Dois.

Observar esta chuva caindo me transforma em dois: Um que fica introspectivo, buscando poesia em detalhes naturais ou camuflados desta vida e o outro. Bom o outro é absorvido pela ansiedade que prende seu corpo entre quatro paredes, deixando-o tão limitado quanto as gotas de chuva que caem e espatifam-se no asfalto. Qual liberdade estes dois buscam, a da alma ou a do corpo? 
Não seria tudo uma coisa só, ou apenas conceitos modificados pelos jogos de palavras? Introspecção e ansiedade não vem da mesma caverna subterrânea?
Ah essa chuva fina que se arrasta pela manhã!.. E ainda este vento frio que assobia pelas arestas...

AS PALMEIRAS SOBRE A PONTE


Que bom que o inverno se foi sem deixar saudades daqueles dias de muita chuva e frio como a muito tempo não se via e sentia por aqui. Até eu que gosto de invernos, já estava angustiado com tanta chuva, que me limitava possibilidades, impedia passeios e adiava alguns encontros. 
Mas independente dos dias frios e chuvosos que se foram e os de temperaturas amena que agora tem feito no inicio da Primavera, a cidade tem exibido alguns ângulos e detalhes, que antes não havia me chamado a atenção, como nestes últimos dias. 
Inúmeras vezes passei pelo cruzamento da Avenida Ipiranga com a João Pessoa e percebia alguma coisa  diferente, mas sem que me detivesse na evidencia, no raro detalhe, visível na minha frente. Talvez meus olhos percebessem o erro, mas meu cérebro não processava o que via.
Falo das Palmeiras plantadas sobre a Ponte na Avenida João Pessoa, que cruza sobre o Arroio Diluvio. Passamos tão apressados ou tão desatentos, que não nos damos por conta que estão plantadas sobre uma ponte cuja a superfície obviamente está suspensa e isto a torna esteticamente muito singular a outras. 
Me pergunto como estas enormes palmeiras conseguiram fixar suas raízes, crescerem e se tornarem tão majestosas e fortes num lugar que aparentemente me parece tão improprio para resistirem rajadas de vento sem tombarem, o que provocaria grandes estragos? 
Durante o inverno e nas estações de vento, elas se curvam tanto que dão a sensação de que a qualquer momento poderão cair.

Li no blog "Amigos da Rua Gonçalves de Carvalho", num post recente (de autoria de Angela Tavares), que estas palmeiras foram plantadas em 1940 por ocasião do bicentenário da cidade, no governo de Loureiro da Silva, que através de um projeto cujo conceito era "Monumentar" a cidade, objetivava enfeita-la para as comemorações de seu aniversário, além da revitalizar pontes e praças. 
O novo prolongamento da avenida além da ponte em estilo “Art nouveau”, ganhariam canteiros centrais, ornados com Palmeiras Imperiais. 
Eram muitas as edificações a serem feitas num curto prazo de tempo e os trabalhadores foram orientados para executar o plantio nos canteiros da avenida, saltando o leito da ponte. Sem se darem por conta, plantaram também onde não estava previsto. 
As palmeiras cresceram e o descuido dos trabalhadores, transformaram estas palmeiras num cartão postal pouco conhecido de quem passa por ali.

Onde nasce o Diluvio?




Mas afinal, onde nasce o arroio Diluvio?
O Dilúvio é o maior riacho que corta a cidade de Porto Alegre, em consequência a este fato, acaba cruzando por grande parte dos trechos urbanos da cidade que em décadas passadas, inundava com grande frequência alguns bairros localizados a sua margem como o Menino Deus, Azenha, Santana e a Cidade Baixa. 
O Arroio Dilúvio nasce na Lomba do Pinheiro, Zona Leste da Cidade, na Represa da Lomba do Sabão localizada no Parque Saint-Hilaire em Viamão. Recebe vários afluentes como os arroios dos Marianos, Moinho, São Vicente e Cascatinha e deságua no limite entre os parques Marinha do Brasil e Maurício Sirotsky Sobrinho (Harmonia).


