Do tipo cara Valente

Quando não se tem aventuras ou coisa melhor pra fazer, ainda existem as palavras e alguns planos vagos, não postos em pratica. E eu aqui, fiquei imaginando o que ela deve estar pensando sobre mim quando cheguei em casa e ouvi Maria Rita a todo o volume que me é possivel ouvir neste apartamento:

Não, ele não vai mais voltar
Pode até se acostumar
Ele vai viver sozinho
Desaprendeu a dividir

Foi escolher o mal-me-quer
Entre o amor de uma mulher
E as certezas do caminho
Ele não pôde se entregar
E agora vai ter de pagar com o coração

Olha lá, ele não é feliz
Sempre diz
Que é do tipo cara valente
Mas, veja só
A gente sabe
Esse humor é coisa de um rapaz
Que sem ter proteção
Foi se esconder atrás
Da cara de vilão
Então, não faz assim, rapaz
Não bota esse cartaz
A gente não cai, não

Ê! Ê!
Ele não é de nada
Oiá!!!
Essa cara amarrada
É só
Um jeito de viver na pior
Ê! Ê!
Ele não é de nada
Oiá!!!
Essa cara amarrada
É só
Um jeito de viver nesse mundo de mágoas:

"...Crescer, sumir, partir, chegar. Revirar e se descobrir.
Se elaborar, se transformar.

Me diz como fugir
do que levamos por dentro..."
(Ana Carolina)
Oque eu vivo repetindo pra mim mesmo quando estou sózinho com minhas idéias, olhando pela janela da vida que se movimenta diante dos meus olhos, algumas vezes em ritmo sincronizado como uma sinfonia, noutras como ventania em horas de tempestade , é que tudo parece ter uma razão de ser, mesmo quando ela nos causa surpresas e nos obriga por circunstâncias desconhecidas a dançar conforme a musica. Assim mesmo, tudo tem uma razão que justifique cada desfecho de nossas histórias.
Então durante o trabalho, fui relembrado por telefone, sobre o convite de aniversário da Ma Anjali que será comemorado hoje num bar da João Alfredo (Sótão). Se fosse outra pessoa, talves deletasse a ideia de ir pelo fato de estar cansado e indisposto. Mas Ma Anjali, vale todo o esforço, por ser iluminada, afetuosa, alegre, disposta, sincera, lutadora, gente, seguidora de Osho e atuante no Namastê. Pessoa ímpar. Impossível deixar de abraça-la no dia de seu aniversário!

Mudando de embalagem

Ah! enfim tive coragem e apertei as teclas!..
Era isto que eu queria, uma cara nova para o meu blog, uma cara mais limpa, que lembrasse folhas de papel oficio, onde eu pudesse escrever com a sensação de maior espaço e claridade. É isto, estou precisando de mais claridade. Acho que achei, se não gostaram, sinto muito! Bjos, vcs se acostumarão com a nova embalagem embora o conteudo continue o mesmo!...

Exotismo e Obscuridade

Ontem bebi toda a garrafa de vinho guardada num cantinho da cozinha enquanto o mundo despencava com o temporal que deve ter provocado grandes estragos na cidade durante a noite. Na TV-canal 09, um professor discutia junto a um grupo de pessoas alguns problemas da contemporaneidade como feminilidade e masculinidade, sobre o que hoje significa o papel do homem e da mulher no meio social, conceitos de heterossexualidade e homossexualidade, inversão de papeis, aceitabilidade social e mídia.
Segundo o professor, e aqui, resumindo porque foi rico e vasto o tema em questão, os generos humanos discutido cada vez mais se igualam no que diz respeito as preferências sexuais e inverssões e que hoje já não é mais possível manter uma separação ou algum tipo de classificação que defina homo ou hetero como um kit ou como situações polarizadas. Lembrei-me de uma amiga que disse para o seu colega de trabalho que ele nunca havia se apaixonado por alguém do mesmo sexo pelo fato dele não ter encontrado o homem certo, oque ele concordou. No programa ainda foi mencionado a morte da cantora Cassia Eller e a decisão da justiça em deixar a guarda de seu filho Chicão com sua companheira Maria Eugênia ao invés dos avós do menino ainda vivos, sinalizando caminhos mais justos para estes casos ainda considerados de cunho complexo. Para ilustrar ainda mais o debate a frase de Simone de Beauvoir caiu feito luvas de pelica: "Não se nasce mulher, torna-se".
Num país onde um homem como eu de origem negra, cinquenta e um anos, que usa tranças nos cabelos ainda causa surpresas e espanto entre as pessoas, é possível imaginar-se o resto! A sociedade ainda não consegue ver um relacionamento entre duas pessoas do mesmo sexo com naturalidade e isto no mínimo é visto como algo exótico, obscuro. Mas o que é exótico e obscuro também causam alguma curiosidade e faz com que as pessoas pensem no assunto e discutam entre si.
Completaria com mais uma frase de Simone de Beauvoir para finalizar o comentário:
"Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância".
Leia também neste blog: *O casal Gay.

La critíque

É a loucura não existe. A loucura está em todos os lugares ao mesmo tempo.
Normal é o tédio dos dias sem graça que as pessoas fazem pra elas mesmas.
Saudade não é salgada não. A saudade é doce.
Eu quero permanecer calado escutando tudo.
O meu passado é de conversador, bom falador, namorador...
Penso, penso, penso, penso...
Consegui dizer tudo...
Tu ficava atrás das linhas da vida.
Sou de esquerda pô...!
O que eu quero dizer com isso? Nada to comentando!
Porque eu sou da luz, porque o único escuro que eu carrego é a sombra que o meu corpo produz.
Eu dou tantas voltas é proibido parar.
Isoglócia...
Isoglócia é a sua forma de falar, sua expressão, sua variado de seletivas de línguas.
E a pessoa que faz isso e faz aquilo e o que não faz fica mais velho, e a velhice vem mais rápido.
Daqui a pouco encontrar uma carta de euforia.
E quem não é?
Sexo é bom! Eu paguei pra fazer. Dez reais.
Foi bom!
Possuir razão é impor.
Pessoas que vivem fora da sanidade.
Falar, falar, falar, falar hen, hen, hen, hen, hen, hen...
Quem é você?
Quem é você?
Quem é você?
Quem é você?
Eu to perguntando quem é você?
Eu sou gente!

Parent Kevin

A GERRA DAS CANETAS

Filho tu estás aí invisível?.. Não tenho visto entrares no Msn!.. Como estás?.. Não te vejo há alguns dias e sinto saudades de pai, de amigo, de quem ama muito! 
Ah, Sonhei que passeávamos pela cidade, por ruas desconhecidas, centenárias e de repente houve um confronto entre gangues e nós estávamos no foco deles, no foco do confronto! Havia troca de tiros que não eram com revolveres e balas, mas com canetas à laser que riscavam o ar e o céu com luzes de varias cores. Lembro-me que correste com agilidade para te protegeres e eu corria atrás de ti e não te alcançava, não te protegia, não te enxergava mais nas estreitas ruas daquele lugar.

