ali, como se tudo fosse um teatro, uma mentira que tomaremos como verdade para sempre. 

Campo Santo

Minha cama, na casa de minha avó, era um campo santo, feita só para mim dormir, de cobertores de lã, sobre o chão ao lado da dela. Na madrugada eu esticava minha mão pequena em sua direção, que me envolvia de calor e conforto maternal. Somente assim eu me sentia protegido e conseguia dormir com tranqüilidade e em paz. Muitos anos depois ainda sentia um certo desconforto em dormir sobre camas com colchões.

Dia dos Pais


Hoje, Dia dos Pais, acordei com um frio na barriga, lembrando do meu pai. Correram flaches na minha memória , do tempo em que eu ainda era garoto e esperava reações de carinho, amizade e atenção por parte dele e que nunca vieram. Com o tempo, passei a entender que as pessoas dão aquilo que recebem e que acumulam no decorrer de suas vidas, oque talvez tenha sido seu caso. Quando fui presenteado com o nascimento do meu filho, prometi que tudo seria diferente, pois lhe daria tudo oque não recebi. Em nossos encontros, quando nos abraçamos e nos beijamos, nossas trocas de olhares tem luz azul, cumplicidade e emoção, sinto que circula entre nós muito mais do que um simples cumprimento afetivo entre pai e filho, muito mais que uma relação de amizade, pois transcende a tudo isto, fazendo minha alma inebriar-se de felicidade e eu ficar assim bobo, imensamente agradecido por sua existência.

888- Abertura do Portal de Orion

Recebi da amiga Cleusa, um email dizendo que hoje 28 de Agosto de 2008, traduzido por 888, é o dia que marca a entrada da humanidade no mundo novo, de ascensão espiritual através da abertura do Portal de Orion. Este dia é marcado pelo encontro espiritual entre homens e deuses. A constelação de Orion é um ponto de referencia cósmico que opera energia, formando a teia da vida na galáxia. Os poderes do universo emitem novos níveis vibratórios, como parte do processo evolutivo da humanidade. Segundo entendedores profundos no assunto, o efeito desta abertura é a multiplicação da intensidade de nossas emoções e aspirações sejam elas quais forem. Isto significa que cada emoção, intenção, desejo se positivo ou negativo emanado por nós será ampliado mais de um milhão de vezes em nossa intenção. Nossos pensamentos criam nossa realidade a partir do que focarmos em pensamentos e desejos, por tanto neste dia devemos mentalizar somente pensamentos bons, positivos, desejando coisas boas para si e o proximo.

OUTROS OUTUBRO VIRÃO

Ontem de manhã, antes de sair para o trabalho, beijei meu filho que ainda estava deitado na cama com seu breve sorriso de sonhos. Será que sonhava, e com oque? 
Coincidentemente, quando peguei meu carro na garagem e liguei o rádio, tocava uma musica de Milton Nascimento, na voz de Elis cantando o seguinte refrão conhecido: "Oque foi feito amigo de tudo que a gente sonhou, o que foi feito da vida, o que foi feito do amor?"... Já na rua, levantei o volume do rádio e fui cantarolando a canção e a o mesmo tempo me perguntando sobre a veracidade daquela letra e fazendo histórias paralelas que falavam de sonhos que montamos em nossa singular juventude e vão se desfazendo no transcorrer da vida, ou que são substituídos por outros que exigem menos esforços, menos paixão, trocados por responsabilidades ditas maiores ou pela seriedade que impomos à vida. 
Pensei também, que afinal, viver com responsabilidade e seriedade não nos coíbe de sonhar, de acreditar em dias melhores. Lembrei-me de amores e conquistas que idealizei e que até vivi provisoriamente acreditando na sua permanência em minha vida e que se foram com o passar dos dias, dos meses, dos anos, sendo trocados gradativamente por sonhos novos, as vezes maiores ou menores, pelo infortúnio das impossibilidades, das surpresas que obrigam-nos a mudar de rumo, a repensar, a abrir mão de. 
Vivemos assim, acreditando que "outros outubro virão, outras manhãs plenas de sol e de luz", como diz um dos estrofe da musica, guardando nossos sonhos na palma da mão sem abri-la, deixando para viver amanhã o que se poderia ter vivido hoje, com paixão e a tesão dos amantes, com o pássaro preso, sem deixa-lo voar. Tomara que os sonhos de meu filho sejam tão coerentemente loucos ao ponto de serem realizáveis e faze-lo voar sem medo, sobre Outubros, Novembros, o que vier.

Ação criminosa

Hoje pela manhã quando cheguei para trabalhar a surpresa já aguardada e muito comentada entre os colegas: A base do SAMU na Restinga, tinha sido arrombada durante a noite enquanto os colegas faziam uma remoção de uma paciente gravida ao hospital. O ladrão ou seriam dois, entraram retirando o aparelho de ar condicionado da parede pelo lado de fora do prédio e então ja dentro da base tentaram arrombar a porta principal com um pé de cabra no intuito de levarem objetos maiores como televisão, microondas, fogão, geladeira. Durante esta ação criminosa, só conseguiram carregar o aparelho de ar condicionado que deixaram a alguns metros para mais tarde buscarem e a bolsa da colega que estava de plantão, contendo documentos, dinheiro, cartões de crédito e um carregador de telefone celular. A policia, acionada por algum vizinho atento nas redondezas e que ouviu barulhos na base, chegou rápido e logo saiu a procura de vestígios dos ladrões. As ligações da gerencia do SAMU, da sala de regulação médica e responsáveis técnicos começaram a chegar cedo, preocupados com o fato da ambulância estar fora de atendimento e assim deixando descoberta uma das regiões mais populosas da cidade, cerca de 130.000 habitantes, representando mais de 10% da população total de Porto Alegre. Recebemos também a visita do Diário Gaúcho e da RBS com o objetivo de documentar jornalisticamente o fato ocorrido. Este fato lastimável, não foi de maneira alguma um fato isolado pois no mesmo local ja ocorreram anteriormente roubos de refletores, de telas de isolamento do terreno e arrombamentos de veículos dos funcionários que pra lá se deslocam para noites de plantão. Revoltados com a violência e a criminalidade que se estabelece cada vez mais e incompreensivelmente vitimando um serviço que serve como instrumento de socorro e ao salvamento de vidas, os funcionários demonstraram preocupação e insegurança lembrando mais uma vez a trágica história da colega que foi assaltada e depois violentamente morta com um tiro na cabeça quando chegava para trabalhar na base do SAMU no bairro Belém Novo.
-Vocês salvam vidas todos os dias, mas quem protege a de vocês? Comentou alguem que passou hoje por lá.

