À espera de um milagre

Marcos e Preta são casados e donos da padaria onde circunstancialmente compro dois pães franceses, um para a tarde e o outro para o dia seguinte, antes de eu ir para o trabalho. 
Ele é quem faz os pães, enquanto ela atende no balcão. Os dois não devem passar dos trinta e cinco anos de idade e sonham com viagens assim que conseguirem estabelecerem-se. 
Estabelecerem-se para eles significa: Pagar as contas, adquirirem a casa própria, trocarem a moto por um carro, o filho único entrar para a escola e sobrar algum dinheiro, tempo e oportunidade.
Marcos me disse que nunca saiu do Estado e ela da cidade. Ele fica sentado numa cadeira branca na porta da padaria com o olhar distante para a avenida onde correm os carros, ela passando álcool gel na vitrine do balcão . 
Ele tem os olhos, expressivos, grandes e brilhantes, ela pequenos e rasgados.
Ela usa toquinha branca na cabeça e ele caneta atrás da orelha.
Eles esperam uma oportunidade, quando a vida arranjar tempo, esperam por um milagre!

Medida de segurança.

Tenho a sensação que sei mais dos outros do que de mim mesmo, daí chego a ideias conclusivas através de um perfil traçado por uma suposta leitura de olhar, uma observação detalhada de gestos, uma sincronia de palavras, uma particularidade qualquer de expressão que se difere do esperado, tornando tudo particularmente aceitável ou não. Esta forma de análise sempre me pareceu mais fácil, mais cómoda, menos trabalhosa, menos doloso quando direcionada aos outros e não a mim mesmo e daí  crio um paralelo de ideias, conceitos, um preconceito. Estou convencido de que esta atitude é inerente à todos as pessoas, a diferença se estabelece na forma com que trabalhamos e conduzimos isto.
Daniel, como se apresentou pra mim, surgiu da noite pro dia, como o mais novo morador da praça em frente da minha casa, chamando a atenção e preocupação dos moradores que a utilizam-na em caminhadas pela manhã e fins de tarde. Sua presença causava não medo, mas o desconforto que se estabelece entre as pessoas que se mantém guarnecidas em sua zona de conforto moral e tem a preocupação  de que nada abale esta falsa segurança. 
Ficava sentado sobre a grama ou debaixo de alguma árvore entre sua infinidade de tralhas pessoais. Não incomodava ninguém, não dirigia a palavra à ninguém a menos que fosse solicitado. Seu olhar parecia propositalmente distante como se não houvesse ninguém à sua volta e  uma certa altivez mostrando-se despreocupado com olhares curiosos ao seu visível desleixo pessoal. Alimentava-se de bolachas e fatias de pão oferecida por vizinhos e até café que numa noite eu levei para aquecer-lo do frio. 
Noutra noite observei da minha janela, o carro da polícia estacionado sobre as dependências da praça e logo lembrei-me de Daniel. Dias depois, fui  informado que tinha sido afugentado, por que um morador preocupado  o denunciou à polícia, temendo por sua segurança.

Depois da tempestade a bonanza

Depois de ter ido para o trabalho de cabeça virada, (força de expressão), voltei para casa meio instrospectivo; Digo "meio" por que há momentos em que uma palavra inteira, não consegue definir adequadamente nossos mais simples ou complexos sentimentos. O dia cinzento e chuvoso de ontem, aliado a pequenas incomodações profissionais, ajudaram a compor-me de um perfil desajustado e deprimido.
A noite uma conversa pelo MSN que poderia resgatar-me  deste  estado, me pôs ainda mais  pra baixo, mais irritado e exposto a argumentos e sentimentos equivocados, cuja a ciranda  de queixas  e cobranças parecia nunca acabar. Hoje depois de terminada a tempestade e reinado a bonanza, pude avaliar melhor a situação e perceber que nos fizemos expostos  a estas situações, involuntariamente permitidas, sem estarmos devidamente protegidos se criasse-mos medidas que evitassem tantas invasões.
Tenho o defeito de acreditar que relações amorosas acabadas, podem ajustarem-se à novas relações em proveito de afinidades, carinho e amizade, o que nem sempre é posivel quando os sentimentos são confusos e não mais se afinam, colocando em risco a credibilidade e o respeito mutuo.

