TENSÃO PANDEMICA

Ando tenso neste momento e acredito que não estou só neste sentimento que me amarga os dias. A pandemia me deixa tenso, tenso com a grande quantidade de mortes comprovadas, com gente passando fome, com o isolamento social, com as politicas ineficientes e muita corrupção envolvida, com a falta de vacinas, com o custo de vida altíssimo e o congelamento compulsório de salarios  sem nenhuma proposta de reposição. 

Li hoje uma notificação de conversa na Internet, que me deixou ainda mais tenso. 
-Hã?.. As vacinas só te imunizam por um prazo de seis meses, depois tem que vacinar de novo?..
-Sim, né!.. Ninguém sabe, da sua eficácia a longo prazo!.
-Olha: Morrendo os idosos, diminui o déficit da previdência; Morrendo os doentes crônicos, diminui os gastos do SUS; Morrendo os índios, a terra fica livre para a exploração. Nada no mundo dos homens é por acaso!

Coisas assim, faz eu me sentir como um passageiro num avião, que começa  a tripidar e fazer ruídos estranhos, Dai alguém pergunta pra aeromoça o que está acontecendo, e ela responde: Calma senhor, está tudo sobre controle, estamos trabalhando nisto! Será que estou entrando na teoria da conspiração?





A HISTÓRIA DE IONE FERREIRA

Ione Ferreira era uma amiga de minha mãe; Uma mulher  charmosa, elegante, linda, negra,  que quando chegava no portão lá de casa, seu perfume de fragrância agradável, espalhava um cheiro maravilhoso pelo pátio como flor de jasmim ao anoitecer.

Até na cadeira onde sentava, carimbava aquela deliciosa fragrância, estonteante que não me saia das narinas desacostumadas aos bons cheiros da vida. Usava sapatos de salto altos, coloridos, com meias de seda, taiers de linho que pareciam ser costurados no próprio corpo. Cabelos lisos bruxados para traz, finalizando um coque bem acabado e perfeito. Boca bem delineada por um batom vermelho, porem discreto, anéis, brincos, pulseiras, colares, tudo do maior bom gosto. 

Ione não devia ser, pelo menos para mim, não se parecia com uma simples lavadeira como minha mãe, que se vestia com roupas mais simples. Tinha ares de secretaria executiva, estudada, esclarecida. Era casada com Wilson, a quem amava e tinha um casal de filhos ainda pequenos. 

Foi até a minha mãe, por que precisava se aconselhar, dividir um problema que parecia não conseguir resolver sozinha. Estava grávida e não podia ter outro filho, a situação financeira não era favorável e seu marido ainda continuava desempregado...

Neste dia, com minha mãe, houve cochichos que eu não pude escutar, nem tão pouco entender. Ione caminhava pela casa nervosa, lamentava e chorava. Falavam em dinheiro, que tudo aquilo era arriscado e também muito caro, mas que não encontrava outra solução. Minha curiosidade crescia com minha imaginação. Eu não entendia aquelas frases soltas, sem sentido, algumas palavras que nunca ouvi na vida. Tudo me parecia uma conspiração, que eu não sabia de que lado estavam os mocinhos e os bandidos.

Ione foi embora comentando que tudo daria certo. Passado alguns dias, minha mãe chorava disfarçadamente pelos cantos da casa. Acho que não podia chorar na minha frente, mães não se despedaçavam na frente dos filhos demonstrando fraqueza. Mães eram de pedra que saiam leite. Mães eram fortes e silenciosas como santas de madeira de lei. 

Quando se trocou no final da tarde, com uma roupa simples e discreta, olhos meio inchados, dizendo que Ione estava morta, eu me espremi num canto da casa tentando entender. Na verdade, passei anos sem conseguir entender!..

PERSEGUINDO LUPICINIO


É fato que eu e um amigo, ainda novinhos, saindo da menor idade, percorríamos as noite porto-alegrense em busca  do paradeiro de Lupicínio Rodrigues, que sabíamos, fazia também suas incursões  pelos botecos da cidade, dando palhinhas de seus sambas Dor de Cotovelo, com sua inseparável caixinha de fósforos. 

