O segredo das Ursulas

Eu preciso desvendar o segredo das Ursulas, que construí dentro de mim; por que este nome sempre me causou uma desagradável sensação sonora dentro dos meus ouvidos, transformando-se num preconceito que ainda não consegui desfazer.  É verdade!., eu reluto muito contra isto!
Eu não consigo pensar neste nome, sem que me venha na cabeça, a imagem de uma governanta belga, feia e mau humorada à procura de uma vingança por sua infelicidade. Por que belga?.. Nem eu saberia explicar, afinal poderia ter tantas nacionalidades, mas ainda assim, seria uma Ursula cheia de facetes de crueldade e finalidades obscuras. As Ursulas guardam segredos à sete chaves e que não revelam para ninguém.
As Ursulas se escondem atrás de portas semi abertas e num  minuto de distração, surgem das sombras com suas mãos brancas e enrugadas, obrigando-me a comer sementes de linhaça com óleo de fígado de bacalhau, somente por maldade.
As Ursulas sempre me deixaram de pé atrás e ouvidos atentos.
Eu guardei estas impressões em meus alçapões com cortinas de renda rasgadas e moveis empoeirados que não me sinto com coragem de abri-los.
Eu até que tentei, ser amigo de uma, mas ela se revelou a mais amarga e infeliz das mulheres que já conheci.

AS CRIANÇAS


Estas crianças moram numa barraco que estive hoje prestando atendimento à uma senhora diabética e desnutrida, por falta do que comer. O lugar, não dá nem para lembrar, de tanta pobreza, miséria e desleixo. Eu ficava me cuidando para não enfiar meu pé num dos buracos do assoalho e cair numa ribanceira morro abaixo. Apesar de toda a cena triste de desconforto e pobreza que as envolviam, elas estavam lá, curiosas, atentas, olhinhos brilhantes, no meio de tanta sujeira e quando falei então se poderia fotografa-las para o meu álbum, a alegria das duas floresceram, fazendo até pose para parecerem mais bonitas. Existe uma alegria de viver na infância que deixa nós adultos perplexos e nos perguntando como podem ser felizes vivendo daquele jeito.

Mentiras sinceras me interessam

Eu só precisei encostar o carro numa esquina, pegar o celular e fazer um pedido de socorro. Apesar de não fazer estardalhaço, era um pedido de socorro sim.
Eu  necessitei ainda, que me perguntassem como eu estava, para responder de um jeito meio sombrio, que não estava legal e não sabia o porquê me sentia daquele jeito.
Faz muito tempo que venho me sentindo assim e antes que receba acusações, devo informar que tenho consciência de que sou deprimido e meu humor muda tão rápido, quando a cor de um camaleão que se sente ameaçado. Eu me sinto ameaçado e também me camuflo.
Na verdade eu preciso muito mais de artifícios para me livrar destes mal estares emocionais, do que conceitos explicativos de como eles se processam dentro em mim. Eu não preciso de psiquiatra, mas um ilusionista. Eu preciso de desculpas plausíveis para não me sentir o único culpado; Preciso de co-autores e de coadjuvantes para dividir as responsabilidades destes  sentimentos que se criam em mim. [..Mentiras sinceras me interessam..]
Talvez o Sol não tenha brilhado na intensidade que costumava brilhar, nem as árvores tenham se movimentado ao curso do vento como costumavam fazer, parecendo estáticas e sem vida nesta manhã e isto, mesmo não parecendo uma boa desculpa, pode ser uma desculpa para me desestabilizar.
Eu preciso só de alguns minutos para ouvir e ser ouvido, depois eu ligo o carro novamente e vou embora sem culpas.

Sem título

Eu fiquei tentado a fotografar o homem que atendi ontem e sua casa que era pior que um deposito de lixo, mas acabei por desistir. Fazia seis dias que não se alimentava e seu ultimo cardápio tinha sido cascas de batata que arrecadara no lixo de um vizinho. De tão magro e debilitado, era possível contar suas costelas salientes no tórax. Quase não conseguia levantar do que chamava de cama. Me contou ser usuário de crack,  HIV positivo e mais uma infinidade de doenças oportunistas.
Eu quase pedi para fotografa-lo e também sua casa, mas bati em meus princípios éticos e de respeito à privacidade, etc., etc.., que me põe desconfortado para algumas atitudes mais ousadas, como fotografar estas situações lastimáveis a que sou exposto quase que diariamente pelo tipo de trabalho que faço; mas por outro lado, fiquei pensando que seria instrutivo mostrar, a que ponto da vida chega o ser humano, diante da total desistência e abandono, colocando-se no mais alto grau de privação.

