Sarau em Guaíba.

Recebi o convite por telefonema ontem de noite e minutos depois, caiu uma chuvarada tão forte, que eu pense; Vão me ligar novamente, desfazendo o convite, mas não aconteceu. Fomos ao sarau da Denise do outro lado do lago. Assisti a apresentação de talentos acomodado na fila de cadeiras pretas, estufadas e fiquei pensando que cada um tem um artista dentro de si que precisa ser mostrado, apreciado, aplaudido, é uma das formas que as pessoas tem de se sentirem amadas, respeitadas e socializarem o que gostam de fazer. Gostei particularmente das apresentação de tangos argentinos acompanhados de teclado e gaitinha de boca e depois de uma outra apresentação solo de gaita e violão (a la Borguetinho). 
Não falei com a Denise que é a curadora do evento, que funciona já a cinco anos no museu da cidade, somente com a sua filha Hana, simpaticíssima, que cantou Esquadros da Calcanhoto no finalzinho do espetáculo e depois saímos com Josué e Welinton para jantarmos. O bate papo animadíssimo  regado a cerveja bock, obrigou-nos a aceitar seu convite para irmos até sua casa e continuar...
Encontramos um violão de desenho delicado, cuja afinação e som especiais são atribuídos a um parafuso que lhe foi colocado. Cantar é muito bom e parece limpar a alma.

DESAMARREM OS CACHORROS.


Depois da minha visita a exposição de Miguel Rio Branco, no Santander Cultural, aceitei o convite de um amigo, para visitar a Praia de Ipanema, na zona Sul de Porto Alegre. Saímos do Bom Fim, até o Santuário Madre de Deus, ouvindo Sidney Magal e Tim Maia, no radio de uma Kombe e depois seguimos até Ipanema cuja a água e a orla me pareceram mais limpas e menos movimentada do que das outras vezes que estive por lá de visita. Também era uma sexta-feira de tarde e desta forma, o movimento de pessoas na praia e o trafego de veículos, estavam menos ostensivos que nos Sábados e Domingos, quando costuma lotar todo o trecho de acesso a praia.
Caminhando pela orla meio vazia, eu fiquei lembrando de alguns momentos da minha infância  em que eu passava com a família por ali, para aproveitarmos os belos dias de sol em grandes piqueniques numa caminhonete DKV.


Nesta época, eu com meus dez ou onze anos de idade, lembro-me de uma situação que me deixou muito envergonhado, impedindo-me de retornar a este lugar depois de me tornar jovem. Essas mazelas emocionais que adquirimos, pela falta orientação necessária, mas que depois passa!...
Eu era criança e lembro de estar sentado na areia, num desses dias de veraneio, quando percebi dois cachorros que se arrastavam, parecendo terem sido amarrados pelos rabos. Eu fiquei muito apavorado com o que me parecia uma maldade humana e gritei para todos os que estavam presentes, que os desamarrassem para não se machucarem ainda mais.
Houve um silencio geral, depois seguido de largas gargalhadas por causa da minha inocência, que foi mais encarada evidentemente, como uma estupidez. Depois levei uma daquelas xingadas, sem entender  o porquê.


Sou desses tempos, em que se aprendia sobre as coisas da vida, aos trancos e barrancos e quase sem nenhuma explicação, tempos em que a esperteza e o código de olhares com silencio, era uma arte e sinônimo de inteligencia, alem de outros valores invertidos. Tudo bem, eu sobrevivi com alguns defeitos evidentes e não mais recuperáveis, mas sobrevivi.


Ainda hoje pela manhã, na exposição do Miguel Rio Branco, no Santander, uma fotografia com cães grudados, me fez lembrar desta situação, e depois ir até Ipanema onde vivenciei esta experiencia desagradável a tanto tempo atrás, me fez refletir que certas situações se incidem na nossa vida para reviver e reorganizar certos erros e mal entendidos a que somos submetidos. Acho que é uma especie de chance dada, para nos perdoemos de culpas do qual nem somos responsáveis.



PONTO CEGO.