Arroio Moinho/ Vila João Pessoa 

Seu nome de origem era Arroio Sabão por nascer na represa de mesmo nome, mas as frequentes chuvaradas com consequentes inundações, acabaram lhe conferindo um segundo nome, Diluvio.
Antigamente, o riacho dasaguava na Ponta da Cadeia, (que hoje não existe mais), ao lado da Usina do Gasômetro, e antes de chegar ali passava embaixo da Ponte de Pedra, que existe ainda hoje, perto do atual Largo dos Açorianos.


A microbacia do Dilúvio tem cerca de 80 quilômetros quadrados, dos quais 19% estão localizados no Município de Viamão. 
Este importante córrego da cidade recebe anualmente 50 mil metros cúbicos de terra e lixo em suas águas. Isso equivale a dez mil caminhões-caçamba cheios. O Riacho carrega ainda o esgoto cloacal de três bairros para o Guaíba. Por isso, o Arroio Dilúvio e seus afluentes necessitam de limpeza e dragagem periódicas.

MONTENEGRO O PICO MAIS ALTO DO RGS.

Depois de alguns meses amaciando a ideia no planejamento deste passeio e nos frustrando com as previsões de chuva que mostraram-se adversas, férias, folgas e trocas de plantões entre colegas que não fechavam nas devidas datas, eu e minha colega Ana Carla, decidimos pelo feriado da semana farroupilha para realiza-lo.



O objetivo era conhecer os circuitos turísticos e históricos das cidades de Bom Jesus, São Jose dos Ausentes, Cambará do Sul e o Pico Montenegro, ponto mais alto do Estado do Rio Grande do Sul, não nos importando com que cara o tempo se mostraria. Tínhamos apenas 4 dias para fazer isto e sabíamos que talvez não fosse possível ver tudo; de qualquer forma nos arriscamos, pegando dias ora ensolarado, ora nublado e finalmente chuvoso, mas cientes de que valeria a pena.



O GRUPO:
Era composto por nove pessoas interessadas nesta proposta: Ademir, Denair, Ana Carla, Vanderlei, Rosane, Beto, Cristina, Milene e eu, num comboio de três carros, para dividirmos esta experiencia nas cidades mais frias do Rio Grande do Sul e o Montenegro.



Sábado 17/09/2011
Porto Alegre/ São Chico:

A saída de Porto Alegre se deu na manhã do dia 17, com parada combinada no canteiro central da Avenida Borges de Medeiros, em São Francisco de Paula, nas proximidades da "escultura da Carreta" para reunir o grupo, almoçar e seguir viagem, para o que seria nossa primeira cidade, Bom Jesus. O deslocamento durou cerca de três horas. A subida pela serra, nos presenteou com paisagens fantásticas, como enormes paredões de pedra, morros, campos, pontes, rios e cachoeiras do qual parávamos para contemplar e fotografar tamanha beleza.




A Pousada de nossa escolha foi a"Truta Rodrivaris" contatado por Ana, na BR- 285/Estrada da Maçã, vindo de Vacaria, sentido B. Jesus. Não oferecia um serviço sofisticado, os apartamentos e cabanas eram simples, mas muito confortáveis com aquecimento elétrico, ar condicionado opcional, lareiras, frigobar, restaurante à la carte, TV com antena parabólica, internet Wireless, trilhas pela mata nativa, passeios à cavalo, pesque e pague. Além de um bom café da manhã e a simpatia de seu Flavio, administrador e proprietário do lugar.



O primeiro dia, serviu para nos acomodarmos na pousada, conhece-la, descansar da viagem e planejar os passeios que faríamos nos próximos dias.




BOM JESUS:
É uma cidade pequena no nordeste do Rio Grande do Sul, marcada inicialmente por indígenas que viveram na região e mais tarde os primeiros bandeirantes paulistas e tropeiros lagunenses que procuravam além de gado, (produto de muito interesse naquela época), novos caminhos entre São Paulo e Colonia de Sacramento, para facilitar o escoamento dessas riquezas.

MANGUEIRÕES DE PEDRA:
Muitos desses pioneiros instalaram-se com fazendas de criação na região, deixando até hoje marcas culturais inapagáveis nos costumes, gastronomia e arquitetura do lugar. Um desses vestígios, são os mangueirões de pedra, construídos por tropeiros e jesuítas que fugiam das missões, hoje considerados museus de pedra ao ar livre e  uma das construções mais antigas do Estado. Uma volta ao passado é observa-los e viajar no passado e imaginando o que nossos antecedentes fizeram a mais de 100 anos, relembrar as lutas dos homens pelo seu espaço. Construído manualmente, esses mangueirões (taipas) serviam para divisão de suas estâncias e querenciamento de seus gados.

