Eu vinha fazendo planos há três finais de semanas e nada do passeio vingar. No primeiro fim de semana que escolhi, ficou difícil juntar todas as pessoas interessadas e então desisti, no segundo meu carro quebrou me deixando por cinco dias à pé, no terceiro choveu a cântaros, então neste sábado decidi ir com o carro já pronto, mesmo com a promessa de tempo nublado e possível pancadas de chuva ameaçando cair sobre a região. No final a chuva veio mansa somente no final da tarde, dando para aproveitar o passeio, num dia sem sol, mas que também não estava frio.
Por que, Morro Reuter?.. Alguém tinha me comentado que existia na cidade um espaço com esculturas de serpentes, feitas em mosaicos chamado Caminho das Serpentes. A curiosidade me fez procurar o lugar e descobrir outros espaços dedicados as artes plasticas, chamado de Caminho das Artes.
Fui com uma amiga até Morro Reuter,
a cidade da lavanda, (planta tipica da região), localizada à 700 metros acima do nível do mar, na serra gaucha, caminho este que está se firmando como pólo de interesse turístico em função da proposta de alguns artistas locais que se uniram para abrirem as portas de seus ateliês, com o objetivo de divulgarem seus trabalhos artísticos, misturando criatividade e as belezas naturais que cercam o lugar. Uma das artistas, Anelise Bredow, criou um blog-
Turismo em Morro Reuter, divulgando esta iniciativa.
Olha que interessante: Logo na entrada da cidade, existe esta escultura de concreto, que são livros empilhados, lembrando a importância do conhecimento através da leitura. Achei isto formidável.
A estrada onde estão localizados os ateliês, a VRS-873, é chamado de Caminho das Artes oportunizando uma proposta diferente de lazer agregado a arte e fica a somente 60 km de Porto Alegre, entre paisagens belíssimas da serra gaucha e alguns cafés, casas de vinho e restaurantes de comida tipica alemã. Os ateliês em principio são quatro, embora eu tenha visitado somente três:
O Edelweiss Ateliê de Artes e Antiguidades da artista e artesã Lenira Neves Siegle, que além de expor peças de mobiliários antigos, produz peças esculpidas em madeira, pedra grés e terracota, como também montagens de fontes e outros acessórios. Do ateliê, se pode ter uma bela vista da cidade, além da possibilidade de locação para pequenos eventos como Happy hour. Lenira como todas as outras pessoas que nos atenderam é simpaticíssima e diz que as portas de seu ateliê sempre está aberta nos finais de semana para receber os visitantes.
Nas proximidades encontra-se também o
Caminho das Serpentes, da artista Claudia Sperb, um pequeno parque criado em sua propriedade, composto por inúmeros trabalhos em mosaicos, painéis e esculturas, que proporcionam aos visitantes um contato com a arte desenvolvida pela artista ao mesmo tempo que um passeio ao misticismo visivelmente empregado em seus trabalhos.
São diversos painéis construídos em mosaicos coloridos, além de esculturas, uma biblioteca, galeria de artes, recantos, mirantes e oito suítes para quem deseja pernoitar, neste lugar mágico. Fomos recepcionados por sua secretária de nome Seda, que nos mostrou e explicou cada detalhe do trabalho de Claudia que infelizmente não se encontrava. Além dos mosaicos, a propriedade é cheia de esculturas de outros artistas espalhadas pelo caminho, mostrando o interesse da artista em divulgar não somente os seus trabalhos.
A artista coordenou, com a ajuda de mais de cem voluntários, a produção de algumas toneladas de material transportadas até São Paulo e instaladas na Praça Vital Brasil do Instituto Butantan, em São Paulo. Possui um caderno e um DVD que fala sobre o projeto, "Fragmentos e Sentimentos", que registra o processo de criação, confecção e instalação dos mosaicos.
É também oferecido oficinas e cursos individuais ou para grupos, interessados em seu trabalho. Quanto a o nome Caminho das Serpentes, é sui generis, já que além dos mosaicos, a artista confeccionou duas grandes serpentes cobertas por mosaicos, nos passeios nas proximidades de seu ateliê. O local está aberto para visitações aos Sábados e Domingos das 11 às 18 horas e com ingressos de R$ 5,00. O pernoite, R$ 150,00 com café da manhã.
Conhecemos também o ateliê de
Débora Sarmento, instalado na beira da estrada, já nas proximidades de São José do Herval. Este é outro local dedicado a arte e ao artesanato que me chamou a atenção pela delicadeza e criatividade das peças.
São trabalhos em couro como mandalas, vidros, cerâmica, madeira, metais e mais uma variedade de materiais reciclados na construção das peças que a artista chama de eco-criações. Débora oportuniza também a mostra do trabalhos de outros artistas, numa pequena galeria de exposição que ela batizou de "A menor galeria do mundo".
No quilometro 217 da BR-116, nas imediações da área central de Morro Reuter, fica o
ateliê de cerâmicas de Anelise Bredow, cujo o resultado são belíssimos e delicados vasos, móbiles, botões, flores, colares e painéis de madeira decorados com pequenas tijoletas de cerâmicas feitas pela artista
.
Uma característica que observei nos trabalhos de Anelise, principalmente nos potes e vasos que confecciona, é a repetição de desenhos estilizados que lembram um olho, mas eu estava tão impressionado com tudo que vi naquela tarde, que me esqueci de falar-lhe e quem sabe abrir uma discussão sobre o tema.
Morro Reuter, faz parte da Rota Romântica composta pelas cidades de São Leopoldo, Novo Hamburgo, Estância Velha, Ivoti, Dois Irmãos, Santa Maria do Herval, Presidente Lucena, Linha Nova, Picada Café, Nova Petrópolis, Gramado, Canela e São Francisco de Paula. Descobri também que pelo caminho das Artes, a distância até Gramado, são 30 quilômetros a menos do que o caminho convencional.
Se o interesse do visitante que vai a Morro Reuter, não for necessariamente por arte e em particular o Caminho das Artes, ainda é possível deslumbrar-se com beleza do lugar e ainda algumas construções antigas e em estilo enxaimel como o armazém Kieling, preservado há mais 100 anos na estrada que leva para São Jose do Herval.
O Armazém Kieling, é um dos últimos exemplares do antigo estabelecimento de comércio da colônia alemã, possuindo um acervo de mobilhas da época até hoje em uso por seus proprietários. Ainda tem a charmosa Igreja São Jose do Herval, também chamada de
Igreja de Pedra, inaugurada em 1923, cuja arquitetura difere-se de qualquer outra já vista.
Vale a pena também conhecer o belvedere, o pórtico de entrada da cidade, o monumentos aos livros, o
morro da Embratel e a
ponte do Rio Loch, rio este que no verão serve de balneário aos moradores e visitantes da região.