Susto! No segundo dia em Cusco perdi todos os documentos (carteira de identidade, passaporte, cartões de credito, menos dinheiro, que costumo carregar no bolso da calça). E eu quando percebi isto, queria me bater, pois não havia outro responsavel a não ser eu mesmo! Eu havia estado em poucos lugares naquela noite e lembrava ter saído do albergue com um colega da excursão(o Adilson) e a bolsa a tira-colo, na intenção de ir a uma lan house fazer contatos com o Brasil. A primeira lan estava fechando e em seguida nos dirigido para uma outra, na mesma rua, que ficava aberta até mais tarde, lembro de ter colocado a bolsa no chão, do lado do meu pé após ter me acomodado na cadeira e o resto da cena, daí por diante, virou um branco total na cabeça, ate o momento de chegar ao albergue, quando percebi estar sem a bolsa. Voltamos para lan que por azar já havia fechada e daí por diante, começou uma estressante reconstituição de fatos onde a lacuna era onde eu a tinha deixado a "maldita bolsa". No outro dia sairíamos muito cedo para um passeio em Ollantaytambo, Águas Calientes onde dormiríamos, visita à Macchu Picchu pela manhã e só retornaríamos no outro dia tarde da noite e eu precisava decidir o que fazer: Ou ficar na cidade até a lan abrir as 10 da manhã onde acreditava estar meus pertences ou ir ao passeio já pago (120 dólares) que incluía um almoço no caminho, jantar e pernoite em Águas Calientes, café da manhã e o mais importante, ingresso para Macchu Picchu, objetivo da viagem. Bom nestes momentos é preciso relaxar, tomar a decisão acertada, desviar ideias negativas e desnecessárias, por que independente da preocupação, da raiva, da culpa, de estar P da vida e de não saber oque exatamente fazer, as coisas seguem rumos naturais próprios. Então optei por ir no passeio, na tentativa tambem de desviar o pensamento das situações futuras embaraçosas. Depois de algumas horas contemplando toda a beleza e grandeza de Macchu Picchu, Adilson e eu decidimos retornar para Cusco e resolver a situação, pois o resto do pessoal estenderiam o passeio por todo o dia numa caminhada exaustiva pela beira do rio Urubamba até a hidroelétrica e ganhariamos tempo se não fossemos junto e na mesma noite retornaríamos ao Brasil. Sabia que teria problemas para sair do país sem os documentos e então o jeito era voltar até o albergue em Cusco, onde eu havia pedido para alguns funcionários procurarem nas lan houses próximas, com a promessa de uma recompensa e caso não achassem eu deveria dar inicio aos trâmites legais, (policia , embaixada, etc, etc.). Almoçamos e pegamos o trem em Águas Calientes até Ollantaytambo na classe C, com serviço de bordo (por 54 dólares), contemplando pelas janelas e o teto panorâmico do trem as margens selvagens do rio Urubamba cheio de pedras gigantescas da ultima enchente e as majestosas montanhas que pareciam a qualquer momento encostarem nas paredes externas do trem. Me dividia entre a ansiedade de encontrar minha documentação, medo de ficar de alguma forma preso ao país e a beleza selvagem do lugar. Na ultima estação em Ollantaytambo dividimos uma Van com algumas pessoas até Cusco por 10 soles e chegamos às 17horas, cinco horas de viagem. Na Estação Férrea a vendedora de passagens nos garantiu que a viagem de taxi ou Van de Ollantaytambo até cusco demorava uns 15-20 minutos, mentira, levou 2 horas subindo e descendo vales intermináveis. Chegando em Cusco a primeira coisa que fizemos foi irmos até a lan house onde fomos atendidos pela mesma moça simpática da noite fatídica e que com um sorriso tímido estendeu minha bolsa com todos os pertences ao Adilson. Eu quase não acreditei que estava recuperando meus documentos. Agraciei-a com com um sorriso largo de satisfação e 30 soles, que ela pareceu satisfeita. Daria mais se tivesse.
Bom disto tudo eu aprendi algumas coisas:
Primeiro:
Não se deve andar com todos os documentos pra cima e pra baixo com o risco de perde-los ou ser roubado!
Segundo:
É interessante fazer cópias dos mesmos!
Terceiro:
Tentar registrar na memoria ao menos um numero de documento, assim se perder-los, você tem ao menos um numero que o identifique na hora de uma queixa que exija algumas formalidades. Durante a compra do bilhete de trem, a vendedora só queria um numero de identificação para colocar em seus registros, como eu não lembrava de nenhum (pois tinha perdido tudo), ela não queria me vender o bilhete, quando inventei um numero de identidade (o numero do telefone do meu celular), ela nem pediu documentação para conferir e em seguida me liberou a passagem. Resumindo, você é apenas um numero que pode ser inventado numa hora de aperto!
Quarto:
Existem pessoas honestas em qualquer parte do mundo, que bom. A moça da lan , por exemplo, poderia ser desonesta e ter ficado com algumas lembranças que eu carregava dentro da bolsa e ter jogado meus documentos fora. Seria a minha palavra contra a dela, de que eu havia deixado a bolsa na lan house. Na verdade eu não tinha se quer certeza de que a bolsa estava lá!
Quinto:
Ter alguém do seu lado, que o acompanhe nestas maratonas de buscas e soluções é de grande importância. Nestes momentos de tensão é necessário literalmente que te peguem pelo braço, te acalmem e te dê sugestões para uma melhor solução do problema.
Sexto:
A ajuda pode vir de quem menos se espera, não importa a intenção.