Nesta sexta-feira, dia internacional da cerveja, levantei cedo para compromissos inadiáveis. Depois de tudo resolvido, ou ao menos encaminhado, decidi dar uma passada no Santander Cultural, na Praça XV, centro de Porto Alegre, para reencontrar um amigo de viagem e ver a mostra de fotografias, desenhos, pinturas, colagens e videos do artista plastico Miguel Rio Branco, chamada de Ponto Cego. Primeira surpresa, o Santander estava intencionalmente quase às escuras, para que as obras do artista se tornassem ainda mais evidentes ao olhar dos visitantes.


São 110 obras, numa multiplicidade de cores, simbolismos e efeitos, retratando os que estão à margem da sociedade e que poucos tem curiosidade ou interesse de conhecer, fora de uma exposição, esta realidade tão cruel. Os painéis de fotografias principalmente e que mais chamou-me a atenção, retratam a tristeza, a pobreza, a prostituição, a ternura, marcas da violência, sedução, relações interpessoais marginalizadas e outros sentimentos transmitidos através de expressões oprimidas, resignadas, degradadas e identificadas nos semblantes castigados pela vida, nos olhares e gestos, marcados por uma falta de esperança que são imposto aos excluídos, aos que não possuem chance de uma melhor escolha.


O trabalho do artista é tão vibrante e a mesmo tempo tão impactante, que nos faz pensar em como tudo aquilo pode ser possível. A fotografia de um cão sarnento e abandonado na rua, assim como a de um homem sentado bêbado ou talvez drogado na calçada, colocam-lhes na mesma posição de desleixo e de abandono. Mulheres com cicatrizes pelo corpo e pelo rosto, marcadas por uma violência com impunidade e desumanidade. Detentos aprisionados em uma cela, como se fossem animais, crianças maltratadas, homens esmagados nm coletivo como se fossem simples cargas...


As obras que foram produzidas entre 1986 e 2012 para compor a exposição, são tão aflitivas quanto educacionais, no sentido de nos forçar a uma reflexão profunda e pessoal desses fatos que modelam uma sub-sociedade perversa e que alavanca regras e costumes tão violentos e aquém da nossa realidade de confortos e modernidades.


Alguns desses trabalhos fotográficos resgatados pelo artista, no Pelourinho em Salvador, em Cuba, e no Deserto do Atacama no Chile, mostram que a pobreza e a exclusão social não possuem fronteiras geográficas,  que pessoas apresentam atitudes, reações e sentimentos semelhantes independente de raças e nacionalidades, quando lhe são negados dignidade.


Bom, eu não acredito em simples coincidências e acho que o nome da exposição veio a calhar numa perfeita elucidação da realidade, já que ponto cego em particular é uma obscuração do campo visual, uma parte do campo de visão não percebida. O trabalho de Miguel Rio Branco vai alem da perfeita performance estética, mas como uma denuncia de cunho artístico, na sua mais intensa profundidade, sobre esses desdobramentos sociais e humanos a serem questionados com atenção. E nossa.., o olhar deste cavalo me pareceu estar dizendo tantas coisas!..

A chegada do Outubro.

Setembro se foi e já faz quatro dias que convivo com o Outubro, que me parece uma fotografia em branco e preto, cujo os dias são cinzas e de noite faz algum frio. Um período de contemplação, de convivência parcimoniosa entre a alegria e a melancolia, a mescla dos dois sentimentos em doses aceitáveis de convivência, parecido comigo. Outubro chegou me pondo de mãos amarradas, impondo esperas, resguardos, me proibindo de tomar decisões antecipadas, abrindo e fechando janelas que rangem ao entardecer dos dias. 

Na beira do Dilúvio em pleno ataque de nervos.