Burocratas da moralidade

Tô passado com alguns colegas de cabelos grisalhos e que ficam encostados no portão que as vezes cruzo. Eles falam tantas bobagens e sobre sacanagens alheias. Eles no fundo gostam destas proibições que eles mesmos inventaram e que para outros, pode ser alguns simples recursos para aumentar a felicidade. 
Eles se escondem atrás de suas mascaras de homens de dignidade que criticam e fazem piadas morais, embora abram pequenos fios de possibilidades que os  excitam a cometerem o que eles mesmos  chamam de sujeira. Também não é a toa que não fixam o olhar em ninguém e a nada, com medo de serem flagrados em seus pensamentos silenciosos.

Vida de cachorro

Quando conheci Bicudo, ele se chamava Rex, mas quando olhei para ele e percebi que um cão daquele porte, pequeno mas entroncado e forte, olhar desconfiado e focinho comprido lembrando  de um tatu ou um Bull Terrier inglês, pensei que ele jamais poderia ter aquele nome, tão simplificado de um cão  franzino e sem personalidade. Foi daí que eu o apelidei de Bicudo e assim ficou, um cão que atende por dois nomes.
Bicudo, não tinha nenhuma namorada, até chegar a Raíssa, uma cadela vira-latas e de pelagem amarela, que como ele, também foi deixada no pátio, onde funciona uma das bases do Samu, na Lomba do Pinheiro. Raíssa tem uma personalidade muito juvenil  e de tão brincalhona que é, só serviu para amizade e despertar o espírito de proteção em Bicudo. 
Acho que eles nunca transaram, embora ele até tentasse!..
Bicudo só despertou sua sexualidade e instinto machista, egoísta e dominador, quando surgiu uma outra cadela, de porte grande e aparência mais velha,  com jeito de experiente na arte da sacanagem, que apelidamos de Cadelona. Na verdade esta outra cadela, não foi muito aceita, pela equipe do Samu, que adotou Bicudo (e que inclusive tem plano de saúde); mas quando ele a viu, transando com outros cachorros que a perseguiam na rua, ele pirou de vez e passou a brigar com cães até maiores do que ele,  para também conquistar seu espaço junto a Cadelona. Inúmeras vezes, ficou desaparecido por dias, causando preocupação e a desconfiança de que  seria encontrado morto, esticado no meio da rua, atropelado por algum carro. Até que voltava todo machucado, magro e com cara de piedoso.
Algumas semanas se passaram, até Bicudo reaparecer com a Cadelona em sua companhia, dentro do pátio. Relação firmada, fazia sexo a todo instante e dava sua casinha de madeira, para a amada dormir, enquanto ele se acomodava em constante vigia ao relento. Dividia sua comida e tinha crises de ciumes quando um outro cachorro se aproximava.
Neste período, até Raíssa  foi esquecida e nem se aproximava do seu espaço de domínio. 
Mas sua paixão não durou para sempre, e um dia até a Cadelona foi deixada de lado e depois rejeitada. Expulsou-a de sua casinha e nem a comida quis mais dividir. Esta semana, Bicudo voltou a dar suas fugidas, não come direito, voltou a emagrecer e surgiu com o corpo todo machucado, provavelmente em luta por uma nova conquista.

CASCATA DA PEDRA BRANCA EM TRÊS FORQUILHAS.


No Sábado pela manhã, dia 02/04/2011, fui fazer o passeio pela Rota do Sol, em direção a Três Forquilhas, cujo roteiro eu havia idealizado no mês passado e que foi adiado em função dos fins de semanas chuvosos. A rota inclusive foi planejada com a ajuda de um colega de trabalho o Eduardo Justin, que foi guarda florestal na região e desenhou um mapa de orientação à mão pra mim,  com algumas referencias de lugares bacanas que eu deveria conhecer, mas que em decorrência do pouco tempo, (um dia apenas), se tornaria difícil de conhecer todos. Tudo é muito bonito lá pra cima e a gente fica tão admirado, que quando percebe as horas já se passaram e não deu tempo pra ver tudo!
Saí em torno das 9 horas da manhã de Viamão pela RS 118, até a BR- 290 (Freeware) em direção à BR-101, com seus dois novos túneis que deram um aspecto de primeiro mundo à  rodovia, depois cheguei na Rota do Sol, que cruza por cima da BR- 101 em forma de um viaduto. A Rota do Sol foi inaugurada em 2007 pelo governo do Estado  se tornando o orgulho do povo gaúcho, depois de uma espera de 38 anos. Neste ponto de acesso da BR 101 para a Rota do Sol é preciso estar atento, pois há pouca sinalização.


