Humor, coragem e vícios...



Gosto do senso de humor do Paulo Santana e da forma simples e direta com que ele escreve suas cronicas no jornal Z.H e em seu blog Clic-RBS, embora sua expressão em alguns momentos me passe a sensação de estar diante de um desses personagens mafiosos e mal humorado do filme 'O Poderoso Chefão'. Algumas vezes que o encontrei na rua sempre tenho esta impressão que me põe pouco a vontade e de pé atrás, mas que logo se desfaz quando volto a ler seus textos. Mas quem vê cara, não vê coração e hoje lendo no seu blog o post intitulado "O médico", que achei muito engraçado e humorado como outras coisas que já li de sua autoria como o "Beber no Bico" e que é a descrição corajosa de algumas dependências (vícios) que adquirimos no decorrer da vida e que são tão difíceis de serem abandonados. Santana é um homem da mídia e corajoso por não ter medo de expor publicamente suas fraquezas diante do publico leitor, (admitindo com conciencia e bom humor, os danos causados por estas dependencias e sua dificuldade de abandona-las em nome do prazer), o que hoje não está engajado nos conceitos do politicamente correto. Transcrevo aqui para o blog o texto escrito e publicado por Paulo Santana no dia 22/04, mesmo correndo o risco de ser advertido..

O Guerrinha, nosso companheiro aqui da RBS como comentarista esportivo, conta que é uma tortura ir ao médico para cuidar da sua saúde. Ele fica diante do médico esperando pelo pior: – O senhor fuma? – Fumo. – O senhor caminha? – Não caminho. – Já temos duas desvantagens. Por que o senhor não caminha? – Porque tenho um carro. – Mas tem de caminhar. – Doutor, o senhor já passou ali na Avenida Ipiranga? O senhor, passando por ali, vai ver milhares de carros, em fila, nas duas pistas. Se eu for caminhar, vou chegar atrasado em todos os lugares a que tenho de ir. Todos aqueles carros vão passar na minha frente e eu vou chegar atrasado aos meus compromissos. – Mas o senhor vai ter de caminhar nas horas vagas. – Eu não tenho horas vagas. – Eu vi aqui o exame da sua pressão arterial. Está tudo bem. Mas eu vou lhe encaminhar para o cardiologista. – Mas se o senhor está dizendo que está tudo bem, para que me encaminhar para o cardiologista?
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Então o Guerrinha se dirige até o cardiologista: – Estou vendo aqui seus exames, parece que está tudo bem. Mas vou lhe encaminhar para uma esteira. – Mas se está tudo bem, por que o senhor quer me encaminhar para uma esteira? – É preciso verificar tudo. – Mas, se está tudo bem e continuam procedendo a exames, está na cara que daqui a pouco vão encontrar alguma coisa. – Mas esta é a nossa obrigação, checar tudo para que não reste nenhuma dúvida. E assim vai o Guerrinha na romaria dos exames, tenso à espera dos resultados.
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Com o Lauro Quadros dá-se diferente: ele é que solicita os exames periodicamente. No mínimo, de 30 em 30 dias comparece ao consultório do Dr. Sarmento Barata, o urologista proverbial de tantas gerações. E o Lauro Quadros se submete paciente e dócil ao exame de toque retal do Dr. Barata. O Lauro ouviu dizer que todo homem, algum dia, depois dos 50 anos, terá câncer de próstata. Então, vai aos exames para perscrutar se chegou a sua vez. O doutor Sarmento Barata diz ao Lauro que não há nada com a sua próstata. Mas dali a 30 dias o Lauro vai lá de novo para submeter-se ao dedo piedoso do Dr. Barata.
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Não contente com isso, o Lauro marca todos os meses consulta com o proctologista. De novo, o Lauro naquela posição incômoda, submetendo-se ao dedo e aos exames do proctologista João Mussnich. Não deram nada os exames, mas o Lauro não descansa dentro dos 30 próximos dias. Ele tem a convicção de que um dia o exame dará positivo.
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E, assim, tantos outros pacientes, eu entre milhares. Nos últimos anos, me submeti a incontáveis biópsias, vou lá tirar o material, algumas colheitas são cruciantes, passam-se torturantes e aflitivos cinco dias à espera do resultado, que afinal é negativo. Enquanto isso, não se dorme à noite. E isso me faz pensar que os pacientes sofrem tanto quando os resultados são positivos quanto quando são negativos. Ir ao médico causa tanta apreensão quanto ir ao mecânico: se examinar bem, alguma coisa vai aparecer.

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