Todo o dia é dia de indio

Durante esta tarde atendi um homem com obesidade mórbida e que também sofria de fortes dores nas articulações dos braços e pernas. O diagnóstico descrito em seu laudo medico era  um tipo de artrite não especifica que lhe causava a dor na qual queixava-se e motivo pelo qual fui chamado. 
Fui orientado pelo medico a aplicar-lhe um analgésico intra-muscular para alivia-lo, ele foi logo expondo o braço e  me dizendo:
_Faz deste lado onde esta a dor, assim o remédio chega mais rápido!

Civilidade animal

Se você não tem o que fazer e quer achar alguma distração num desses dias quentes e ociosos, é possível ir até um dos shoppings centers espalhados pela cidade e olhar vitrines, pegar um cineminha à tarde ou no inicio da noite, sentar numa das praças de alimentação para tomar um chope gelado ou somente sentar ou ficar caminhando sem rumo, observando a fauna que circula nestes lugares de classe média que cheira a perfume de marca e tenta apresentar civilidade.
Meu objetivo hoje, não foi  me distrair no Bourbon Shopping, o que às vezes faço, mas pagar algumas contas que estavam por vencer e então quando retornava do segundo piso para me deslocar até o estacionamento, percebi uma senhora bem vestida com três poodles brancos, sentados do seu lado, num banco de madeira e presos por delicadas guias no pescoço.
O mais engraçado de tudo, é que ela equilibrava entre os dedos de uma das mãos erguida, três sorvetes de casquinha, que tentava alimentar os cães seguros pela outra mão. Eu conclui que era um sorvete para cada animal, que alvoroçados com as guloseimas começaram a pular em seu colo, pescoço e cabelos, completamente melados de baunilha, chocolate e morango.  Os cães ainda latiam para ela em sinal de  protesto, acho que tinham pressa em devorar os sorvetes.
Ela por sua vez, gritava com os animais, como essas mães que não tem controle sobre os filhos mal educados e depois disfarçava, observando na espreita a reação de quem passava curioso com a situação. Ela provavelmente acreditava ter alguma civilidade nesta relação propositalmente exposta ao público.

Impressões

Depois de sair do plantão, visitei minha mãe; Ela me pareceu estar menos preocupada, agora que seus exames médicos descartaram a hipótese de algum problema mais serio. Isto afastou seus medos deixando-a mais segura e com a expressão mais leve.
Eu não gosto de ir até lá, embora sinta a necessidade de visita-la com mais frequência. Acho que é o ambiente familiar que me angustia e me dá a sensação, (já de muito tempo), de que não faço parte daquele meio de poucas afinidades que a cercam.  
Minha família me faz despertar certas inaceitabilidades na qual não consigo lidar...
Hoje acordei cedo com uma sinfonia histérica de gatos no cio. Faz dias que isto tem acontecido acordando-me aos sobresaltos, mas não me sinto encorajado a afugenta-los  e depois continuar a dormir. 
Minhas férias começarão daqui  a uma semana e parece que meus planos menores, acabaram por não se construírem como planejei. Mas planos são simplesmente planos e não tem garantias de execução em prazos fixados. De qualquer maneira, sinto que mudanças correm a galope na minha direção, levantando poeiras  que ainda dificultam-me identifica-las.

Vivendo num Planeta Verde

E se o homem fosse obrigado a viver sobre a copa das árvores que lhe dificultasse o acesso a superfície  da terra no qual está acostumado a viver e retirar o seu sustento?
Se a superfície do planeta de alguma forma viesse lhe causar alguma espécie de risco a sua vida, obrigando-o a procurar outro ambiente?
Se tivesse de fazer da copa das árvores seu habitat natural dividindo-o com outros animais como macacos, aves, serpentes e uma variedade de insetos, se submetendo a diversas intempéries, chuvas tropicais, calor intenso e atribulações da vida diária em abrigos construídos sobre árvores com mais de trinta ou cinquenta metros de altura?
Foram estas as perguntas que me fiz, ao assisti um documentário na TV do (Discovery Science), onde um grupo de cientistas e pesquisadores, acompanhados de câmeras, passaram algumas semanas trabalhando e vivendo em plataformas de observação a muitos metros acima do solo. O objetivo deste grupo era a realização de pesquisas sobre uma espécie de primatas em extinção numa região  selvagem da Africa Central.
Eu fiquei fascinado por este documentário, por mostrar também o que talvez não fosse o foco principal do documentário (os primatas), mas revelar  um modelo novo de adaptação e sobrevivência do homem ao que ele não está acostumado.
E saibam que não foi tarefa fácil  para eles viverem algumas semanas em grandes alturas, presos por cordas e adaptando-se com temperaturas  radicais e formas de locomoções que poderiam oferecer-lhes riscos as suas vidas a todo o instante.  Sem sombra de duvidas aquilo tudo era um mundo à parte e diferente de tudo que já experimentaram.
Este documentário embora tivesse como objetivo estudar a questão dos hábitos dos macacos e sua possível extinção, abriu paralelamente a discussão sobre a possibilidade de readaptação do homem, num mundo novo dentro de seu próprio planeta, num ambiente completamente diferente se algum dia surgisse necessidade.

