Fora do Ar

Ontem, Moema em alguns momentos criou distancias que talvez achasse necessário para si e todos nós ali reunidos. Tinha o olhar ocupado e firme num pequeno objeto que segurava na mão, mas também cruzava os limites do seu presente que a levava para longe, muito longe de nós. 
Distanciava-se para algum lugar pessoal e secreto, fora do nosso e de seu tempo. 
Fiquei a observa-la sem que eu fosse notado e pensei que algumas vezes também faço estas viagens inconscientemente, levado por uma surpreendente distração maior que minha vontade de permanecer no que chamo de minha realidade presente. Absorvido em pensamentos soltos e sem nexo, captando impressões tácteis e visuais, navegando em imagens voláteis e talvez necessárias a o sonho, a compreensão, de quem sabe, nós mesmos em mensagem não decifradas, codificadas por senhas complexas e esquecidas. 
Por alguns minutos, também me distanciei permanecendo alguns minutos, talvez segundos, fora do ar e só retornei quando Moema bateu em meu ombro perguntando:
_No que está pensando?..

Novembro, Dezembro, já quase Janeiro

Meu quarto pela manhã, fica iluminado pelo sol, que entra pelas frestas da persiana. Hoje, além do sol, havia um vento forte que rajava pelas paredes e janelas do prédio. Haverá mistérios num dia de sol e vento e sem cantoria de passaros como o de hoje? Já me adonei deste sol e deste vento que surge por aqui, tenho sentimentos de pura nostalgia agregado ha dias como este.
Daqui vejo somente telhados marrons, chaminés sem fumaça, nuvens que parecem eicebergs em movimento lento e indo na mesma direção. Novembro já quase virando Dezembro. Indo, na direção de Janeiro, acompanhando o movimento das nuvens, partindo, indo, na direção do futuro!..

Sombras e Vozes

Sombras e vozes conhecidas era tudo que buscava naqueles momentos em que sentava ali, na mesa do bar, na calcada movimentada, na beira da avenida que trafegavam veículos barulhentos, misturados tantas pessoas que falavam alto, gesticulavam, garagalhavam com seus hálitos de cerveja quente e espumenta nos copos. Há algum tempo, já tentara desta mesma forma, sem conseguir, respostas que viessem destas mesmas sombras e vozes que buscava pelos cantos de bares, pelas esquinas e becos pouco iluminado e nunca vieram a o seu encontro. Agora estava cercado de uma ansiedade quase descontrolada. Seria fácil, muito fácil!_ pensava angustiado_ se estas sombras lhe trouxessem algum tipo de alivio, se em suas vozes lhe trouxessem algum tipo de resposta, resposta que em algum dia pensou que pudesse arrancar de dentro de si, como se espreme com pouco esforço um limão para fazer suco. Mas é difícil arrancar de si, suas próprias respostas, espremer-se até que saia algo, desvendar seus próprios enigmas sem pirar de vez. O que se pode tirar pode ser um suco de diferente cor, textura e sabor, que não se quer provar!.. Sentado ali, em seu canto estratégico de busca, observava o movimento frenético dos garçons, o abraço, o beijo na boca, a cruzada de perna, o olhar indeciso, as bandejas de metal que sobrevoavam como ovni sobre a cabeça dos clientes, o cheiro de cerveja quente e tocos de cigarros esmagados.
Pessoas chegavam e outras saiam, pareciam que algumas retornavam à procura de algo que não estava ali, ou que estava presentes além do bar, da rua,  além de si mesmas.
Então, bebeu o ultimo gole, levantou-se e foi embora. Talvez num outro dia tivesse mais sorte.
Ninguém sabe dos sentimentos de dor dos outros, ninguem sabe. Oque se pode é apenas ter uma vaga idéia deles e talvés como foram construidos, se estendendo, se alojando, crescendo silenciosamente dentro das pessoas, formando feridas mas isto é uma vaga idéia.

Glamour Maggie


Maggie é uma menina que ainda cresce para a surpreza de muitos olhos. Vejo um pequeno brilho em seu olhar que confundo ora com luz de alegria e esperança, ora com lágrimas de uma tristeza que perece não ter fim. Trocou sua coleção de bonecas por óculos de muitas cores, telefones móveis de muitos modelos, vestidos, sapatos, perfumes, colares, glamour. Maggie é muitas e então busca em si mesma a personagem real e única entre todas as outras que criou cada qual mais bela. Busca a não coadjuvante, a que talvez lhe mostre o caminho de emoções que guarda dentro de sua magica caixinha de musica sobre a penteadeira, que lhe posicione o norte no meio de tantos atalhos surgidos na vida. Enquanto não encontra, modifica as rotas, transforma os cruzamentos em laços de presentes, os paralelepípedos em pedras preciosas, o olhar de mulher em sorriso de menina.

Uma estória que li

Uma jovem mulher e um belo homem apaixonam-se e, quando isso acontece, eles decidem casar-se imediatamente. A mulher - culta, sofisticada e experiente - diz: "Só com uma condição...".
O homem responde: "Qualquer condição é aceitável, pois não posso viver sem ti."
Ela diz: "Primeiro ouve a condição; e depois reflete. Não é uma condição vulgar. A condição é que não vivamos na mesma casa. Eu tenho uma terra vasta, um belo lago rodeado por árvores, jardins e relvados. Farei para ti uma casa do outro lado, oposto àquele onde eu vivo."
Ele responde: "Mas então qual é o interesse do casamento?"
Ela diz-lhe: "Casar não é destruirmo-nos mutuamente. Não é limitarmo-nos um ao outro. Não é matarmos o amor que sentimos. É, sim, fazermos com que o amor possa crescer. Estou a dar-te o teu espaço. De vez em quando, passeando de barco no lago, poderemos encontrarmo-nos acidentalmente. Ou, por vezes, posso convidar-te a tomar chá comigo, ou tu podes convidar-me."
O homem responde-lhe: "Essa ideia é simplesmente absurda."
A mulher responde-lhe: "Então, esquece os planos de casamento. Esta é a única ideia correta - só assim o amor pode crescer, porque seremos sempre jovens e novos. Nunca tomaremos o outro como certo. Tenho todo o direito de recusar os teus convites, assim como tu tens o direito de recusar os meus; a nossa liberdade individual nunca será perturbada. Entre estas duas liberdades, a tua e a minha, desenvolve-se o belo e fascinante fenômeno que é o amor."

Rabindranath Tagore

Mudanças internas


Quando ocorrem mudanças que te modificam o interior, estas mudanças te pegam de surpresa. Quando voce se vê, ja é quase todo outra pessoa e então aqueles velhos conceitos do qual voce acreditava ser feito, ja não lhe dizem nada ou quase nada. Tudo parece estranhamente atípico, impessoal, por que voce é um pouco do velho com novas verdades somado a mais um pouco do novo que voce passa a ser. Custa um pouco voce passar de um  para o outro e elaborar esta transição, este novo modelo doqual está se transformando.

DIA DOS MORTOS.

Caminhando pelas ruas daqui, observo belas casas de construções planejadas, jardins elaborados, cercas elétricas, cães de rara beleza e bem alimentados, mas percebo também um panorama triste, deserto neste dia que garôa e me confundi a estação do ano em que estou. Dia 02 de Novembro é dia de mortos e dia dos mortos sempre parece-me assim com este ar de tristeza estampado na cara do dia. Janelas, portas e portões fechados. Haverá alguém dentro destas casas que passo pela frente? E o que fazem, se protegem da garôa, oram pelos mortos? Não lembro de meus mortos pois lembro deles num dia mais bonito que o de hoje, fico apenas caminhando e perguntando-me pelos vivos que moram por aqui escondidos em suas residencias fechadas e sem nenhum sinal de vida. Enterrados em suas moradias como se não existissem.

Amor e Liberdade.

Comumente ouvimos falar sobre as escolhas que devemos fazer em nossas vidas e uma delas é o amor em contra partida da liberdade. Cedo aprendemos que elas não se casam, são incompátivies e antagônicas, mas também de suma importância em nossa existência. Como amar e sermos livres a o mesmo tempo, se nosso amor parece ser regado de promessas que posteriormente transformam-se em obrigações intermináveis reforçados a cada gesto e olhar sob a supervisão das expectativas criadas, cobradas, exigidas e algumas vezes não correspondidas, embora negamos isto? E a liberdade que nos põe descompromissados de eventuais promessas? Afinal ser livre e respeitar as diferenças de nossas idéias, verdades, sentimentos, opiniões; É caminhar em outras direções, procurar caminhos que melhor nos convir, mudar, hoje amar mais, amanhã menos, renovar-se. Amar é essencial em nossa vida e a liberdade imprescindivel pois é nosso espirito. Oque seria do amor sem liberdade e a liberdade sem um amor?
Osho diz: =>"ser amado e amar é praticamente um respirar espiritual. O corpo não pode viver sem a respiração, e o espirito não pode viver sem o amor."
Desta maneira, vivemos movimentando-nos nas duas direções, ora desejando amar e sermos amados, ora em busca de nossa liberdade pessoal. Vivemos nos arrastando de um lado para o outro, capengas, pois não conseguimos administrar intensamente estas duas palavrinhas com suas alternativas contraditórias e que nos mostra contrapontos.
Osho diz também: =>"A liberdade vem quando você atinge uma síntese entre o amor e a liberdade. Escolha o paradoxo, não escolha as alternativas que o paradoxo lhe deu. Escolha todo o paradoxo. Não escolha um, escolha ambos, escolha-os juntos. Entre no amor e permaneça livre, mas nunca torne sua liberdade contrária ao amor."