Fim de tarde

Por aqui a tarde cai seus olhos numa expressão de tristeza e cansaço desolador. As arvores abanam seus galhos despedindo-se do dia que correu apreçado, ora de vento, ora de sol, ora de chuva que abençoou a terra, que umedeceu as ruas e fertilizou as praças com cheiro de húmus, e tudo vai se fechando numa escuridão serena, lenta para encontrar o novo dia.

Transporte coletivo

Hoje, fim de mês, foi um dia daqueles!.. Transferências bancarias, Pagamento de contas, renegociação de dividas e para me deslocar a tantos lugares e enfrentar filas, ouvir explicações sobre transações financeiras e funcionamento de taxas de juros, deixei o carro na garagem e fui de ônibus para evitar além de tudo o estresse de dirigir neste transito maluco e sem lugar para estacionar. Devo dizer que não foi uma experiencia traumatizante como pensei, uma vez que a frota de transportes da cidade atualmente, oferece conforto e tranqüilidade aos passageiros e você pode ainda optar entre vislumbrar pela janela os vários roteiros viários como praças, modelos arquitetônicos de prédios em construção, desvios, acidentes no percurso ou ouvir a conversa de algum passageiro no coletivo. No meu caso, decidi prestar atenção a uma jovem sentada a o meu lado e que falava no telefone celular com seu namorado ou talvez marido, não sei! Mas ela perguntava-lhe insistentemente se iram sair à noite e ele provavelmente dava-lhe alguma desculpa ou justificativa de sua impossibilidade, por que ela balbuciava baixinho e de voz meio embargada: Como? Eu não acredito! Tu não podes fazer isto comigo, eu já me preparei, gastei oque não podia! Pensa com carinho amor!..Depois de alguns segundos pensativa e em silencio, desligou o aparelho abruptamente e levantou-se para desembarcar na próxima parada com a expressão refeita e a pressa dos que não podem perder tempo com problemas menores. Como eu!

A BELA VOZ DO BRASIL.

Dia 25 do mês 07, sexta-feira, a Tv Globo presenteou nós, telespectadores, com um belíssimo show em homenagem á Edu Lobo, considerado um dos ícones da nossa musica popular brasileira. Edu foi parceiro de Vinícius de Moraes e ganhou um dos grandes festivais de musica com Arrastão, depois novamente com Ponteio. 

Para interpretar as musicas de Edu o programa Som Brasil convidou Mônica Salmaso, Thaís Gulin, Nação Zumbi e Bena Lobo- filho de Edu. Particularmente o ponto alto do show foram as interpretações das musicas, Beatriz, Ciranda da Bailarina, Casa Forte e A história de Lili Braun na magnifica e afinadíssima voz da cantora Mônica Salmaso, em dueto com Edu. 

A produção do programa Som Brasil da Tv Globo está de parabéns por nos proporcionar tamanho espetáculo.

Link: Mônica Salmaso interpretando "Beatriz".

Benzeduras

Dona Djanira gostava de me benzer, dizendo que eu tinha mau olhado quando que eu era garoto. Pegava sua enorme tesoura preta e enferrujada com um carvãozinho aceso, preso na ponta e um copo de água na outra mão, enquanto falava coisas baixinhas que eu acreditava ser orações de proteção. Nunca ouvi direito o que falava, mas sabia que era de boa intenção. Dona Djanira já se foi a muito tempo e eu mais do que nunca preciso em certas horas de sua proteção.

Nascimento do dia.

Era noite quando Tereza e eu caminhávamos na beira da praia observando as ondas explodirem nas pedras e suas espumas lamberem a areia branca. Caminhávamos abraçados e descalços sobre o tapete fofo, enquanto observávamos também o horizonte turvo e compacto, onde o céu e o mar se unem e se perde a noção do que é água e do que é céu. Vimos então um risco de luz tímido aparecer por de traz das ondas negras. Quando paramos para olhar, esta luz se expandiu em raios por cima da aguá e uma bola vermelha começou a surgir, assustadoramente bela de dentro do mar. Sentamos assustados sem saber oque acontecia e a medida que crescia foi iluminando tudo como uma imensa tocha de fogo mágica. A noite desaparecia rapidamente diante de nossos olhos como se abrissem uma janela num quarto escuro, por que tudo se iluminava e então percebemos que assistíamos um milagre natural, a morte da noite e o nascimento do dia. Jamais me esqueci disto!



29/07/2008

Eu aprendi a lançar um olhar diferente para as pessoas da qual convivo. Tento buscar motivos óbvios para suas atitudes perante a vida e a mim, atitudes nem sempre aceitáveis, nem sempre amáveis, nem sempre compreensíveis. Não me permito acreditar em falsidades, em segundas e terceiras intenções, mesmo sabendo que tudo pode ser possível. Viver na desconfiança é tentar sobreviver numa gerra fria sem saber quem são os aliados, arredio, sem perspectivas de dias melhores. Quando penso nelas, tento acreditar em seres humanos melhorados e passivos de erros, que preze acima de tudo a boa convivência, o respeito e a dignidade entre as pessoas. Se não, por que estar por aqui?

Salton Flowers Aromático/ Demi Sec

Ontem a noite foi momentos de risos, de saudades, e lembranças da infância e da adolescência sentidas tão perto na emoção, mas tão distante no tempo. Regamos tudo com um vinho barato e delicioso, chamado Salton Flowers, branco, demi- seco com aroma de flores cítricas, rosas, jasmins e frutas como pêssego, abacaxi e banana. Dormi em paz e feliz.

A visita

De noite Chayanne ainda com o mesmo rosto moreno de quinze anos atrás, entrou em minha casa, invadiu meu quarto e em silencio, cantou o mantra que a muito tempo não cantava sob a fumaça de incensos cheirosos. O mantra da Harmonia. Lembrei -me dela quando ainda era Irene, antes de entrar na filosofia indiana e trocar de nome, de vida, de amores. Será que eu ainda estava sob o efeito do vinho?

Canoas de Caiobá


As canoas ficavam ancoradas de frente para o mar, esperando a hora de partirem. Eram tantas as cores que ficava difícil eleger a mais bonita entre todas! Eram iluminadas pela luz da lua e quando por ali se passava sentia-se o cheiro do mar , do peixe, da simplicidade, da liberdade que se vê somente em cartões postais.
Saudades de lá!