Bonnie Parker

Hoje deparei-me com minha cueca pendurada no varal a mais de uma semana sendo molhada nos dias chuvosos e seca nos dias de sol, tremulando como uma bandeira bege sem ser recolhida e então inexplicavelmente lembrei-me de Telma que nunca mais vi. Telma morava na mesma rua que eu, tinha os cabelos pretos e longos que arrastavam nas costas e gestos pouco femininos. Morava com seus pais e mais quatro irmãos, talvez isto explicasse seu jeito largado de ser. Tinha habilidade em tocar sambas em caixinhas de fósforos e manter o cigarro preso num canto da boca. Era do tipo caladona e de poucos sorrisos mas que demonstrava sentimentos através de sua expressão facial quando estava alegre ou aborrecida. Jamais andava com as garotas de sua idade, sempre no meio dos rapazes. Eu era fascinado por Telma e seu jeito que eu associava a Bonnie Parker. Será que Telma usava cuecas, qual a associação?

Uma cebola na plantação de tomates

A festa de ontem à noite, no planeta "Terra", talvés estivesse melhor se Eu não fosse de "Marte" ou de outro planeta desconhecido!..
Me senti uma cebola numa plantação de tomates. Cansado de tudo aquilo que absolutamente não era meu mundo retornei cedo pra casa!..

Aperto a tecla?

Acordei com uma vontade de fazer mudanças em minha vida. Algumas são difíceis eu sei, mas outras tem a facilidade de se apertar uma tecla e ver tudo modificado. Pensei no modelo do meu blog mas logo desconfiei que pudesse desagradar alguns poucos leitores e então desisti da ideia. Devo protelar desta decisão?.. No final, deve ser isto que de fato acontece, desistimos de nossas necessidades por nos preocupar-mos com a opinião dos outros, sobre nossas atitudes, mesmo as menores e que só precisam de um pequeno toque sobre a tecla certa, para vermos tudo transformado.

Embarcações

O que tem nas letras de musicas que falam em embarcações e que me causam uma espécie êxtase, de emoção desconhecida, inexplicávelmente íntima? Que sentimentos tenho por estes navios que partem, que afundam, que encalham, predem fogo e são abandonados na praia? Que navios são estes que atracam e vão embora fabricando emoções nas despedidas, abandonando seus cais. Oque escondem em seus porões, de onde vêm e que historias tem para contarem? Chico destrói os seus ao encontrar um grande amor: "Rompi com o mundo, queimei meus navios. Me diz pra onde é que ainda posso ir". e Milton talves seja o proprio navio em seu sonho de liberdade: "Tenho o caminho do que sempre quis. E um saveiro pronto pra partir. Invento o cais, invento o mar e sei a vez de me lançar."

Pequenas atitudes, grandes mudanças

Na vida temos dois caminhos, o da loucura ou o da morte! _ Assim me disse Madalena ontem durante o plantão, admirando e tocando delicadamente em minhas tranças. Mas acho que quando falava em loucura, se referia a da criatividade da renovação, da coragem, das possibilidades que criamos para abrirmos e reafirmarmos nossas arestas em novos conceitos pessoais. Se não arriscarmo-nos pelo novo, somos sufocados por nossos proprios anseios e impossibilidades que ficam a margem de nós mesmos impedindo-nos de ser verdadeiros e o que me faz pensar que pequenas atitudes podem revolucionarem nossa vida de modo a surpreender nós mesmos e aos outros.

Xis -Tia Zefa

Ontem á noite, xisburger da Tia Zefa, no Jardim Botanico, acompanhado de duas taças de vinho tinto Cabernet Sauvignion quando cheguei em casa. Impossível alcançar o peso adequado deste jeito!

Paciência tem limites

E o céu esta noite desabou em relâmpagos, trovões e muita chuva ruidosa sobre os telhados. Mas meu céu já havia desabado uma noite antes, algumas frações de horas antes deste temporal se mostrar. Agora pela manhã, recebo a mensagem (autosuficiente, equilibrada,.. surpreendente), dizendo que paciência tem limites. A pessoa que me escreveu isto, não se reconhece, não reconhece seus erros repetitivos e muito menos a mim e esquece talves que minha paciência, tambem pode estar chegando ao seu limite!

Brigas, erros, problemas, discussões, obstáculos, desatenções, tolices, dores, contrações. Coloque tudo em cima da mesa e sirva com vinho não2 não1

Foi oque fiz!



Jantar pra um

Algo parece se perder de mim quando chego em casa e debruço-me sobre a janela após o termino de mais um dia de trabalho, e que sinto o ar da noite me bater no rosto e nublar-me os olhos, dificultando-me (todas as visões).
Algo parece se perder de mim, que não me reconheço de inicio e que se perde no silencio que eu mesmo construo, se perde fácil e a seguir retorna espontâneo, natural em forma de um ganho, de um inspirar algumas horas depois. Nesta noite preparei-me um jantar especial: chá de maçã com canela, cuca de laranja, velas aromáticas acesas, incenso de "âmbar e cardamomo" ao som de Yanni e Vangelis.., como o Xamã sugeriu!

Blá blá blá auto ajuda?

E possível que cresçamos a cada passo que der-mos em nossa direção com o intuito de nos conhecer-mos melhor, que renovemos a cada olhar dirigido à vida a nossa volta, aceitando as diferenças, as mudanças, as dificuldades, as impossibilidades com respeito e humildade sem preocupação com o tempo que isto demande. O tempo tem dimensões desiguais a cada um de nós e é neste trajeto que aprendemos e nos tornamos mais gente!
Nossa, parece esses textos de auto ajuda! hahahaha!..

Fatalidades, estigmas, destinos traçadas?