De onde surgem os surtos coletivos, de amigos influenciáveis, da mídia, do inconsciente coletivo, de algum vírus desconhecido, ou da gente mesmo, do nosso interior, que tenta reprimir ao máximo a chateação com Lexotan, Fluoxetina, Diempax e que de uma hora para outra, deixa de funcionar pelo excesso de sobrecargas emocionais e fazem as pessoas jogarem tudo pro alto, explodirem publicamente para quem quiser assistir ao show gratuito?
Eu agora vou falar é das placas de propagandas politicas espalhadas por toda a cidade, que não é nenhum segredo a insatisfação da população que se vê intoxicada com esta poluição visual por todos os lados por onde se olha. E não só nas ruas, os panfletos, santinhos e mensagens, superlotam a nossa caixa de correio e invadem nossos celulares inoportunamente. Seriam elas, as propagandas, o estopim para deflagar alguma explosão desta natureza? Não, não se pode afirmar, acho que qualquer motivo, até o mais banal, pode acender o estopim da bomba. Eu entendo que os candidatos precisam se fazerem conhecer, mas há de se pensar em outros métodos menos invasivos e mais eficientes... Ontem eu vinha pela avenida Ipiranga, nas proximidade da universidade da PUC, quando percebi a presença de um jovem no canteiro central, que margeia o Arroio Diluvio, caminhando como se fosse um robô e que por vezes, fazia gestos que lembravam uma luta marcial. Andando quase em linha reta, ele seguia na direção das placas de propaganda politica enfileiradas, que simplesmente não desviava, atropelava todas, sem olhar pra traz e constatar se realmente tinha concluído seu objetivo, que aparentemente era destruí- las. Ele deve ter derrubado pelo menos umas cinco ou seis e seguia em frente sob os gritos e buzinaços dos motoristas que dirigiam pela via movimentada naquela hora da manhã. Eu não estava portando minha maquina fotográfica para registrar a cena e mesmo que estivesse, não seria possível, pois eu estava no volante, em silencio de surpresa, sentindo-me fazer parte daquela massa exacerbada. Eu fiquei pensando que a atitude do rapaz, provocou um verdadeiro alvoroço em quem passava de carro naquele momento, que eu não sei explicar se de revolta ou de apoio a depredação. Nestes surtos coletivos cada um tem seus motivos pessoais, fomentando as grandes massas a tomarem atitudes descabidas, talvez este não fosse o caso, mas abre um precedente a se pensar.
A proposito, eu li no site da RBS, que em 2010, o lixo produzido pelas campanhas eleitorais não pode ser reciclado. Apesar de serem compostos basicamente por plástico, papel e madeira, os cavaletes, placas e santinhos ao serem jogado nas ruas, tornam-se poluídos em função de sujeira como areia, poeira etc. O material era levado para um aterro sanitário. Atualmente não sei se o procedimento será o mesmo no final das eleições.

Mais arte nas Ruas de Porto Aegre

Quem anda por Porto Alegre e possui um olhar mais atento, deve ter percebido alguns painéis, (outdoors), espalhados em alguns pontos da cidade, exibindo pinturas de antigos artistas gaúchos  Esta ação acolhida pela secretaria Municipal da Cultura, foi presenteada pelo Grupo LZ, que comemorou 40 anos de atuação no mercado de mídia, inserindo esta ideia no Projeto Arte nas Ruas, que a cada mês, escolhe cinco artistas para colorir a cidade. São 21 obras de 14 pintores escolhidas pela Secretaria Municipal da Cultura. Esta ideia alem de reavivar as obras de artistas da Pinacoteca Aldo Locatelli, transforma o cenário urbano numa especie de galeria de arte a céu aberto. Atualmente os painéis podem ser encontrados no Parque Marinha do Brasil, Parque Farroupilha (Redenção), Parcão, Centro de Cultura e a Praça Carlos Simão Arnt. O de minha preferencia é o que mostra a antiga ponte de pedra.

Quanto tempo leva para a fluoxetina fazer efeito?