TAIPAS OU MANGUEIRÕES
Uma taipa de pedras é uma cerca feita apenas com pedras empilhadas. Há cem, duzentos ou trezentos anos atrás, as taipas eram as cercas comuns nas fazendas e foram erguidas por índios, negros e peões de fazendas. Elas riscam o chão dos campos e matas do Rio Grande do Sul parecendo longas serpentes seguindo em direção ao horizonte, desaparecendo em alguma canhada e ressurgindo novamente numa coxilha, parecendo que brinca de esconde-esconde com o observador. Hoje há remanescentes destas obras em vários lugares, principalmente nos municípios dos Campos de Cima da Serra, como São Francisco de Paula, Cambará do Sul e São José dos Ausentes. Era através delas que, em alguns trechos, passavam as tropas de mulas rumo a São Paulo, em longos corredores murados tendo, em pontos estratégicos, os currais para descanso das tropas, igualmente feitos de pedras.


O QUE VER NO CENTRO DA CIDADE:
No centro de Bom Jesus, é possível observar muitas construções em madeira ainda preservadas, datadas do período de 1915 à 1970, nas proximidades da praça Rio Branco. A arquitetura é pouco convencional as construções que se vê nos dias atuais, são simples e muitas em forma de taipas construídas principalmente nas áreas rurais, nos remetendo para alguns cenários históricos vividos durante a época dos tropeiros e as lutas Farroupilhas.



O City Tour no centro da cidade, pode ser feito por agendamento na secretaria de Turismo e inclui a Praça Rio Branco, a Igreja Matriz Senhor Bom Jesus e o Museu e Arquivo Municipal. Neste dia havia apenas um funcionário que nos recebeu com bastante interesse e me indicou lugares de interesse histórico e cultural da cidade, como as casa subterrâneas dos índios caingangues que podem ser agendadas.



CASAS SUBTERRÂNEAS DOS ÍNDIOS CAINGANGUES:
As antigas construções dos índios Caingangues, cujo o trajeto pode ser feito a pé ou de carro, numa distancia de aproximadamente 1 km do centro da cidade, não necessitou de um guia, pois a s descobrimos pedindo informações a os moradores.

LOCAL DO SITIO ARQUEOLOGIA:
O sítio arqueológico está situado no bairro Leotídea no Parque Farroupilha. Conforme algumas pesquisas, os Caingangues foram os primeiros habitantes da região, onde deixaram vestígios de sua civilização em vários pontos do município, descobertos em escavações. Os índios alimentavam-se de pinhão e utilizavam este tipo de moradia subterrânea para se protegerem do frio rigoroso desta região.



Eu estive pesquisando em alguns sites na Internet, de que forma os Caigangues se alojavam nestas casas subterrâneas e como as construíam. Então encontrei no blog São Francisco de Paula o desenho abaixo, que mostra num desenho simples, de que forma eram feitas e se alojavam para se protegerem do frio da região.




A IGREJA MATRIZ DO SENHOR BOM JESUS:
Construída em estilo gótico em 1940, fica localizada em frente a Praça Rio Branco, no centro da cidade. Dizem que levou mais de vinte anos para ser concluída.



VOCÊ CONHECE GILA?
A economia do município esta baseada na agricultura e pecuária. O principal destaque é a produção de maçãs onde a cidade é o terceiro maior produtor do estado. Mas é uma fruta de origem portuguesa que chegou a região, pelas mãos dos tropeiros, é que parece ser o orgulho dos moradores. Sua aparência lembra uma melancia, porém com a polpa branca e fibrosa, sendo utilizada na preparação de doces em calda ou cristalizados. Também é possível criar iguarias salgadas. A fruta é encontrada nas propriedades rurais e também em muitos quintais no centro da cidade. A Festa da Gila, acontece todos anos de 14 à 17 de Julho na cidade.