Hoje removi para o hospital um jovem de dezessete anos que foi atropelado no mês passado por um veiculo que trafegava em alta velocidade no final de um jogo do Grêmio, nas proximidades do Olímpico. Conta sua mãe, que o carro que fazia um racha com um outro, atropelou-o em cima da calçada, fraturando suas duas pernas, além de causar-lhe traumas neurológicos que o deixaram cego, mudo e paraplégico para o resto de sua vida. Disse-me também que no dia do jogo, a família e os amigos insistiram para que ele ficasse em casa e assistisse o jogo pela TV como um prenuncio do que lhe acontecera. Que sua vida antes deste acidente, foi cheia de acontecimentos trágicos como um atropelamento anterior do qual fraturou um braço e duas costelas e mais tarde atingido por uma bala perdida, na saída de uma festa, que lhe perfurou o tórax sem comprometer qualquer órgão vital. Dizia a sua mãe que nada lhe derrubaria, que nada o impediria de viver. Neste ultimo, não teve tanta sorte assim! Fiquei observando seu corpo franzino e cheio de feridas profundas pela falta de oxigenação dos tecidos, sonda para poder alimentar-se, fralda descartável para manter a higiene e fiquei me perguntando:
Será que algumas pessoas já trazem consigo algum estigma a o nascer e vivem depois cercadas de fatalidades que as perseguem até completar seu destino, sua sorte?
Tentei esvaziar-me destes pensamentos obscuros e continuei meu trabalho mas ainda com estas ideias presas na cabeça.

COMILANÇA

Hoje tenho compromisso marcado, no aniversário do Brandão. Mais do que um compromisso tenho a missão de fazer o seu jantar de aniversário que é completamente diferente de ter apenas um simples (compromisso) possível de ser desmarcado com uma desculpa qualquer quando não se está a fim de ser mais um participante. Fui intimado à cozinhar, segundo os seus cálculos, para trinta pessoas que são seus convidados após uma aula de Biodança no Ginásio Tesourinha. O cardápio escolhido pelo aniversariante foi, macarrão ao alho e óleo com molho shoyo (prato inventado por mim) e frango frito separadamente. Sinto-me temeroso de cozinhar para tanta gente de uma só vez e ao mesmo tempo com um certo orgulho por tamanha confiança depositada em minhas mãos por parte dele. Deus me ajude e que dê certo!!
Saudações à esta Terça-feira que surgiu ensolarada, brilhante. Não quero ser queixoso e lamentar que este belo dia não aconteceu no fim de semana passado, frio, chuvoso, cinza. Quero apenas sauda-lo e viver suas preciosas horas!

Quero:

Quero ver o sol atrás do muro
Quero um refúgio que seja seguro
Uma nuvem branca, sem pó nem fumaca
Quero um mundo feito sem porta, vidraça
Quero uma estrada que leve à verdade
Quero a floresta em lugar da cidade
Uma estrela pura de ar respirável
Quero um lago limpo de água potável
Quero voar de mãos dadas com você
Ganhar o espaco em bolhas de sabão
Escorregar pelas cachoeiras
Pintar o mundo de arco-íris
Quero rodas nas asas do girassol
Fazer cristais com gotas de orvalho
Cobrir de flores campos de aço
Beijar de leve a face da lua

*Do Schow Falso Brilhante-
**Elis Regina- 1976
"Atravesso o presente de olhos vendados, mal podendo pressentir aquilo que estou vivendo... Só mais tarde, quando a venda é retirada, percebo o que foi vivido e compreendo o sentido do que se passou...
Me chamou a atenção esta bonita e verdadera frase do Livro Risíveis Amores de Milan Kundeira que li a bastante tempo!

Boa noite John Boy

O dia de hoje combina com pipocas carameladas, bolinhos fritos com canela e açúcar, chocolate quente na caneca, edredon até o pescoço e uma boa companhia para dar beijos na boca e assistir filmes como: Jeannie é um gênio, Os três patetas, Os Waltons. Epâ!... este ultimo é mais serio, mas também muito bom para se matar a saudades do "Boa noite John Boy! Boa noite Mary Ellen!" numa viagem pelo tempo ao distante fim de tarde nos anos setenta. Mas eu acreditava que a vida pudesse ser assim, que a América fosse assim, como no seriado americano "Os Waltons", uma espécie de paraíso em família, onde o amor, a bondade e a compreensão pudessem superar todas as dificuldades, conflitos e divergências do mundo. Onde todos pudessem realizar seus sonhos e que os sonhos fosse como os John Boy, tão real como no seriado. Eu acreditava mesmo!

Lambendo feridas

Mais uma noite de chuva encharcando a cidade, adiando as possibilidades de encontros a o ar livre nos bares da cidade. Nas noites chuvosas, tudo me parece mais difícil, até mesmo a vontade das pessoas saírem de casa para se divertirem, talvés prefiram suas próprias companhias em tempos como este. Há quantos dias vem chovendo sem parar, devastando cidades, destruindo famílias? Perdi-me nas contas, nos dias nublados e de pouca claridade. Os dias cinzas nos fecham em instrospecções profundas, desvia o olhar para nosso interior, divagações, questões não pontuadas que precisam de acertos. Como dizia um amigo: Dias como estes nos faz lamber feridas!

Tapete de flores

Enquanto voltava para casa ontem de madrugada, chamava-me a atenção o tapete colorido nas ruas e calçadas de PoA feito de flores de Ipê. Mergulhei naquela imagem magnifica e fiquei pensando nas pessoas que encontrara minutos atrás e sobre o que falavamos. Beto, Clymeia, Jerson, Beatriz e tantas outras presentes. O que buscávamos naquele encontro alem de parabenizar um amigo, de perpetuar nossas vidas através de lembranças saborosas, trocas de experiências, erros? Algo mais existia além do simples encontro, do momento saudoso, da musica do U2 que tocava no telão, dos olhares divididos, dos sorrisos, dos silêncios que eram quase confissões de algo que precisávamos perpetuar a todo o custo enquanto estávamos ali vivos. Somos cúmplices de dias tão desiguais a cada um de nós, mas com resultado único a todos. Tantas coisas nos diferencia mas outras nos iguala, nos deixando sem cor, sem idade, sem sexo, sem diferenças.