Casados, cinqüenta anos depois:

Li este miniconto de Ana Mello em seu blog e achei da maior delicadeza e sensibilidade. Não pude deixar de copia-lo e colocar em meu blog:

"Com o passar dos anos meus beijos foram ficando diferentes. Suaves demais, rápidos, superficiais.
Segurando sua mão só pensava nisso, quando ela abriu os olhos e perguntou:
- Eu morri?"

Semana passada sonhei com o mar, caminhava por cima das ondas, como aquela famosa cena em que Jesus Cristo milagrosamente flutua sobre as aguas deixando seus seguidores boquiabertos com o milagre. No meu sonho não haviam discipulos ou outras testemunhas para se espantarem, apenas eu, somente eu. Neste fim de semana, visitei o mar e enquanto caminhava pela beira da praia adimirando sua grandeza, lembrei-me novamente do sonho. Fiquei imaginando o quanto podemos ser diferentes do sonho para a realidade. 
Quando nos tornamos mais livres ficamos também mais leves e verdadadeiros, algumas vezes, comprometemos a nossa sanidade mental diante das pessoas que antes nos julgavam normais!

I Love You Porgy

Olhando daqui de cima, tudo parece tão plano e limpo, lavado pela chuva fina e persistente que bate no corredor por onde passam carros, na vidraça da janela. A chuva renova energias. A noite tem a cor eo movimento esperado nesta vida que não descança e que as vezes se imita.
Ouço sons absurdamente confusos, misturados aos meus, até que me venha o sono e durma acariciado por I Love You Porgy na voz rouca e negra de Nina Simone.

Coisas do tempo...

Depois do dia escaldante de trinta e poucos graus de ontem, Porto Alegre acordou com cara diferente, parecendo revelar uma quinta estação desconhecida. Calor ainda, mas com uma brisa refrescante e umida acariciando o rosto das pessoas nas ruas, nas praças e jardins. Sol escondido por traz de nuvens brancas e esticadas, grama úmida e colorido cinza de fita de cinema mudo, irreal, verdadeiro apenas na imaginação. Possivel de viver sómente em sonho.

CABO HORN

Ontem à noite fui convidado por colegas de trabalho, à conhecer a danceteria Cabo Horn, situada na rua Republica 649, Cidade Baixa. O nome faz referencia ao Cabo que divide o oceano Atlântico e Pacífico, sul da Patagônia e Terra do Fogo. 
O estabelecimento é um casarão de dois pisos e faixada na cor verde escuro, com mesas na rua, ideal para reunir grupo de amigos.
No primeiro andar, há um espaço com bar e palco onde se apresentam artistas locais. No segundo andar, espaço para dança com musica eletrônica e mais um bar independente, som dos anos 70, 80 e 90. Rock'n roll, Pop nacional e interacional, MPB. No cardápio da casa, bolinhos de aipim com carne seca, quibe, empadas (que não experimentei) e um delicioso pastelzinho assado no forno, com catupiry. Administrado pelos irmãos gêmeos César e Paulo Audi do antigo Dr. Jekill, a danceteria faz sucesso não só pela sua animação e localização, mas também pela simpatia de seus donos e frequentadores.


ANIVERSARIO DA BORBA

Dia 09 de Outubro, filhos, netos, bisnetos e amigos ganharam um belo presente, um presente de valor inestimável, que foi festejado com alegria e emoção. Borba completou 72 anos de vida de lutas, perseverança, e força interior. Todos os anos no dia de seu aniversario sabemos intimamente que não festejamos somente mais uma data de seu aniversario mas que somos abençoados pela sua companhia impar e sua alegria de viver.

MORRO DA EMBRATEL

No domingo, dia de eleição para prefeito eu e uma amiga, subimos de carro o morro da Embratel. Você já foi até lá? É fantástico! O morro é uma espécie de braço estreito, formando uma estrada de chão onde se pode ver nas duas direções a cidade de Porto Alegre. 
Tem-se lá de cima a magnifica visão da grandeza e beleza da capital, exibindo vales, penhascos alguns recantos e bairros como Glória, Centro, Santana, Pártenon e outros. 
Lugares como este te faz sentir um pequeno grão de areia na imensa obra criada por Deus.. Te leva a questionamentos sobre a vida além da tua. Minha amiga disse que este lugar te chama para a razão, uma vez que também pode-se observar as diferenças sociais entre um bairro e outro, do enorme arranha céu à favela desprotegida da infra estrutura metropolitana planejada, limpa.
Hoje particularmente o convivio com minha familia me fez bem, penso que precisava disto por estes dias. Vespera de aniversario, preparativos, alegria, todos falando a o mesmo tempo, algumas piadas boas e outras sem graça, cerveja gelada, arroz com linguiça preparado de ultima hora, mais cerveja gelada e a festa só começa amanhã!..

Pela janela do meu quarto, entra a claridade do Sol e posso ouvir nitidamente o canto de pássaros como uma sinfonia mistica. É possível identifica-los pela variedade de sons que produzem. As arvores estão frondosas e este aroma peculiar de flores chega até aqui trazido por uma brisa, que somente a Primavera pode presentear. Impossível deixar de perceber estes milagres que nos rodeiam todos os dias de nossas vidas, sem a devida atenção e reconhecimento. Inestimável tesouro dado pela vida. A chave que abre o portal para este mundo é a sensibilidade e está guardada dentro de nós. É somente abri-lo!

Eu, vinho e Milles Davis

Algumas vezes faço-me a delicadeza de convidar-me a usufruir da companhia de mim mesmo, abro uma garrafa de vinho e sorvo-a sem presa enquanto ouço Milles Davis no aparelho de som. Nestas horas de intimiade somos suficientes, eu, minhas viagens pessoais, o vinho e o som de Milles.

Transição necessaria.

Devo apenas lamentar a estranheza das pessoas diante das mudanças que sofri nos últimos meses, pois acredito ter sido para melhor. Buscava outras coisas que acreditava ser verdadeiras antes da surpresa de estar errado. Acertos nos deixam seguros e orgulhosos, mas erros, estes nos tornam mais fortes e esperançosos, nos instiga á buscar o que talvez sejam valiosos a o nosso crescimento interior. Hoje não tenho tempo para ensaios, divagações e espectativas infundadas, descubro que é na simplicidade que encontramos respostas à complexidade das estruturas que nós mesmos criamos e nos perdemos. Preciso ir atrás do que é urgente em minha vida, em busca daquilo que pensava não mais existir em mim, mas descobri estar apenas adormecido. Perdi-me em atalhos que eu mesmo criei para chegar mais rápido a o nada, a constatação de incertezas que se repetiram ano após ano e levaram-me a o silencio da dúvida que massacra, que estanca. Preciso viver meu próprio conceito de liberdade, de felicidade.
O que posso oferecer agora, neste momento, é somente um pedaço de chocolate do tipo meio amargo que estou mordendo e que derrete entre meus dedos, transformando-se numa espessa pasta negra e adocicada, maravilhosa de ser lambida com vontade.
Nesta ultima semana, tenho trabalhado muito e dormido pouco. A verdade é que quando tenho a oportunidade de ficar até mais tarde na cama, não consigo, levanto-me agitado e com dor no corpo. Brinco às vezes, por não saber se é culpa da idade, do stresse do trabalho ou as molas do colchão vencido. Durante à noite me debato com pesadelos e sonhos que chamaria de estranhos e sem explicações. Também me pergunto por que buscamos explicações para os sonhos?
Já não temos com o que nos preocupar em nossas vidas?

Por mais que já tenha lido informações cientificas sobre eles (sonhos), termino cedendo as explanações misticas que os ditos populares inventam, fazendo-me ficar em alerta e temeroso com o que possa vir.

Asa quebrada.