Andávamos de bar em bar, madrugada à dentro, até encontra-lo e ficarmos completamente hipnotizados com sua presença simpática e voz doce.  Nas noites em que não o encontrávamos por pura falta de sorte, acabávamos em outros bares, (menos ou sem nenhuma exigência com a data de nascimento registrada em nossas carteiras de identidade) para ouvir outros dois mestres da musica: Plauto Cruz e Tulio Piva, que passou a tomar o lugar de destaque no coração do meu amigo, com a criação do samba Pandeiro de Prata, que ele considerava uma obra de arte.



Nunca trocamos uma única palavra com Lupicínio, por que tínhamos consciência da distancia entre os dois mundos que nos separavam. Ele um homem maduro, vivido, poeta, com uma grande carga de experiência pessoal e cultural que pra nós era inconcebível, inimaginável qualquer dialogo entre o Céu (ele) e a Terra (nós). Mas acredito que pela nossa insistência em persegui-lo pelos bares, deve um dia ter se perguntado sobre as nossas constantes aparições nos mesmo lugares em que frequentava.

Seu Hélio, pai deste meu amigo, era um boêmio incorrigível que passou grande parte de sua vida entre o Brasil e New Orleans, cidade de raiz cultural negra como o blue-jaz, conhecia praticamente todos os donos e funcionários de bares e botecos de Porto Alegre, como o Adelai's Bar, o Chão De Estrelas - na Rua José do Patrocínio, e o Gente Da Noite - na Av. João Pessoa; sendo assim; um aceno de positivo 👍ou um alô antecipado dele, garantia nossa entrada, sem grandes burocracias e perguntas.  
Quando nos apertávamos com a comanda, colocávamos na conta dele e tudo certo.

Outro "figuraça", que encontrávamos algumas vezes nestes lugares e que com o passar do tempo foi virando aquele amigo de bar que conta suas façanhas causticas e amorosas, foi o estimado Paulo Santana que nos deixou saudosos de sua alegria. Mas isto eu conto noutro post!



O ESCALER DO TONINHO

Nestes dias de grandes tristezas e insegurança no amanhã, é sempre bom lembrar de sonhos, por que sonhos acabam, mas não envelhecem!

Guaraci Rodrigues, um amigo de muitos anos, foi quem convidou a mim e um grupo de amigos, todos de relações em comum, para conhecer o bar do Toninho, um colega dele da Marinha Mercante, com jeitão de boa-praça, que passou 12 anos de sua vida juntando uma parcela de seu salario, para construir o sonho de sua vida. Um bar/ lancheira na farta flora do Parque da Redenção, que nesta época já era considerado um local de relativa periculosidade à noite, pela precariedade de iluminação pública. E quem foi que disse que sonhos envelhecem e não se realizam?.. O bar/lancheria, não sé deu certo, como entrou pra história na vida dos portoalegrenses



O Escaler, inaugurado no dia 24 de Outubro de 1982, às margens do histórico parque, na antiga peixaria Guaíba, no pequeno Mercado do Bom Fim, foi batizado de com este nome, por significar bote salva-vidas (palavra bem familiar na vida do Toninho que por anos fez uma rota marítima mar à fora, mas que pra nós, nosso grupo de amigos, continuava sendo: "O Bar do Toninho".


O ambiente era sempre uma festa, onde os amigos chegavam e descarregavam suas neuras e sonhos por vezes vanguardistas e ousados, para uma época de paz e amor e grandes transformações. Alguns até apelidaram o lugar com mesas espalhadas na rua, de woodstock porto-alegrense. 
Aconteceu até um show do Bebeto Alves, um dos assíduos frequentadores do bar que engarrafou quadras adjacentes impedindo o trafego dos fiéis frequentadores da Igreja Santa Teresinha. 
Poucos lugares em Porto Alegre simbolizaram tão bem a efervescência de uma geração sedenta de sonhos, mudanças e liberdade de expressão, quanto as noites  vividas no Escaler e sua fauna por vezes exótica, composta por boêmios, intelectuais, jornalistas e uma infinidade de artistas de diversos segmentos, que fermentavam ideias, loucuras, sonhos e elucubrações politicas e sociais. 
Passaram por ali, bandas como Bandaliera, Engenheiros do Hawaii, Cidadão Quem, Rabo de Galo, Câmbio Negro, Bebeto Alves, Nei Lisboa, Nega Lu, figura notória da noite porto-alegrense e tantos outros, que fizeram história e até viraram livro...
O estabelecimento fechou suas portas em 2006, mas viveu seu apogeu nos anos dourados da cidade, como um reduto cultural, numa época em que se acreditava que tudo era pra sempre, sem saber que pra sempre sempre acaba.

