DORES FANTASMAS


Eu deveria escrever neste espaço, um texto que falasse de: [...Uma larga cadeira de couro marrom giratória, um pedaço de espelho colado na parede, uma maquina de cortar cabelos barulhenta, um longo avental branco  sobre o meu corpo e um homem gordo de bigode preto com cara de português insuspeitável...],     mas ainda não encontrei palavras adequadas para isto. Falar e escrever tem pesos e medidas que se distanciam pela falta  de olho no olho que propiciam algumas trocas diretas. Alguns pesadelos não desaparecem com o tempo, ficam  apenas adormecidos em sub-linhas da memoria e voltam a dar aquela sensação de dor fantasma, quando o tempo está para chuva.

Vendedores de sonhos

De tempos em tempos eles batem na minha porta apresentando propostas irrecusáveis, mas sem objetividade e clareza. Eu estou cansado de ser tratado feito um bobo e perceber que estas propostas morrem esquecidas na mesma boca de quem proferiu seu nascimento com entusiasmo. 
Percebo que sonhos não vingam apenas com discursos otimistas e eu não quero saber destes teatros para me manter preso a uma fantasia pessoal..
Não me sinto suficientemente seguro para arriscar-me a morder iscas, nem mesmo um rato para  ser enganado por um pedaço queijo.
Eu deveria aprender a não levar à serio todas estas lorotas, valorizar mais o meu tempo, falar de outras coisas mais interessantes, não ser aqui tão repetitivo, pessimista, desconfiado. 
Eu deveria tirar a roupa, ir pra cama e esquecer destes vendedores de sonhos que surgem em momentos oportunos e depois desaparecem no silencio. Acho que ganharia mais, assistindo o programa da Xuxa.

Exercícios da vida.

Ainda ontem eu e minha mãe convessavamos sobre pessoas que nos procuram  apenas por interesses pessoais, (e que não são por saudades da cor de nossos olhos, de saber como estamos  vivendo ou simplesmente por vontade  de estar em nossa companhia para uma converssa descompromissada de velhos amigos). 
Minha mãe tem pelo menos vinte anos vividos na minha frente e quem sabe o dobro de  surprezas e decepções vividas, que a deixaram tão pacificamente silenciosa diante de atitudes humanas interesseiras, que parecem se estender não só de hoje, mas desde que o mundo é mundo e escorrega em seus proprios conceitos duvidosos.
Minha mãe ainda é lucida, afetuosa, mas não esperançosa de que isto algum dia mude; Alimenta sua vida com sentimentos de gratidão e reconhecimento os poucos que a procuram numa atenção merecida, atraves de um simples alô, um recado, uma pequena visita saudosa.
Com o passar do tempo, percebemos que o numero de amigos verdadeiros e interessados pelo que somos e não pelo temos para oferecer, é inversamente proporcional ao numero de velinhas que se apaga a cada ano. Ela demonstra certa tranquilidade e absorção positiva destas lições que obteve da vida em que eu apenas estou começando a exercitar.

Caricaturas de revista em quadrinhos

A garota loira, logo que chegou em visita a o namorado, parecia ter dificuldades em ficar parada diante dele. De corpo franzino e quase sem seios, movimentava-se como se tentasse fazer charme  num excessivo conjunto de poses e trejeitos que a deixavam tão artificial como numa cena de novela mexicana. Por mais que se esforçasse em  alguns momentos transmitir seriedade, não era suficientemente convincente a quem a assistisse. Em seguida, começou a fazer elogios aos meus cabelos desalinhados e a cor dos meus olhos como se fossem de uma beleza incomum e utilizando-se de expressões anguladas e closes exagerados que pareciam caricaturas de revistas em quadrinhos. Será que queria provocar algum ciumes no namorado apaixonado, alem de deixar marcada a sua presença cênica tão volátil  como bolhinha de sabão a nós ali pesentes? 
Não parecia haver sinceridade ou verdade no que  falava. 
O namorado por sua vez parecia fascinado, envolvido naquela atmosfera de sedução que o preenchia de toda a masculinidade e desejos de um garoto que entra  tardiamente na faminta fase da puberdade.

Uma peça estraviada

Ontem vi o corpo de um paciente que fiquei babando pela perfeição e também penalizado por ter sido destruído por queimaduras com agua fervente. Não, não, antes que confundam o que estou dizendo, vou logo informando que não era tesão, mas admiração pela perfeita estética numa pessoa com meio século de idade, mantendo ainda traços tão definidos de juventude embora os cabelos grisalhos denunciassem outra realidade. O homem era do interior de Santa Cruz, dono de uma pequena industria artesanal de queijos e ajudava um vizinho na limpeza de um porco que havia sido morto para consumo. Não entendo bem como é feito este processo de limpeza do bicho, mas ele  me contou que havia um grande taxo de agua fervente, onde acidentalmente ele ao resvalar caiu  por cima, atingindo-lhe parte dos braços, pernas, costa e nádegas causando-lhe extensas queimaduras de segundo grau. A esposa que o acompanhava na ambulância embora com aquele sotaque interiorano, também era muito bonita e educada.  Sem más comparações, acho que tive aquela sensação lastimável de quando uma peça de um belo conjunto é extraviada.

