Ás vezes penso que se eu tivesse o poder de saber o meu futuro, preveniria tantos erros cometidos no passado, quanto as angustias geradas pelas incertezas do presente. Os acertos seriam sempre como um chute certeiro de Pelé à gol e os erros perceberia antecipadamente para evita-los. Por outro lado eu não seria tão pulsátil, tão cheio de obscuridades e erros, que só me fazem crescer como individuo. Um dia já cheguei a pensar que eu era um extra terrestre infiltrado no planeta, enquanto chupava laranjas no pomar de uma vizinha. Mas esta é outra historia pra ser contada!..
O GATO ENLOQUECEU:
Chico acordou enlouquecido. Desde que amanheceu o dia, corre pelo quarto de olhos arregalados, orelhas baixas e o dorso em forma de ferradura. Pula pra janela que agora tem tela e emite um som que não é miado, está mais pra um rugido de filhote de leão.
Será que é a chuva que está caindo lá fora, nos impedindo de ver o sol, de sair pra rua e ver as pessoas, outros bichos, o mundo? Será que esta pandemia está influenciando psicologicamente até os inocentes gatinhos?
A PERFEIÇÃO É UMA META
Meus ensaios com os músicos, Gian no trompete, Wagner no 7 cordas e Cândido na percussão, tem sido tão produtivo quanto prazeroso. Tive a sorte de encontrar na minha caminhada, músicos competentes, que ajudaram no meu processo de crescimento com a musica, e mais que isso, conseguiram abrir em mim uma portinha que a muito, eu mantinha fechada com trancas e ferrolhos, que é a confiança em mim e nas pessoas que me rodeiam sem vê-las como adversários.
Tenho meus fantasmas, minhas inseguranças e minhas exigências pra tudo que eu faço e esses músicos em especial, com muita paciência e sabedoria, conseguiram estabelecer diálogos para um senso comum no grupo, me pondo à vontade e verdadeiramente satisfeito. Isto é imprescindível para que alcancemos os objetivos que queremos.
Daí, que eu lembrei desta historinha, lida em algum lugar: |Deus deu para o homem como meta, a perfeição, mas estabeleceu como prazo a eternidade e como companheira dessa caminhada a paciência|. A eternidade é a única coisa que o homem não possui.|
LEOPOLDINO
Sabe aquelas pessoas que vivem rindo à toa, que ri da vida, das pessoas, das piores historias contadas como se tudo fosse uma piada? Assim era meu tio Leopoldino, de terceiro ou quarto grau familiar e que eu não o sentia como um tio, mas aquele camarada que sempre tinha conversa pra tudo, até pra encher linguiça, se fosse o caso!..
Não lembro dele mais jovem, nem tão pouco, de ter percebido durante nossa convivência, aquelas mudanças graduais, que o tempo desenha nas pessoas, transformando-as em outra. Sim, o tempo nos transforma em outra pessoa!
Parecia sempre o mesmo homem, de traços cansados e olhos que buscavam o horizonte com certa tristeza nunca revelada. Passava as tarde sentado num banco de madeira sobre a calçada, uma boina de lã que raramente tirava da cabeça e uma bengala onde apoiava as duas mãos que com o tempo foi substituída por duas muletas. Sussurrava alguns sambas que só mais tarde vim a identifica-los.
Minha mãe contava, que quando jovem, ele perdera a metade do pé direito num acidente de bonde. Foi pular com o bicho de ferro andando, caiu com o pé sobre o trilho e a roda amputou todos os dedos como uma navalha afiada. Diabético, nunca conseguiu cicatrizar a ferida que ficou crônica e também o levou deste mundo.
INUTIL PAISAGEM
MINHA TEORIA SOBRE ETS
Sempre acreditei na existência de seres extra terrenos mais inteligentes do que nós, espalhados pelo planeta, cruzando pela gente nas ruas, subindo em ônibus, descendo escadas rolantes, nos encarando estranhamente de um canto, de um restaurante ou supermercado.
Não são anjos de asas mandados para nos proteger, mas seres diferenciados, sensitivos com poderes mentais capazes de se comunicarem por telepatia, lerem nossos pensamentos, entrarem em nossos sonhos e outros métodos não convencionais.
Foram mandados pra cá com o objetivo de conhecerem a raça humana, se relacionarem e obterem informações, de como funcionamos. Muitos híbridos, vivem entre nós com a aparência humana tentando interagir sem serem por nós identificados.