Quinta-feira

Quinta-feira tudo parecia estar bem, mas de uma hora para outra me vi estranhamente inquieto. Era noite e saí para jantar na casa de amigos e mesmo no clima caloroso e festivo com que sempre sou recebido, sentia-me deslocado e desatento a tudo e a todos. As anchovas grelhadas estavam ótimas e o vinho tinto nem se fala, mas eu, oscilava entre sentimentos de ansiedade e angustia, do qual não sabia sua origem e nem oque fazer para que passassem. Caminhava de lado para outro, debruçava-me sobre as janelas sem me fixar em nada que via e a cabeça repleta de um vazio sem dimensões. Em alguns minutos parecia que sobrava um pequeno espaço de raciocínio lógico, onde eu retornava ao 'planeta de origem', as pessoas, as anchovas grelhadas, ao vinho que pouco bebi; depois voltava a me perder no meu próprio vazio. Mais tarde, ja em minha casa, buscava algum mecanismo interno que me fizesse retroceder daqueles sentimentos que só me abandonaram na manhã do outro dia, quando acordei.

Devagar quase parando

Meu colega costuma dar muitas gargalhadas, acha que a vida é pra isto mesmo, sorrir, se divertir, viver sem estresse. Honra seus compromissos no trabalho e nas horas vagas sua agenda e repleta de bailes em clubes, aniversários, casamentos, jantares, bate-bolas com vizinhos finalizados com grandes churrascos. Quando dirige seu carro não passa dos sessenta e se fazem algum comentário negativo a respeito vai logo dizendo: Pra que correr se vamos chegar lá mesmo! Caminha com passos lentos, mãos nos bolsos, assoviando e olhando para os lados como se visse coisas que os ditos "normais" não vêem por que tem muita pressa. Chamado de preguiçoso por alguns e "devagar quase parando" por outros, vai vivendo. Afinal por que ter pressa?

Violências corriqueiras

Falar de um assunto corriqueiro não sei se é bom por que me parecem aquelas velhas histórias repetitivas, mas que vivemos nos debatendo com eles pelas ruas todos os dias, isto é uma verdade. Será que ninguém nunca enfrentou uma situação semelhante? Pois bem, na semana passada quando fui ao banco verificar meu saldo e realizar algumas transferências, deparei-me com uma cena lamentável e que me deixou revoltado, pelo desrespeito e falta de sensibilidade humana. Primeiro quero dizer que aquelas portas giratórias, instaladas em bancos para trazerem segurança aos cliente e ao próprio banco é uma piada de mau gosto. Você tem que se desfazer de todos os objetos de metal que carrega consigo, inclusive platinas de cirurgias reparatórias, próteses dentarias, D.I.Us, se puder tirar é claro, para poder passar enquanto todos te olham como se você fosse um marginal pronto à assaltar o banco. Segurança, ledo engano! Uma vez fiquei preso em uma delas e só depois, por muito custo foi liberada para que eu passasse. Já na fila do caixa, o senhor que passara na minha frente deu um sorrisinho irônico e mostrou-me a arma que carregava na cintura e passou no detector de metais sem maiores restrições. Mas voltando à semana passada, já estava dentro do banco esperando um dos caixas eletrônicos se desocuparem, quando percebi uma senhora idosa tentando entrar e sendo barrada na porta giratória que trancava cada vez que ela forçava a sua entrada. O segurança do outro lado olhava-a com desprezo e dizia-lhe para deixar sua bolsa num nicho transparente de objetos, sem que ela pudesse ouvi-lo. Repetia varias vezes enquanto ela forçava a porta e fazia sinais de que não conseguia ouvi-lo. Ele provavelmente também desconhecia que vidros diminuem a acustica e repetia sempre a mesma frase. Depois de varias tentativas de mimicas e monólogos incompreensíveis ele resolveu abrir a porta, a contra gosto e resmungando: Além de velha é surda!
Comentei com uma jovem senhora que estava ao meu lado, sobre a violência assistida e fiquei pensando quando tempo ainda falta, para que eu seja tratado daquela maneira absurda e desrespeitosa como foi tratada aquela idosa.

O porco assado

Acordei agitado e então lembrei do sonho:
Vistava amigos no interior, do qual conhecia-os somente do sonho. Sentados em volta de um forno de barro, assavam um enorme porco para festejarem minha chegada na fazenda. Estávamos entre oito pessoas e conversávamos sobre coisas banais, mas oque chamou-me a atenção e achei estranho é que assavam o animal vivo e sem que tirassem suas vísceras. Quando se agitava sobre o braseiro por causa do calor que lhe queimava o corpo, sua dona lhe fazia um carinho para que se acalmasse e aceitasse seu destino final. Seus olhos se movimentavam e algumas vezes pareciam ser doces e inocentes a procura de sua dona. Com medo de toda aquela situação estranha, algumas vezes corria até a porta enquanto alguem comentava dando gargalhadas: Esta gente da cidade tem medo de tudo, até da própria comida!

Discutir relação

Andei me perguntando por que discutir relação dói tanto? E quando digo que dói é por que dói mesmo! Eu mesmo fico arredio quando tenho que discutir. Um numero bastante elevado de pessoas fogem deste tema como o diabo foge da cruz. O gênero masculino então, nem se fala, alegam que é perda de tempo, que a o invés de ajudar prejudica mais ainda e ai se vai... A verdade é que é necessário algumas vezes, se colocar os pingos nos is e certamente conversar é a melhor saída. As relações se formam não só no casamento, mas em outros âmbitos de nossa convivência afetiva, seja no trabalho, na escola, entre amigos que fizemos. Quem não se deparou com algum comentário desagradável feito por algum amigo ou colega de trabalho e partiu para o vamos tirar a limpo esta história? Eu muitas vezes!
Discutir relação não precisa ter cara de imposição, de xeque mate, de dá ou desce, claro que importa oque se fala, não se pode fugir do foco e ficar na embromação, mas em certas horas é bom dar importância também a forma com que falamos oque nos incomoda. Calma e delicadeza não faz mal a ninguém! Boa educação muito menos!
E é bom lembrar que se discutir relação é algum tipo de jogo dos tempos modernos, vale a pena também ressaltar que as partes envolvidas sempre saem ganhando, não importa se casados, amigos, ou colegas de trabalho.


