INUTIL PAISAGEM


Estou ensaiando neste momento a musica Inútil Paisagem do Tom e Aloysio de Oliveira registrada por Elis... no álbum Elis & Tom com gravações realizadas entre 22 de fevereiro e 9 de março de 1974... em Los Angeles.

Claro que eu já ouvi o disco centena de vezes, mas é sempre bom lembrar a beleza desta obra e em particular esta musica que me emociona demais. Eu fico me perguntando em que grau de  emoção e sensibilidade vive uma pessoa que compõe/escreve uma maravilha destas. É de uma profundidade poética e beleza, que não tem explicação.

Mas,.... pra quê?......... Pra quê tanto céu?... Pra quê tanto mar?.. Pra quê?..
De que serve esta onda que quebra, e o vento da tarde?.. De que serve a tarde?.. Inútil paisagem!

Pode ser....  que não venhas mais!  Que não voltes nunca mais!
De que servem as flores que nascem pelos caminhos?.. Se o meu caminho. Sozinho é nada! Nada!

MINHA TEORIA SOBRE ETS


Sempre acreditei na existência de seres extra terrenos mais inteligentes do que nós, espalhados pelo planeta, cruzando pela gente nas ruas, subindo em ônibus, descendo escadas rolantes, nos encarando estranhamente de um canto, de um restaurante ou supermercado. 

Não são anjos de asas mandados para nos proteger, mas seres diferenciados, sensitivos com poderes mentais capazes de se comunicarem por telepatia, lerem nossos pensamentos, entrarem em nossos sonhos e outros métodos não convencionais. 

Foram mandados pra cá com o objetivo de conhecerem a raça humana, se relacionarem e obterem  informações, de como funcionamos. Muitos híbridos, vivem entre nós com a aparência humana tentando interagir sem serem por nós identificados. 

Querem invadir nosso planeta? Quem sabe!.. Nos estudar? Talvez!.. É apenas uma teoria conspiratória? Pode ser! Mas que o mundo está cheio de coisas estranhas e inexplicáveis; Isto é uma verdade!



TATI A GAROTA DA MINHA RUA

Tati era uma garota que conheci na minha adolescência, quando mudou-se pra minha rua, numa casa simples com  quarto, sala e banheiro. Em pouco tempo fez amizade com toda a gurizada da rua que se sentiam orgulhos, machos com sua presença chamativa e exuberante. 

E quem não queria estar por perto daquele mulherão linda e perfumada que deixava alguns vizinhos de olhos esticados e outros de cara torcida? 

Tati nunca escondeu de ninguém o que fazia à noite, naquelas boates chiques de Porto Alegre, que nós sem um tostão no bolso, jamais poderíamos frequentar.

Nos finais de semana, quando tínhamos competição de voleibol com times de outras escolas do bairro, nos acompanhava como animadora de torcidas, nos deixando orgulhosos e felizes com sua presença. Era tão linda, que tirava a atenção dos nossos rivais embasbacados com sua beleza e simpatia. Evidentemente torcia por nosso time e estimulava cada um de nós enquanto jogávamos. Foi sem duvida a responsável por todos as nossas vitórias, naqueles tempos de glória, que não voltam mais. 


NO TEMPO DOS HOMENS

Vou vivendo este tempo de transformações, de vida recortada de fatos e acontecimentos que não entendo e sonhos que eu não decodifico, mas que vem das profundezas de mim, fazendo pequenos estragos e contrapontos ao que entendo e controlo. 

Quando exteriorizo, através de palavras, ou de algumas expressões que me identifico, minhas neuroses, parecem se abrirem a um esclarecimento. Fica mais leve e iluminado dentro de mim. Como se ascendessem candeeiros pelos caminhos obscuros.

Transferir estas emoções em palavras, em canto, significa uma forma intensa de esvaziamento de coisas que necessitam nivelamento do terreno mental, para o plantio de novas experiências. Faço isto porque é preciso morrer e nascer de novo, quantas vezes for necessário, ainda que no tempo dos homens!