Reavaliação cronológica dos pensamentos

O blog é uma ferramenta que nos permite acompanhar um fluxo de ideias, no meu caso também assistir a evolução e mudanças que somos acometidos por influencia do meio e nossas digressões emocionais no conforto de uma cadeira, uma tela e um teclado magico onde as palavras digitadas, criam sentimentos, atitudes, reações. Nada que o antigo papel e a caneta deixassem de fazer, mas hoje vivemos dias mais modernos.  Uma colega de viagem, denominou o seu blog de: "Olha seu psicanalista...", nada mais criativo, prático e verdadeiro nesta relação que aparentemente inicia-se como um divertido passatempo e que aos poucos vai mudando de rumo e criando dimensões que só percebemos com um olhar mais atento e crítico. Semana passada estava lendo alguma postagens antigas em meu blog e me surpreendi, com as mudanças ocorridas neste intervalo de tempo, e de como crescemos e também regredimos em nossos pensamentos; Como defendemos sub-conceitos e enfeitamos mentiras, fazendo-nos crer que são verdades. Por vezes é penoso retroceder em algumas teclas e perceber que algumas palavras doem a o serem relidas.

Virando abóboras

Dia 24 de Setembro, postei aqui no blog um texto chamado "Dando de pau", em que eu descrevi o tratamento grosso, mal educado e preconceituoso que me foi dirigido por um colega durante o horário de expediente e que considerei uma agressão, um desrepeito e que em algum momento do texto eu ainda coloquei: "Não sei se minhas palavras serviram para que ele repensasse melhor sobre sua atitude, ou se foi apenas uma paulada em sua cabeça e que me promoverá a seu mais novo inimigo".
Adivinhem?..  Darei uma moeda de premio para quem acertar o que aconteceu depois!
O cara não me olha mais nos olhos, faz de conta que eu não existo e eu  pergunto: Era de se esperar outra atitude que não essa?.. Neste mundo moderno em que vivemos é mais fácil homens virarem abóboras, do que abóboras em homens.
Lembro-me de outra situação, (fato completamente diferente do postado no texto acima), em que eu e um outro colega de trabalho, nos desentendemos quanto a escolha da  candidata para ser a nova diretora de enfermagem  do hospital. Já estava próximo do dia das eleições e ele ainda não havia se posicionado em quem votar. Quando revelei minha candidata, ele caiu de pau em cima de mim, dizendo que eu estava equivocado, que minha escolha não poderia ter sido a pior de todas e que eu deveria posicionar-me como ele, neutro, pois não havia ninguém em condições de assumir aquele cargo no momento, opinião que eu discordava. 
Esta diferença de ideias gerou um pequeno desentendimento que a princípio não levei a serio, mas que mais tarde percebi ter lhe causado sentimentos de desafeto com relação a mim. Passado alguns plantões, notei que ele não me dirigia mais a palavra e quando eu tentava dividir o mesmo espaço com ele na mesa do refeitório (por exemplo) ele levantava-se e saia, visivelmente irritado com a minha presença.
Diante deste fato desagradável, resolvi chama-lo para uma conversar e buscar algum entendimento no impasse gerado. Me desculpei por talves ter usado palavras inadequadas, mas que minha posição ainda se mantinha a mesma com relação a minha candidata. Ele aceitou minhas palavras e saindo dali, passou a me tratar como antes do mal entendido, embora tivesse a necessidade  de justificar à todos os outros colegas que eu havia  lhe procurado para pedir desculpas arrependido de minhas posições anteriores.
A partir daí, eu percebi a dificuldade que as pessoas encontram em aceitarem as diferenças de opiniões e que quando defendemos algumas posições contrarias as suas, corremos o risco de ser-mos mal interpretados e nossas palavras serem conduzidos à terrenos pessoais, sem que tivesse-mos a intenção. 
Algumas pessoas, criam certas imposições baseadas na cumplicidade de opiniões: "Ou pensas como eu, ou não me serves!". Te obrigam a o corporativismo linear do conformismo sem se darem a chance de serem questionadas, fora disto se sentem ameaçadas. 
Quanto ao pedido desculpas que fiz então, é visto como um ato de arrependimento, que te coloca numa posição inferiorizada, de quem errou e busca (humilhante) retratação, o que nem sempre é isto. Poucos percebem o pedido de desculpas como uma atitude superior em respeito ao ser humano e sua  diferença  ou uma retomada de relação que é mais importante que qualquer posição adversa ou mal entendida. Todos sabemos que o direito de opinão deve ser respeitado, mas na prática, as reações são diferentes.