Hoje, no terminal de ônibus Partenon onde fica a ambulância que trabalho, eu e meu colega observávamos uma pomba cinza caminhar entre os pedestres que por ali passavam. Ela driblava entre as pessoas, meio assustada e de vez em quando parava para observar outra pomba pousada sobre o telhado. De vez em quando, forçava um impulso para levantar vôo, porém não conseguia. Uma das asas estava caída e então concluímos que deveria estar quebrada. Correu por longos minutos e por fim parou, escondendo-se atrás de um pilar exausta, e assustada. Pensei no que poderia ter-lhe acontecido. Caiu do telhado? Pombas não caem de telados nem quando dormem, talvez atacada por algum felino, um cão vira-latas, ou um garoto de bodoque e mira certeira! Meu colega falou em seguida que ela teria poucas chances de sobrevivência, pois sem voar ficaria indefesa e logo morreria. Depois recebi uma mensagem em meu celular que me deixou angustiado e introspectivo. Mensagens me causam as vezes estes impasses!, por terem frases curtas e pontuações deficientes!.. Fiquei pensativo, observando os movimentos da ave. Ridiculamente comparei minhas verdades e sonhos do passado com aquela asa de pomba que fora quebrada e arrastava-se pelo chão de basalto sujo onde tantas pessoas passavam deslocando-se aos seus destinos. Identificava-me com os movimentos incertos e circulares da ave que ora esforçava-se para alçar voo para a liberdade, sem nada conseguir. Movimentos indecisos de vai e vem, num zig- zag nervosos na conquista do impossível. Então abri meus olhos, respirei fundo refazendo-me depressa. Conclui finalmente que ao contrario das pombas, que precisam de um par de asas para voar, eu não necessitava de nenhuma para navegar em meus sonhos e no que acredito ser liberdade. Só descobri isto quando tardiamente uma de minhas asas foi quebrada.

Atitudes descriminatórias

Ontem a noite no supermercado Big de Viamão, me aproximei do balcão de defumados para comprar bacon e tentei a custo de grande paciência ser atendido por uma senhora funcionaria que absolutamente mostrava-se com dificuldades para exercer sua função de vendedora no supermercado. Digo que tentei ser atendido, por que a forma como a funcionaria veio até mim para saber oque eu queria não era de maneira alguma um atendimento digno a um cliente. Primeiro, por que se posicionou do meu lado sem ao menos olhar para o meu rosto e quando o fez tinha um olhar que transparecia qualquer coisa do tipo descriminatória...Em nenhum momento me perguntou oque eu queria e quando lhe pedia informações sobre o preço de algum produto respondia baixo e olhava para o chão ou para os lados dando a sensação de que eu era um objetos qualquer, do qual ela já estava cansada de ver plantado naquele canto e qualquer outra coisa no supermercado precisava mais da sua atenção do que eu. Em alguns instantes pensei e revisei minha conduta diante dela, calado e sem deixar transparecer: talvez estivesse sendo de alguma forma inoportuno sem me perceber ou que talvez ela estivesse agindo daquela maneira por eu ter traços e origem claramente negra ou usar os cabelo grandes e propositalmente desalinhados. Não sei!
Pensei também que ela usava os cabelos presos atrás da cabeça em forma de coque, talvés por exigencia do supermercado, como aquelas pessoas que são de alguma religião evangélica, do qual respeito, mas não gosto da forma como se vestem e arrumam seus cabelos e nem por isto à tratei com descriminação e falta de educação. Provavelmente estava ali, por que precisa de seu emprego tanto quanto eu do meu e tantos outros brasileiros dos seus.
Bom a verdade é que comprei meu bacon e sai dali rapidamente, tentando esquecer o ocorrido. Já dentro do carro fiquei argumentando comigo mesmo que talvez devesse afronta-la, impor meus direitos como cliente, como cidadão, ou adverti-la sobre sua falta de atenção para com as pessoas, sobre descriminações etc, etc.. como eu normalmente o faria nestas situações, mas não quis, acho que estava tão bem comigo mesmo que perdoei-a e livrei-a do embaraço de se justificar. Fui-me embora sem culpa, mas consciente de que não se deve calar diante de agressões como estas.

Paixões invisíveis

A paixão te surpreende, vem ao teu encontro às vezes sem formas definidas e por caminhos inexplicáveis, e de difícil entendimento...

Um amigo, disse-me certa vez que se apaixonou estranhamente por passos que ouvia e achava ser de uma mulher do apartamento de cima do seu. Eram passos delicados e a partir disto, conseguia imaginar os movimentos doces e sedutores de uma mulher que ele jamais viu, mas conseguia construir sua forma física e movimentos gestuais, apenas no seu imaginário. Em alguns momentos até conseguia ouvir também a sua voz, mas não era isto que o fascinava, que tirava seu fôlego, sua atenção de qualquer coisa que pudesse estar fazendo no momento, era o ruido do sapato, do salto fino e alto que atritava, martelava no chão, no teto, sobre sua cabeça criando uma atmosfera de prazer e sedução secreta. Confessou-me até momentos de intimidades!.. Meses depois, quando conheceu Andréa, lastimou a traição que fizera a sua paixão invisível e aos poucos deixou de ouvir aqueles benditos passos que por meses o envolveu e nunca conheceu a quem pertencia.
Quando ele me contou esta história de sua vida, viajei no passado e lembrei-me de minhas paixões secretas, algumas delas imaginarias. E quem não as teve por mais ridícula que possa ser?
Estes sonhos incomuns que criamos e alimentamos, parecendo fora da ordem do normal , estes mecanismos complexos em prol de nossas buscas pessoais, nossas afirmações como gente que somos, deve nos garantir a certeza de que estamos vivos e precisamos disto para garantir quem sabe nossa sanidade nossa auto-estima.

Meu encontro com as Divindades da Natureza

Neste fim de semana, conheci uma família incrível, não só pela sua alegria de viver, simpatia e hospitalidade, mas também por seu respeito à vida e a natureza. Adeptos ao Xamãnismo há algum tempo, começaram a praticar e divulgar as práticas Xamãnicas entre amigos e pessoas que procuram de alguma forma interagir com a natureza e seus fenômenos de ordem espirituais que influenciam e ordenam nossas vidas no plano espiritual. Os rituais Xamãnicos fornecem-nos um aumento gradativo de nossa percepção acerca de nós mesmos e do Universo em que estamos inseridos, assim como também proporciona a auto-cura de nossas consciências e padrões negativos de comportamentos que adquirimos no caminhar da vida. Dona Maria Aleti (dona Arlete), seu filho Júlio César Ponciano e Carlos Alberto de Castro Peixoto (Sr. Castro) são os responsáveis pelos encontros, realizados em sua casa de campo em São Francisco de Paula, na serra gaucha.
Segundo Sr. Castro, o Xamanismo é uma prática exotérica e não dogmática diferenciando-se das demais por exercer a cura do corpo físico e espiritual e elevação espiritual. Elevação espiritual tanto do terreno como do espirito desencarnado.
Dirigido por uma entidade espiritual, o Mestre Pena branca que está num trabalho de união entre os povos na ordem espiritual. Trabalham com elementos: Terra, Ar, Fogo, Aguá, e o quinto elemento Éter, que chamam de energia pura.
O Trabalho ocorre uma vez por mês (trabalho de lua cheia) por que neste momento as energias são mais fluídicas facilitando o contato com esses elementosSobre o ritual:
  • Dança xamã: Visa a transformação das energias densas em energias sutis. Através da dança em uma roda e em sentido horário para possibilitar a circulação da energia em forma de cone, são manipuladas as energias intra-terrenas ou telúrica e a energia da natureza através de entidades espirituais. Ocorre também a abertura do portal ( canal de ligação com o astral) A o dançarmos na roda, entramos em contato com o nosso Eu Profundo e possibilitando também achar o próprio caminho de auto-conhecimento, permitindo às forças cósmicas naturais, harmonizarem-se dentro de nós mesmos, melhorando e atingindo satisfação em nossas vidas. A Roda simboliza todos os ciclos da vida, é o Caminho Sagrado, nos religa com nossos ancestrais e com Todas as Nossas Relações. A Roda, não representa apenas o Pequeno Universo Individual de nossa própria vida, mas : A Mente Universal, O grande Espírito, O Criador.
  • Orações e cantos indígenas(Mantras): Com o objetivo de celebração às divindades e a natureza
  • Ritual do vinho: Neste ritual, as pessoas registram sua participação e identificação no plano astral e ganhando graças ou bônus. Cada participante identifica-se dizendo seu nome completo, data de nascimento, e endereço.

  • Ritual da Consagração de objetos: Os objetos pessoais dos participantes são abençoados pelo calor do fogo e assim tornando-se uma especie de amuleto de orientação espiritual e sorte.

  • Ritual do Cachimbo: Ao fumar o Cachimbo, é de suprema importância que cada pitada de tabaco colocada no fornilho seja fumada. Cada floco de tabaco assumiu um espírito em seu corpo e é honrado como sendo a essência de Todos os Nossos Parentes em sua forma. Se o fogo, que é parte da Eterna Chama da Vida, não toca nem incendeia o tabaco, o espírito que está lá dentro não pode ser libertado em fumaça. Se a fumaça não é aspirada pelo corpo, os espíritos de Nossos Parentes e de nossos Ancestrais não podem entrar em comunhão conosco. A fumaça que sai do Cachimbo representa prece visualizada e nos lembra do espírito presente em todas as coisas. Compreendemos que toda a vida provém do Grande Mistério e retornará a essa fonte original. Graças à essa compreensão, sabemos que estamos todos juntos seguindo o mesmo trajeto, caminhando juntos em cada parte do Elo Sagrado ou da Roda da Vida.
  • Cerimonia do Pau Falante: Trata-se de um pedaço de pau consagrado para que se apresente o "Sagrado Ponto de Vista "Neste ritual não pode ser utilizada nenhuma palavra que não represente a verdade. Só fala quem estiver com o pau-falante na mão, os demais permanecem em silêncio . É uma forma de honrar a sabedoria dos outros.
Deste passeio, retornei para casa sentindo-me diferente, mais leve, mais crente nas possibilidades de melhora da vida, das pessoas com quem convivo, do nosso futuro!.. Voltei mais Feliz.