Neste mundo globalizado, a sociedade é uma grande empresa de representações, subdividida em pequenos departamentos representativos em busca de seus interesses sócio-econômicos. Construíram grandes salas com terminais de computadores para responder a estas demandas. Treinaram pessoas para se tornarem representantes orgulhosos destas representações que viciados nestas rotinas, seguem manuais de orientação, levam para o seu dia a dia metas e exercícios, que são aplicadas aos seus vizinhos, filhos, cônjuges e animais de estimação. Transformaram-se em células multiplicadoras dessas representações. Meu Deus, quando é que a minha fluoxetina vai começar a fazer efeito? São gerentes, síndicos, supervisores, operadoras de telemarketing, seguindo normais e traçando interesses cujo o alvo é a gente.

Se hoje eu pudesse escolher meu nome.

Se hoje eu pudesse escolher meu nome seria Caetano, não por causa do cantor, mas por que gosto deste nome que me parece ter influencias positivas sobre a alma de quem o carrega, o sobrenome também seria bem curtinho e simplificado. Disseram que eu me chamaria Gilberto Luis, mas por causa de um desentendimento entre pai e mãe ficou Luis Alberto. Na época em que eu nasci era muito comum o uso de dois nomes para homenagear outras pessoas normalmente da família, acho que também servia para o caso de se enjoar de um, poder usar o outro, arte-manha que nunca funciona, por que depois que a gente acostuma adotar apenas um nome, carregamos ele para o resto da vida. Eu conheci um Adão que se chamava Luiz e sua irmã Eva, era Silvana, uma tia muito cristã, resolveu apelida-los com esses nomes bíblicos. Eles cresceram e viveram sendo conhecidos por amigos e a vizinhança como Adão e Eva.
Um colega de trabalho, costuma me chamar de Alberto e isto parece me despersonalizar ou me multiplicar em mais uma pessoa pelo qual tenho pouca intimidade, por vezes tenho a rápida impressão de que não sou eu, ate lembrar que é um complemento do meu nome e então cair a ficha.
Minha mãe de leite, dona Cecilia, tinha dois filhos, Ronaldo o mais velho e Caetano pelo qual eu dividia a amamentação e então criei mais laços de afeição.  Eu me pergunto se a simpatia por este nome não surgiu daí?..

Felicidade é...

Eu teria muitas frases para definir ''felicidade'' nesta altura da vida... Neste momento, defino: Felicidade é abrir a pagina do Facebook e ler a seguinte mensagem; SÓ PASSEI AQUI PRA DIZER QUE TE AMO !!

Parar de fumar ou namorar a Marta Medeiros?

Estava eu e uma amiga, aguardando no terminal de desembarque do Salgado Filho, um casal que retornava de Natal e para evitarmos a ansiedade causada pela espera, ficamos falando todo o tipo de bobagens para preenchermos nosso tempo. Lá pelas tantas, decidi ir para a rua fumar um cigarro, cujo o vicio ainda não consegui me libertar e então fiquei pensando em mais bobagens, enquanto lançava nuvens de fumaça toxicas para o céu, entre outros dois fumantes que por ali se encontravam meio dispersos e com olhar de cumplicidade disfarçado. Os fumantes possuem esta postura dissimulada provocada pela culpa, ficam fingindo não perceberem a presença um do outro, mas ao mesmo tempo, vigiam camufladamente  cada atitude a sua volta que lhes causa desconforto. Uma especie de fraternidade silenciosa, que vai cavucando o casco do barco até ele afundar definitivamente. Quando retornei novamente para o saguão do desembarque, fiquei pensando o que seria mais fácil, parar de fumar definitivamente ou namorar a Marta Medeiros?

Viagens inexplicáveis.

Uma amiga me disse que certa noite veio me visitar em sonho, na minha casa. Eu estava no quarto, dormindo completamente destapado, encolhido de frio, por que a coberta havia caído da cama, então  ela tentou me cobrir, mas não conseguia, não tinha força, sua mão não conseguia alçar a coberta e me tapar. Suas mãos e braços atravessavam a roupa de cama, como se fosse a de um fantasma. Ela então forçou para se acordar, percebendo estar de volta, na sua própria casa. Sabe que eu acredito nestas viagens que por vezes também faço e não acho explicações... Outra coisa, percebi que este método de acordar para fugir da realidade do sonho, não é só meu!

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...