Buscando vida na morte

O que ele quer fazer conosco, perguntei-me num lampejo de ideias antes de exteriora-las e me abaixar para verificar se ele realmente estava morto, se tinha alcançado o seu objetivo de não ter mais volta, mas ainda respirava com certa dificuldade e assim concluí que estava vivo.
O homem
estava caído no chão, inconsciente, sob o olhar de revolta da esposa e expressão de desespero da filha. Bebeu uma garrafa de cachaça com uma cartela de comprimidos de Ritalina.
_Ritalina mata?_Alguem perguntou.
_Isto é resultado da tristeza do domingo! _Disse o irmão, olhando para o corpo estendido.
_A minha tristeza continuará na Segunda, na Terça, Quarta, enquanto eu suportar tudo isto!_Concluiu a esposa.
_Quem realmente quer morrer dá um tiro na própria cabeça!_Retrucou um vizinho curioso que passava por perto.
Os dados da literatura comprovam que o suicídio é a segunda causa de morte na adolescência, superada somente por acidentes e homicídios. Deve-se considerar que muitos dos acidentes e homicídios são também suicídios encobertos ( Genovese Filho-1986.) Numa tentativa de suicídio ocorre uma combinação de duas tendências opostas, uma de auto destruição e o desejo de que os outros manifestem preocupação com eles, de modo que eles não querem nem morrer nem viver, mas ambas as coisas, em proporções variáveis ( Stenguel, 1970). Muitos dos que tentam suicidio expressam na verdade, o desejo de melhorar sua situação de vida. Varios aspectos nos dão conta da intencionalidade do ato suicida como: o conhecimento prévio dos efeitos do ato, o estar sozinho ou acompanhado, o pedir ajuda após o ato, o acidentar-se frequentemente, ocupações que tenham um risco maior de acidentes, o método utilizado, perdas afetivas, o sexo, a idade, religião e grau de instrução, aspectos observados em vários trabalhos estudados. Qualquer gesto suicida é um pedido de ajuda, e assim deve ser encarado. É preferível, nestes casos, errar por excesso do que por omissão, pois a morte não tem terapêutica. Geralmente, os suicidas fantasiam a reação dos vivos perante à sua morte: o sentimento de tristeza, remorso e culpa. O suicida elimina sua vida, paga com ela, mas não está totalmente consciente disso, o prazer de tornar real sua fantasia de vingança, de causar sofrimento aos outros... Muitas vezes, ele nem deseja a morte, mas sim uma nova vida, em que a pessoa se sinta querida, seja importante. O final fantasiado, se possível, é que aquelas pessoas de quem se imagina que veio o maltrato, se sintam culpadas e com remorso. Então, o suicida, como que ressuscitaria, todos se desculpariam e a vida continuaria num final feliz. Existe uma independência entre o desejo de morrer e o de matar-se. A pessoa que se mata não quer necessariamente morrer, pois nem sabe o que isso significa. Ela se mata porque deseja uma outra forma de vida, fantasiada. Nessa outra vida ela encontra amor, proteção, se vinga dos inimigos, reencontra pessoas queridas. Uma anedota nos mostra uma pessoa que jogou-se num rio querendo matar-se. Enquanto se debate na água, recusa cordas e bóias que as pessoas lhe jogam da margem. Finalmente, um policial a ameaça com um revolver: “ou você sai daí ou te dou um tiro”. O suicida em potencial, que quer matar-se, não quer ser morto, e sai da água.. A anedota é verdadeira, e nos leva a um outro aspecto do suicida. O individuo quer morrer, mas também quer viver, ele está em conflito, e comumente uma ajuda ou até uma ameaça (como no caso) podem decidir a direção que vai ser tomadaO suicida sofre e faz sofrer. Ele não sabe o que é morte. O que o suicida procura é escapar de um sofrimento insuportável, real ou fantasiado, interno ou externo. É o ato suicida é uma mensagem, uma maneira de comunicar suas dores e pedir ajuda.

Uma cena que me emocionou ontem

Embora minha preferência no comando das telenovelas da Rede Globo sejam Manoel Carlos e a inesquecível Janet Clair, falecida, não pude deixar de me emocionar ontem com a cena em que Maia (personagem interpretada por Juliana Paes) vai ao encontro marcado com Bahuan (Márcio Garcia) e pede para que ele cuide de seu filho, (o filho que é fruto de seu amor com o próprio bahuan no passado e que se tornou seu grande segredo em toda a novela) e também seu sentimento de culpa por ter enganando 0 marido fazendo-o acreditar ser o verdadeiro pai de seu filho, e pelo qual também se apaixonou no decorrer da novela e que agora acredita estar morto. A verdade e que todo o sofrimento de Maia pareceu ter vindo de um mal entendido inicial e mentiras sucessivas que foram se enraizando em sua vida de maneira a escraviza-la na própria mentira, fazendo-a viver sobre a íngreme corda bamba do medo de ser desmascarada. Mas não quero prolongar-me nisto, quero sim é falar do quanto a cena de ontem me emocionou, vendo uma mulher fragmentada, arrasada, por parecer ter perdido tudo que mais amou na vida e agora abrindo mão também da convivência com seu filho, dando a entender que o proximo passo será dar fim na propria vida. Parecia que em seu olhar tudo havia se extinguido, inclusive sua alma se esvaziado durante o pedido que fez à Bahuan parado numa posição superior, no topo de uma escadaria. As vestias toda branca e o rosto que parecia com pouca maquiagem, davam-lhe um certo ar de abandono e tristeza.
A voz rouca e cansada de Nana Cayme enalteceu ainda mais aquele clima de desilusão e sofrimento encarnado pelo personagem, que passou-me a sensação de que seu próximo passo na novela não seria outro a não ser a propria morte.


"Onde voce estiver não se esqueça de mim.
Com quem você estiver não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Mesmo que exista outro amor que te faça feliz
Se resta, em sua lembrança, um pouco do muito que eu te quis
Onde você estiver, não se esqueça de mim..."

*Erasmo Carlos.

ORGULHO E PRECONCEITO


Sábado à noite foi a vez de assistir "Orgulho e Preconceito" do diretor Joe Wright, cujo o DVD comprei á tarde nas lojas Americanas e não floresceu as rosas da minha sensibilidade. Quero dizer que não mexeu comigo como eu esperava que acontecesse. Eu acredito que estava num outro clima e talves devesse deixar para assistir o filme numa outra ocasião. Eu confesso que esperava os mesmos sentimentos que ocorreram em mim quando assisti "Desejo e Reparação" do mesmo diretor que é outra história e com final surpreendentemente inesperado. Eu também estava em outro momento.


Sinopse do filme:
Inglaterra, 1797. As cinco irmãs Bennet foram criadas por uma mãe que tinha fixação em encontrar maridos que garantissem seu futuro. Porem Elzabeth deseja ter uma vida mais ampla do que apenas se dedicar ao marido. Quando o sr. Bingley, um solteiro rico, passa a morar em uma mansão vizinha, as irmãs ficam agitadas. Jane logo parece que irá conquistar o coração do novo vizinho, mas quando a jovem Elizabeth encontra o charmoso Sr. Darcy, ela acredita que ele seja o ultimo homem na terra com quem ela poderia se casar um dia. Mas quando suas vidas se tornam entrelaçadas em uma inesperada aventura, ela descobre estar cativada pela pessoa que jurou desprezar por toda a eternidade.