Velho Francisco

Sorridente, boca pintada mas com ar de cansaço, dona Encantada sorriu ao me ver enquanto ajeitava as sacolas do lado da cama de seu Francisco. Conheço seu Francisco de outros atendimentos realizados no abrigo de velhos. Era domingo e então lembrei-me da musica de Chico:

Já gozei de boa vida Tinha até meu bangalô
Cobertor, comida Roupa lavada Vida veio e me levou
Fui eu mesmo al_____forriado Pela mão do Im_____perador
Tive terra, arado Cavalo e brida Vida veio e me levou
Hoje é dia de visita Vem aí meu grande amor
Ela vem toda de brinco Vem todo domingo Tem chei_____ro de flor

Quem me vê, vê nem bagaço Do que viu quem me enfrentou
Campeão do mundo Em queda-de-braço Vida veio e me levou
Li jornal, bu_____la e prefácio Que aprendi sem professor
Freqüentei palácio Sem fazer feio Vida veio e me levou
Hoje é dia de visita Vem aí meu grande amor
Ela vem toda de brinco Vem todo domingo Tem chei_____ro de flor

Eu gerei dezoito filhas Me tornei na_____vegador
Vice-rei das ilhas Da Caraíba Vida veio e me levou
Fechei negó_____cio da China Desbravei o in_____terior
Possuí mina De prata, jazida Vida veio e me levou
Hoje é dia de visita Vem aí meu grande amor
Hoje não deram almoço, né? Acho que o moço até Nem me lavou

Acho que fui deputado Acho que tu_____do acabou
Quase que Já não me lembro de nada Vida veio e me levou
Amar é absorver sentimentos saudáveis de confiabilidade, respeito mutuo e liberdade, adicionado a doses magicas de interação, cumplicidade, carinho e desejo sem entrincheirar-se em regras conceituais duvidosas. Este conjunto de frases bonitas que coloquei para formar este texto, são apenas frases, pois acredito que o amor é muito mais que isto, não possui regras, não esta ligado a conceitos de qualquer natureza que o defina. Deve ser apenas emoção, pura emoção que cresce, fazendo-nos florir, surpresos e impregnado da outra pessoa.

TEORICOS DA VERDADE

Tem pessoas que falam de amor, carinho, cuidado e atenção com a propriedade de quem os tivesse inventado e por isto, dando-nos a impressão de que dominam de tal forma o assunto que poderiam lecionar a respeito. Que através de suas palavras magicas poderiam modificar este mundo cão, tira-lo da obscuridade, conduzindo-o à luz da salvação. Ditam fórmulas, declamam frases feitas e estrofes poéticos com habilidade em resposta à tudo, porém não absorvem nada para suas vidas. Não conseguem transformar suas teorias em praticas verdadeiras; Sofrem com os percalços sentimentais como qualquer pessoa sofre. Erram, desconfiam, frustram-se sem perceberem que grande parte de sua dor surge por acreditarem em verdades falhas, em conceitos comprovadamente mancos. 
Possuem boa intenção porem são traídos por suas próprias certezas, criam estruturas conceituais frágeis que são destruídas por suas próprias condutas diante de si mesmos e dos outros. Não conseguem perceberem a necessidade de se renovarem e portanto culpam tudo que os cercam, menos o seu sonho de realidade ou sua realidade de sonho reticente e falha.

Relações com verdades

As vezes torna-se dificil sermos verdadeiros sem que nossas atitudes não sejam confundidas, sem que nossas intenções não sejam mal interpretadas e não corram o risco de ficarem a margem das instabilidades emocionais que minam por completo a relação de pequenos desafetos e frustrações. Dificil amar sem sermos nós mesmos, sem disponibilizar espaços pessoais necessários ao nosso crescimento individual. Vivemos diariamente no reconhecimento de nós mesmos e de nossos sentimentos ora bons, ora ruins, equilibrando-nos na corda bamba de emoções adolescentes que só amadurecem com as contradições, erros e também acertos. Relação madura deve ser portanto, a que zele pela liberdade, que se compromete á respeitar as oscilações de nossas verdades, das diferenças, sabendo que é difícil, mas necessario para a sobrevivencia de uma relação com a intensão de ser saudável.

Despedida

Há poucas horas atrás, eu olhava do mesanino envidraçado a grande planice verde que se estendia até o horizonte no escuro da noite. Bela planice gramada com um toldo azul-marinho solitário num canto e pequenas divisões numeradas no solo, onde se enterram corpos e que ficam catalogados em arquivos na entrada principal, bonita, clara, iluminada e extensa. As crianças passaram correndo e espalhando energia, uma delas perguntou debruçada na janela se era ali que enterrariam o seu avô. Enquanto eu olhava o corpo de seu Antônio, deitado no caixão, pensava comigo mesmo, que não parecia ser a mesma pessoa da qual lembrava antes, tão cheio de vida, sorridente e prestativo. Aquele rosto não parecia ser o dele nem tinham semelhanças. Era um semblante sério numa face pálida e inchada que jamais ví no antigo rosto alegre que corria para abrir o portão de sua casa quando eu chegava para visita-lo. Com certeza seu Antônio não estava ali, estava em minhas lembranças ainda sorridente e apressado para abrir novamente o portão.

PARAISO

Meu vizinho estava me falando sobre o paraíso. Depois de tentar varias indagações pessoais sobre o tema, enquanto limpava a grama do jardim, concluiu que só poderia formar e conceituar uma explicação definitiva sobre o assunto, depois que morresse; Mas como ainda está vivo!. Evidentemente falava através de sua visão cultural religiosa e também duvidosa. 
Ouvi-o em silencio, lembrando que no inicio da tarde tinha visitado o meu (paraíso), aqui bem perto de casa, com palmeiras Reais enormes, de uma beleza rara, flores e um pé de Amoreira onde colhi frutos e depois saboreei-os deitado em um tronco torto de um Cinamomo frondoso, sem precisar deixar o mundo dos vivos. No mesmo instante em que eu estava por ali, passaram alguns anjos, chutando bola e mascando chiclete, sem demostrarem a mínima culpa da algazarra que faziam. Decididamente o paraíso e o inferno podem estar tão perto de nós, sem que possamos enxerga-los de fato em função de nossos conceitos.

Trancas

Moema decidiu afastar-se, optou por manter-se superficial, criou a distância que talvez achasse necessária, vital à si mesma. Tem dialogos reticentes, desassociados da ternura anterior. Transferiu parte das dores físicas para alma que também sofre. Joga sedas para cima na insistencia de caçar fantasmas que não existem. Fechou todas as suas portas de comunicação e reforçou-as com trancas de rancor invioláveis. Mantem-se no silêncio, no obscuro vão do silêncio, armada, desconfiada e triste. Talvez eu também devesse fechar as minhas e buscar "o nada" como resposta!

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De manhã, café preto, pãozinho francês com manteiga aquecido no microondas e o laptop sobre a mesa da cozinha, onde visito todos os blogs registrados em minha lista de favaritos. Leio-os atentamente enquanto vou bebendo meu café. Alguns, tem novidades todos os dias, outros ainda permanecem com os mesmos textos de dias ou semanas anteriores, mas mesmo assim abro-os religiosamente. Li em algum lugar que os blogs são otimos companheiros pois voce não tem a obrigação de estar frequentemente em cima deles postando alguma coisa para ser fiel à conta adiquirida. Voce pode esquece-lo por dias, meses e então num momento de pura inspiração escrever algo que considere importante pra voce ou para quem queira lê-lo. Pode ser um intreterimento, uma válvula de escape nas horas de solidão e por que não arriscar dizer, um tipo de terapia onde voce pode expor suas opiniões, alegrias, intenções e etc... Interagir, se assim desejar, com outras pessoas com idéias semelhantes as suas ou não. No meu caso, tudo começou por brincadeira e curiosidade, depois de algumas semanas ja dominando e aprendendo mais sobre os recurssos e ferramentas do programa virou uma especie de prazer necessário. Talvez um vicio agradavel.

benção de criança

Piruletumbum pra cima, piruletumbum pra baixo esta dor virará capacho!
Estas eram as palavras mágicas ditas por minha prima Júlia, quando eu e meus irmãos, íamos a sua casa visita-la. Depois passava as mão em nossos rostos e sorria dizendo:
Estão curados, podemos brincar!
Será que existia alguma magia em suas palavras, em sua caricia em nossos rostos?
A verdade é que nos sentíamos melhor, mais aliviados como se aquilo fosse uma benção divina. Depois, brincávamos até perder o folego de tanto nos divertir.
Guardávamos segredo sobre isto, para que ela não perdesse estes poderes mágicos.