TODA A MULHER É MEIO LEILA DINIZ

Minha vida social na adolescência se deu integralmente na esquina da rua onde morava com os meus pais. Nela se reuniam eu e mais quatro garotos que beiravam entre os doze e quatorze anos de idade e que tinham como teto para competir sabedoria e esperteza, o imenso céu estrelado nas noites de verão, Quando extrapolávamos com gargalhadas ou mesmo falando alto, um ou outro vizinho gritava de sua casa: -Vão pra casa dormir seus vagabundos, aqui tem gente que trabalha amanhã cedo!..

Discutíamos e disputávamos tudo, desde cenas de filmes de cowboy,  os personagens mais corajosos dos filmes de guerra, os heróis com maiores poderes extra humanos, quem cuspia mais longe, até os imaginários sonhos com garotas que nem sabiam da nossa existência. 

Um dia me encantei por uma garota da televisão, que eu não podia contar pra ninguém. Ela não era o tipo de garota, que se contasse estar apaixonado. Minha mãe a detestava, dizia que era vulgar, desbocada e que falava tudo que lhe vinha na cabeça, com a naturalidade de uma mulher sem classe. Eu descordava disso e cada vez que a via e ouvia tal garota, mais, me sentia preso nas malhas de sua sedução, que não eram dirigidas somente pra mim, mas para tantos quantos, se permitissem ouvi-la falar de suas fragilidades de mulher e desejos de liberdade não aceitas. 

Gravida, numa tarde de sol, ela resolveu tomar banho de mar e virou um escândalo nacional, uma ofensa para as famílias de bem e de conduta social respeitáveis. Foi flagrada, fotografada com sua enorme barriga saindo do mar. Mulheres até então, não eram tão explicitas, não falavam abertamente sobre sexo, não mostravam suas barrigas gravidas publicamente, como não denunciavam assédios sofridos, muito menos por a boca no mundo como ela fazia.

Depois de algum tempo, minha paixão foi se acalmando, se transformando em admiração, meus interesses tomando outros rumos e meus amigos, substituídos por outros. Numa manhã fria de 1972, soube que ela havia partido e se calado para sempre, com a queda de um avião na Índia. Hoje toda a mulher que não se cala e se reconhece, é meio Leila Diniz.

A ESQUINA MALDITA

Poucos sabem que existiu aqui em Porto Alegre city, a Esquina Maldita, localizada no cruzamento da Avenida Oswaldo Aranha com a Rua Sarmento Leite. Entrou para a história da cidade, como um lugar de transgressão e debates políticos/sociais e culturais, num dos  períodos mais obscuro em que passou nosso país, a ditadura!

Entre as décadas de 1960 e 1970 nesta esquina, surgiram quatro bares: O Estudantil (1959), o Alaska (1965), o Copa 70 (1970) e Mariu’s (1975). Localizada diante do Campus Central da UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a área em torno da Esquina Maldita, tinha uma alta concentração de residentes universitários, artistas e intelectuais. 
Esse público, em sua maioria jovem, durante a ditadura militar, tinha seu ponto de encontro nesses bares, onde acirravam-se os debates sobre política, mas também sobre as mudanças sociais, comportamentais e culturais que os tempos traziam. 

Havia uma clara conexão entre esses bares e os bares do campus universitário e com os diretórios acadêmicos, onde a politização era intensa. Entre os jovens a participação contribuía para definir identidades e alianças tanto afetivas e sociais quanto ideológicas. Criava-se um espaço de expressão de ideias, símbolos e anseios que estavam sendo reprimidos ou estavam sendo articulados como novidades. 

Havia um certo cuidado entre seus frequentadores, que costumavam usar códigos cifrados para disfarçar os conteúdos das conversas, especialmente em presença de suspeitos e estranhos. 
O apelidado de Esquina Maldita, deu-se pelas autoridades policiais da época, que o consideravam um local de agitação, baderna e subversão ao sistema politico vigente.