Domingo 18/09
SÃO JOSÉ DOS AUSENTES:
Levantamos cedo e após o cafe e nos deslocamos até São Jose dos Ausentes para conhecer a cidade e suas atrações. São 45 quilômetros de distancia por uma estrada asfaltada e com pouquíssimo fluxo de veículos, na BR- 285, que liga as duas cidades vizinhas. A cidade pareceu ainda menor do que Bom Jesus e decidimos registrar nossa presença no famoso termômetro que é um simbolo da cidade ao lado da Igreja Matriz.





Como o Centro de informações Turísticos local neste dia estava fechado por ocasião do desfile farroupilha, pedimos informações aos moradores, que explicaram como chegar ao Pico Montenegro com 1.403 metros de altitude, considerado o ponto mais alto do Rio Grande do Sul. O Pico fica localizado na borda do cânion de mesmo nome, no 2º Distrito, à 45 km do centro de São José dos Ausentes, na quase divisa com o Estado de Santa Catarina.



O local é acessado por estrada de terra (estrada Municipal Silveira) e não oferece nenhum tipo de estrutura de visitação, bastando disposição e paciência para uma boa caminhada. Depois que estacionamos o carro na estrada de acesso ao cânion, ainda caminhamos cerca de 500 metros até a fenda com uma visão magnifica do litoral de Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, sem nada dever aos famosos Fortaleza e Itaimbézinho.
O horário ideal para se visita-lo é pela manhã, para evitar o fenômeno chamado "viração", em que uma camada espessa de nuvens emerge das profundezas, cobrindo o cânion e impedindo toda  e qualquer visibilidade.



Naquela manhã o dia estava claro e não foi à toa que ao chegarmos diante da imensa fenda, Ademir declarou que somente aquela paisagem diante de seus olhos, já tinha valido à pena toda a viagem. Ficamos por ali algum tempo caminhando e contemplando sua majestosa beleza e nos questionando como a natureza era capaz de criar tudo aquilo tão absurdamente gigantesco e belo.



Depois da visita a o Montenegro, retornamos para estrada onde havíamos deixado os carros e fomos a o encontro da Cachoeira dos Rodrigues, cujo o acesso se dá pela fazenda dos Potreirinhos à 10 km de distancia, de uma bifurcação na estrada onde encontram-se placas de sinalização.



Ainda na estrada de terra pudemos observar de dentro do carro, a uma certa distancia, OS DISNIVEIS DO RIO DIVISA E SILVEIRA, cuja vazão é responsáveis pelo complexo de cachoeiras naquela região. Os dois Rios são paralelos e quase se unem, ficando apenas uns 5 metros de distancia um do outro, num desnível de uns 20 metros de altura e separados por uma parede de rocha. Para se ter uma visão real de sua beleza, é necessário atravessar o leito de um dos rios, na parte mais rasa e subir sobre as rochas e deslumbrar-se com mais uma maravilha que a natureza foi capaz de criar.



Nas dependências da Pousada de nome "Cachoeirão dos Rodrigues", chegamos até um mirante natural no meio da mata que descortinou uma das mais belas cachoeiras da região, a cachoeira dos Rodrigues, com uma queda d'água de 28 metros de altura e varias sucessões de quedas d'água. A trilha é feita numa caminhada de mais ou menos uns 300 metros entre campos, mata e plantações de pinheiros.



Nesta cachoeira foram gravadas as cenas da novela "O Profeta", pela Rede Globo e levada ao ar entre 2006 e 2007. Uma das pousadas serviu de abrigo aos atores durante as gravações, motivo de orgulho desses proprietários, que exibem algumas fotos em sua recepção.



Depois deste magnifico passeio, retornamos para a pousada em Bom Jesus, pois precisávamos descansar e refazermos nossas energias, para realizarmos a Trilha da Lontra, nas dependências da pousada.



Segunda- Feira 19/ 09
TRILHA DA LONTRA:
Esta trilha de 2,5 km começa nas imediações da pousada Truta Rodrivaris em B. Jesus e é toda sinalizada. Seguindo pelas cabanas até a toca da lontra, pois ali geralmente é avistado algum bicho desta espécie, nadando, ou em suas tocas. Possivelmente naquela manhã elas estavam escondidas, pois não encontramos nenhuma pelo caminho. Pela trilha no meio do mato, passamos pela sinalização de uma antiga tapera, que segundo seu Flavio (dono da pousada), foi pouso de tropeiros pelo tipo das taipas muito antigas e que provavelmente tenha sido erguidas por escravos.