Dona Noêmia

Atendi ontem dona Noêmia que estava trancafiada em seu barraco pobre, numa vila da cidade. Sua família apavorada disse-me que ela sempre agia assim, por que não tomava seus remédios com freqüência conforme a indicação da receita médica. Passava as noites em claro fazendo barulho, arrastando os poucos móveis no barraco pobre, batendo portas, falando sozinha, chorando, brigando com os vizinhos e algumas vezes tentando agredir quem a olhasse com estranheza.
Depois de muita negociação, dona Noêmia abriu a porta e veio conversar comigo dentro da ambulância. Antes, trocou de roupa, maquiou-se, perfumou-se e se sentou na maca como uma dama convidada a tomar um chá da tarde. Contou-me sua história de vida de um jeito que parecia estar muito lucida e coerente naquele momento. Falou-me que casou-se uma vez só e deste enlace teve uma única filha, que lhe deu um neto. Criou este neto como se fosse seu filho pois a mãe fora assassinada quando o menino tinha apenas dois anos de idade. Morreu esfaqueada com mais de dez golpes, enquanto dormia em sua casa. Nunca descobriram quem a assassinou e por quais motivos. Sustentou, educou e deu amor ao menino até ficar homem, criar independência e casar-se. Disse-me ainda, que desconfiava das pessoas, e de seus parentes e que tinha saudades do neto-filho que não mais a visitava. Falou-me que era louca, por que nunca aceitou a morte violenta da filha, o esquecimento do neto e a falta de justiça... Que era louca por que não se calava, não aceitava, não compreendia o silencio cúmplice das pessoas em favor da injustiça e que jamais aceitaria enquanto vivesse aquela tamanha violência em sua vida. Despediu-se de mim na porta da emergência psiquiátrica com um aperto de mão e um pequeno sorriso nobre, discreto, talvez ciente de sua loucura e desconfiada de minha normalidade oportuna. Pensei em dona Noêmia com tristeza e um pouco de culpa. Culpa dos que podem fazer tão pouco por pessoas como ela. Pensei também que tínhamos algumas coisas em comum, talvez a insatisfação, a revolta, por situações ocorridas na vida que não se consegue entender. Dores acumuladas, disfarçadas mas que em certos momentos querem se exorcizar, se soltar com cara de loucura.

Eu conheço de perto a loucura

Eu conheço de perto a loucura. Ela mora no meu sangue e me fala com voz mansa que precisa se soltar, se desvencilhar das amarras, das malhas, do convencional, das regras elaboradas, dos intuitos perversos da moral, das violências pessoais e eu com medo reprimo-a, trancafio-a, afogo-a para que não grite, não arrebente, não transborde, não mostre sua cara para os outros. Fico repetindo frases feitas, reelaborando idéias medíocres, vigiando meus gestos e intenções para me sentir normal. Aceitavelmente normal. Mas eu conheço de perto esta loucura e sei do que seria capaz de me tirar completamente o sono, fazer-me arrastar moveis pela madrugada à fora, a vagar e a gritar feito louco, falar sozinho, de mim para mim, até cansar!

Cansaço estresse raiva.

Hoje foi mais um dia de trabalho e então cheguei muito cansado ao ponto de não ir direto para o banho como sempre faço. Deitei -me na cama com as pernas e os braços esticados, olhando para o teto branco e lembrando de todos os momentos estressantes que foi o meu dia. Penso que as vezes pode ser possível contornar estas situações de explosão, de raiva e insatisfação geral com o trabalho, mas em outros momentos a pressão gerada é tão intensa que acabamos cedendo a indignação que hora frustra, hora desacredita em dias melhores tornando-se quase impossível impedir que se acenda o pavio da desordem, e do descontrole pessoal. Acredito que todo o clima de dor, sofrimento, angustia vinda dos clientes e vitimas que atendo nas ruas muitas vezes em péssimas condições, quase mortos, não me causam tanto cansaço quanto os trâmites burocráticos, os desvios de responsabilidades, os desrespeitos, as omissões de uma fatia minima de profissionais da sociedade que acreditam piamente que tratam de saúde com decência e salvam vidas por trás de mesas, gabinetes, telefones e rádios de comunicação. Estes heróis deveriam aprender que vidas se salvam quando colocamos as mãos no sangue, ouvindo gemidos, gritos, queixas, arregaçando as mangas, respeitando limitações, desfazendo os laços das diferenças de cor, das diferenças sociais , objetivando unicamente a manutenção da vida, sem sentirem-se deuses ou juizes. Quem sabe um dia aprendam que para a realização de um trabalho serio deve haver respeito mutuo entre todas as partes envolvidas e sem divisão de castas. Quem sabe assim eu deitaria em minha cama tranqüilo e com a sensação absoluta de ter feito a minha parte com satisfação!

Perguntas e respostas

Pensei de repente, que talves não seja melhor que tudo fique absolutamente transparente, absolutamente visível, claro, entendível; um pouco de sombra pode ajudar a estabelecer certas duvidas naturais da vida, tão necessária ao nosso imaginario, a nossa fantasia, a nossa inocência. Fértil á sobrevivencia. Afinal por que saber dos reais motivos, das necessaria atitudes, dos verdadeiros conceitos e motivações? Faz-me bem algumas vezes ser embalado por minha própria ignorância e acreditar que algumas coisas não possuem respostas, por que surgem sem uma razão específica. Surgem desmioladas, sem origem, sem causa. Nasce por nascer...e quando se pensa nelas tentando esmiuça-las, surgem infinitas elocubrações indefinidas, volateis, complexas e perturbadoras. Hoje quero dormir sem respostas das perguntas que me fiz, sem o peso das buscas. Quero dormir solto, despreocupado no leito grandiosos da preguiça, irresponsável, talvez amanhã acorde cheio de perguntas numa ansia desesperada por respostas que hoje não estava afim de desvendar por que optei pela divina ignorância.

AQUI

No carro, transparência nos sorrisos. Satisfação de estar ali um do lado do outro cantando musicas do repertório do arquivo mental. Todas as musica que se pudesse lembrar, a musica da hora, do gosto pessoal, do passado, do presente. Prazeroso isto!.. Isto é também uma espécie de namoro, talvez não muito diferente de tantos outros que devem pintar por aí. Cumplicidade no olhar, no sorriso, erro de compasso, de letras, desafinação, sei lá... Não precisa falar de muitas coisas, as musicas falam oque se gostaria de dizer, oportuna e sem constrangimentos.

[Eu nunca disse que iria ser A pessoa certa pra você Mas sou eu quem te adora]

[Se fico um tempo sem te procurar É pra saudade nos aproximar E eu já não vejo a hora]

[Eu não consigo esconder] Certo ou errado, eu quero ter você Ei, você sabe que eu não sei jogar Não é meu dom representar] [Não dá pra disfarçar Eu tento aparentar frieza mas não dá É como uma represa pronta pra jorrar Querendo iluminar A estrada, a casa, o quarto onde você está] [Não dá pra ocultar Algo preso quer sair do meu olhar Atravessar montanhas e te alcançar Tocar o seu olhar Te fazer me enxergar e se enxergar em mim] [Aqui Agora que você parece não ligar Que já não pensa e já não quer pensar Dizendo que não sente nada] [Estou lembrando menos de você Falta pouco pra me convencer Que sou a pessoa errada] [Eu não consigo esconder Certo ou errado, eu quero ter você Ei, você sabe que eu não sei jogar Não é meu dom representar] [Não dá pra disfarçar Eu tento aparentar frieza mas não dá É como uma represa pronta pra jorrar Querendo iluminar A estrada, a casa, o quarto onde você está] [Não dá pra ocultar Algo preso quer sair do meu olhar Atravessar montanhas e te alcançar Tocar o seu olhar Te fazer me enxergar e se enxergar em mim Em mim... Aqui]

Letra e musica de: Ana Carolina e Antônio Villeroy

Suburbano coração

Algumas musicas que ouço, me fazem lembrar de pessoas, de situações, de vivencias que compõe minha vida, meus dias, bordando emoções. Brilho solitário do vidrilho perdido e depois encontrado sem esforço, ao acaso.

Quem vem lá
Que horas são
Isso não são horas, que horas são
É você, é o ladrão
Isso não são horas, que horas são
Quem vem lá
Blim blem blão
Isso não são horas, que horas são

A casa está bonita
A dona está demais
A última visita
Quanto tempo faz
Balançam os cabides
Lustres se acenderão
O amor vai pôr os pés
No conjugado coração
Será que o amor se sente em casa
Vai sentar no chão Será que vai deixar cair
A brasa no tapete coração

Quando aumentar a fita
As línguas vão falar
Que a dona tem visita
E nunca vai casar
Se enroscam persianas
Louças se partirão
O amor está tocando
O suburbano coração
Será que o amor não tem programa
Ou ama com paixão
Mulher virando no sofá
Sofá virando cama coração
O amor já vai embora
Ou perde a condução
Será que não repara
A desarrumação
Que tanta cerimônia
Se a dona já não tem
Vergonha do seu coração.