Insigth

Me pego algumas vezes pensando nas contas para pagar, nos consertos que tenho de fazer, as ligações que não retornei, as visitas que prorroguei, as senhas que esqueci e antes que tudo vire um colapso total em minha vida estabeleço regras de solução que nem sempre as cumpro por que também termino por esquece-las. O jeito é ir vivendo conforme é possível viver, sem culpas, sem traumas e procurando sem estresse uma forma mais ligth de solucionar essas situações incomodas. Fico pensando que os traumas de hoje, podem ser o resultado das coisas mal resolvidas de ontem, como também sei que nossas métodos de uma perspectiva melhor as vezes são ineficientes e necessitam de um novo insigth para serem solucionadas com tranqüilidade e bom humor.

22/07/2008

Quando Mariana passava na rua, Paulo assoviava suas canções favoritas. Mesmo fingindo indiferença, ela sabia que era para chamar-lhe atenção. Mantinha o rosto sereno sem olhar para ele assustada com o que pudesse acontecer. Um dia trocou de caminho para ver o que acontecia, quando voltou a passar por ele, percebeu que trocara de repertório.

O vendedor de mapas

A caneta ficava sempre no mesmo lugar, perdida entre papeis com anotações, rascunhos, recortes de jornais dentro da gaveta. As vezes algum livro também era colocado ali para ser lido com paciência, quando pudesse driblar a falta de tempo, o cansaço. Os encontros com Artur da Távola, Nietzche e Clarice Lispector eram curtos e suas caminhadas longas. De manhã a rotina de sempre o deixava mais forte, mais esperançoso por melhores dias. Enrolava seus mapas e saia cedo em busca do sustento, da força que sempre o fazia retornar ainda mais esperançoso e talvez feliz.

PINTURA TRAGICA

Era cedo da manhã quando passei e vi o velho e conhecido mendigo, que me pede cigarros, sentado no meio fio brincando com uma pomba morta. Olhei com curiosidade e então disse-me que ela caíra morta em pleno voo, cansada de voar. Quando voltei para casa fiz outro percurso e encontrei mais algumas delas, caídas sobre as calçadas, entre o meio fio e a rua, boiando sobre as poças de chuva. Eram mais de seis, parecendo uma pintura trágica e triste. Por aqui, onde eu moro, é cheio delas, ocupam telhados e praças, sem fazer muito ruído. Observam a mim e os vizinhos, curiosas nas janelas entre abertas do apartamento, enquanto toco meus dias com alguma pressa. Elas parecem estar sempre pelos cantos, incansáveis, ousadas, quase estáticas, como uma outra pintura que vi.

Renascer...Recomeçar?

Não lembro a o certo o nome e o seu autor, mas o filme que assisti ontem a tarde, conta a história de uma familia; Particularmente a de uma senhora idosa que sai com o marido para visitarem um dos filhos que está de aniversário e no dia seguinte, após a comemoração, brindes e lembranças do passado o marido morre de um ataque cardíaco deixando-a completamente sem rumo e despreparada emocionalmente para continuar só. Passa então a viver com os filhos temporariamente até refazer-se de seu trauma e é jogada de um lado para o outro como um estorvo. Um filho extremamente materialista, ocupado em ganhar dinheiro, frio e dissociado dos laços familiares e uma filha insegura e desequilibrada que não consegue se firmar como escritora de peças de teatro e mantém um tumultuado relacionamento amoroso com um jovem homem que trabalha como construtor na casa em reforma. O filme cresce, quando num encontro de idosos em que a filha esta presente a velha senhora declara não ter sido uma boa mãe e muitas vezes ter tido o desejo de abandona-los ou cala-los para sempre em função da pressão que sofria como progenitora. Cresce mais ainda, quando a filha problemática pede à sua mãe para aproximar-se de seu amante para descobrir seus planos com relação a ela, e e a velha senhora ao tentar, se envolve com o amante da filha passando a relacionar-se sexualmente com ele. Neste momento surgem reflexões sobre as modificações que o corpo sofre com o passar dos anos, impasses sociais e morais relacionados a velhice e a diferença de idades. Seu caso com o jovem construtor é descoberto, quando a filha mexendo em seus pertences, descobre desenhos feitos por ela do corpo nú de seu amante e de cenas de sexo oral, abalando e revoltando toda a familia.
Mais do que a trama e enfoques que centralizam as divergências de cunho moral, onde bem sabemos que velhos são excluídos, abandonados, subestimados, algumas vezes massacrados e proibidos de amar e ter uma vida sexual ativa, o filme é um grito de socorro e por que não dizer um alerta, uma declaração óbvia de que o corpo envelhece mas a alma não, e que decididamente nos mantemos emocionalmente, latentes, receptivos a tudo, por toda a vida, inclusive à amar, ter desejos e que para a velhice ninguém está preparado.
No final, deixando a familia, sua casa, o jovem amante para traz, ela sai com alguns pertences em baixo do braço em busca de si mesma, talvez de sua felicidade.

Filme: Recomeçar/ The Motter
Inglaterra/ Lançamento:2003
Diretor: Roger Miccheell do filme:
"Um lugar chamado Notting Hill".

Atores: Daniel Graig e Anne Reid.

Relaxe

Mesmo que você esteja tenso por não encontrar respostas ou com a alma angustiada por não achar caminhos, haverá momentos em que a vida sutilmente te mostrará saídas, provando que tudo pode ser fugaz e passageiro como você. Por isto meu amigo tome cuidado e não leve tudo tão a sério...Como diz a letra da musica Romance, não vai ter graça o dia que baterem à porta e você não estiver la para abri-la. As dúvidas nos instigam e estimulam o espírito a crescer com ela, as certezas não...


Eu aprendi desde muito cedo que muito se ganha com as perdas, que também crescemos com nossas dores, e que devemos ouvir nosso coração mas sem subestimar a razão.

Chardonnay & Porre

Ontem resolvemos aprontar. Depois de uma deliciosa garrafa de chardonnay da reserva Miolo, tudo parecia ainda insuficiente, faltava mais, muito mais... A noite prometia emoções, bate-papos, amigos gargalhando, mais vinho, para dividir aquele momento imaginado... Fomos atrás e encontramos. Tiramos amigos da cama de pijama, recordamos viagens, planejamos outras sob o clima de muita alegria.. No final? Um porre daqueles, acompanhado de tonturas, nauzeas, delirios e tudo que uma embriaguês "daquelas" pode causar. Dormimos no chão sobre sobre a cama deliciosamente improvisada e tudo valeu muito apena, apesar do mal estar no outro dia.