MITOS DA INFANCIA

No quintal da minha casa, existia um pequeno pomar, onde todas as frutas eram aproveitadas por minha avó. Da casca a o bagaço, ela desenvolvia doces, sucos, farinhas e ate adubo para que a vida seguisse seu ciclo natural. 
O que nos proibia era de comer melancia com uva, pois segundo ela, empedrava na barriga. Dizia que a morte era lenta e dolorida, se comêssemos as duas frutas juntas. Minha mãe e tios, também tinham a mesma crença, que possivelmente receberam de minha avó. 
Quando me senti meio adulto, com isto a desenvolver dúvidas e questionamentos sobre tudo na vida, resolvi aplicar o teste do  "São Tomé" ou do “Ver para Crer”
Peguei da geladeira uma pedacinho de melancia, um pouco mais que uma colher de sopa, quatro bagos de uva e mandei ver, meio que assustado. Fiquei atento a tudo que pudesse me acontecer, observando a cada segundo, qualquer reação que pudesse ter na barriga, e nada...
Quando percebi, depois de algum tempo, que nada tinha acontecido, veio a certeza de que eu não morreria envenenado e que certas histórias contadas, nada mais são do que mitos sem fundamento. Saí gritando pra todos os meus irmãos sobre o meu feito, que nunca confiaram, dizendo que apenas tive sorte e que não comi o suficiente. Até hoje, depois de adultos, devem se recusar a comer as duas frutas junto.

GATOS E SUA ARTE DE ENGAMBELAR HUMANOS:

Chego do trabalho e surpreendo o Chico na minha cama. Abre uma frestinha do olho, fingindo que está fechado e que nem me enxergou entrando dentro do quarto. 
Encolhido nas dobras do cobertor, deste final de tarde fria, levanta, se estica, depois vem na minha direção bocejando com aquela cara de.., "não sabia que vc tinha chegado" e já começa a miar como se estivesse desesperado de fome. 

Sim, "fome", porque gatos não são como cachorros, que fazem festa na chegada dos donos e só depois vão reivindicar comida. 
Gatos pensam primeiro na própria barriga e só depois de alimentados, vão esfregar suavemente o corpo peludo nas tuas pernas, ronronando, pra dizer que gostam de ti. São incrivelmente egoístas e verdadeiros artistas na arte de engambelar. 

TENSÃO PANDEMICA

Ando tenso neste momento e acredito que não estou só neste sentimento que me amarga os dias. A pandemia me deixa tenso, tenso com a grande quantidade de mortes comprovadas, com gente passando fome, com o isolamento social, com as politicas ineficientes e muita corrupção envolvida, com a falta de vacinas, com o custo de vida altíssimo e o congelamento compulsório de salarios  sem nenhuma proposta de reposição. 

Li hoje uma notificação de conversa na Internet, que me deixou ainda mais tenso. 
-Hã?.. As vacinas só te imunizam por um prazo de seis meses, depois tem que vacinar de novo?..
-Sim, né!.. Ninguém sabe, da sua eficácia a longo prazo!.
-Olha: Morrendo os idosos, diminui o déficit da previdência; Morrendo os doentes crônicos, diminui os gastos do SUS; Morrendo os índios, a terra fica livre para a exploração. Nada no mundo dos homens é por acaso!

Coisas assim, faz eu me sentir como um passageiro num avião, que começa  a tripidar e fazer ruídos estranhos, Dai alguém pergunta pra aeromoça o que está acontecendo, e ela responde: Calma senhor, está tudo sobre controle, estamos trabalhando nisto! Será que estou entrando na teoria da conspiração?





A HISTÓRIA DE IONE FERREIRA

Ione Ferreira era uma amiga de minha mãe; Uma mulher  charmosa, elegante, linda, negra,  que quando chegava no portão lá de casa, seu perfume de fragrância agradável, espalhava um cheiro maravilhoso pelo pátio como flor de jasmim ao anoitecer.

Até na cadeira onde sentava, carimbava aquela deliciosa fragrância, estonteante que não me saia das narinas desacostumadas aos bons cheiros da vida. Usava sapatos de salto altos, coloridos, com meias de seda, taiers de linho que pareciam ser costurados no próprio corpo. Cabelos lisos bruxados para traz, finalizando um coque bem acabado e perfeito. Boca bem delineada por um batom vermelho, porem discreto, anéis, brincos, pulseiras, colares, tudo do maior bom gosto. 