Composição:
Chico Buarque

LUZ E SOMBRA do Livro Morangos Mofados de Caio Fernando de Abreu

LUZ E SOMBRA:
[Deve haver alguma especie de sentido ou o que virá depois?- São coisas assim as que penso pelas tardes, parado aqui nesta janela, em frente aos intermináveis telhados de zinco onde às vezes pousam pombas, e dito desse jeito você logo imagina poéticas pombinhas esvoaçantes, arrulhantes. São cinza as pombas, e o ruido que fazem é sinistro como o de asas de morcegos. Conheço bem os morcegos, seus gritinhos agudos, estridentes. Mas não quero me apressar. Penso que se conseguir dar algum tipo de ordem nisto que vou dizendo haverá em conseqüência também algum tipo de sentido. E penso junto, ou logo depois, não sei ao certo, que após essa ordem e esse sentido deve vir alguma coisa. O que depois?- pergunto então para a tarde suja atrás dos vidros, e sinto reconfortado como se houvesse qualquer coisa feito um futuro à minha espera. Assim como se depois do chá fumasse lentamente um cigarro mentolado, olhando para longe, aquecido pelo chá, tranqüilizado pelo cigarro, enlevado pelo longe e principalmente atento ao que virá depois deste momento. Faz tempo não tomo chá, e controlo tanto os cigarros que, cada vez que acendo um, a sensação é de culpa, não de prazer, você me entende? Não, você não me entende. Sei que você não me entende porque não estou conseguindo ser suficientemente claro, e por não ser suficientemente claro, além de você não me entender, não conseguirei dar ordem a nada disto. Portanto não haverá sentido, portanto não haverá depois. Antes que me faça entender, se é que conseguirei, queria pelo menos que você compreendesse antes, antes de qualquer palavra, apague tudo, faz de conta que começamos agora, neste segundo, e nesta próxima frase que direi. Assim: é um terrível esforço para mim. Se permanecer aqui, parado nesta janela, estou certo que acontecerá alguma cosa grave- e quando digo grave quero dizer morte, loucura, que parecem leves assim ditas. Preciso de algo que me tire desta janela e logo após, ainda, do depois. Querer um sentido me leva a querer um depois, os dois vêm juntos, se é que você me entende...] 

Por que postei este pedaço do texto de Caio Fernando de Abreu as seis horas da manhã? Não sei a o certo!...talvez por identificação e porque perdi o sono. Por causa da janela como pano de fundo descrito no texto e coincidentemente algumas vezes tento ver o meu mundo através de uma delas? Obter minhas respostas? Pelas pombas cinzas sobre os telhados que também arrulham sobre as casas vizinhas daqui?... Infinitos telhados, a duvida sobre o sentido das coisas, e a compreensão do fluxo quem sabe monótono ou apressado da vida, do nosso interior, a ânsia de se compreender e ter respostas a tudo isto? Algo neste texto descreve pontos que me são pessoais, particularmente especial em minha vida, em minha loucura particular, batendo em minhas duvidas, cutucando reticencias que há em mim e acredito também, em ti e que se falarmos ninguém compreende.

Raros momentos com Gal.

Hoje retornando do serviço pra casa, coloquei o cd de Gal Costa, Acústico-MTV no som do carro e fiquei fissurado naquelas musicas que tantas vezes já ouvi e que quando retorno à ouvi-las, bem... Baixou um clima de saudosismo gostoso, principalmente quando ouvi as canções como: Não Identificado de Caetano Veloso, Sua estupidez de Roberto Carlos, Vapor barato de Zeca Baleiro e camisa amarela de Ary Barroso. Nestes momentos de rara intimidade, tenho a impressão de que somos belos e imortais como estas musicas maravilhosas.

Práticas de amar

Existem pessoas que modificam o conceito de amar por que cometem praticas destorcidas contra quem ama. Tentam ditar regras, sufocar liberdade, impor suas verdades. Puxam ganchos de problemas vazios ou que não existem para te pendurar neles. Esticam cordas para se equilibrarem com sentimentos ora de alegria, ora de frustração tentando te arrastar com elas nesta dança absurda. Sempre querem mais do que se tem para dar, ficam insaciáveis, insatisfeitas, perigosamente letais. Eu estou fora desta.

A despedida

Moema partiu sábado à tarde com a finalidade de vivenciar a alegria da qual chama de vida. Retomar contatos de seu convívio do passado. Despediu-se com olhar profundo, mesclado de doce e azedo, dominada talvez pelo cansaço de suas antigas intensões. Percebi que fará uma desintoxicação de mim. Limpará sua alma, suas feridas ainda abertas para que seja breve a cicatrização, a cura. Fiquei sentado com o olhar fixo no laminado do chão, procurando oque pensar, ouvindo o ruido da chuva imaginaria que não caiu sobre o telhado . Senti seus batimentos do coração junto dos meus numa sinfonia desgovernada, seu cheiro de priprioca, sua coragem de gigante. Em breve retornará outra à procura urgente de sua nova vida.

Profissão de risco

Transferi ontem à noite, do posto de saúde da Restinga para o Pronto Socorro, um soldado aposentado da brigada militar que foi baleado no abdome e braço, em defesa sua e da comunidade, contra uma ação criminosa em um supermercado nas redondezas da Estrada do Barro Vermelho. Lembrei deste fato, por que enquanto deslocávamos na ambulância, ele me comentava sobre a sua necessidade de ainda ter que trabalhar depois da aposentadoria, para puder manter a família. Havia momentos em que ele chorava e depois rezava agradecendo à Deus por sua vida e também pedia que livrasse seu filho do caminho desta profissão tão pouco remunerada e arriscada.

Sexo à três

Uma amiga que não vou dizer o nome nem que a vaca tussa, me contou que seu namorado perguntou-lhe certa vez oque ela gostaria de experimentar de "novo" com ele, quando iam ao seu apartamento transar. Depois de alguns dias, fazendo charminho, boquinhas e vencer a timidez, ela disse-lhe que tinha vontade de transar a três.
-Ha três? Como à três? Perguntou ele dividido entre mesclas de curiosidade, surpresa e desconfiança.
-Eu, tu e outra mulher! Confessou-lhe revelando seu segredo de muito tempo. Ele então excitado, comprometeu-se de providenciar outra parceira, e quando conseguiu, a o contrario do que minha amiga pensava, tudo transcorreu a mil maravilhas, em perfeita harmonia e sem comprometer a satisfação dos três.
Algumas semanas depois, envergonhada, ela terminou tudo com ele, que a ligava insistentemente insinuando que as duas teriam iniciado um caso. Ela disse-lhe então, que nunca mais vira a moça de novo e que só com ele não achava mais graça.
Bem, postei este texto sobre minha amiga, não com o objetivo de contar uma história de sacanagem ou uma piada vulgar para aborrecer os preconceituosos e puritanos, mas com o intuito de alertar as pessoas sobre nossos desejos muitas vezes sufocados e reprimidos por falta de coragem e vergonha. Medo de assumi-los diante de nós mesmos, de descobrir interesse por coisas ditas fora do normal.
Acho que vale a pena o experimento de nossa libido desde que não prejudique a nos nem a ninguem, desde que todos fiquem felizes e satisfeitos com seus fetiches e desejos "proibidos".

Será que estou ficando louco?

Tenho deixado de cortar os meus cabelos, que são crespos, pra mais de três meses. Resolvi mudar de cara ou estou ficando completamente louco. Como trabalho nas ruas, pescando gente atropelada, acidentada e outras coisitas mais, as vezes não dá tempo para ajeita-lo. Hoje quando levei um paciente para a emergência clinica do Pronto Socorro, a doutora Carmem me perguntou assustada enquanto eu entrava na sala:
-Oque é isto?
-É um paciente!
-Não, o teu cabelo?..
Todos riram, menos ela com a expressão de preocupada.

O FUJÃO


Hoje Bili resolveu passear. Aproveitou o descuido de sua dona e escapolio às pressas pelo cantinho do portão entre aberto quase derrubando-a no chão. Contam que Bili é um labrador de natureza dócil e educada, mas a possibilidade de dar uma fugidinha em direção a liberdade das ruas, praças e qualquer canto que pudesse enfiar seu focinho curioso, fazia-o sempre esquecer as boas maneiras. Mobilizou toda a família durante o dia em sua procura e nada. Já no final da tarde, quando já escurecia e todos demonstravam exaustão, brabeza e uma certa preocupação por estar quem sabe morto, atropelado, preso em algum cativeiro, retornou sujo, de orelhas caídas, rabo entre as pernas e olhar de resignação. Quando chegou silencioso, foi uma festa geral, mistura de risos, alívio e advertência: Se tu fizeres isto de novo, vais para a corrente!
Bili deitou sobre o seu tapete na entrada da garagem e dormir a noite toda com cara de criança cansada.