Projetos & Projetos

Então desviei meus olhos em direção ao morro coberto de mato onde os pássaros cantavam sem que eu pudesse vê-los e o sol estendia seus braços de luz entre as arvores, os galhos, os telhados das casas. Procurei a terceira Figueira e não achei... Será que ficou escondida entre as novas habitações construídas? Pensei então que ali projetei meu futuro, pensei também que projetos podem ser traços, rabiscos, desenhos matemáticos ou sonhos que são planejados no papel ou na cabeça, mas nem sempre executados.

Conjunto Z

Meu professor de matemática um dia explicando-me sobre os números inteiros relativos, disse-me que se tratava de um conjunto matemático formado por números positivos e negativos mais o zero (neutro) numa infinita linha imaginaria. Isto significava segundo ele, que dois é maior que um e menor que três, no entanto, tratando-se de números negativos, dois é menor que um e maior que três. Generalizando, mil negativo é menor que um positivo e assim sucessivamente. Fiquei horas tentando entender aquela explicação e depois até fingi que a aceitava. Hoje tenho certa dificuldade para entender certas coisas relativas da vida embora as aceite. Deve ser por culpa desta aula de matemática que nunca entendi direito.

Passeio pelo Bric

Quando abri a janelas de meu quarto, a manhã prometia um belo dia de sol. E realmente cumpriu-se. Espreguicei-me, tomei meu banho e então a lembrança abençoada: Férias? Parecia inacreditável, mas era verdade. São apenas quinze dias sem prévios planos, sem dinheiro, mas já dá pra desopilar, descarregar, limpar um pouquinho a cabeça do stress mental dos últimos meses de plantões corridos, agitação, adrenalina, paradas cardíacas, atropelamentos, motociclistas caído ao solo, surtos psicóticos e daí se vão... Peguei meu carro e fui dar um passeio no “Bric da Redenção”, como há muito tempo não fazia. Encontrei entre alguns rostos conhecidos uma porção de desconhecidos, alguma manifestação política, que sempre se encontra aonde quer que vá. Entregas de panfletos do PT, do P Sol, encontros de grupos não governamentais em favor do meio ambiente, da prevenção do câncer de mama, dos homossexuais, adoção de filhotes de gatos e cachorros vira-latas, por que os de raça são vendidos, homem e mulher-estátua, palhaços gigantes e coloridos, som de violão misturado com gaita de boca, cantores nordestinos interpretando musicas Zé Ramalho, dança e cantorias indígenas, a classe média desfilando cuias de chimarão e animaizinhos de estimação perfumados, filas quilométricas na banca do acarajé, do suco natural sem açúcar... Visitei minhas preferidas, as de pintura a óleo e moveis antigos, andei mais um pouco pelo parque almoçei um quibe com suco de abacaxi entre pequenos empurrões e com -licenças educados e fui-me embora ver o sol no Guaiba.

Numero do azar

Meu colega enquanto dirigia a ambulância ficou estranhamente calado como se estivesse fazendo alguma reflexão e só depois de alguns minutos me confidenciou seu pouco entusiasmo nos ultimos meses de trabalhar em nosso serviço. Referia-se a morte de outros colegas num período curto de tempo. Alguns de morte natural, outros violentamente, por assassinato e acidente de transito.
Disse-me que se sentia como um dia eu descrevi e não mais lembrava: Numa pequena sala de estar com outras pessoas conhecidas, segurando na mão uma ficha numerada e que a todo o momento alguém abria a porta e anunciava um numero sorteado. Todos olhavam para suas fichas apreensivos, desconfortaveis. Então alguém cruzava pela porta de cabeça baixa, triste de seu fim, com o maldito numero na mão. O numero era o chamado para a morte do qual todos ali seriam sorteados sem exceção.

E'mail

Recebi um e'mail de uma amiga onde perguntava-me se eu tinha virado pássaro ou disco-voador...Via-me algumas vezes rapidamente voando pelos corredores do hospital, (este foi o termo usado), sem conseguir falar comigo. Perguntou-me ainda se eu continuava apaixonado, que ouviu de alguém que quando se está apaixonado, perdemos a cabeça e ficamos mais leves, se eu já tinha perdido a minha. Respondi-lhe constrangido pelo tempo que não nos falamos, que nem sempre as paixões nos deixam leves, pássaros e disco-voadores são seres misteriosos que pouco se sabe sobre eles e que todos nós temos um pouco. Quanto a perder a cabeça: Esta já a perdi faz tempo!..

Tadeu

Cruzei na rua ontem, por Tadeu Manssus sem que ele percebesse minha presença. Caminhava firme, com passos largos e elegantes como os de um atleta. Magro, cabelos brancos e sem aparência de doente. Tadeu e o segundo filho de um grupo de oito irmãos, cujo alguns mais jovens já se foram. Disse-me certa vez que seu segredo de longevidade era, não trabalhar, comer pouco, caminhar muito e fazer sexo quando o corpo pedir e o outro aceitar.

O menino e a ambulância

A ambulância deslocou-se rápido a o local do acidente. Quando chegou com a sirene meio falha, o menino assustado, disse a sua mãe que a ambulância estava doente. Todos então, riram enquanto atendíamos o homem atropelado!

Laços!

Ando com saudades de muitas coisas; Do peixe assado do Beto, da galinhada noturna na casa de dona Rita, das balistecas e foundes na Teresinha, das comidas diferentes do Rogério, dos papos cabeça de madrugada com a Alba, dos planos de viagem com a Jacque que nunca saíram, das bebidas misturadas da Didi, do papo simples e engraçado com o Abdil regado a vinho barato, dos churrascos em familia na casa da Borba, dos resmungos do Fernando, das gargalhadas do meu filho na seção de humor à tarde na tv, dos pagodes empolgados na casa da Taís. Muita gente não tenho visto por desculpas da falta de tempo, do excesso de trabalho, do cansaço diário. Nenhum motivo deve impedir que se mantenha esses laços tão importantes e fundamentais em nossa vida, vivos.

A escolha certa!

