XERÉM SEM O RIO.

por Marcos L. Britto

Estar de volta a minha terrinha é sempre um prazer inestimável, que começa quando a aeronave sobrevoa a cidade, fazendo aquela curva para esquerda, em seguida se alinha na direção da pista de pouso e o piloto informa que recebeu a liberação para a aterrizagem. 
Ufa!..
Voltar é sempre bom, mesmo voltando de lugares que queremos em algum momento ficar mais tempo, porque construímos relações fortes com as pessoas, seus costumes e o meio onde vivem. 


Estive três dias em Xerém no Rio de Janeiro, (que não tem cara de Rio de Janeiro), localizado a o pé da Serra Fluminense, próximo a Petrópolis, para visitar amigos e comemorar o aniversario de outra amiga, Alba, que adora o distrito e me apresentou pela primeira vez em 2009. 
O centro de Xerém se parece muito com os subúrbios de Salvador e tantos outros lugares, onde as ruas são sinuosas, estreitas, às vezes desleixadas, muitas sem calçadas pela falta de planejamento urbano, onde as pessoas são naturalmente despretensiosas e muito a vontade na maneira de se vestirem e viverem a vida. As pessoas são humildes e afetuosas no sentido verdadeiro da palavra.


Nestes escassos três dias, deu para eu matar a saudades de amigos e também perceber e lamentar o quanto o distrito se modificou em função do tempo e de seu acidente natural em 2013.
Lembro-me de algumas tardes em que vizinhos se reuniam na rua, (na calçada) e ali assavam seus churrascos comunitários em grelhas improvisadas e a o som de sambas do mais ilustre morador local: Zeca Pagodinho.



Retornar a Xerém, seis anos depois e da grande enchente que destruiu parte do distrito e virou manchete em todo os jornais do país e não encontrar mais o rio que cruzava a cidade, onde as crianças e moradores tomavam banho  nas tardes de calor, foi muito triste.


O rio caudaloso desapareceu, foi soterrado pelo deslizamento da montanha durante quatro dias de chuva intermitente, destruindo casas, desabrigando pessoas. 
O rio agora, é um pequeno e fraco córrego, que se espreita entre pedras e areia, numa imensa vala onde a vegetação começa timidamente a surgir. Casas foram reformadas, outras interditadas pela defesa civil. Muros com mais de dois metros de altura foram erguidos como prevenção para futuras enchentes.


Xerém é hoje um distrito reabilitado, com pontes novas, ruas asfaltadas, praça de lazer, cancha de futebol, construídos pela prefeitura, mas que ainda precisa de mais atenção por parte da governância publica. É como se arrancassem cruelmente a historia e as características de um lugar, onde pessoas se reuniam para refrescarem-se nos dias de verão junto ao rio e celebrarem a vida. Parece uma revista em quadrinhos, onde algumas paginas perderam o colorido com as águas lamacentas que devastou parte do lugar. 
Xerém, ainda resiste na alegria e hospitalidade de seus moradores, porem sem aquilo que a tornava mais encantadora, o rio, as tardes de banho, o convívio diário presenteado pela natureza e que hoje não existe mais. Localizado na base da serra, onde ainda esconde inúmeras cascatas, cachoeiras, matas preservadas e trilhas a serem descobertas, não possui nenhum incentivo  para a realização de passeios ecológicos locais.
Quanto a origem de seu nome, "Xerém", provém de um prato comum na culinária nordestina, feito de grãos de milho seco quebrados no pilão e cozidos na água e sal. O prato é originário de Portugal, onde pode ser conhecido também como "xarém".
Outra hipótese para a origem de seu nome, remete a um comerciante inglês John Charing, que, no século 17, possuía barcos que faziam a ligação entre o porto do Rio de Janeiro, o porto do Pilar e o atual município de Petrópolis. Segundo essa hipótese, o nome "Charing" teria sido convertido pela população para "Xerém" pela dificuldade de pronunciar o nome corretamente.
Do centro do Rio até Xerém dá cerca de 50 km pela BR-040, Linha Vermelha, Viaduto dos Pracinhas, Av. Pres. Vargas, Av. Rio Branco, Av. Almirante Barroso



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você pode fazer seu comentário clicando sobre o título da postagem onde será direcionado para Conversa Fiada, com espaço para a publicação da sua opinião. Ela será acolhida com atenção e carinho e sempre que possível respondidas.

Postagem em destaque

AS TRES MENINAS

As três meninas eram dos campos da Cecília. Eram três meninas loirinhas cujos cabelos pareciam trigo solto ao vento. Quando seus pais abrira...