Voadeiras



Tenho paixões que se alternam periodicamente em minha vida. Elis, Zizi, Cássia Eller, Marisa Monte e ai se vão. Há alguns dias descobri Mônica Salmaso a partir do programa Som Brasil em homenagem a Edu Lobo realizado pela TV Globo dia 25/07 do qual postei comentário em meu blog. Entrei na internet, pesquisei sobre a cantora, ouvi suas musicas e foi um encantamento total. Baixei seu cd Voadeira do qual destaco as musicas: Dançapé de Mario Gil, Senhorinha de Guinga, Canto em qualquer canto de Ná Ozzetti, Silenciosa de Fátima Guedes, Ave Maria no Morro de Herivélto Martins. Curioso com o titulo escolhido para seu cd, chamado Voadeira, fui em busca do significado da palavra que a principio não tinha referencia no dicionário do Microsoft Office Word, mas que encontrei por teimosia no site: , da jornalista Carol Costa que explica: Voadeira, um tipo de barco, tem um pouco cara de roça, de alçar vôos particulares, de coisas simples.
*Mais informações sobre a cantora: Entre em seu site:aqui

A Morte

A morte não tem conceito exato, nem raso. Não é apenas um corpo sem vida sob uma cova, mas ausência total de trocas elementares, boas ou ruins!

VÔ ANTÔNIO.

Antônio Barbosa, era o homem que conheci como avô. Era o terceiro marido de minha avó, que antes viuvou de dois e com ele não teve filhos. Era um homem quieto, autoritário e pouco simpático. Raramente dirigia-me a palavra e seu olhar sisudo demonstrava a pouca simpatia que tinha por mim.
Quando morreu, seu corpo foi velado sobre a mesa da cozinha, onde tantas vezes orou antes de fazer as refeições. Seu caixão era simples e sem adornos e nem flores foi jogado sobre o seu corpo porque era contra cerimonias ou homenagens fúnebres.
Meus tios contavam que um mês antes de sua morte, ele chamou minha avó e disse-lhe que já estava perto a sua partida. Entregou-lhe uma pasta com documentos e dinheiro para que não fosse pega de surpresa na hora de seu enterro. Apesar de nossa pouca ligação de afeto, eu sabia que era um homem integro, sensível e temeroso á Deus e pelo qual toda a família lhe tinha respeito...

O VELÓRIO


Meu avô e eu tinha uma relação de distancia...( distancia essa imposta por ele e que só mais tarde vim saber a razão). No dia de seu velório, aproximei-me para vê-lo deitado no caixão de terno escuro e mãos sobrepostas, cobertas por um lenço branco. Era um dever de todos os entes queridos independente da idade, dar o ultimo adeus, com um beijo de despedida na testa de quem morresse. Embora não me sentisse querido, sentia-me na obrigação de faze-lo por uma questão de respeito a minha avó e aos que estavam presentes. Sentia arrepios só em pensar em ter que encostar minha boca naquele rosto que parecia de cera, pálido e frio, mas precisava me imbuir de coragem e seguir em frente. 
Quando o representante do templo que ele frequentava chegou para encomendar-lhe a alma, senti que teria ainda alguns minutos antes do temido sacrifício, embora soubesse que cada vez mais se aproximava do momento. Todos se despediram e então chegou minha vez. O beijo foi rápido e com aquela sensação de que tinha recebido um castigo e que duraria para toda a minha vida. O caixão foi lacrado e então todos saíram para a rua, de cabeças baixas, em silencio, acompanhando-o até sua morada final.
O corpo quando é preparado e entregue aos familiares, não é o mesmo da pessoa que conhecemos, vem alterado, completamente alterado. A face vem maquiada  com pó de mármore e os lábios de cor desbotado, fugindo do que habitualmente conhecemos. Tudo perde a cor, até os traços marcados por sentimentos desaparecem e não são mais reconhecidos por nós. Há uma falsa serenidade presente, uma imobilidade impactante que assusta.
A alma foge do corpo e não é mais possível ver o brilho nos olhos, por hora fechados, para sempre fechados. Desta forma, sem alma, não pode existir serenidade.
Já não temos presente a pessoa que conhecíamos, temos apenas um pedaço de carne, diferente de  quem conhecíamos e então começamos a sentir saudades do que está faltando e que não está ali, como se tudo fosse um teatro, uma mentira que tomaremos como verdade para sempre. 

Campo Santo

Minha cama, na casa de minha avó, era um campo santo, feita só para mim dormir, de cobertores de lã, sobre o chão ao lado da dela. Na madrugada eu esticava minha mão pequena em sua direção, que me envolvia de calor e conforto maternal. Somente assim eu me sentia protegido e conseguia dormir com tranqüilidade e em paz. Muitos anos depois ainda sentia um certo desconforto em dormir sobre camas com colchões.

Dia dos Pais


Hoje, Dia dos Pais, acordei com um frio na barriga, lembrando do meu pai. Correram flaches na minha memória , do tempo em que eu ainda era garoto e esperava reações de carinho, amizade e atenção por parte dele e que nunca vieram. Com o tempo, passei a entender que as pessoas dão aquilo que recebem e que acumulam no decorrer de suas vidas, oque talvez tenha sido seu caso. Quando fui presenteado com o nascimento do meu filho, prometi que tudo seria diferente, pois lhe daria tudo oque não recebi. Em nossos encontros, quando nos abraçamos e nos beijamos, nossas trocas de olhares tem luz azul, cumplicidade e emoção, sinto que circula entre nós muito mais do que um simples cumprimento afetivo entre pai e filho, muito mais que uma relação de amizade, pois transcende a tudo isto, fazendo minha alma inebriar-se de felicidade e eu ficar assim bobo, imensamente agradecido por sua existência.

888- Abertura do Portal de Orion

Recebi da amiga Cleusa, um email dizendo que hoje 28 de Agosto de 2008, traduzido por 888, é o dia que marca a entrada da humanidade no mundo novo, de ascensão espiritual através da abertura do Portal de Orion. Este dia é marcado pelo encontro espiritual entre homens e deuses. A constelação de Orion é um ponto de referencia cósmico que opera energia, formando a teia da vida na galáxia. Os poderes do universo emitem novos níveis vibratórios, como parte do processo evolutivo da humanidade. Segundo entendedores profundos no assunto, o efeito desta abertura é a multiplicação da intensidade de nossas emoções e aspirações sejam elas quais forem. Isto significa que cada emoção, intenção, desejo se positivo ou negativo emanado por nós será ampliado mais de um milhão de vezes em nossa intenção. Nossos pensamentos criam nossa realidade a partir do que focarmos em pensamentos e desejos, por tanto neste dia devemos mentalizar somente pensamentos bons, positivos, desejando coisas boas para si e o proximo.

OUTROS OUTUBRO VIRÃO

Ontem de manhã, antes de sair para o trabalho, beijei meu filho que ainda estava deitado na cama com seu breve sorriso de sonhos. Será que sonhava, e com oque? 
Coincidentemente, quando peguei meu carro na garagem e liguei o rádio, tocava uma musica de Milton Nascimento, na voz de Elis cantando o seguinte refrão conhecido: "Oque foi feito amigo de tudo que a gente sonhou, o que foi feito da vida, o que foi feito do amor?"... Já na rua, levantei o volume do rádio e fui cantarolando a canção e a o mesmo tempo me perguntando sobre a veracidade daquela letra e fazendo histórias paralelas que falavam de sonhos que montamos em nossa singular juventude e vão se desfazendo no transcorrer da vida, ou que são substituídos por outros que exigem menos esforços, menos paixão, trocados por responsabilidades ditas maiores ou pela seriedade que impomos à vida. 
Pensei também, que afinal, viver com responsabilidade e seriedade não nos coíbe de sonhar, de acreditar em dias melhores. Lembrei-me de amores e conquistas que idealizei e que até vivi provisoriamente acreditando na sua permanência em minha vida e que se foram com o passar dos dias, dos meses, dos anos, sendo trocados gradativamente por sonhos novos, as vezes maiores ou menores, pelo infortúnio das impossibilidades, das surpresas que obrigam-nos a mudar de rumo, a repensar, a abrir mão de. 
Vivemos assim, acreditando que "outros outubro virão, outras manhãs plenas de sol e de luz", como diz um dos estrofe da musica, guardando nossos sonhos na palma da mão sem abri-la, deixando para viver amanhã o que se poderia ter vivido hoje, com paixão e a tesão dos amantes, com o pássaro preso, sem deixa-lo voar. Tomara que os sonhos de meu filho sejam tão coerentemente loucos ao ponto de serem realizáveis e faze-lo voar sem medo, sobre Outubros, Novembros, o que vier.