Pela manhã, não foi o relógio biológico que me despertou, mas o telefone celular que mostrava em seu visor a palavra "Privado"e a fréstinha da janela do quarto que prenunciava um belo dia de sol. Mesmo desconfiando de quem pudesse ser a ligação, atendi sem restrições. Estava certo! Era do meu serviço, convidando-me para fazer um plantão extra, o que me recusei por que ja estou no limite de cotas deste mês e também o excesso de plantão extras só me deixa cansado além da conta e engorda os cofres da receita federal. Então tomei meu banho, adiantei meu almoço e fui caminhar na praça. Levei minha agenda de anotações que nem abri e uma esteira onde acomodei-me sob a sombra de uma enorme Paineira de caule grosso e galhos espaçosos que serviam de palco para a fuzarca dos passarinhos. A grama estava aparada e podia-se sentir o cheiro de terra úmida saindo do chão. O sol entrava manso entre as folhas das arvores completando o clima perfeito. Um reduzido numero de pessoas caminhavam por ali naquela hora e isto me provocava a sensação de estar em outro mundo, que me trazia extremo conforto e bem estar. O ruido de alguns veículos que passavam eram tão ínfimos que eu podia contemplar ali, relaxado, toda a sinfonia da natureza à minha disposição, cercando-me por todos os lados. A natureza certamente sobrepõe-se sem limites a tudo e a todos sem exceção. Voltei para casa certo de que hoje, fiz a escolha certa.
Voce está convidado á conhece-la!

O menino sem dente

O menino cruzou por mim com um olhar firme, decidido e um dente protegido numa das mãos estendida. Disse-me que jogaria sobre o telhado para que Deus lhe mandasse um outro bem depressa. Lembrei de imediato que eu também fazia isto quando era criança.

Jesus de resina

Ainda menino, ganhei de minha avó a imagem de Jesus Cristo em resina amarela, do qual muito orei até ficar adulto e achar que não precisava mais dele. Mais tarde dei-o de presente para minha mãe que o colocou em seu santuário. Minha mãe deu-o para meu filho, que deixou-o em seu quarto e não sei o que fará depois...

O filhote

A mulher se apaixonou imediatamente quando viu o filhote deitado entre as coxas quentes de sua mãe numa exposição canina no chopin . Pelos dourados, perninhas curtas, rabinho cotó e aqueles olhinhos marotos, curiosos que pareciam de uma criança inocente! Quis abraço-lo e beija-lo, era o filho que não conseguiu ter. O marido puxou-a pelo braço dizendo entre dentes: Nem pensar!..

O casal Gay

Eu estava sentado no Café do chopin, quando os dois passaram, um com o braço sobre o ombro do outro, mostrando sem nenhum pudor uma relação que sugeria ser mais que uma simples amizade. Desviavam das as pessoas, livres, sem se separarem fisicamente um do outro, despreocupados, despojados, admirando as vitrinas iluminadas sem aquela afetação que se espera dos gays. Não pude deixar de perceber também o sobressalto discreto dos freqüentadores educados que desviavam seus olhares na direção dos dois, sob o conhecido sorrisinho mascarado do preconceito. O vigilante parado de pé próximo da escadaria, até passou disfarçadamente a mão em seu pênis, enquanto esboçava um ar de desaprovação, reforçando para si mesmo sua masculidade. Neste sábado, mais do que tomar uma taça de café expresso, na praça de alimentação do chopin, recebi uma lição rápida e um grande aprendizado, onde percebi todas as nuances cínicas de comportamento moral de uma sociedade hipócrita e escrupulosa, que finge ser moderna somente da boca para fora, que ainda engatinham na sua educada ignorância. Quanto a o casal gay? Só me restou aplaudi-los.
Leia também neste blog: *Exotismo e Obscuridade

Salvador


Salvador então perplexo com todos aqueles sentimentos, buscou sua pedra mágica e colocou-a na altura dos olhos para que lhe desse respostas, lhe indicasse caminhos. Procurava um sinal, um reflexo de luz diferente que lhe tirasse a dúvida, lhe convencesse da verdade, do caminho a seguir. Olhou então para o quadro onde o homem saia do ovo-placenta cinza e ainda assim não viu respostas. Resignado e em silencio, pensou que nem todo o dia era dia de magia. Guardou sua pedra e recolheu-se sob as cobertas quentes de sua cama e a ignorância de um mortal.

Salvador e a pedra

Salvador ganhou da bruxa sua pedra mágica quando ainda era pequeno. No principio não sabia o que fazer com ela, apenas admirava seu brilho, sua cor de um azul incomparável, sua textura lisa, sua resistência frágil, mas aos poucos foi percebendo que o brilho da pedra se modificava quando algo lhe atormentava, quando alguma dúvida lhe açoitava a mente. Ainda duvidoso de seus poderes, guardava-a numa gaveta e vivia sua vida aos tropeços, ora insatisfeito, ora feliz, ora resignado...

Salvador e o sonho

Salvador adormeceu e sonhou que tinha em suas mãos um ovo de galinha do qual quebrava dentro de uma tigela de barro. Sabia que não gostava de ter sonhos, por que estes lhe transportavam para mundos distantes e incomuns, onde era outra pessoa, com novas verdades, outros poderes, outra aparência, forte, sem medos, corajoso, viril, capaz de assumir lutas onde sempre saia-se vencedor. Na cama se agitava violentamente tentando retroceder do sonho, impedir a divisão dos dois seres, um que dormia ali e flutuava abandonando o corpo, que navegava em fantasias mágicas e o outro, que ficava preso ao corpo observando tudo em volta sem muitas vezes ter o que fazer. Tentava acordar-se buscando lembranças do mundo real.
Fazia uma força descomunal, até sentir sua matéria tremer para retornar a o consciente, acordar. Algumas vezes até conseguia. No outro dia, quando despertou, ainda cansado, lembrou assustado daquela luta e de suas aventuras no outro mundo, temendo chegar o momento que não mais pudesse retornar a sua vida imperfeita...

Salvador e a bruxa

A bruxa buscava Salvador, quando este dormia, cansado, quase hipnotizado das rotinas de seus dias normais. Esperava o estagio certo de sua entrega ao sono e então invadia-o sem permissão, induzindo-o a sonhos estranhos, dividindo-o em dois seres; O que segurava sua mão para passeios mágicos e o que ficava na espreita cuidando para que o corpo não se fosse. Voavam sobre telhados e causavam transformações, assumiam lutas e desvendavam mistérios incompreensíveis. Ela sabia que ele era um dos escolhidos e precisava inicia-lo mesmo sabendo de sua resistência, de seu apego as situações comuns de sua paralela vida. Um dia, presenteou-o com uma pedra azul, que dizia ser magia, incomum, oferecida exclusivamente para ele, que era também incomum, na esperança de conduzi-lo a o que ela achava ser inevitável...

A maré

O mar invadiu de repente o calçadão decorado, onde as pessoas caminhavam e dali podiam admirar toda a sua grandeza, o seu poder e beleza. Corroeu por baixo, formando crateras, túneis, expondo raízes; Lambeu por cima roubando os ladrilhos portugueses que enfeitavam o passeio, manchando muros, arrancando flores, arrebentando degraus. Num dia beleza e no outro total destruição. As pessoas atônitas, e com supostas respostas, foram embora arriscando motivos para todo aquele estrago impiedoso.

