AMOR E CULPA

Meu filho saiu daqui de casa para ir numa festa. Tomou um demorado banho, vestiu a bermuda que lhe dei de presente de natal antecipadamente, lanchou sua cuca favorita com Nescau, escrafunchou alguns minutos no seu Msn e Orkut, deu-me um abraço e saiu em direção à parada de ônibus. Enquanto descia as escadas do edifício cronometrei o tempo que levaria até o portão e corri até a janela para -lo passar na calçada. na rua, me deu uma abanadinha e seguiu até desaparecer por baixo das árvores e onde meus olhos não o avistavam mais. Em casa, fiquei meio ansioso dividindo minha atenção entre a cena da novela das nove e a tela do computador que deixou ligado, meus pensamentos soltos, lembravam de sua imagem em pequenos fleches de memoria que me causavam uma pequena mas incomoda culpa sem um motivo claro. Corri até o meu quarto, calcei um tênis sem meias, mochila, chaves e peguei o carro na garagem. Com um pouco de sorte ainda o encontraria na parada de ônibus. Há alguns metros avistei-o parei o carro e buzinei. Ele veio em minha direção abrindo a porta e sorrindo enquanto se ajeitava no banco.
_Pensei, e achei que não poderia te deixar a estas horas numa parada de ônibus!
Ele ainda sorria me parecendo ser de alegria
.
_Quando o carro entrou na esquina da rua, eu pensei, é o meu pai!_ Me disse.
Depois de deixa-lo na festa, voltei para casa me sentindo mais leve, pensando que aquela atitude além de um carinho, parecia-me também um gesto para aliviar-me de alguma culpa que não sei qual o motivo e me pega de surpresa em alguns momentos como este.
Na madrugada, acordei com o alarme de sua mensagem no meu celular:
_Pai tô dormindo na casa do Gui. Relaxa!

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