De Viamão, até o acesso à Rota do Sol, em Terra de Areia, (ponto de partida  para quem vem do litoral com destino à Serra), são mais ou menos 141 quilometros e  até  Três Forquilhas mais 7,3 quilômetros de rodovia com asfalto liso, bem sinalizado e alguns controladores de velocidade.
Entre tantas placas na Rota do Sol, uma indicava o acesso à Três Forquilhas e a  Cascata da Pedra Branca, na altura do quilômetro 58, que eu tinha curiosidade de conhecer.


Três Forquilhas é uma cidade pequena, limpa, de aspecto organizado e com uma igreja matriz na área central, como qualquer outra cidade do interior do Rio Grande do Sul.  Sua economia baseia-se principalmente no cultivo de hortifrutigranjeiros,  em pequenas propriedades locais e sua formação étnica, é basicamente de descendentes de origens alemãs, açorianos, portugueses, italianos e uma pequena parcela de índios e africanos (que eu não vi pelo caminho). 


Para se chegar a cascata é necessário entrar no centro da cidade e seguir em direção a área mais rural, margeando-se o rio, até a parte mais isolada, no meio da mata preservada e com imensos paredões de pedra visíveis à uma certa distancia. A estrada é de terra e em alguns pontos pedregosa  ficando à cerca de 30 quilômetros do centro da cidade. As informações para se chegar são desencontradas, pois não existe sinalizações e cada morador informa uma distancia diferente. O jeito é ir parando, perguntando e observando o rio sempre a esquerda, até o momento em que a estrada acaba, obrigando a  cruzar para o outro lado, numa pequena ponte sobre rio. Neste momento o rio fica à nossa direita. Anda-se mais uns dois ou três quilômetros pelas encostas do morro até chegar.


Na medida em que vai-se aproximando da cascata, a paisagem vai ficando mais selvagem, o rio mais limpo e turbulento e a estrada mais pedregosa e úmida, propiciando sem a devida atenção, do carro atolar ou derrapar sobre o barro e pedras soltas na estrada.


Em cada canto que a gente para, em contemplação à natureza é posivel se surpreender, se admirar e se encantar com a beleza de um lugar,  que nos remete a simplicidade, bucolismo e inocência de uma cidade do interior,  como esta Ponte Pênsil, escondida sobre a mata e que cruza o rio até a outro lado da margem. A ponte é feita de madeira e fios de aço, mas quando subi sobre ela começou a rangir como se a qualquer momento fosse rebentar.


Depois deste ponto, já no carro, passei por uma estrada coberta de folhas azuis, que ao chegar mais perto, pude observar se tratarem de borboletas. Elas estavam sobre a estrada úmida e quando me aproximei, alçaram voo em direção as árvores, que formavam um túnel natural sobre a rústica estrada vazia.


Mais adiante, onde o carro já não podia mais subir, à cerca de uns 100 metros de distancia, a Cascata da Pedra Branca, esculpida pela natureza, saltava de uma altura de 110 metros por entre os paredões rochosos de uma pedra com manchas branca e que possivelmente seja esta a razão de seu nome. Estas pedras também se espalhavam por todo o leito do rio turbulento.


Sua visualização é algo fora do comum e de muita beleza, talvez por isto, eu tenha sentido um certo receio de me aproximar de sua base, onde forma uma piscina de aguas revoltas, que eu desconheço a profundidade e não arriscaria tomar banho. Mas mesmo não entrando na piscina, se chega muito perto da cascata, que salpica todo o nosso corpo, com água  e a sua volta, forma-se uma especie de nevoa muito fina e gelada.


O deslumbre por sua beleza é tão grande, que não dá  vontade de ir embora, mas apenas ficar ali, olhando e ouvindo o ruído de sua força, raspando os paredões de pedra e transformando-se num rio selvagem e turbulento que desce montanha abaixo formando  os braços do Rio Três Forquilhas que deságua na Lagoa Itapéva e dos Quadros ao lado da BR-101. A mata ao redor é coberta por um tipo de samambaia gigantesca que cresce nas partes mais altas da beira da estrada e que eu acredito ser encontrada somente neste lugar de muita umidade.



De lá, fiz o caminho de volta retornando à Rota do Sol no sentido a cidade de Tainhas, cruzando por novos túneis e viadutos cujo a altura é de tirar o fôlego e onde se tem uma visão privilegiada  da serra, inacreditavelmente bela.


Ainda na estrada, pode-se encontrar alguns estabelecimentos e quiosques que vendem produtos coloniais, como pães, biscoitos, queijos, mel, rapaduras, doces, licores, salames, etc., alem de restaurantes e estabelecimentos que oferecem cafés coloniais. Cheguei em São Francisco de Paula já à noite, com a intensão de retornar para casa pelo município de Taquara, via RS 020.