No final da estrada, cruzamos o rio e ultrapassamos para a fazenda vizinha onde caminhamos por sua margem, que mais à frente encontra-se com um segundo rio aumentando a vazão de água, formando uma belíssima cachoeira. Esta cachoeira possui uma segunda queda.



Nos embrenhando pelo mato, encontramos uma terceira cachoeira escondida ao lado de uma caverna e uma ninhada de urubus que enquanto filhotes surpreendentemente tinham a plumagem amarela. O recanto descoberto parecia um elo perdido. O cheiro de mato úmido, o ruido da queda d'água caindo sobre as pedras, o canto dos pássaros, era uma prazerosa terapia para as nossas almas estressadas da rotina da capital.



Enquanto uma parte do grupo desbravava os recantos mais obscuros e intocáveis do lugar, a outra parte, deliciava-se no alto de uma rocha, banhando-se ao sol e observando a belíssima paisagem.



Na volta para a pousada, Milene encontrou esta bromélia caída na estrada onde decidiu resgata-la e encontrar um lugar seguro nos galhos de uma nova arvore. Voltamos para a pousada cansados e com a necessidade de um relaxante banho, enquanto Ademir, nosso cozinheiro oficial, decidia qual seria o cardápio.



Precisávamos decidirmos se ficaríamos mais uma noite por lá. Cris e Beto, (meus compadres), resolveram voltar para casa, pois tinham que retornar ao trabalho, enquanto o resto do grupo optou por mais uma noite, porém em Cambara do Sul para uma visita ao cânion Fortaleza.
Saímos à tarde de Bom Jesus, sob uma chuva torrencial e no meio da estrada tomamos a decisão, chegando durante a noite, no Hotel Fazenda Pindorama, para pernoitarmos ainda sob intensa chuva. Parecia que o grupo não queria que a aventura terminasse ali, mas se pudéssemos esticar um pouco mais, daria para aproveitar mais uma noite, descansar, tomar um café da manhã no outro dia e retornar para casa no outro dia descansados e sem chuva na estrada




Terça-feira 20/09
CAMBARÁ DO SUL E O CÂNION FORTALEZA:
No outro dia bem cedo, pegamos a estrada para o cânion Fortaleza, considerado o maior e mais belo de todos os cânions. Seus paredões têm 7,5 quilômetros de extensão e em alguns pontos, até 900 metros de altura. O nome se deve ao formato geológico, que lembra uma fortaleza.
Do centro de Cambará do Sul até o cânion, são 22 km por uma estrada com inicio asfaltada, mas a maior parte é de terra desparelha e pedregosa, fazendo com que o deslocamento seja lento e com muita atenção.



Logo que chegamos, o cânion estava todo encoberto pela neblina, talvez ocasionada pela calor do dia e a umidade da chuva que caíra durante toda a noite. Em alguns momentos feito magica, as nuvens se dissipavam e era possível observar parte de toda sua grandeza.


VIRAÇÃO:
O tempo na região é muito instável. A meteorologia raramente acerta nas previsões. Portanto, não se frustre caso você saia da capital com tempo claro e chegue em Cambará com tempo completamente fechado. Mas mesmo sob o fenômeno da Viração, tem-se a magnifica sensação de estarmos acima das nuvens.



Para se visitar o cânion não é cobrado ingresso. Como o local não possui infra estrutura, não possui centro de informações ao turista, lanchonetes ou sanitários. O único sanitário é junto à portaria a alguns quilômetros do parque, recepcionado por um único guarda ou fiscal. É proibido acampar no local e a entrada de qualquer animal doméstico.



No retorno para o centro de Cambará, pretendíamos visitar a Pedra do Segredo, mas a neblina espalhou-se tão rapidamente pela região, que até mesmo o acesso à ela ficou completamente encoberto nos desestimulando de visita-la.
Retornamos para Porto Alegre naquela tarde, depois de algumas compras numa loja de artigos e acessórios tradicionalistas na cidade.



