DOMINGO NÃO PRECISAVA EXISTIR

Três coisas que eu me recusaria terminantemente de fazer hoje por ser Domingo e por força do meu temperamento destemperado ou temperado mas fora das medidas padrões. Hoje o dia está úmido, cinza, chuvoso, sem luminosidade, e Porto Alegre com cara dessas cidades europeias, que ninguém quer visitar, nem que seja de graça.

Eu por conta deste clima feio e desfavorável, acharia empecilhos até pra comer uma rapadura do tipo pé de moleque da serra. Me recusaria também a ler qualquer artigo, romance, poesia, reportagens em geral, cujo o texto começasse com a frase "Como fazer" que me faz lembrar de (receitas do tipo de faça você mesmo). 

Também pularia do Décimo andar de um prédio, se me aparecesse alguma mulher evangélica, de cara lavada, com coquezinho preso na nuca, vestida com saia Maria mijona, com a bíblia na mão, tentando me pregar o evangelho. Ahf!... Gente hoje é Domingo, um dia que pra mim, nem precisava existir!



ALONGAMENTO NOTURNO

São exatamente cinco horas e cinquenta e um minutos, hora que resolvi escrever este post. Devo ter acordado por volta das quatro horas e qualquer coisa, com o Chico me olhando de olhos arregalados e eu com fortes dores nas costas. Depois de me mexer com cuidado, sentar e posicionar-me de barriga sobre o colchão, esticando os braços para baixo ao longo do corpo, me proporcionou uma rápida e considerável melhora da dor que venho sentindo desde as dezoito horas e trinta minutos de ontem, quando terminou meu ensaio com os músicos. 



Esta posição corporal que tomei, talvez seja uma forma de alongar as hérnias da região lombar, descomprimindo-as e diminuindo consideravelmente a dor que começa a irradiar para os trocânteres, aqueles ossos redondos que ficam na base superior do fêmur.

Durante o dia faço minhas curtas e modestas caminhadas como posso, para não me entrevar de vez, e passar para a lastimável categoria dos dependentes. Na minha idade, facas e bisturis, nem pensar! Agora é quase seis e meia e o dia ainda não clareou, posso retornar pra cama, aproveitando o que restou da noite.

OLHOS TRISTES

Não sei se é simples impressão minha, mas quando saio de casa, vejo as pessoas na rua, com o olhar tristonho, parecendo cansadas, sem brilho, sem vida. Será que estou imaginando coisas?.. Você também vê isto?

Desde o motorista do aplicativo, que utilizo diariamente, do atendente da quitanda, do vigilante da rua, de alguns itinerantes, percebo um tipo de nuvem cinza que se espalha do olhar, um desanimo que transborda e por vezes um sorriso evasivo que é deixado escapar pelas dobras da máscara.

 

Tristeza que parece ser motivada por problemas não somente de ordem pessoal, mas de quem não aguenta mais tantos socos, tantas questões globais e gerais, de quem está por um fio da desistência, de quem não está aguentando mais as dificuldades geradas pelo homem. É. o dito cujo homem!

O advento da pandemia mundial, trouxe consigo  o isolamento social necessário pela sobrevivência e o desuso do anti- stress usados nas reuniões familiares, de amigos, nas viagens, no barzinho dos finais de semana, nas academias de ginasticas. Também trouxe o uso compulsório de mascaras, nos transformando em outras pessoas; pessoas com meio rosto, com meia expressão, que teremos que nos acostumarmos.

A ROTA DOS AVIÕES

Da janela do meu quarto vejo tantas coisas, que me roubam a atenção, mas a noite deslumbro a rota dos aviões com suas luzes brilhantes, saindo do infinito para o infinito. È uma visão poética e solitária. Se parecem com naves espaciais brilhando no céu as vezes  escuro e de poucas estrelas. Vão fazendo uma grande curva, na linha invisível até desaparecerem de vez. Não sei se estão saindo ou chegando na cidade. Passam por aqui, na minha janela, distantes e pequenos, como se eu simplesmente pudesse pega-los com a mão e ficar brincando...



A CARREATA BURGUESA

Dia desses, quando retornava pra minha casa, vi uma conhecida em seu carro, cheio de  familiares, participando de uma carreata em favor do governo atual. Não me surpreendi, pois era óbvio que ela e sua família são de direita!.. Pensei.