Titulo Original:Pride & Prejudice, 2005 .
» Direção: Joe Writgth
» Roteiro: Deborah Moggach- roteiro Jane Austen- romance.
» Gênero: Drama/ romance
» Origem: Estados Unidos/França/Reino Unido
» Duração: 127 minutos
» Tipo: Longa-metragem

O silêncio das estrelas

Algumas histórias contadas, frases ditas, letras de canções, poemas, que leio ou ouço, batem dentro de mim e revelam-me sentimentos pessoais que de inicio não reconheço mas que de uma hora para outra se revelam através de sinais emocionais tão familiares, que cabem exatamente dentro de mim, como se fosse feito pra mim, escrito pra mim. Dia 03/09 quando assisti Leline no salão de atos da Ufrgs cantar "O silêncio das Estrelas", experimentei a sensação de que parte de mim estava sendo revelada publicamente naquela canção diante de toda a plateia atenta, que um sentimento meu fora violado através de uma bela canção e que com certeza não era só meu, mas também do proprio Leline que a compôs e muitas pessoas ali presentes, oque me deixou mais confortavel. Estavam todos expostos naquele momento, sem mais segredos!


Solidão, o silêncio das estrelas, a ilusão
Eu pensei que tinha o mundo em minhas mãos
Como um deus e amanheço mortal

E assim, repetindo os mesmos erros, dói em mim
Ver que toda essa procura não tem fim
E o que é que eu procuro afinal?

Um sinal, uma porta pro infinito, o irreal
O que não pode ser dito, afinal
Ser um homem em busca de mais, de mais...
Afinal, como estrelas que brilham em paz, em paz...

Solidão, o silêncio das estrelas, a ilusão
Eu pensei que tinha o mundo em minhas mãos
Como um deus e amanheço mortal

Um sinal, uma porta pro infinito, o irreal
O que não pode ser dito, afinal
Ser um homem em busca de mais...
Por que faço eu sempre o que não queria?
Que destino contínuo se passa em mim na treva?
Que parte de mim, que eu desconheço, é que me guia?

O meu destino tem um sentido e tem um jeito,
A minha vida segue uma rota e uma escala
Mas o consciente de mim é o esboço imperfeito
Daquilo que faço e sou: não me iguala

Não me compreendo nem no que, compreeendendo, faço.
Não atinjo o fim ao que faço pensando num fim.
É diferente do que é o prazer ou a dor que abraço.
Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.

Quem sou, senhor, na tua treva e no teu fumo?
Além da minha alma, que outra alma há na minha?
Por que me destes o sentimento de um rumo,
Se o rumo que busco não busco, se em mim nada caminha

Senão com um uso não meu dos meus passos, senão
Com um destino escondido de mim nos meus atos?
Para que sou consciente se a consciência é uma ilusão?
Que sou entre quê e os fatos?

Fechai-me os olhos, toldai-me a vista da alma!
Ó ilusões! Se eu nada sei de mim e da vida,
Ao menos eu goze esse nada, sem fé, mas com calma,
Ao menos durma viver, como uma praia esquecida..."

Fernando Pessoa
(1888-1935)

Gaita de boca

Existe uma gaita de boca que toca aqui por perto e me chama atenção. Impede-me que eu durma antes das quatro da manhã. Este blue vindo da gaita parece um choro, um lamento que atravessa as paredes na madrugada chuvosa. Não é sempre que toca, é somente quando quer, tem vontade própria, chora quando quer despertar algo na alma, nas noites de chuva como a de hoje.
Semana passada, alguém de Casimiro de Abreu, visitou meu blog fazendo eu reviver com saudades a visita que fiz a esta cidade em Fevereiro, quando fui ao Rio. Casimiro de Abreu, é uma pequena e pacata cidade encrostada entre a serra e o mar. Possui uma beleza interiorana peculiar. Um lugar difícil de se esquecer!

Domingo no Brique

Dar um passeada hoje pelo Brique, foi tão necessário quanto experimentar um bolinho de bacalhau ou um acarajé com suco natural na banca de comidas baianas da Célia. Dia quente, sol, pessoas com roupas leves, cuia de chimarão e garrafa térmica penduradas no ombro, suco natural, gente diferente e colorida, poesia de rua, estátua humana, musica clássica acompanhada por violoncelo, show de crianças indígenas, exposição de artesanato, artes plásticas, antiguidades, pessoas caminhando pelo parque, outras deitadas sob a sombra das árvores, crianças banhando-se nos chafarizes, terceira passeata Lésbicas de PoA, tirar fotografia com o ultimo lambe-lambe. O Brique vai além de uma simples feira, comparado mundialmente ao Mercado das Pulgas de Paris e a Feira de San Telmo em Buenos Aires. É palco de espetáculos artísticos, tribunas politicas e sociais, encontro de amigos, e um recanto onde os Portoalegrenses podem se aproximarem ainda mais da alma de sua cidade e se distraírem.

Sobre a Vitória Régia

Acordei deitado sobre uma Vitória Regia, incrivelmente sem afundar. O rio era límpido e transparente e refletia o Sol na sua superfície como um grande espelho dourado. Uma brisa soprava de leve e me conduzia para algum lugar rio abaixo. Será que é assim o paraiso, pensei logo que acordei sobre a minha cama!...

Situações banais

Hoje a noite vesti-me de bermuda, camiseta sem manga, chinelos Havaianas e dei uma longa caminhada pelas calçadas do bairro. Pulei uma grande pedra branca que avistei na calçada e que nunca a tinha notado, conversei com o vigilante bigodudo da rua, com Cleide a dona do bar, comprei uma garrafa pequena de cerveja escura que bebi ainda na rua com prazer e uma lâmpada de 100 watts. Dei duas voltas na praça iluminada onde acontecia uma partida de futebol, senti cheiro de mato, notei que a lua estava pela metade, ouvi Marisa Monte num carro estacionado com um casal se beijando. Desviei do feitiço com a vela acesa na esquina, ouvi uma piada nova do sindico que saia e as queixas da moradora de cima que não conseguia fazer seu carro ligar. Avistei um cavalo solto e assustado correndo pelas ruas, Quero-queros barulhentos defendendo seu espaço... Percebi que se pode fazer tantas "histórias" com estas situações banais, como viver mais um dia dentro delas e comprender a sua importancia!..


Pendengas da cidadania

Então foi decidido dia 23 de Agosto a pendenga do SIM ou NÃO, pelo projeto de transformação do Pontal do Estaleiro Só na beira do Guaiba, em prédios altos de moradia chic (economicamente diferenciado) e comerciais. A construção de um complexo de prédios na área do antigo Estaleiro levantou os moradores de Porto Alegre numa poeira de discussões no que se refere aos impactos positivos e negativos no local. Segundo o projeto seriam construídos seis gigantescos prédios na orla do Guaiba. Os jornais e meios de comunicação fomentaram a opinião publica durante semanas para saberem junto aos cidadões, se deviam ou não ser construídos os prédios residenciais. Atualmente a área é um amontoado de construções em ruínas, matagal e lixo, transformado-se dia a dia em um mega lixão, ponto de marginais e violência. Me senti inseguro de escolher por um SIM na ocasião e com isto dar aval a uma pequena fatia da sociedade que teria acesso visual a um dos locais mais belos da cidade quando se aproximassem de suas janelas. Me senti um favorecedor da minoria se na ocasião optasse por um SIM. Por outro lado pensei que medida o governo tomaria com relação aquela área, caso vencesse o NÃO e o projeto de construção ficasse apenas no papel, continuaria o lixão de sempre?.. Existe algum projeto do governo para aproveitamento publico daquela área, será que entrará no complexo jogo das impossibilidade orçamentarias? Venceu o NÃO e agora só nos resta esperar como temos esperado pelo projeto de Revitalização do Cais do Porto, o projeto de reforma da Ponte do Guaiba e tantos outros que nem lembro mais por caírem em esquecimento.