CHURRASCO NA PRAÇA

 

Na frente da minha casa, tem uma praça enorme e arborizada, onde os moradores nos fins de tarde fazem caminhadas. Aos fins de semana então, em especial aos domingos, fica mais cheia de  pessoas que chegam de outros lugares para realizarem torneios de futebol.
Certo dia fiquei tentado à fazer um churrasco entre amigos, sob a sombra das arvores, mas fiquei limitado a timidez de que talvez não fosse o local adequado para isto, uma vez que não possui churrasqueiras; Afinal é uma praça!
No fim de semana passado vi um grupo de pessoas realizando esta  façanha  de fazer um churrasco e que vinha me frustrando por ficar na duvidas se era politicamente correto de fazer. O grupo usava uma destas churrasqueirinhas portáteis  e me senti como alguém que é roubado a sua grande ideia. Já fiz piqueniques com a família, sesteei, namorei, mas churrasco ainda não me atrevi!..

Relações perigosas

Luci fugia do marido com a filha de cinco anos e grávida de três meses. Um amigo as ajudava na fuga, quando um outro carro bateu na traseira do veiculo em que estavam. Por sorte ninguém sofreu qualquer ferimento a não ser Luci que sentia forte dor no pescoço e necessitava de exames.
-Minha filha vai comigo né moço? Se não eu não vou! -Gritava para mim de forma impositiva, mas não agressiva.
A menina acompanhava a mãe na ambulância, segurando-a pela mão e fiquei surpreso com sua atitude de coragem e maturidade precoce, enquanto sua mãe jogava-lhe responsabilidades descabidas para a sua idade.
-Se ele ligar, diz que estávamos indo pra casa do teu pai, quando bateram no nosso táxi. Se ele souber que o fulano estava nos levando, ele vai ficar uma fera! Pensa bem no que vai dizer! Tu sabe que ele é muito ciumento!..Fica com o telefone na mão se por acaso ele ligar!...
Durante o trajeto até o hospital e excessivas cobranças à menina, Luci puxou conversa comigo:
-Sabe moço, isto só aconteceu, por que ele a vários dias vem me ameaçando de morte. Eu tentei contornar a situação, mas tá difícil. Achei melhor fugir com minha filha, antes que alguma desgraça aconteça! Não posso viver assim, um dia ele me ama e no outro me odeia. E agora estou gravida dele!
Me interessei em saber mais sobre a sua história, aproveitando o fato de que ela parecia necessitada á falar e desviaria tanta cobrança sobre a menina:
-Ele é jovem, tem vinte e três anos e está em tratamento para abandonar as drogas. Faz três meses que está se tratando e acho que está em síndrome de!...
-Abstinência!?... -Ajudei a concluir.
-Sim, acho que é isto! Deve estar se aproveitando da situação por que não tenho ninguém por aqui, minha família toda é de outro Estado! Eu odeio ele!
-Preciso telefonar para o pai da minha filha, para pega-la no hospital, não sei se ficarei baixada!
-Se ele ligar minha filha, diga que nos acidentamos. -Disse para a menina que segurava o celular numa das mãos e prestava atenção no que a mãe lhe dizia.
-Isto parece castigo, quantas vezes eu quis que ele sofresse um acidente na moto e morresse!. Neste momento a expressão de Luci era de raiva, enquanto que da menina era branda e parecia acostumada com toda aquela complexa situação de amor e ódio e desabafo público da mãe.
-Ele ainda não ligou minha filha? Vê se não mandou alguma mensagem!..
-Não mãe! - Respondeu a menina após olhar mais uma vez e telefone celular.
-Quando ele souber o que aconteceu com a gente, talvez sinta bastante remorso. É bem feito!- Disse Luci  chorando e sentindo-se vingada com toda a situação.

O gato abandonado

Apareceu um gato magro e abandonado, aqui no pátio do edifício e cada vez que saio ou  volto da rua, ele se enrosca em minhas pernas mendigando carinho e atenção ou seria um pedido de adoção?.. Eu  finjo não entender o que ele quer, me ponho duro e distante como um ser superior para não criar laços. Eu não quero virar um desalmado, um dia eu até o convido para jantar!

O tempo passou na janela e só Carolina não viu...