Querem invadir nosso planeta? Quem sabe!.. Nos estudar? Talvez!.. É apenas uma teoria conspiratória? Pode ser! Mas que o mundo está cheio de coisas estranhas e inexplicáveis; Isto é uma verdade!
TATI A GAROTA DA MINHA RUA
Tati era uma garota que conheci na minha adolescência, quando mudou-se pra minha rua, numa casa simples com quarto, sala e banheiro. Em pouco tempo fez amizade com toda a gurizada da rua que se sentiam orgulhos, machos com sua presença chamativa e exuberante.
E quem não queria estar por perto daquele mulherão linda e perfumada que deixava alguns vizinhos de olhos esticados e outros de cara torcida?
Tati nunca escondeu de ninguém o que fazia à noite, naquelas boates chiques de Porto Alegre, que nós sem um tostão no bolso, jamais poderíamos frequentar.
Nos finais de semana, quando tínhamos competição de voleibol com times de outras escolas do bairro, nos acompanhava como animadora de torcidas, nos deixando orgulhosos e felizes com sua presença. Era tão linda, que tirava a atenção dos nossos rivais embasbacados com sua beleza e simpatia. Evidentemente torcia por nosso time e estimulava cada um de nós enquanto jogávamos. Foi sem duvida a responsável por todos as nossas vitórias, naqueles tempos de glória, que não voltam mais.
NO TEMPO DOS HOMENS
Vou vivendo este tempo de transformações, de vida recortada de fatos e acontecimentos que não entendo e sonhos que eu não decodifico, mas que vem das profundezas de mim, fazendo pequenos estragos e contrapontos ao que entendo e controlo.
Quando exteriorizo, através de palavras, ou de algumas expressões que me identifico, minhas neuroses, parecem se abrirem a um esclarecimento. Fica mais leve e iluminado dentro de mim. Como se ascendessem candeeiros pelos caminhos obscuros.
Transferir estas emoções em palavras, em canto, significa uma forma intensa de esvaziamento de coisas que necessitam nivelamento do terreno mental, para o plantio de novas experiências. Faço isto porque é preciso morrer e nascer de novo, quantas vezes for necessário, ainda que no tempo dos homens!
TODA A MULHER É MEIO LEILA DINIZ
Minha vida social na adolescência se deu integralmente na esquina da rua onde morava com os meus pais. Nela se reuniam eu e mais quatro garotos que beiravam entre os doze e quatorze anos de idade e que tinham como teto para competir sabedoria e esperteza, o imenso céu estrelado nas noites de verão, Quando extrapolávamos com gargalhadas ou mesmo falando alto, um ou outro vizinho gritava de sua casa: -Vão pra casa dormir seus vagabundos, aqui tem gente que trabalha amanhã cedo!..
Discutíamos e disputávamos tudo, desde cenas de filmes de cowboy, os personagens mais corajosos dos filmes de guerra, os heróis com maiores poderes extra humanos, quem cuspia mais longe, até os imaginários sonhos com garotas que nem sabiam da nossa existência.
Um dia me encantei por uma garota da televisão, que eu não podia contar pra ninguém. Ela não era o tipo de garota, que se contasse estar apaixonado. Minha mãe a detestava, dizia que era vulgar, desbocada e que falava tudo que lhe vinha na cabeça, com a naturalidade de uma mulher sem classe. Eu descordava disso e cada vez que a via e ouvia tal garota, mais, me sentia preso nas malhas de sua sedução, que não eram dirigidas somente pra mim, mas para tantos quantos, se permitissem ouvi-la falar de suas fragilidades de mulher e desejos de liberdade não aceitas.
Gravida, numa tarde de sol, ela resolveu tomar banho de mar e virou um escândalo nacional, uma ofensa para as famílias de bem e de conduta social respeitáveis. Foi flagrada, fotografada com sua enorme barriga saindo do mar. Mulheres até então, não eram tão explicitas, não falavam abertamente sobre sexo, não mostravam suas barrigas gravidas publicamente, como não denunciavam assédios sofridos, muito menos por a boca no mundo como ela fazia.
Depois de algum tempo, minha paixão foi se acalmando, se transformando em admiração, meus interesses tomando outros rumos e meus amigos, substituídos por outros. Numa manhã fria de 1972, soube que ela havia partido e se calado para sempre, com a queda de um avião na Índia. Hoje toda a mulher que não se cala e se reconhece, é meio Leila Diniz.
A ESQUINA MALDITA
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