Opinião vaga sobre mistérios

Mistérios são situações sem respostas ou cujas as respostas não se tem explicação lógica ao nosso alcance ou  será que vai muito alem disto?..
Não sei não.., situações sem respostas podem conter ou não mistérios, desta forma os mistérios podem ser implementos de carater puramente emocional embutidos num complexo enredo de fatos; Como uma empada composta de varias camadas folhadas e um recheio que não conseguimos distiguir o sabor.
Charles me disse que o bom do mistério é que quando o desvendamos, partimos em busca de um outro. 
Uma amiga minha era envolvida em muitos mistérios, e assim era vista como uma pessoa misteriosa. será que ela gostava que vivessem ao seu lado numa longa tentativa de descobertas?
Para se desvendar mistérios tem que ter  subjetividade; habilidade para mergulhar nas sub-linhas  reticentes da verdade depois vir à tona e respirar um pouco.

Parede indiscreta

Algumas situações do cotidiano parecem imitar algumas cenas de  cinema, me tomando de surpresa quando me deparo com alguma delas. Eu ja devo ter postado aqui no blog, certas vivencias deste tipo em outros momentos da minha vida e hoje aconteceu mais uma vez, quando eu estava sentado na sala onde aguardo as ocorrencias e ouvi alguns murmurios vindo da parede ao lado e que me chamou a atenção por ser extremamente triste e deprimente. Esta situação me fez  lembrar inevitavelmente de Another Woman - do Woody Allen, filme que revi na semana passada. 
Eu ja havia ouvido em outros momentos vozes vindo da outra parede sem deter muito minha atenção, mas desta vez como era um domingo calmo, com uma brisa rara soprando nestes dias de muito calor, meus sentidos pareciam mais abertos e sensiveis a tudo a minha volta.
Devo explicar que esta sala onde eu me encontrava, era no passado separada da sala vizinha, por uma  porta de madeira que se mantem no lugar até hoje, mas acrescido de um leve armario de ferro encostado sobre ela, impedindo o livre acesso entre as duas salas tornando-as independentes, mas sem preservar o isolamento acustico. Isto significa que o que é dito numa sala pode ser ouvido na outra, sem muitos esforços. 
De um lado ficamos eu e o motorista aguardando os chamados de emergencias, do outro; reuniões, ensaios de  corais religiosos e encontros de dependentes químicos e usuarios de drogas, durante algumas tardes, com depoimentos como desta mulher sem rosto e que me fez ficar atento e pensativo com suas palavras:
_Eu as vezes não sei quem eu sou e..., então me sinto..., muito parecida com ele!..
_Eu... tenho tanta raiva dele... e..., do que ele me transformou!... 
_Mas sei que não é só responsabilidade dele,.. é minha tambem ...e isto me deixa muito angustiada por ser irresponsavel e...,não conseguir ser uma boa mãe,... uma boa pessoa... 
Depois outras vozes se misturaram a dela e não foi mais posivel ouvir seu depoimento.

O que está errado com ele?

O cara  diz estar apaixonado, que nunca se sentiu tão feliz, valorizado, amado, tão desejado sexualmente, que se sente em plena juventude.
Tem horas que se importa e noutras não com as diferenças visivelmente existentes.
Pensa em até arriscar o certo pelo duvidoso, jogar tudo pro alto, arriscar suas ultimas fichas neste jogo que pode ser um erro ou o ultimo encontro com a felicidade. 
Por outro lado, tem atitudes doentias, momentos de  extrema irritabilidade, de raiva com  momentos de explosões e profunda tristeza.
O que está errado?
Por que não canta mais seus versos?
A paixão lhe provoca sombras, fantasmas?
O que  lhe causa tanto descontrole?
A idade não lhe concedeu maturidade emocional?
O que é verdade ou mentira nesta relação conturbada?
Hoje na porta do elevador, tinha os olhos caídos e de cor cinza.