Existe algo de libertador, de alegria infantil, de integração com a natureza e com as pessoas, de satisfação em nossas almas quando realizamos estes feitos, que não sabemos explicar e também compor conceitos, apenas sentir sua inexplicável grandiosidade interior que nos faz sentir mais gente.
 Até a próxima viagem!..


Por que eu não gosto do Rei

Eu cresci ouvindo as musicas de Roberto Carlos e algumas, dou a mão a palmatorio, pois me causam até hoje muita emoção principalmente se cantadas por outras vozes como de Maria Bethânia, Gal Costa, Nana Caymmi. Desta forma devo admitir que algumas de suas composições são tão boas, que estão sendo eternizadas em outras interpretações até hoje. 
Por muito tempo eu me perguntei se minha rejeição pelo rei era algum tipo de preconceito associado a sua presença cênica ou alguma coisa mais subjetiva. 
O que acontece é que ele me parece estar sempre numa posição de conforto, sentado em seu trono de rei, em cima  do muro esboçando um sorriso ensosso e muitas forjadas emoções. Em tantas entrevistas que concedeu para a TV, suas respostas foram sempre evasivas, cuidadosas, parecendo não querer escapar dos meandros do politicamente correto e assim não ofuscar os brios sociais, tornando-se o homem perfeito, aquilo que se espera de um rei coroado. 
Sua maneira estética de se apresentar em shows e na mídia é uma receita que deu certo numa determinada época mas que não se renovou, etiquetada nos valores da tradicional família brasileira que hoje declina no peso de suas mais solidas verdades. O tempo está passando e eu sinto que não demora para que novas e grandes emoções sejam sentidas, não através dele, mas por outros mais ousados e ele seja lembrado em seu devido local de destaque em cima do muro que um dia eu espero ser derrubado!

Diamante de Sangue

Ontem foi a hora da vez de "Diamante de Sangue", filme que conta a história de um contrabandista (Leonardo Di Caprio) que vê numa enorme pedra de diamante rosa encontrada por um pescador, (Djimon Hounsou), sua chance de recomeçar uma nova vida fora de seu país de origem. O pescador aceita lhe entregar a pedra desde que em troca, receba ajuda para a encontrar sua família arrasada pela guerra civil e conflitos em Serra Leoa. O filme é bastante comum e tem tudo que se espera de um filme comercial, explosões, mortes, sofrimento, paixões não assumidas e muita ação, o que detém o expectador  diante telinha. O problema é que eu não consigo desfazer de Leonardo Di Caprio, a imagem de eterno menino, mesmo  num papel de homem feito.

QUEM ESTA NA CHUVA É PRA SE MOLHAR.

Dona Maria me contou que o tombo que levou de mais de três metros de altura de uma galho de arvore no seu patio, se deu por pura desatenção e pela preocupação de não incomodar ninguém pedindo favores. Se tivesse usado a técnica que sempre usou, laçando o galho com uma corda em terra firme, não teria caído e que o acidente não passou de uma lição em sua vida. 
Íamos conversando dentro da ambulância, acompanhados de sua filha, que demostrava descordar da opinião da mãe. 
Eu até que me surpreendi a o saber que uma senhora de 72 anos havia caído de uma arvore, uma vez que é incomum uma pessoa nesta idade subir numa, mas ao perceber seu dinamismo e agilidade mesmo com dor, sua energia, lucidez e coerência, entendi suas razões.
"Sei que sou velha, mas não me sinto assim e tenho sob minha responsabilidade um filho surdo mudo que cuidarei até o fim da vida. Meus outros filhos já todos casados, vivem suas vidas e não quero criar dependência de ninguém. Antes da morte do meu marido entrei em depressão e só melhorei me entregando ao contato com a natureza que é o meu prazer diário. Quanto a cair da arvore, qualquer um poderia ter caído, até mesmo um guri de quinze anos, não é mesmo moço? Quem está na chuva é para se molhar!..".

Quanto de carne pegaste do buffet?