Em que momento perdemos a inocência?

_De que são feita as estrelas?
Perguntou a senhora para a menina de cinco anos que eu atendi ontem.
_De pedacinhos de espelho!
_E as nuvens?
_De algodão!
_E o planeta Terra?
_De gente feliz!
_E a noite?
_É quando eu fecho os olhos para dormir!
E a senhora continuava a perguntar insistentemente para a menina que era uma candura e respondia a tudo espontâneamente e com a certeza de seus conceitos inocentes, imaginativos e olhar sonhador.
Fiquei pensando de que mundo vinha aquela doce criaturinha e em que momento mudamos nossos conceitos pessoais pelos conceitos do mundo e das regras impostas. Em que momento somos obrigados a crescer e perdermos a inocência para sobreviver nesta guerra e virarmos adultos, em que momento?

Beirando desconforto

Por mais que eu corresse e empurrasse o pé contra o acelerador e fixasse meus olhos para ver os traços luminosos no asfalto escuro da avenida Ipiranga, eu sentia que precisava ir com mais presa ainda, com mais vontade, com mais urgência de chegar em casa e me atirar sobre a cama e ficar em minha companhia, quieto. As vezes fico assim, somente eu me suporto, somente eu posso encontrar minha posição de conforto, somente eu posso escapar de mim e me encontrar de novo. Desconfortos algumas vezes nos fazem retomar novas posições emocionais diante de nós mesmos, abre possibilidades a futuros recomeços intrínsecos. Uma pausa, ponto, nova linha, travessão, reiniciar e traçar novos caminhos...

Caixa de Pandora

Como não tens mais escrito, tenho a sensação de que perdi algo em ti que não sei o que é, que não tenho quando estou do teu lado, te olhando no olho, bebendo vinho, sentindo tua respiração lenta e profunda. Acho que algo que impactava com minhas ideias e me deixava pensando e que não se revela nos encontros pessoais. Clico na porta que se abre e nada de novo alem do azul e da musica que se repete. O que tens feito de tuas inspirações, o que tens pensado solitariamente que não revelas mais, o que tens guardado em tua caixa de Pandora?


Dia de Verão

Acordei com o sol invadindo o quarto e alguns raios batendo no meu rosto. Dia bonito e com ruídos identificáveis que me dão a sensação de há vida lá fora além da minha aqui neste quadrado organizado. Parece aqueles dias que antecedem viagens-> decisões-> mudanças-> e que a vida te dá algumas pistas discretas a serem percebidas nas coisas mais óbvias. Um canto diferente de pássaro na árvore, choro de criança na calçada, alguém apertando a campanhia do apartamento vizinho. Tudo tão absolutamente normal, mas diferente de outros dias em que o silencio é maior e tão espaçoso quanto o mar, incomodo como uma cela apertada, em que percebo minha própria respiração se fazer audível nas imensas ondas de silencio que algumas vezes me faz bem, noutras mal e tem dominado os dias frios e chuvosos daqui. Talvés a diferença esteja em mim e não neste dia que parece um Verão um tanto esquecido.