*Calçadão da praia de Caiobá-PR

Rosito

Rosito era irmão de Joca, marido de Marta, pai de Januaria e morava na Cidade Baixa. Era Jornalista e deficiente físico desde que nasceu. Veraneava no Siriú e cantarolava Caetano Velososo e Tom Zé enquanto molhava os pés na espuma do mar. Disse-me uma vez que sua deficiência incomodava as pessoas por que sua postura dava a impressão de que estava embriagado. Pessoa sensível, culta e sofrida. Tivemos uma amizade intensa e rápida por que nossas vidas mudaram de curso. Muitos anos depois, quando entrei na UTI do Pronto Socorro onde trabalho, encontrei-o deitada em uma cama, com aparelhos na boca. A enfermeira disse-me que tinha sido atropelado. Dias depois quando retornei à UTI, encontrei sua cama ocupada por outro paciente.

Namoro e promessas

Algumas vezes eu ia até o Escaler do Toninho beber alguma coisa e ver pessoas. Conhecia Lauro e Elen de lá:
Lauro que era arquiteto conheceu Elen que era psicóloga, no circo "Escaler Voador". Ele usava batas largas de algodão crú e ela saias compridas de crepe indiano. Namoram-se e apaixoram-se. Lauro prometeu construir uma bela casa para eles. Elen prometeu cura-lo desta doença.

Feitiço

Alguns dias pela manhã tem sido assim: Levantar cedo por força do habito, banho quente, café preto passado direto na caneca, pãozinho francês aquecido no microondas, notbook sobre a mesa da cozinha. Tem dias que amanhece com sol e outros meio nublado, então corro até o quarto para cobri-la melhor, observar seu descanso a distancia, seu sono profundo. Não quero acorda-la, somente observar-la sem fazer ruídos, como um bruxo que rouba traços da alma sem querer mostrar-se.

Maria Conceição

Quando Conceição se turbinava fumando seus (baseados), despia-se por completo ignorando eu e o resto dos moradores. Caminhava pela república completamente solta, nua e despreocupada com quem estivesse a sua volta. Os garotos que moravam nas redondezas competiam entre si, esperando vê-la passar por traz das largas janelas de madeira enquanto cantarolava musicas de Janis Joplin. Conceição namorou Carlos, depois Lídio. Foi mais tarde fazer medicina numa cidade do interior e nunca mais a vi.

Marisa

Marisa e eu desempregados, passávamos as noites inteiras comendo polenta com caldo Knnor e café preto. Falávamos sobre nossas decepções amorosas, nossos medos e fragilidades. As vezes nem dormíamos. Fazíamos de nossos encontros uma psicoterapia de queixas, silencio, gargalhadas e leitura de cartas um dia recebida, um dia escrita e nunca enviadas. Foram dias de tristeza e pobreza passados juntos, ancorados em uma forte amizade e superados pelo tempo. Hoje quando nos encontramos na rua ou na internet, lembramos com certa saudades esses tempos difíceis, mas vividos com intensidade e sentidos como vitória.

AS ROSAS

Enquanto ela caminhava pelos corredores do supermercado, eu escapei de seus olhos e fui até a floricultura encomendar rosas. Escolhi as mais belas e diferentes do balcão. 
Disfarçava de vez em quando para que ela não percebesse minha intenção. Quando as entreguei notei lágrimas de felicidade em seus olhos. Os clientes que passavam surpreendiam-se com as lágrimas e as rosas lilases nunca vistas antes.

O gato


O gato passeia pelo muro do edifico ao lado. Olhar de felino Siamês de um profundo azul que esconde segredos. Sempre nos vigiamos desconfiados. Eu da minha janela que se abre silenciosa e ele de sua rota marcada. Temos missões secretas que jamais confiaremos um a o outro, talvez nem para nós mesmo, animais urbanos.

Enquanto o resgate não chega

Pela manhã quando cheguei em casa após um plantão de 24 horas, não quis deitar para dormir, tomei um banho e sai a procura de gente. Tinha urgência de ver pessoas, que considero amigas. Ver seus rostos, observar seus gestos, ouvir suas vozes. Quando as encontrei, percebi mudanças não tão significativas em algumas delas, mudanças provocadas talvez por suas vidas borradas de pequenos problemas, insatisfações pessoais, estresse do trabalho e algumas pequenas alegrias ditas comum, previamente esperadas... Rimos, bebemos café e até contamos piadas com pouca graça. Voltei para casa menos tenso, e com a sensação de sermos náufragos de um mesmo barco encalhado e na expectativa e esperança de um resgate que demora a chegar, mas que temos um ao outro para nos aliviar enquanto o socorro não chega.

DOLORES DURAN

Eu amava Dolores Duran e tudo que cantava sem nunca te-la conhecido. Imaginava uma mulher com um vestido comportado como era os da época, cantando debruçada sobre uma janela, expondo o seu olhar triste, melancólico, para quem passava na rua.

Depois, por algum tempo, confundia-a com Cacilda Becker a dama do teatro. Somente depois quando esta paixão tendeu a aumentar é que fui em busca de seu rosto estampado em algumas revistas da época. Minha mãe, também fã da cantora, ensaiava dentro de casa, algumas de suas musicas temperando minha sensibilidade musical de criança e seu cansaço pela labuta da vida .

Ione

Ione visitava minha mãe com freqüência e fazia-lhe confidencias com intervalos de lágrimas. Lembro-me de sua tez altiva, e o aroma de seu perfume francês, seus sapatos coloridos combinando com a bolsa elegante, unhas vermelhas e lábios do mesmo ton. Um dia confessou estar grávida, disse que não poderia ter mais um, sacrificar sua vida e a do marido que amava. Precisava resolver o problema inesperado, colocar as gotas numa clinica clandestina oferecida por uma colega do trabalho. Depois disto, nunca mais a vimos, pois foi a ultima coisa que fez.
"Lembrei deste fato ao visitar uma pagina da Internet onde havia uma foto de Eliana Pitman, do qual Ione se parecia".

