Amanhã sessenta e quatro, mas carregando os mesmos medos dos trinta, as mesmas perguntas dos vinte, algumas ansiedades dos quatorze, com alguns alinhavos de alegria e fé. E eu me pergunto quando é que o desagradável, que vem sempre em maior escala, vai passar, aos cem anos?
Alguns já me disseram que isto nunca para, por que as duvidas, as incertezas, os medos, só tendem a aumentar ou serem substituídos por outros mais novos.
Minha memória muitas vezes entra em recesso, nestes vastos campos de tempo em que a brisa corta o ar como um bisturi.
Meus músculos se contraem mais do que se estendem e vou perdendo a flexibilidade, meus ossos esfarelam-se e vejo-os em pontos brilhantes nas radiografias, nas ressonâncias magnéticas e vou vivendo um pouco da mentira e da verdade que cercam este mundo. Sou um objeto com prazo de validade vencendo.
Resta-me sorrir e acreditar na vasta mentira. Aos sessenta e quatro anos, creio que comemora-se menos um ano de vida.
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