Além do ponto

Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de cigarros molhados no bolso. Teve uma hora que eu podia ter tomado um táxi, mas não era muito longe, e se eu tomasse um táxi não poderia comprar cigarros nem conhaque, e eu pensei com força então que seria melhor chegar molhado da chuva, porque aí beberíamos o conhaque, fazia frio, nem tanto frio, mais umidade entrando pelo pano das roupas, pela sola fina esburacada dos sapatos, e fumaríamos beberíamos sem medidas, haveria música, sempre aquelas vozes roucas, aquele sax gemido e o olho dele posto em cima de mim, ducha morna distendendo meus músculos. Mas chovia ainda, meus olhos ardiam de frio, o nariz começava a escorrer, eu limpava com as costas das mãos e o líquido do nariz endurecia logo sobre os pêlos, eu enfiava as mãos avermelhadas no fundo dos bolsos e ia indo, eu ia indo e pulando as poças d'água com as pernas geladas. Tão geladas as pernas e os braços e a cara que pensei em abrir a garrafa para beber um gole, mas não queria chegar na casa dele meio bêbado, hálito fedendo, não queria que ele pensasse que eu andava bebendo, e eu andava, todo dia um bom pretexto, e fui pensando também que ele ia pensar que eu andava sem dinheiro, chegando a pé naquela chuva toda, e eu andava, estômago dolorido de fome, e eu não queria que ele pensasse que eu andava insone, e eu andava, roxas olheiras, teria que ter cuidado com o lábio inferior ao sorrir, se sorrisse, e quase certamente sim, quando o encontrasse, para que não visse o dente quebrado e pensasse que eu andava relaxando, sem ir ao dentista, e eu andava, e tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era. Começou a acontecer uma coisa confusa na minha cabeça, essa história de não querer que ele soubesse que eu era eu, encharcado naquela chuva toda que caía, caía, caía e tive vontade de voltar para algum lugar seco e quente, se houvesse, e não lembrava de nenhum, ou parar para sempre ali mesmo naquela esquina cinzenta que eu tentava atravessar sem conseguir, os carros me jogando água e lama ao passar, mas eu não podia, ou podia mas não devia, ou podia mas não queria ou não sabia mais como se parava ou voltava atrás, eu tinha que continuar indo ao encontro dele, ou podia mas não queria ou não sabia mais como se parava ou voltava atrás, eu tinha que continuar indo ao encontro dele, que me abriria a porta, o sax gemido ao fundo e quem sabe uma lareira, pinhões, vinho quente com cravo e canela, essas coisas do inverno, e mais ainda, eu precisava deter a vontade de voltar atrás ou ficar parado, pois tem um ponto, eu descobria, em que você perde o comando das próprias pernas, não é bem assim, descoberta tortuosa que o frio e a chuva não me deixavam mastigar direito, eu apenas começava a saber que tem um ponto, e eu dividido querendo ver o depois do ponto e também aquele agradável dele me esperando quente e pronto. Um carro passou mais perto e me molhou inteiro, sairia um rio das minhas roupas se conseguisse torcê-las, então decidi na minha cabeça que depois de abrir a porta ele diria qualquer coisa tipo mas como você está molhado, sem nenhum espanto, porque ele me esperava, ele me chamava, eu só ia indo porque ele me chamava, eu me atrevia, eu ia além daquele ponto de estar parado, agora pelo caminho de árvores sem folhas e a rua interrompida que eu revia daquele jeito estranho de já ter estado lá sem nunca ter, hesitava mas ia indo, no meio da cidade como um invisível fio saindo da cabeça dele até a minha, quem me via assim molhado não via nosso segredo, via apenas um sujeito molhado sem capa nem guarda-chuva, só uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito. Era a mim que ele chamava, pelo meio da cidade, puxando o fio desde a minha cabeça até a dele, por dentro da chuva, era para mim que ele abriria sua porta, chegando muito perto agora, tão perto que uma quentura me subia para o rosto, como se tivesse bebido o conhaque todo, trocaria minha roupa molhada por outra mais seca e tomaria lentamente minhas mãos entre as suas, acariciando-as devagar para aquecê-las, espantando o roxo da pele fria, começava a escurecer, era cedo ainda, mas ia escurecendo cedo, mais cedo que de costume, e nem era inverno, ele arrumaria uma cama larga com muitos cobertores, e foi então que escorreguei e caí e tudo tão de repente, para proteger a garrafa apertei-a mais contra o peito e ela bateu numa pedra, e além da água da chuva e da lama dos carros a minha roupa agora também estava encharcada de conhaque, como um bêbado, fedendo, não beberíamos então, tentei sorrir, com cuidado, o lábio inferior quase imóvel, escondendo o caco do dente, e pensei na lama que ele limparia terno, porque era a mim que ele chamava, porque era a mim que ele escolhia, porque era para mim e só para mim que ele abriria a sua porta. Chovia sempre e eu custei para conseguir me levantar daquela poça de lama, chegava num ponto, eu voltava ao ponto, em que era necessário um esforço muito grande, era preciso um esforço muito grande, era preciso um esforço tão terrível que precisei sorri mais sozinho e inventar mais um pouco, aquecendo meu segredo, e dei alguns passos, mas como se faz? me perguntei, como se faz isso de colocar um pé após o outro, equilibrando a cabeça sobre os ombros, mantendo ereta a coluna vertebral, desaprendia, não era quase nada, eu mantido apenas por aquele fio invisível ligado à minha cabeça, agora tão próximo que se quisesse eu poderia imaginar alguma coisa como um zumbido eletrônico saindo da cabeça dele até chegar na minha, mas como se faz? eu reaprendia e inventava sempre, sempre em direção a ele, para chegar inteiro, os pedaços de mim todos misturados que ele disporia sem pressa, como quem brinca com um quebra-cabeça para formar que castelo, que bosque, que verme ou deus, eu não sabia, mas ia indo pela chuva porque esse era meu único sentido, meu único destino: bater naquela porta escura onde eu batia agora. E bati, e bati outra vez, e tornei a bater, e continuei batendo sem me importar que as pessoas na rua parassem para olhar, eu quis chamá-lo, mas tinha esquecido seu nome, se é que alguma vez o soube, se é que ele o teve um dia, talvez eu tivesse febre, tudo ficara muito confuso, idéias misturadas, tremores, água de chuva e lama e conhaque batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, na mesma porta que não abre nunca
Caio Fernado Abreu Do Livro: Morangos Mofados

Protegendo a alma com musica

Meu colega e eu, passamos parte do trabalho, brincando de cantar algumas canções do passado que ainda conseguimos lembrar e isto nos faz sentirmos mais leve e intimamente ligados por sentimentos que vivenciamos cada um em sua trajetória pessoal de vida, em seu espaço emocional. É também uma espécie de terapia que utilizamos para diminuir o estresse que adquirimos e amenizar as dores e queixas que assimilamos durante os plantões. Pulverizamos tudo que pode envenenar nossa alma com musica, muita musica, não importa qual seja!

"De que serve viver tantos anos sem amor.
Se viver é juntar desenganos de amor.

Se eu morresse amanhã de manhã

Não faria falta a ninguém
... Ninguém telefona, ninguém
Ninguém me procura, ninguém
Eu grito e um eco responde: "ninguém!.."
Se eu morresse amanhã de manhã
Minha falta ninguém sentiria
Do que eu fui, do que eu fiz
Ninguém se lembraria ".

Para onde vão as nuvens?

Contemplo pela janela do meu quarto a noite de inverno chuvosa e fria, as persianas erguidas batendo ao comando do vento, o céu escuro formando sombras deformadas em movimentos compactos se indo na mesma trajetória desconhecida. Para onde vão estas nuvens? O que foi feito dos outros Invernos guardados em mim? Invernos medrosos, assombrados, mesclados de arrepios que viravam prazer de menino. Lembro-me da brasa no fogão à lenha, do sabor de bolo de milho e histórias de fantasmas que me faziam sentir calafrios e agora não mais sinto. Percebo que o inverno de hoje mudou de identidade, não é o mesmo da minha infância que me fazia esconder o rosto sob as cobertas pesadas e feito à mão. Onde está o cheiro e a luz do lampião à querosene, a foto de Marlene Dietrich colada na parede, o coaxar de sapos na rua, o pingar na telha de zinco, o vapor da boca formando desenhos na vidraça. Afinal para onde vão as nuvens antes de virarem agua... E eu para onde estou indo antes de virar pó?

Luz Azul

O que vejo daqui de cima são telhados vermelhos onde a chuva bate demoradamente, há quase dois dias. A noite foi calma e lembrei que preciso de uma luz azul ao lado da cama para restabelecer a energia perdida. Fim de semana, no encontro com pessoas, esperei que elas se apresentassem com alguma luz que as tornassem mais bonitas, com aquele brilho no olhar que se diferencia dos olhares comuns, dos atos habituais, das atitudes esperadas, dos discursos negativos, doentios e sem novidades... Eu esperava verdade, reflexão, delicadeza, humanidade, sensibilidade ou simplesmente alegria, que não encontrei e me empurrou para baixo. Mas não poderia deixar de mencionar uma pessoa que destoava de todos, porque parecia trazer consigo a experiência magica de conhecer as primícias da alma humana e seu olhar me transmitiu conforto e confiança enquanto falava. Seu dialogo era límpido, homogêneo, pontual e suas palavras parecia em varios momentos o divisor de águas, o ponto de equilíbrio apaziguador necessário mas não modificador do clima desconfortável. Talvés agora, eu precisase de uma luz azul que me devolvesse o equilibrio perdido daquela tarde. Talvés naquele momento eu necessitasse abraçar uma arvore ou estar distante dali.