O DIA EM QUE A TARDE VIROU NOITE.


Eu estava de plantão no Hospital de Pronto Socorro, quando em algum momento daquela tarde, de💬 20 de Dezembro de 2019, tudo começou a escurecer e a virar noite, em particular no Bom Fim, em Porto Alegre, deixando-nos extasiados com o raro fenômeno. já anunciado nos jornais e TV. Ao se aproximar da hora, corri para o pátio com um pedaço de RX para proteger meus olhos e lembro-me de algum colega dizer, que aquilo que estávamos presenciando, não era o fim do mundo, mas um fato cientificamente histórico, o que me deixava ainda mais orgulhoso de fazer parte daquilo tudo.


Inicialmente o dia estava normal, claro, com sol, como qualquer dia de verão e de repente, na hora prevista, tudo começou a ficar cinza, como se uma grande tempestade se aproximasse e fosse cair sobre nossas cabeças. O dia foi gradualmente escurecendo e virando noite, sem estrelas no céu, como naqueles filmes de historias macabras de 💀bruxas e duendes, que assistimos no cinema ou TV e que são acidentalmente soltos por algum desavisado😒 e todo o planeta vira em algo cinza e obscuro. Porto Alegre ficou assim, absurdamente envolvida por uma noite cinza às 16:45, onde o sol teve 75% de sua área sombreada pela lua. Foi fantástico!


Não sei quanto a vocês, mas pra mim, é de extrema importância emocional quando a vida me põe de testemunha de acontecimento ou fenômeno como este, que raramente acontecem no dia a dia, quebrando as engrenagens repetitivas do cotidiano. O fenômeno que tive o privilégio de assistir, chama-se Eclipse Solar e ocorre quando a Lua fica entre a Terra e o Sol, ocultando total ou parcialmente a luz solar em uma faixa terrestre.

ASFIXIA

Acordei na madrugada, com a sensação de que não estava respirando direito, fazia um grande esforço para o ar entrar pelas minhas narinas e boca. Logo depois, percebi que realmente não conseguia respirar por completo, era como se meus pulmões não expandissem. Uma grande angustia bateu em mim, quase me levando ao desespero. Então me lembro que no extremo sofrimento de não ter folego, gritei por mãe.


Tenho a sensação de ter ouvido a minha própria voz emitindo o som, que pareceu invadir o quarto e se espalhar por todo o edifício. Será que meus vizinhos ouviram?.. Será que mãe é quem a gente chama, num momento de grande urgência na nossa vida?.. Lembrei também dos sintomas de maior gravidade do COVID -19

ROTINAS COM UM GATO NUM DIA CHUVOSO


Acordei nesta Terça-feira 12/06 relativamente cedo. O Chico já estava em alerta, me olhando, com toda a sua energia felina, correndo em alta velocidade pelo quarto, pulando na minha cadeira de home-office e dela, saltando (feito um malabarista) na minha cama, já semidestruída por suas unhas e dentes afiados. Depois correu em círculos, com dorso arrepiado e em forma de U sobre a cama indo esconder-se entre os travesseiros, olhando-me sempre de olhos arregalados e orelhas baixas, numa posição de ataque. Entendo que esta atitude parecendo agressiva, é no fundo um convite para brincadeiras entre amigos, o que já me rendeu dezenas de arranhões e mordidas nos meus braços e mãos.

Depois de servir meu café preto, sem acompanhamentos e debruçar-me na fresta da janela do quarto, é que percebi que a chuva que chegou meio despercebida, caia fina e gelada, conforme previsão das autoridades do tempo. Deixei correr meus pensamentos soltos e de um jeito leve, enquanto sorvia meu café ouvindo "Inútil Paisagem" do Tom e do Aluísio! 

Chico ainda corre aos saltos pelo quarto de olhos arregalados, esparramando acidentalmente sua areia e ração que troquei, minutos antes de servir meu café. Me olha com ar de desconfiança felina, talvez se perguntando, se eu quero continuar brincando,  ou se  deve parar por ter feito alguma coisa errada. É, pelo jeito, o dia vai permanecer assim até chegar a noite!


PARA UM AMIGO

Achei este post do dia 14/05/2008 que tanto procurava, e que simplesmente o perdi no meio de outras postagens. Ele foi escrito para um amigo de infância, que sempre encontrava-o nas minhas idas e vindas pelas ruas de Porto Alegre. Depois de um tempo, deixei de encontra-lo e desconfiei que pudesse ter partido. Foi o que realmente aconteceu!