Conceito simplório e porra-louca

Simploriamente falando, existem três grupos de pessoas: As boas, as  más e as que circulam entre  estas  aderindo ao seu carater, fragmentos personais da primeira e da segunda, distribuídas em maior ou menor proporção de maldade e bondade. O terceiro grupo, ainda sem um nome  definido, é composto de pessoas mais difíceis de serem identificados por nos confundir com o pluralismo de suas atitudes, muitas vezes camufladas de razões justificáveis. 
As boas possuem atitudes de bondade e são preocupadas com os problemas sociais de toda a  natureza, ajudam cegos a atravessarem ruas e fazem carinho em animais abandonados; Se emocionam com cenas de novela e acreditam que os problemas do mundo tem uma única saída, o amor.
Por outro lado, as más, não perdem tempo com esses assuntos e muito menos com  as outras pessoas, por que estão voltadas para o seu egoísmo e em particular o próprio rabo. São manipuladoras, egocêntricas, pretenciosas, desrespeitosas e adotam conceitos  discriminatorios  a tudo que vai contra a suas regras doentias de estética. Sim eu digo estética por que só enxergam o superficial, jamais a alma de qualquer coisa cuja forma é inimaginavel. São como o Marcelo Dourado do BBB-10 e o personagem Flora  da novela da Rede Globo, um construído in natura e o outro em laboratório da ficção.
A maioria dos que conheço, assim como eu, fazem parte do terceiro grupo mencionado e que divide opiniões, uma espécie de salgadinho embutido de um recheio de bondade e muitas pitadas de maldade aceitáveis pelo INMETRO; Nunca excessivamente bondosos, nem maldosamente letais; Sabores mesclados, porem toleráveis a todos os tubo digestivos e de facil absorção.

Fugindo das baratas

Corro o risco de ter uma destes ataques de fúria, pegar  esta  tal bola azul, equilibra-la no meio de um campo de futebol e chuta-la à gol, embora saiba que não importa em que goleira a bola entre, será sempre gol contra. 
Eu já prometi fugir desta cansativa jornada que me torna  por vezes um imbecil a procura de  algum entendimento, onde tudo parece tão distante e complexo à ordem de meu raciocínio. 
Existe por traz do olhar humano, muitos outros olhares à cerca do que acreditamos, tornando suas atitudes questionáveis e incompreensiveis. Existem mais mentiras  do que verdades nas palavras cuspidas com delicadeza. Por isto, sou homem suficiente para saber o momento certo de fugir das  baratas.

Vodka gelada

De noite me arrisquei no prazer duvidoso do álcool.  Era só o que eu tinha em casa para beber; vodka pura e gelada, esquecida numa gaveta do freezer. 
Na quarta dose, percebi não possuir a resistência russa e então decidi parar por covardia. Depois fiquei pensando que se não temos a disciplina  o suficiente para deitar a cabeça no travesseiro e dormir de mãozinhas postas feito anjo, pelo menos a dignidade de um porre completo. 
Fui pra cama cedo e acordei ainda noite, com a TV ligada  numa algazarra, muita sede e inquietação. Se tivesse dardos, jogaria na parede com a certeza de que erraria todos os alvos naquele momento.

LIBÉLULAS E BAILARINAS.


Ontem à tarde, fui cercado por libélulas que sobrevoavam uma poça d'água, criada pela chuva, no patio do meu trabalho. Seus corpos alongados e asas quase transparentes, me pareciam pequenos helicópteros de guerra,  ou bailarinas esguias executando movimentos sincronizados sobre água, com curiosa beleza. Minha presença  não as inibiu em suas insistentes tentativas de se aproximarem. As vezes faço  comparações que parecem engavetadas numa  outra dimensão de minha realidade, tornando-me tão contemplativo quanto distraído ao que percebo diante de mim. É curioso, pensar que sempre relacionei libélulas com helicópteros e bailarinas, como relaciono outras coisas, na qual esbarro na vida, nem sempre com alguma estética semelhante que as lembrei.

CHUVA MÁGICA

E logo que a chuva esperada chegou neste Sábado, desci até a praça vazia e fui caminhar como havia planejado à semanas. As gotas ardiam em minhas costas e a grama molhada sob meus pés faziam-me  deslizar sobre os passeio entre as árvores floridas e  com cores ainda mais vivas.
Que magia é esta, que cai do céu  como cristais e  transforma  tudo a minha volta com mais cheiro, mais personalidade, mais vida,  do que nos  outros dias que se repetem comuns?
Não tenho respostas pra isto. A gente nunca tem.

Elementos de uma grande mentira.

Já faz algum tempo que deixei de me preocupar com o que escrevo aqui no blog,  sem medo de  não ser compreendido, por utilizar palavras, opiniões e sentimentos pessoais que  se contrapõe  e que talvez me façam parecer uma pessoa desequilibrada, medrosa e  sem bom senso. Acho que não é posivel ser verdadeiro, sem ser contraditório, controverso, duvidoso. Meus sentimentos, são maiores do que minhas atitudes, gestos e posturas sociais diante da vida e reagem  como agua fria jogada numa panela com óleo quente. As vezes escrevo mentiras que penso ser verdades, alimento sonhos que mais tarde percebo não serem possíveis de  realizar e isto ao final de tudo me faz reduzir e perceber o quanto sou humanamente comum e me fragmento com situações que antes pareciam tão  óbvias  e aceitáveis e por alguns momentos tão sem controle.
Eu gostaria neste momento de  caminhar por horas sob a chuva esperada, abraçar arvores, estender-me no chão, na tentativa  de abrandar todo este peso de dúvidas que carrego, todo este meu cansaço e reverter a  sensação de impotência que  a morte me causou nestas ultimas semanas. Preciso de um  pequeno recesso elementar,  que não sei de onde tirar; de um descanso, um tempo para que tudo volte a parecer equilibrado. Preciso voltar a  não ter esta sensação de desconforto e acreditar que ainda haverá tempo, embora não seja possível ter controle sobre nada. Acho que me recuso a aceitar que podemos deixar coisas inacabadas, não resolvidas e simplesmente desaparecer como elementos de uma grande mentira.

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...