Depois do almoço, ganhei do vigilante do posto de saúde um bombom Sonho de Valsa, o que rendeu muitos risinhos maliciosos e pequenas comentários sinuosas através dos  olhares presentes. Antes meu colega já havia ganhado dele, na semana passada, uma caneta Bic comum, por ter perdido  a dele num possível atendimento domiciliar.
Mas para os maldosos de plantão, ganhar uma caneta não é o mesmo que ganhar um bombom não é mesmo? Implica em parecer um "adoçar de bico", uma especie de mimo com interesses implícitos, algum tipo de investimento camuflado por gentilezas sutis e segundas intenções. Afinal como admitir e deixar passar em brancas nuvens um homem dar um bombom para outro?
Eu fico impressionado com o nível de malicia das pessoas e com os pequenos motivos que as levam a distorcerem fatos, criando preconceitos. 
São as mesmas que falam maldosamente dos gordos, dos gays, dos negros, dos pobres, dos ricos, dos gentis, dos doentes, de todos. 
São as mesmos que não leem livros, não vão ao cinema, não viajam e que no intervalo do almoço ficam contando quantos pedaços de carne alguém pegou a mais do buffet.

Uma visita do passado

O ônibus panorâmico tinha as paredes praticamente cobertas de vidro e inclusive o této que posibilitava ver a chuva que caia do céu torrencialmente sobre nós. Eu e minha avó sentados num dos bancos observávamos as ruas arborizadas por onde passávamos enquanto falávamos de coisas comuns.
_Esta é a rua Castro Alves lembra?
_Claro que lembro vó!
Ela sorria com a expressão de saudades, olhando tudo em volta
_Nós morávamos lá pra cima, naaa!...
_Na Rua Liberdade! _ Respondi com precisão _Depois na Vasco da Gama, onde colhíamos as flores de Ipê Roxo que caiam na calçada!
_Sei!.. E agora onde tu moras?
_Por aí!.. _Respondi com certa preguiça a ter de dar longas explicações.
_Eu também, Tô por aí!..

Resgate

Dona Marlene tinha um cheiro de antibiótico com injecção de eucalipto para gripe entranhado nas mãos e possivelmente no corpo todo. Ao menos era esta a sensação que me tomava, quando ela vinha na minha casa para tratar de mim ou de minha irmã quando estávamos doentes. Era da maior confiança de minha mãe que seguia à risca tudo que ela mandava. Quase nunca sorria, era de poucas palavras, fazia o que tinha de fazer e ia embora depois das orientações de enfermagem que dava com uma voz calma e apropriadamente profissional, exalando na casa aquele aquele cheiro de muitos remédios e produtos anti- sépticos que pareciam arderem nas minhas narinas e me provocarem aversão. 
Dona Marlene não me causava medo nem raiva, mas era uma presença negativa e detentora de um poder que fazia alterar todas a liberdade que tínhamos enquanto crianças, enumerando regras e proibições, além do que, aplicava injecções que evidentemente tínhamos pavor, mas que por algumas implicações se faziam necessárias.
O tempo foi passando e suas visitas diminuindo, até não vê-la mais. Acho que fomos crescendo e as doenças de infancia desaparecendo com o tempo, embora sua presença tenha se fixado na minha memoria de modo a nunca esquecer de seus traços faciais marcantes, suas mãos brancas e a caixinha de injecções que na época do "não descartável", era de um inox reluzente e cheia de mistérios escondidos. 
Mais de quarenta anos se passaram até revê-la ontem por ocasião de um chamado para a sua filha  que havia sido agredida e que eu nem sabia da existência. Logo que cheguei no endereço desconhecido a reconheci no portão, ansiosa para levar-me até a filha gemente sobre a cama. Evidente que não me reconheceu, afinal hoje sou homem feito e bem diferente da criança franzina que fui aos sete anos de idade. Mas o que quero confessar é o sentimento que se apoderou de mim naquele momento em que eu prestava atendimento. Ver dona Marlene ansiosa e fragilizada com o que havia acontecido com a filha, parecia transforma-la num ser humano  disassociado do estereótipo frio e sem sentimentos que criei de sua pessoa.  Era como se barreiras emocionais da minha infância, estivessem sendo quebradas e eu sendo compensado e de alguma forma liberado de angustias muito antigas; não pelo infortúnio ocorrido com o sua filha, não era um sentimento de vingança, mas uma inversão de papeis necessário, libertador. Dona Marlene não fazia ideia de quem eu era e isto me deixava muito confortável.

Postagem em destaque

TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...