Este governo que está no poder e que morre de medo de perder seus privilégios e se denomina defensor de uma sociedade cristã, composta de gente do bem, de família e que faz a economia girar com trabalho árduo e dos outros, é o que a republica quer como apoiadores de suas ideias. Uma nova burguesia que raramente estudou, leu um bom livro, que não expandiu seu intelecto e portanto não flexionou seu olhar as diferentes verdades. Uma nova burguesia folhada de valores absurdamente rasos e sem conteúdo.

Havia muito buzinaços e bandeiras do Brasil esticadas pra fora das janelas dos carros, flamulando ao vento, chamando a atenção dos transeuntes desatentos, dos que se deixam levar a o vento sem um rumo certo, dos invisíveis.

Lembrei que esta vizinha e seus familiares, só podiam ser de direita, afinal são brancos, empresários bem sucedidos cuja a luta é se manter no poder, assim como o governo, monopolizando as grossas fatias da torta para o seu consumo próprio, sem dividir com quem não reza na mesma cartilha. 

Seus privilégios de hoje, que consideram um mérito, por terem vindo de baixo e conquistado uma boa fatia econômica no mercado onde atuam, não pode ser perdido ou dividido com a escória, com o lixo da sociedade. Quanto a os estudiosos e intelectuais que pensam diferente, são comunistas, de esquerda, também não merecem nem o merengue que cobre a torta  mas é bom deixa-los afastados, pois eles comem criancinhas!


MUNDOS PARALELOS

Tem momentos em que o nosso universo fecha as suas portas para o universo paralelo existente ao lado do nosso, (aquele que não acreditamos e não seguimos, por ser contra nossas verdades morais, sociais e politicas, mas a gente sabe que ele esta ali, na espreita, esperando oportunidades). Mesmo trancando janelas, desligando lâmpadas, abajures, celulares, televisão, ele continuara existindo e atuando com suas forças negativas sobre nossas vidas, causando-nos insatisfações, revoltas internas, injustiças, nos deixando doentes e a beira de um colapso.


É como se tudo aquilo em que não acreditamos, não parasse nunca com suas truculências, continuasse trabalhando incessantemente para cumprir seus objetivos próprios e que são o inverso do nosso, transformando-nos em seres neuróticos e altamente nocivos a nós mesmos e a sociedade. Os golpes vem de todos os lados impedindo-nos de respirar, de acreditar numa melhora, nos roubando toda a credibilidade. E olha que as vezes consegue!

Ontem entrei acidentalmente numa pagina da Internet, cujo o autor fazia elogiosa propaganda aberta para o presidente Jair Bolsonaro, avultando seu caráter de liderança como chefe de estado, sua nobreza como ser humano, seus feitos pelo país, seu inerente patriotismo. 

Como assim?, pensei de imediato, não acreditando no que estava lendo. Me perguntava como podia existir  uma pessoa descrevendo aquilo tudo de positivo sobre o Jair e outras o apoiando sem conseguirem enxergar o quão nefasto é o seu governo. Não perceberem suas verdadeiras intenções, seus excessos cometidos, seu radicalismos, sua falta de educação, assim como seu evidente descomprometimento com as pessoas e seu país, Como é possível?.. Como é possível algumas pessoas desejarem o retorno da Ditadura?

A bem da verdade, é que vivemos de escolhas por vezes não tão simples e cada um escolhe o melhor caminho para si. Também é certo dizer que não existe certo e errado, somente aquilo que ressoa como verdadeiro em cada um de nós e o  futuro, é o resultado dessas escolhas

QUANDO JOÃO GILBERTO MOROU EM PORTO ALEGRE



Vocês sabiam que João Gilberto morou em Porto Alegre? Bom eu também não sabia e só soube disto lendo um trabalho de mestrado, cujo o tema tratava-se da influencia da Bossa Nova no Rio Grande do Sul.
Apesar de ter sido por pouco tempo, ele morou sim, aqui na capital gaúcha, antes de se tornar o grande Ícone que por décadas revolucionou a musica popular brasileira.
Foi em 1955 que João Gilberto ainda um jovem de vinte e três anos e poucos meses, desembarcou por aqui na capital, depois de tentar a vida artística no Rio de Janeiro sem muito retorno. 
Foi através do porto-alegrense Luiz Telles (1915-1984), radicado no Rio de Janeiro e líder do quarteto vocal Quitandinha Serenaders, que preocupado com o declínio emocional e financeiro de João, o convenceu, a passar uns tempos com ele na capital gaúcha.