Algumas vezes penso com mais seriedade sobre esta postura das pessoas em geral,  irem se fechando para algumas possibilidades apresentadas pela vida, em função de pequenas situações que lhes desagradam e eu até me incluo entre elas.
Quanto mais avançamos na idade, mais seletivos ficamos e isto parece nos arrastar para uma intolerância maior na complexa arte de conviver em grupos, absorvendo conceitos e maneiras de viver, que nem sempre acreditamos e compactuamos. Esta postura nos deixa na contra mão de estarmos abertos para oportunidades que poderiam nos renovar em meandros nunca experimentados. Se tendenciamos à correr somente nos trilhos de nossas verdades, acabamos nos isolando em nossos  conceitos absolutistas sem provar o intercâmbio das diferenças.
Quem de nós pode afirmar que ler um bom livro de poesias, pode ser melhor que um roda de pagode, ou ainda uma grande viagem, melhor que um passeio no subúrbio com amigos?. Existem surpresas inusitadas quando derrubamos normas conceituais, adquiridas por dúvidas e medos.
Somos vaidosos com nossa cultura às vezes retirada de folhetins, por achar que nossas escolhas são melhores que a dos outros, até chegarmos no momento em que não nos servimos mais, pelo excesso de regras. Precisamos mais que aos outros, nos surpreender com nossos atos, ser mais simples, tolerantes, ousados, indiscutivelmente menos preconceituosos. A vida é como um rio que espalha seus braços em direção a o mar. Seguimos seu fluxo ou viraremos uma Carolina em que o tempo passou na janela e só ela não viu.

Egoísmo.

Nesta manhã - 5h.25min., fui socorrer um homem que sofreu um ataque dentro de um onibus, na Lomba do Pinheiro, quando ia para o trabalho. Conclui que estava se deslocando para o trabalho, pois vestia uma camiseta de uma empresa conhecida na cidade e carregava em sua pasta um sanduiche e duas bananas que talvés fossem lhe servir de lanche. 
O onibus estava parado na avenida com as luzes piscantes ligadas e todas as pessoas haviam sido evacuadas do coletivo pelo motorista e o cobrador. 
Era um homem negro, de estatura alta, forte e beirava seus 42 anos de idade. Estava caído no meio do corredor inconsciente e tinha a respiração difícil e ruidosa; Tivemos dificuldades para resgata-lo dali. No canto da boca, expelia uma baba densa, parecendo ter tido um ataque epiléptico. Depois de te-lo posto para dentro da ambulância, com a ajuda de meu colega e alguns passageiros e examina-lo melhor, concordei com a médica que se comunicava comigo via radio, que talvés fosse alguma coisa mais seria como um *AVC, levando-se em conta que ele apresentava uma hipertensão severa, alem de outras características significativas.
Mas não quero neste post discutir meu atendimento ou os problemas sérios que acometeram este homem, mas comentar sobre outra passageira que lá estava, completamente irritada e insatisfeita por que o onibus havia parado causando-lhe transtornos a seus possíveis compromissos.
Falava em voz alta e questionava as outras pessoas sobre a necessidade do onibus ter parado, atrasando à todos. Tentava incitar à todos contra aquela situação que desaprovava. Andava de um lado para o outro, com a bolsa à tiracolo, resmungando incansavelmente.
-Não quero ser desumana, mas enquanto resolvem o problema deste homem, as outras pessoas ficam aqui na mão! Quero saber se a empresa de onibus vai resolver os problemas que terei com o atraso de hoje?..[...]
A mulher era corajosamente provocadora e tentava estimular a ira entre as pessoas que pareciam assustadas e sensibilizadas com a situação geral.
Por sorte, ninguém lhe deu atenção!

*AVC- acidente vascular cerebral

Furnas de Sombrio

Às margens da BR-101, no km 434. à direita de quem  está retornando de Sta Catarina para o RGS, está localizado o complexo de Furnas de Sombrio. Trata-se de um conjunto de quatro grutas. A maíor delas tem 74 m de profun­dídade, 17 m de largura na entrada e 7 m de altura máxima. Esta furna, composta de um enorme salão, é a mais visi­tada - também por motivos turiscos /religiosos. Em seu interior inúmeras estátuas de santos, formam um altar para os quais os fiéis  dedicam orações e realizam promessas. 
A noite o lugar fica iluminado apenas por luz de velas, dando-lhe um aspecto mistico- assustador e com um pouquinho de atenção se pode encontrar alguns morcegos, de cabeça para baixo, descansando em suas paredes obscuras.  O local teve fama de no passado ter sido  mal assombrado, mas depois foi desmestificado por moradores locais. Da sua entrada é possível visualizar a Lagoa de Sombrio, a maior de água doce do Estado.
Ao lado de sua entrada tem um restaurante bem estruturado - (Restaurante das Furnas), onde são servidos lanches, almoços e jantares, alem de uma loja de souvenirs. 
Inumeras vezes, fiz deste local uma parada para descanso, tanto na ida quanto na volta de minhas viagens à Santa Catarina e com o intuito de também perdir proteção e tranquilidade durante meus deslocamentos.
Com as obras de duplicação da BR 101 e alguns desvios para favorecer o trafego de veiculos, o local passou desapercebido por mim quando retornei para casa neste final de feriadão de 15 de Novembro, sob intensos engarrafamentos.

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...