Soube que azul, é a cor do equilíbrio, da harmonia e da expansão espiritual. Tem efeito relaxante, traz paz e combate ao egoísmo, traz clareza mental. Afetivamente ligada à verdade, à intelectualidade, a viagens, serenidade, ao infinito e à meditação.

Vinte Dois

Vinte Dois é o apelido de um colega de trabalho e que durante uma vez por semana comparece nos departamentos para organizar e faxinar o ambiente. Disse-me que já está quase se aposentando, embora pareça ainda jovem. Mora no bairro Restinga e é orgulhoso de ter comprado sua casa no bairro e reformado com muito trabalho e persistencia. Demonstra ter uma relação familiar sólida e bem constituída. Fala o tempo todo com uma voz esganiçada e num volume acima do normal. Nunca soube a razão de seu apelido. Quando entrei para o serviço público ele limpava os corredores e salas e já era o Vinte Dois que falava alto, parecendo ansioso e atropelando pontos e virgulas nas frases que elaborava para se comunicar. Semana passada quando me reclamava irritado com a falta de aumento salarial no serviço e retirei de dentro da pasta um folheto explicativo da Associação sobre a promessa de um reajuste proposto para a categoria e lhe entreguei para que -se com calma, me justificou envergonhado que não sabia ler nem escrever. Percebi isto pelo tom de sua voz que se modificou visivelmente diante de mim. Mesmo assim guardou o panfleto no bolso e saiu agitado corredor a dentro. Fiquei pensando em quanto o analfabetismo ainda causava vergonha nas pessoas mas ainda assim, não as impulsionava a mudar esta condição. Tenho Vinte Dois como um lutador e ganhador de muitas lutas em sua vida. Lutas difíceis e que colocaria qualquer ser humano pra baixo, mas Vinte Dois superou todas com trabalho, dignidade e coragem. Só lhe faltou a coragem de enfrentar esta dificuldade numa sala de aula tornando-o ainda maior. Preciso lhe falar sobre isto!

Quando o silencio pede palavras. QUANDO O SILENCIO PEDE POR PALAVRAS.

Hoje falando com um amigo, fiquei pensando em como nos perdemos, nos frustramos, nos distanciamos daquilo que queremos por causa do silencio, pela falta de coragem, pelo medo de nos arriscarmos, de nos expormos e então sermos transparentes com os outros e conosco. Ficamos esperando um acontecimento magico que nos remeta ao que de mais profundo desejamos, deixamos que a vida teça suas tramas livremente e acreditamos que ela trabalhe incondicionalmente a nosso favor, sem que nos esforcemos a ajuda-la, colori-la, sem induzi-la a seguir nossas intuições, nossas regras do que acreditamos ser nossa felicidade. Esquecemos que ela trabalha livremente e a nós cabe preenche-la, largamos nossa vida, sonhos, felicidade, amor nas mãos do destino. Daí que tudo parece escapar das nossas mãos como ouro em pó, enquanto se caminha por um grande deserto, porque perdemos a coragem de assumir nossa luta pessoal. Perdemos ao destino obscuro e sem respostas. É quando percebemos que o silencio pede palavras que não foram ditas...

Paraíso tão perto

Sinto um jeito de interior, de simplicidade, um cheiro de mato, de ar modificado, beleza e liberdade quando passo por lá. Ontem quando fui ao hospital Vila Nova, fiquei admirando pela janela da ambulância toda a beleza de um cantinho de Porto Alegre que poucos conhecem ou sabem de sua existência. Em pouco mais de trinta minutos, é possível sair das turbulências de uma cidade grande e entrar num clima interiorana dentro da própria metrópoli.
Bairros como Belém Velho e Vila Nova assim como algumas estradas que cortam a zona sul, em direção a outros bairros são de extrema beleza. Quem tiver a oportunidade de passar por estes lugares ficará surpreso ao perceber tanta beleza natural que destoa do resto da capital. A praça no centro do bairro Belém Velho nos permite ter a sensação de estarmos numa cidadezinha do interior, com uma igreja simples, um pequeno cemitério e árvores centenárias a sua volta. A estrada Belém Velho que corta o bairro com curvas sinuosas ao pé do morro Teresópolis, lembra os passeios pela nossa serra gaúcha com propriedades rurais e extensos parreirais, alem de pontos como a La Pipa Nostra que comercializam cucas, geléias, sucos, rapaduras, vinhos e frutas das propriedades locais, na beira da estrada. Outro belo caminho é a das Três Meninas que é de chão batido na parte mais rural do bairro e possibilita acesso a outros lugares como Aberta dos Morros, Restinga, Belém Novo, Hípica, possui uma vegetação densa e grandes taquareiras, formando quase um túnel verde em determinadas épocas do ano, pode ser encontrados até lagartos e outros animais cruzando a estrada.

Fora de meu mapa mental

Acordei com a luminosidade do dia batendo no vidro da janela e a orquestra de pássaros cantando aqui do lado. Algumas vezes tenho a sensação de que não moro numa cidade movimentada e com seus ruídos comuns à uma metropoli. Parece que estou em algum lugar distante e que não sei seu nome ou localização no meu mapa mental, mas que reconheço por detalhes intimamente registrados em mim, barulhos peculiares, cheiros, detalhes visuais capturados por meus olhos em algum momento. Minha casa não é a mesma de quando fui deitar-me ontem. Isto é gostosamente estranho e me ajuda acordar novo, diferente, fazendo descobertas.

Lidar com os "Não(s)"

Foi extremamente difícil pra mim lidar com os "Nãos", até por que, não se pode receber um "Sim" sempre que se espera receber!.. O não para mim ia muito além da rejeição de um convite, uma opinião ou proposta não aceita, era uma espécie de declaração aberta de ódio contra tudo que eu pudesse acreditar e consequentemente a rejeição dada a mim como pessoa. _Disse-me o cara transparecendo consciencia plena de sua mudança.
Fiquei observando-o enquanto me falava e lembrando que muitas de suas atitudes quando questionadas por mim ou outras pessoas, causavam mudanças em seu comportamento transformando-o numa pessoa mais calada e com alguma sombra de magoa do qual tentava disfarçar sem exito. Mas tarde, quando tinha a oportunidade, partia para pequenos revides que notoriamente serviam para restabelecer sua própria confiança e credibilidade. Dias atras, ele ligou para o meu celular que percebi apenas alguns minutos depois de estar tocando. Li seu nome na tela e resolvi não atender. Estaria eu fazendo algum teste? Afinal não atender ao chamado poderia significar um (não quero, não posso, não tô a fim...). Talvés por alguma coincidência o cara não mais me ligou.

Postagem em destaque

TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...