E se eu cair assim como folha amarela e morta da arvore mais alta deste meu mundo, serei arrastado pelo vento forte dos meus outonos. Dos meus muitos saudosos e amados outonos.

Serei lambido deliciosamente pelo vento, para rumos incertos, eu de olhos fechados sobre nuvens brancas, meus braços e pernas estendidas e meu corpo em movimentos circulares, perpendiculares, transversais, atravessará as estações desta vida, ignorando o tempo, rumo ao que acredito ser a liberdade. Então liberto, poderei oferecer minha mão de encontro a tua, firme e densa para onde me quiseres carregar.
De lá faremos poesias, ouviremos ópera, aquela Ópera do Malandro. Beberemos vinho até cair, dançaremos Edith Piaf , até nos esquecerem.:

DOMINGO NÃO PRECISAVA EXISTIR

Três coisas que eu me recusaria terminantemente de fazer hoje por ser Domingo e por força do meu temperamento destemperado ou temperado mas fora das medidas padrões. Hoje o dia está úmido, cinza, chuvoso, sem luminosidade, e Porto Alegre com cara dessas cidades europeias, que ninguém quer visitar, nem que seja de graça.

Eu por conta deste clima feio e desfavorável, acharia empecilhos até pra comer uma rapadura do tipo pé de moleque da serra. Me recusaria também a ler qualquer artigo, romance, poesia, reportagens em geral, cujo o texto começasse com a frase "Como fazer" que me faz lembrar de (receitas do tipo de faça você mesmo). 

Também pularia do Décimo andar de um prédio, se me aparecesse alguma mulher evangélica, de cara lavada, com coquezinho preso na nuca, vestida com saia Maria mijona, com a bíblia na mão, tentando me pregar o evangelho. Ahf!... Gente hoje é Domingo, um dia que pra mim, nem precisava existir!



ALONGAMENTO NOTURNO

São exatamente cinco horas e cinquenta e um minutos, hora que resolvi escrever este post. Devo ter acordado por volta das quatro horas e qualquer coisa, com o Chico me olhando de olhos arregalados e eu com fortes dores nas costas. Depois de me mexer com cuidado, sentar e posicionar-me de barriga sobre o colchão, esticando os braços para baixo ao longo do corpo, me proporcionou uma rápida e considerável melhora da dor que venho sentindo desde as dezoito horas e trinta minutos de ontem, quando terminou meu ensaio com os músicos. 



Esta posição corporal que tomei, talvez seja uma forma de alongar as hérnias da região lombar, descomprimindo-as e diminuindo consideravelmente a dor que começa a irradiar para os trocânteres, aqueles ossos redondos que ficam na base superior do fêmur.

Durante o dia faço minhas curtas e modestas caminhadas como posso, para não me entrevar de vez, e passar para a lastimável categoria dos dependentes. Na minha idade, facas e bisturis, nem pensar! Agora é quase seis e meia e o dia ainda não clareou, posso retornar pra cama, aproveitando o que restou da noite.

OLHOS TRISTES

Não sei se é simples impressão minha, mas quando saio de casa, vejo as pessoas na rua, com o olhar tristonho, parecendo cansadas, sem brilho, sem vida. Será que estou imaginando coisas?.. Você também vê isto?

Desde o motorista do aplicativo, que utilizo diariamente, do atendente da quitanda, do vigilante da rua, de alguns itinerantes, percebo um tipo de nuvem cinza que se espalha do olhar, um desanimo que transborda e por vezes um sorriso evasivo que é deixado escapar pelas dobras da máscara.

 

Tristeza que parece ser motivada por problemas não somente de ordem pessoal, mas de quem não aguenta mais tantos socos, tantas questões globais e gerais, de quem está por um fio da desistência, de quem não está aguentando mais as dificuldades geradas pelo homem. É. o dito cujo homem!

O advento da pandemia mundial, trouxe consigo  o isolamento social necessário pela sobrevivência e o desuso do anti- stress usados nas reuniões familiares, de amigos, nas viagens, no barzinho dos finais de semana, nas academias de ginasticas. Também trouxe o uso compulsório de mascaras, nos transformando em outras pessoas; pessoas com meio rosto, com meia expressão, que teremos que nos acostumarmos.

Postagem em destaque

TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...