Ação criminosa

Hoje pela manhã quando cheguei para trabalhar a surpresa já aguardada e muito comentada entre os colegas: A base do SAMU na Restinga, tinha sido arrombada durante a noite enquanto os colegas faziam uma remoção de uma paciente gravida ao hospital. O ladrão ou seriam dois, entraram retirando o aparelho de ar condicionado da parede pelo lado de fora do prédio e então ja dentro da base tentaram arrombar a porta principal com um pé de cabra no intuito de levarem objetos maiores como televisão, microondas, fogão, geladeira. Durante esta ação criminosa, só conseguiram carregar o aparelho de ar condicionado que deixaram a alguns metros para mais tarde buscarem e a bolsa da colega que estava de plantão, contendo documentos, dinheiro, cartões de crédito e um carregador de telefone celular. A policia, acionada por algum vizinho atento nas redondezas e que ouviu barulhos na base, chegou rápido e logo saiu a procura de vestígios dos ladrões. As ligações da gerencia do SAMU, da sala de regulação médica e responsáveis técnicos começaram a chegar cedo, preocupados com o fato da ambulância estar fora de atendimento e assim deixando descoberta uma das regiões mais populosas da cidade, cerca de 130.000 habitantes, representando mais de 10% da população total de Porto Alegre. Recebemos também a visita do Diário Gaúcho e da RBS com o objetivo de documentar jornalisticamente o fato ocorrido. Este fato lastimável, não foi de maneira alguma um fato isolado pois no mesmo local ja ocorreram anteriormente roubos de refletores, de telas de isolamento do terreno e arrombamentos de veículos dos funcionários que pra lá se deslocam para noites de plantão. Revoltados com a violência e a criminalidade que se estabelece cada vez mais e incompreensivelmente vitimando um serviço que serve como instrumento de socorro e ao salvamento de vidas, os funcionários demonstraram preocupação e insegurança lembrando mais uma vez a trágica história da colega que foi assaltada e depois violentamente morta com um tiro na cabeça quando chegava para trabalhar na base do SAMU no bairro Belém Novo.
-Vocês salvam vidas todos os dias, mas quem protege a de vocês? Comentou alguem que passou hoje por lá.

Fim de tarde

Por aqui a tarde cai seus olhos numa expressão de tristeza e cansaço desolador. As arvores abanam seus galhos despedindo-se do dia que correu apreçado, ora de vento, ora de sol, ora de chuva que abençoou a terra, que umedeceu as ruas e fertilizou as praças com cheiro de húmus, e tudo vai se fechando numa escuridão serena, lenta para encontrar o novo dia.

Transporte coletivo

Hoje, fim de mês, foi um dia daqueles!.. Transferências bancarias, Pagamento de contas, renegociação de dividas e para me deslocar a tantos lugares e enfrentar filas, ouvir explicações sobre transações financeiras e funcionamento de taxas de juros, deixei o carro na garagem e fui de ônibus para evitar além de tudo o estresse de dirigir neste transito maluco e sem lugar para estacionar. Devo dizer que não foi uma experiencia traumatizante como pensei, uma vez que a frota de transportes da cidade atualmente, oferece conforto e tranqüilidade aos passageiros e você pode ainda optar entre vislumbrar pela janela os vários roteiros viários como praças, modelos arquitetônicos de prédios em construção, desvios, acidentes no percurso ou ouvir a conversa de algum passageiro no coletivo. No meu caso, decidi prestar atenção a uma jovem sentada a o meu lado e que falava no telefone celular com seu namorado ou talvez marido, não sei! Mas ela perguntava-lhe insistentemente se iram sair à noite e ele provavelmente dava-lhe alguma desculpa ou justificativa de sua impossibilidade, por que ela balbuciava baixinho e de voz meio embargada: Como? Eu não acredito! Tu não podes fazer isto comigo, eu já me preparei, gastei oque não podia! Pensa com carinho amor!..Depois de alguns segundos pensativa e em silencio, desligou o aparelho abruptamente e levantou-se para desembarcar na próxima parada com a expressão refeita e a pressa dos que não podem perder tempo com problemas menores. Como eu!

A BELA VOZ DO BRASIL.

Dia 25 do mês 07, sexta-feira, a Tv Globo presenteou nós, telespectadores, com um belíssimo show em homenagem á Edu Lobo, considerado um dos ícones da nossa musica popular brasileira. Edu foi parceiro de Vinícius de Moraes e ganhou um dos grandes festivais de musica com Arrastão, depois novamente com Ponteio. 

Para interpretar as musicas de Edu o programa Som Brasil convidou Mônica Salmaso, Thaís Gulin, Nação Zumbi e Bena Lobo- filho de Edu. Particularmente o ponto alto do show foram as interpretações das musicas, Beatriz, Ciranda da Bailarina, Casa Forte e A história de Lili Braun na magnifica e afinadíssima voz da cantora Mônica Salmaso, em dueto com Edu. 

A produção do programa Som Brasil da Tv Globo está de parabéns por nos proporcionar tamanho espetáculo.

Link: Mônica Salmaso interpretando "Beatriz".

Benzeduras

Dona Djanira gostava de me benzer, dizendo que eu tinha mau olhado quando que eu era garoto. Pegava sua enorme tesoura preta e enferrujada com um carvãozinho aceso, preso na ponta e um copo de água na outra mão, enquanto falava coisas baixinhas que eu acreditava ser orações de proteção. Nunca ouvi direito o que falava, mas sabia que era de boa intenção. Dona Djanira já se foi a muito tempo e eu mais do que nunca preciso em certas horas de sua proteção.

Nascimento do dia.

Era noite quando Tereza e eu caminhávamos na beira da praia observando as ondas explodirem nas pedras e suas espumas lamberem a areia branca. Caminhávamos abraçados e descalços sobre o tapete fofo, enquanto observávamos também o horizonte turvo e compacto, onde o céu e o mar se unem e se perde a noção do que é água e do que é céu. Vimos então um risco de luz tímido aparecer por de traz das ondas negras. Quando paramos para olhar, esta luz se expandiu em raios por cima da aguá e uma bola vermelha começou a surgir, assustadoramente bela de dentro do mar. Sentamos assustados sem saber oque acontecia e a medida que crescia foi iluminando tudo como uma imensa tocha de fogo mágica. A noite desaparecia rapidamente diante de nossos olhos como se abrissem uma janela num quarto escuro, por que tudo se iluminava e então percebemos que assistíamos um milagre natural, a morte da noite e o nascimento do dia. Jamais me esqueci disto!



29/07/2008

Eu aprendi a lançar um olhar diferente para as pessoas da qual convivo. Tento buscar motivos óbvios para suas atitudes perante a vida e a mim, atitudes nem sempre aceitáveis, nem sempre amáveis, nem sempre compreensíveis. Não me permito acreditar em falsidades, em segundas e terceiras intenções, mesmo sabendo que tudo pode ser possível. Viver na desconfiança é tentar sobreviver numa gerra fria sem saber quem são os aliados, arredio, sem perspectivas de dias melhores. Quando penso nelas, tento acreditar em seres humanos melhorados e passivos de erros, que preze acima de tudo a boa convivência, o respeito e a dignidade entre as pessoas. Se não, por que estar por aqui?

Salton Flowers Aromático/ Demi Sec

Ontem a noite foi momentos de risos, de saudades, e lembranças da infância e da adolescência sentidas tão perto na emoção, mas tão distante no tempo. Regamos tudo com um vinho barato e delicioso, chamado Salton Flowers, branco, demi- seco com aroma de flores cítricas, rosas, jasmins e frutas como pêssego, abacaxi e banana. Dormi em paz e feliz.

A visita

De noite Chayanne ainda com o mesmo rosto moreno de quinze anos atrás, entrou em minha casa, invadiu meu quarto e em silencio, cantou o mantra que a muito tempo não cantava sob a fumaça de incensos cheirosos. O mantra da Harmonia. Lembrei -me dela quando ainda era Irene, antes de entrar na filosofia indiana e trocar de nome, de vida, de amores. Será que eu ainda estava sob o efeito do vinho?

Canoas de Caiobá


As canoas ficavam ancoradas de frente para o mar, esperando a hora de partirem. Eram tantas as cores que ficava difícil eleger a mais bonita entre todas! Eram iluminadas pela luz da lua e quando por ali se passava sentia-se o cheiro do mar , do peixe, da simplicidade, da liberdade que se vê somente em cartões postais.
Saudades de lá!

Quinta-feira

Quinta-feira tudo parecia estar bem, mas de uma hora para outra me vi estranhamente inquieto. Era noite e saí para jantar na casa de amigos e mesmo no clima caloroso e festivo com que sempre sou recebido, sentia-me deslocado e desatento a tudo e a todos. As anchovas grelhadas estavam ótimas e o vinho tinto nem se fala, mas eu, oscilava entre sentimentos de ansiedade e angustia, do qual não sabia sua origem e nem oque fazer para que passassem. Caminhava de lado para outro, debruçava-me sobre as janelas sem me fixar em nada que via e a cabeça repleta de um vazio sem dimensões. Em alguns minutos parecia que sobrava um pequeno espaço de raciocínio lógico, onde eu retornava ao 'planeta de origem', as pessoas, as anchovas grelhadas, ao vinho que pouco bebi; depois voltava a me perder no meu próprio vazio. Mais tarde, ja em minha casa, buscava algum mecanismo interno que me fizesse retroceder daqueles sentimentos que só me abandonaram na manhã do outro dia, quando acordei.

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...