Ione não devia ser, pelo menos para mim, não se parecia com uma simples lavadeira como minha mãe, que se vestia com roupas mais simples. Tinha ares de secretaria executiva, estudada, esclarecida. Era casada com Wilson, a quem amava e tinha um casal de filhos ainda pequenos. 

Foi até a minha mãe, por que precisava se aconselhar, dividir um problema que parecia não conseguir resolver sozinha. Estava grávida e não podia ter outro filho, a situação financeira não era favorável e seu marido ainda continuava desempregado...

Neste dia, com minha mãe, houve cochichos que eu não pude escutar, nem tão pouco entender. Ione caminhava pela casa nervosa, lamentava e chorava. Falavam em dinheiro, que tudo aquilo era arriscado e também muito caro, mas que não encontrava outra solução. Minha curiosidade crescia com minha imaginação. Eu não entendia aquelas frases soltas, sem sentido, algumas palavras que nunca ouvi na vida. Tudo me parecia uma conspiração, que eu não sabia de que lado estavam os mocinhos e os bandidos.

Ione foi embora comentando que tudo daria certo. Passado alguns dias, minha mãe chorava disfarçadamente pelos cantos da casa. Acho que não podia chorar na minha frente, mães não se despedaçavam na frente dos filhos demonstrando fraqueza. Mães eram de pedra que saiam leite. Mães eram fortes e silenciosas como santas de madeira de lei. 

Quando se trocou no final da tarde, com uma roupa simples e discreta, olhos meio inchados, dizendo que Ione estava morta, eu me espremi num canto da casa tentando entender. Na verdade, passei anos sem conseguir entender!..

PERSEGUINDO LUPICINIO


É fato que eu e um amigo, ainda novinhos, saindo da menor idade, percorríamos as noite porto-alegrense em busca  do paradeiro de Lupicínio Rodrigues, que sabíamos, fazia também suas incursões  pelos botecos da cidade, dando palhinhas de seus sambas Dor de Cotovelo, com sua inseparável caixinha de fósforos. 

Andávamos de bar em bar, madrugada à dentro, até encontra-lo e ficarmos completamente hipnotizados com sua presença simpática e voz doce.  Nas noites em que não o encontrávamos por pura falta de sorte, acabávamos em outros bares, (menos ou sem nenhuma exigência com a data de nascimento registrada em nossas carteiras de identidade) para ouvir outros dois mestres da musica: Plauto Cruz e Tulio Piva, que passou a tomar o lugar de destaque no coração do meu amigo, com a criação do samba Pandeiro de Prata, que ele considerava uma obra de arte.



Nunca trocamos uma única palavra com Lupicínio, por que tínhamos consciência da distancia entre os dois mundos que nos separavam. Ele um homem maduro, vivido, poeta, com uma grande carga de experiência pessoal e cultural que pra nós era inconcebível, inimaginável qualquer dialogo entre o Céu (ele) e a Terra (nós). Mas acredito que pela nossa insistência em persegui-lo pelos bares, deve um dia ter se perguntado sobre as nossas constantes aparições nos mesmo lugares em que frequentava.

Seu Hélio, pai deste meu amigo, era um boêmio incorrigível que passou grande parte de sua vida entre o Brasil e New Orleans, cidade de raiz cultural negra como o blue-jaz, conhecia praticamente todos os donos e funcionários de bares e botecos de Porto Alegre, como o Adelai's Bar, o Chão De Estrelas - na Rua José do Patrocínio, e o Gente Da Noite - na Av. João Pessoa; sendo assim; um aceno de positivo 👍ou um alô antecipado dele, garantia nossa entrada, sem grandes burocracias e perguntas.  
Quando nos apertávamos com a comanda, colocávamos na conta dele e tudo certo.

Outro "figuraça", que encontrávamos algumas vezes nestes lugares e que com o passar do tempo foi virando aquele amigo de bar que conta suas façanhas causticas e amorosas, foi o estimado Paulo Santana que nos deixou saudosos de sua alegria. Mas isto eu conto noutro post!



Postagem em destaque

TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...