Pedrinhas de encaixe

Ontem, saindo do hospital fui chamado por uma senhora cujo o filho de uns quarenta  e poucos anos, eu atendi numa noite destas de plantão. Ele encontrava-se muito agitado sobre a cama, com visível irritabilidade provocada por caracteristicas que me pareciam de ordem neurológica, mas que também me colocou em duvidas por informações desencontradas que me foram fornecidas e  por que "sintomas" são muito relativos para se arriscar um único diagnóstico. Eu até desconfiei de uma posivel hemorragia intra craniana, mas faltavam dados, o que informei para a médica plantonista...
Eu fiquei curioso com este caso que deixei na sala de emergência para avaliação  neurológica  a alguns dias atras e não tive mais noticias. 
Com seus dados anotados num pedaço papel, pedi informações para uma funcionaria, no setor de registro de paciente, que me disse não ter nenhuma informação recente sobre a entrada do paciente no hospital, somente algumas entradas mais antigas e que não vinham a o caso.
Frustrado por não ter conseguido  informações, me dirigi para a ambulância estacionada na rua, quando fui chamado por sua mãe que aguardava o horário de visitas no saguão. Muito simpática ela agradeceu minha presteza no atendimento de seu filho e me informou que havia sido diagnosticado meningite.
Conversamos mais alguns minutos sobre o ocorrido naquela noite e depois fui embora pensando que aquele atendimento em particular havia ficado muito presente em mim, especialmente pelo sofrimento dela como mãe e que me parecia muito afetuosa e impotente diante daquela situação de difícil controle.
Depois, já dentro da ambulância, me deslocando para outro atendimento, fiquei pensando nestes elos emocionais que estabelecemos com pessoas que não conhecemos e que a vida se encarrega de provocar encontros justificáveis ou coincidentes em momentos que não se espera, nos fornecendo respostas e a sensação de alguma contribuição positiva no momento certo como pedrinhas de encaixe. Senti que eu e aquelas pessoas estávamos de alguma forma emocionalmente conectadas. No final, indiscutivelmente o ganho foi positivo para as duas partes envolvidas.

Amigos para sempre

Eu te levei  até a cobertura do edifício, para sentir-mos o vento bater em nossas caras e desta forma provar desesperadamente que ainda estávamos vivos e por isto chorávamos em silencio, sem conseguir desfazer os nós; Infinitamente te agradecer pelos incansaveis gestos de doação e humanidade, cuja a maioria e também eu, não sei se teríamos nestes momentos de dor. 
Fostes como poucos, a mão e o olhar silencioso de todos nós, nestes momentos em que parecemos mais covardes e sem disponibilidade de tempo para enfrentar o desagradavel.
A musica  "Amigos para sempre" que nunca gostei e acho triste, ficou cravada em mim e ainda mais triste tocada solitariamente no violino que nos acompanhava à passos.
Os violinos tem esta magia de deixar tudo mais triste e belo a nossa volta, criando  caminhos de comunicação com nossos sentimentos mais profundos e por isto parecem chorar ao nosso ouvido como amigos que em momentos difíceis não sabem o que dizer alem de recitar poesia.
Depois, tudo ficou mais claro, mais leve, mais condescente, mais silencioso e grandioso. 
Obrigado por todos nós!

Do Outro Lado

São três famílias, duas turcas e uma alemã, seus membros estão espalhados entre os dois países, mostram como os destinos entrelaçados de cada um pode mudar, através de pequenas fatalidades que o dia a dia os submete, fazendo-os também alterar suas crenças e conceitos sobre a vida com estas mudanças. Do diretor alemão Fathi Akin, o filme "Do Outro Lado", recebeu prêmios em quase todos festivais que participou, como de melhor roteiro em Cannes, o César Awards na França e o prêmio máximo do cinema alemão. Do outro lado, segundo o diretor Akin, é uma representação do relacionamento dos dois sistemas políticos e econômicos, representados na relação entre  as  duas jovens Lotte (alemã) e Ayten (turca). Apesar de tratar de temas como solidão, morte, abandono, desencontros e diferenças sociais, o filme estende caminhos a possibilidade como perdão, introspecção, reencontros pessoais, apos a perda e continuidade de atitues que deixaram de serem feitas e somente reacendidas depois da morte.

Por prevenção

Pela manhã, acordei com a nítida sensação de ter levado uma bofetada na cara, até pensei ter ouvi do o barulho do tapa... Mas não foi uma bofetada que me pareceu agressiva, foi com força propositalmente controlada para não machucar ou deixar marcas; O suficiente para me acordar e arrancar-me de um estagio de sonolência intempestivo, do risco eminente de me passar no sono. Parecia-me uma bofetada preventiva, desferida por uma mão amiga, que não tem outra escolha e arrisca o gesto como única saída.

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TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...