Em Porto Alegre, hospedado no Hotel Magestic, hoje Casa de Cultura Mario Quintana, João foi apresentado como “cantor de rádio do Rio de Janeiro” cantou e tocou em emissoras gaúchas, e em restaurantes como o (Treviso, Farolito), boate Cote D’Azur e clubes sociais (Comércio, Leopoldina Juvenil).
Luiz Telles também apresentara João a o advogado gaúcho Alberto Fernandes, no Rio de Janeiro, que a o reencontrar João em Porto Alegre, o levou a casa de sua mãe, Dona Boneca Regina no bairro Cidade Baixa. Dona Boneca Regina, era casada com um crítico de arte e fazia de sua casa um entra e sai de gente ligada à cultura, o que não foi difícil receber João e rapidamente transforma-lo num membro da família.
Apesar de discrepâncias, João morou por aqui, em Porto Alegre, cerca de oito meses, ate seguir viagem para Diamantina, Salvador e Rio de Janeiro em 1957.



FELIZ DAQUELE QUE SABE SOFRER:

Nelson do Cavaquinho compositor carioca (29/10/1911#18/02/1986) tinha toda razão a o escrever estes versos: "Se eu for pensar muito na vida, morro cedo amor, meu peito é forte nele tenho acumulado tanta dor. As rugas fizeram residência no meu rosto, não choro pra ninguém me ver sofrer de desgosto. Eu que sempre soube esconder as minhas magoas, nunca ninguém me viu com os olhos rasos d'água. Finjo-me alegre pro meu pranto ninguém ver. Feliz daquele que sabe sofrer".


SOBRE A SEDUÇÃO:




Na minha infância, uma tia muito querida, que já mencionei aqui no blog, disse-me certa vez no meu ouvido, que eu seria, uma pessoa sedutora. Lembro-me deste momento como se fosse hoje, eu deitado do lado dela, com a cabeça apoiada em seu peito, aproveitando o calor do seu corpo numa noite fria, como a de hoje.

Aquela revelação me deixou assustado e pensativo, por que inicialmente não compreendia do que ela estava falando exatamente. 
A sedução que eu entendia era a de induzir a o mal ou a um erro por meio de artifícios, de desencaminhar ou desonrar valendo-se de encantos e promessas mentirosas. Ela, no entanto, referia-se a conceitos empíricos, mais amplos e no sentido da minha personalidade apresentar certas características que levariam algumas pessoas a minha volta, estabelecerem  algum tipo de encanto,  fascínio, atração por minhas ideias e atitudes, quem sabe diferentes, da maioria. Talvez, uma falsa ideia! ..
Demorou um bocado, pra mim entender do que ela estava falando e não me tornar quem sabe, um vaidoso. Quando percebo isto acontecendo, puxo o freio de mão, na esperança de diminuir as expectativas alheias num ser, que em parte, não sou eu.

EM QUALQUER LUGAR:


Onde tudo vai dar? me perguntou o menino de apenas seis anos de idade, me deixando absolutamente temeroso do que lhe responder. 

Fiquei temeroso sim! Primeiro porque é incomum uma pergunta dessas vir de alguém tão jovem e eu tomado de surpresa, não tinha nenhuma resposta pronta para lhe dar. Eu também até hoje nem faço ideia onde tudo irá dar. 

Mas eu não poderia deixa-lo sem uma resposta e pensava  na responsabilidade de falar a verdade não lhe dizendo mentiras. Mas quando se vive num mundo de incertezas, qualquer informação pode ser falsa. Eu deveria ter lhe mostrado esta foto quando me fez a pergunta.


NA VELOCIDADE DO TEMPO:

Me submeto a ter algumas atividades para não cair em rotinas que  me leve a seguinte equação: (ansiedade + tédio = depressão). Então, rabisco em folhas de papel, digito frases sem sentido, fotografo imagens, pessoas, canto algumas composições que me emocionam, para ocupar o tempo que é de ouro, que é frágil e veloz. 

Eu acredito não ser deste tempo em que vivo, então me sinto dividido entre o ontem e o hoje, num tempo intermediário há apenas um passo, uma piscada de olhos, no marco zero da porta gigante que separam o passado do presente. 

Vivo disfarçando estar num tempo seguro em que nos roubam tudo, inclusive a alma já negociada por algumas garantias prometidas e não cumpridas. 

Finjo sorrisos, simulo gestos de aceitação pra que as dores sejam menores. Me debato convulsivo sobre paredes finas de gesso, se eu chorar, a lágrima a desmancha, se eu bater, a raiva a quebra em mil pedacinhos. Um grande risco!

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TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...