Bem, todo o passeio foi compensador e de muita beleza, mas o ponto alto, sem sombra de dúvidas, foi a Cascata da Pedra Branca, que um dia pretendo fazer outra visita, pela impressionante sensação de liberdade, imponência e misticidade que me causou.
 

Até o próximo passeio!

Fruta azeda

Na adolescência, quando eu  fazia algo de errado, sentia uma espécie de arrepio que me doía o canto da boca, algo parecido com a sensação de comer uma fruta muito azeda onde a língua ficava áspera e um gosto desagradável se espalhava por toda a boca...
Um dia ouvi meu pai dizer que só aceitaria dentro da sua casa, pessoas com cigarros na boca, se pudessem sustentar o seu próprio vicio. A palavra "sustentar", tinha pra mim um peso muito grande, um peso que elevava qualquer pessoa à uma categoria de poder e liberdade, de ser dono de seu próprio nariz. Então passei a fumar escondido dele com alguns amigos de rua, sentindo este arrepio desconfortavel. Depois veio o vicio, o primeiro trabalho com a falsa sensação de "sustentar-se", mas a liberdade de fato, ainda estou atrás.
Meu pai nunca foi, nem poderia ser referencia positiva para ninguém; Era analfabeto, alcoolatra, ausente, incapaz de manifestar qualquer tipo de carinho aos filhos e na maioria das vezes apresentava  atitudes de desvio de carácter, herdado de sua educação cheia de preconceitos, traumas e desafetos. Um dia eu jurei pra mim mesmo, nem de perto, ser parecido com ele, embora eu seguisse caminhos que buscassem a sua aprovação.

Pequenos algozes

Aos onze e dez anos de idade, eu me minha irmã, éramos as crianças mais cruéis da rua onde morávamos. Atraíamos a atenção de alguns amiguinhos da vizinhança para o nosso pátio e torturávamos somente para sentir prazer. Claro que pegávamos os mais franzinos e inocentes que aceitavam nossos convites para brincar, curiosos com a nossa mentira de um brinquedo novo.  
Levávamos a vitima para o fundo do pátio, vendávamos seus olhos, amarrávamos seus pés e braços nas goiabeiras e daí iniciávamos as seções compostas de puxões de cabelos, beliscões, formigas nos pés, comer frutos podres caídos das árvores e banhos de agua fria. 
Inventávamos uma história qualquer que só nos sabíamos e então motivávamos as torturas fazendo perguntas insistentes que a vitima evidentemente não saberia responder. Quando a soltávamos, alertávamos que se falassem alguma coisa para alguém, da próxima vez seria pior, muito pior!
Um dia minha irmã veio com a história de que poderíamos ser presos se fossemos descobertos e achava que deveríamos parar de vez.  Então por medo, deixamos nossos dias de criminalidade de lado. Na verdade não tínhamos nenhum conhecimento ou orientação moral sobre este tipo de violência e seus malefícios, embora soubéssemos que estávamos fazendo algo errado e que poderíamos ser punidos por isto.

LAGRIMA SOLITÁRIA.


Lágrima solitária é aquela que escorre do olho, sem que se  saiba o motivo pela qual está escorrendo, por que faz parte de mecanismos autônomos, do qual  não se tem nenhum controle sobre eles.
É como se nossas próprias entranhas estivessem chorando por nós, em soluços incontroláveis e nos emprestando uma profunda e amarga tristeza.
Depois que tudo passa e ficamos mais aliviados, basta apenas fingir que nos emocionamos com qualquer coisa tão boba que nem lembramos o que é ou alguma cena da novela das nove;  Depois se anseia-se pelo próximo capitulo.

Pra declarar minha saudade

Agora pela manhã, recebi no celular uma mensagem que me dizia: 
_Vem jantar aqui hoje à noite, não me abandonem... O amor não é suficiente para ficar sem amigos! _Confirma!..
Confesso que fiquei angustiado com o convite e com nós querendo sair da garganta, quando deveria ficar lisonjeado e feliz, mas os sentimentos por vezes, são tão tortuosos e estranhos dentro da gente, que confundem a nossa razão, nas atitudes mais simples e delicadas; Acho realmente importante a companhia de amigos, então confirmei. 
Existem outros nós de tristeza a me sufocar desde o inicio do mês, que não tenho encontrado uma forma de desata-los e transforma-los em pétalas. Ah!.., e esse novo toque musical no meu celular com Maria Rita cantando: "Pra declarar minha saudade", me põe ainda mais sensibilizado, quando ouço!

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...