Às vezes oque ouço, nada me cabe e quando me serve fica faltando algum pedaço, não se acerta, me limita como roupa apertada num corpo inchado, que desconforta, que enlouquece e depois se rasga.
A o menos por enquanto, não quero mais cuidar do que não me pertence, não quero mais expor minhas costas para os loucos baterem e arrancar pedaços, não quero mais administrar as loucuras que não as são minhas e que são impostas pelos códigos sociais de uma certa convivência pacifica exigida e fingida. É isto que o mundo, a sociedade e as pessoas querem e te cobram, complacência, serenidade para entenderes estas loucuras alheias a tua vontade, administrar os erros e violências que não são tuas e que são enfiadas goela a baixo sem explicações e apontar culpados. Eu me sinto tão cansado, tão derrotado com tudo isto, que tenho saudades de um tempo em que eu era mais inconformado e que enxergava saídas onde hoje não enxergo mais.
Cresce em mim uma perplexidade quando saio às ruas e vejo tanta falta de educação e de sensibilidade entre as pessoas, tantas violências e mortes, tantas rivalidades no transito, tanta rivalidade no trabalho por pura vaidade e acúmulo de frustrações.
Quando abro a porta e recebo supostos amigos, observo-os e me surpreendo com o que há de pior neles e não encontro forma de desfazer a má sensação que causaram.
Me pergunto o que mudou em nossos valores, que pra mim hoje, parece uma incógnita cuja regra é bater para não apanhar, enganar para não ser enganado.
Tem dias em que me acordo com um sentimento de total impotência, de quem é subjugado por forças maiores, obrigado à fazer parte de um mundo onde o objetivo de estar nele, é viver ou morrer e para viver, tem que ser muitos mas não ser todos.