Beatriz, eu e Vivaldi

De tarde ouvi Vivaldi e suas: Quatro estações enquanto degustava uma taça gigante de cabernet Sauvignon sobre a cama. Lembrei-me que precisava ir até o supermercado pois faltava-me cebolas, batatas e tomates em minha despensa. Pensei que faltava-me também outras coisas, mas não as encontraria em supermercados. A alguns anos a traz, ouvia este mesmo concerto deitado na cama sobre uma colcha de retalhos na casa de Beatriz. Na casa de madeira onde se ouvia também o riacho correr, os pássaros cantarem. Ficávamos longos minutos deitados divagando sobre a vida, viajando dentro dos acordes delicados. Muitos anos se passaram e Vivaldi ainda provoca-me sonhos, Beatriz eu não sei.

Desfecho...em cima

Quando soube, hoje, da morte violenta de meu colega de trabalho num acidente de transito em seu retorno para casa, fiquei imediatamente pensando no desfecho de nossas vidas. Vida que vivemos, que fizemos planos, que amamos, que desperdiçamos, que ora cuidamos, que expomos e que não pensamos que no outro dia podemos perde-la.

Pés sujos, pipa rasgada e lagimas.

Soube da morte de Catatau por outra colega de trabalho, pela manhã, durante um atendimento à um senhor de 53 anos que havia feito uma parada cardíaca em seu domicilio. Enquanto realizávamos manobras de ressuscitação com o paciente deitado a o chão, observava um menino de 9 a 10 anos que se aproximava da porta com o olhar assustado e curioso. Algumas vezes pedíamos para que ele saísse dali, mas ele driblava nossa atenção e voltava a observar tudo, escondido entre frestas espalhadas pela casa de madeira. Quando já por fim, exaustos em nossas tentativas, e  determinado que mais nada poderia ser feito, observei o garoto sentado sobre o muro do pátio, pés encardidos, cabeça baixa olhando para o chão, com uma pipa rasgada entre as mãos e seus olhinhos marejados de lagrimas.

Inês Lanmberthini

Inês me visitou ontem, as pressas, como sempre faz. A principio parecia alegre, bem dispostas logo que chegou, mas aos poucos, a medida que falava sobre sua vida, seus anseios, seus olhos foram perdendo o brilho e uma sombra de tristeza invadiu seu rosto antes iluminado entre um sorriso verdadeiro e outro de disfarce. Percebi sua necessidade de obter respostas das quais não me sentia apto à lhe dar, duvidas em mudar uma vida que acreditava ser feliz, fragilizada por um amor que não parece ser suficiente, perdida em uma paixão que talvez tenha acabado antes mesmo de ter iniciado. Quando foi embora, as pressas, do mesmo jeito com que chegou, me recolhi e fiquei pensando com alguma tristeza do que ela precisava, o que procurava. Então rezei do meu geito para que ela se ilumine e encontre por si só, suas próprias respostas.
"O tempo nos transformará, nos deformará... Este mesmo tempo que nos dá respostas, nos cura, nos mata!"

26/06/2008

O dia hoje, pareceu nascer diferente dos outros dias, feio, cinza, com aquela atmosfera pesada, sem vento, sem nuvens desenhadas no céu. Arvores não dançavam a sinfonia dos ventos, tudo parecendo cena montada de um cinema mudo, fora de ritmo e da ordem natural. As pessoas caminhavam pelas ruas com um ar de aborrecimento, meio sem vida, desanimadas como se nada pudessem fazer para melhorar suas vidas, seu mundo, o clima triste. Depois quando anoiteceu, a chuva começou a cair persistente e tudo ficou deserto, sem movimento com apenas alguns reflexos de luz sobre o asfalto negro.

24/06/2008

O amor é libertário. Não se pode pensar que ele não disponibilize espaços individuais necessários, que ele não pactue confiabilidade e cumplicidade mutua, que ele não regule o equilíbrio nas diferenças que se contrapõe nas relações.
Amar deve ser soltura da alma regada ao prazer da convivência, do desejo. Não consigo conceber um amor que aprisione sob o julgo dos ciúmes, das desconfianças, das insatisfações pessoais somadas e não resolvidas. Por isto amar exige cuidada atenção, paciência e respeito às suas dualidades.

Acho o Eixo

Acontece que se algo esta errado comigo, incomodando-me, tirando-me da rota, trato de reverter imediatamente a situação. Esforço-me para encontrar novamente o eixo que perdi. Se não o encontro, devo pensar e mudar de rota! Mas a rota deve ser uma avenida com palmeiras iluminada pela lua e perfume de rosas lilás como as que entreguei dia 30 de maio em forma de carinho! Por tanto acho o eixo sem Oscho.

Borba me ligou

Minha mãe me telefonou hoje a tarde durante o plantão. Queria saber de mim, ouvir minha voz, saber se já tinha me curado da gripe, se estava me protegendo das noites frias, deste inverno que legalmente ainda não entrou, mas que como dizem os gaúchos: "Já está fazendo um frio de renguear cusco. Lembrou-me entre risos que somos uma familia e por isto, temos de nos ver com freqüência, contar sobre nossos dias, nossas alegrias e também nossas tristezas.

Experiencias do Campo

Quando meu pai foi trabalhar numa fazenda no interior do estado toda minha familia o acompanhou, menos eu. Minha mãe era a cozinheira oficial do grupo de funcionários. Eu fiquei em Porto Alegre com minha tia para não perder o ano letivo. Contava nos dedos o termino das aula para poder estar com eles.
Numa destas férias, quando fui visita-los, eu rolava pelo campo, numa destas brincadeiras enlouquecidas de criança, quando me senti tonto, nauzeado, dor de cabeça, mal estar geral sem saber o que estava me acontecendo. Fui levado para dentro de casa, termometro debaixo do braço, garganta dolorida, não conseguia engolir a saliva.
Quando o estranho médico chegou numa carroça, da vila vizinha, me examinou e sorriu dizendo aliviado: -Doença de criança, cachumba!
Este período, marcou muito minha vida, pois lembro de cada detalhe que vivenciei, das pessoas, do pomar, das galinhas que viviam soltas e dormiam nas arvores e voavam sobre nós a o amanhecer, do deposito de sal que ficava ao lado de nossa casa, o açude fundo onde minha irmã tentou afogar o menino travesso que morava do lado, o carneiro que perseguia minha mãe grávida. A guerra de caquis, os cavalos selvagens, o milho assado no fogão de campanha, os passeios de charrete, o funcionário albino e analfabeto, que não enchergava direito. Os sonhos, os fantasmas, o ruido do vento nas arvores, a triste beleza do entardecer, a simplicidade de tudo. Acho que todos deveriam alguma vez na vida, sentirem a experiência de viver no campo, numa fazenda no interior. Ao menos uma única vez em suas vidas.

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...