CHURRASCO NA PRAÇA

 

Na frente da minha casa, tem uma praça enorme e arborizada, onde os moradores nos fins de tarde fazem caminhadas. Aos fins de semana então, em especial aos domingos, fica mais cheia de  pessoas que chegam de outros lugares para realizarem torneios de futebol.
Certo dia fiquei tentado à fazer um churrasco entre amigos, sob a sombra das arvores, mas fiquei limitado a timidez de que talvez não fosse o local adequado para isto, uma vez que não possui churrasqueiras; Afinal é uma praça!
No fim de semana passado vi um grupo de pessoas realizando esta  façanha  de fazer um churrasco e que vinha me frustrando por ficar na duvidas se era politicamente correto de fazer. O grupo usava uma destas churrasqueirinhas portáteis  e me senti como alguém que é roubado a sua grande ideia. Já fiz piqueniques com a família, sesteei, namorei, mas churrasco ainda não me atrevi!..

Relações perigosas

Luci fugia do marido com a filha de cinco anos e grávida de três meses. Um amigo as ajudava na fuga, quando um outro carro bateu na traseira do veiculo em que estavam. Por sorte ninguém sofreu qualquer ferimento a não ser Luci que sentia forte dor no pescoço e necessitava de exames.
-Minha filha vai comigo né moço? Se não eu não vou! -Gritava para mim de forma impositiva, mas não agressiva.
A menina acompanhava a mãe na ambulância, segurando-a pela mão e fiquei surpreso com sua atitude de coragem e maturidade precoce, enquanto sua mãe jogava-lhe responsabilidades descabidas para a sua idade.
-Se ele ligar, diz que estávamos indo pra casa do teu pai, quando bateram no nosso táxi. Se ele souber que o fulano estava nos levando, ele vai ficar uma fera! Pensa bem no que vai dizer! Tu sabe que ele é muito ciumento!..Fica com o telefone na mão se por acaso ele ligar!...
Durante o trajeto até o hospital e excessivas cobranças à menina, Luci puxou conversa comigo:
-Sabe moço, isto só aconteceu, por que ele a vários dias vem me ameaçando de morte. Eu tentei contornar a situação, mas tá difícil. Achei melhor fugir com minha filha, antes que alguma desgraça aconteça! Não posso viver assim, um dia ele me ama e no outro me odeia. E agora estou gravida dele!
Me interessei em saber mais sobre a sua história, aproveitando o fato de que ela parecia necessitada á falar e desviaria tanta cobrança sobre a menina:
-Ele é jovem, tem vinte e três anos e está em tratamento para abandonar as drogas. Faz três meses que está se tratando e acho que está em síndrome de!...
-Abstinência!?... -Ajudei a concluir.
-Sim, acho que é isto! Deve estar se aproveitando da situação por que não tenho ninguém por aqui, minha família toda é de outro Estado! Eu odeio ele!
-Preciso telefonar para o pai da minha filha, para pega-la no hospital, não sei se ficarei baixada!
-Se ele ligar minha filha, diga que nos acidentamos. -Disse para a menina que segurava o celular numa das mãos e prestava atenção no que a mãe lhe dizia.
-Isto parece castigo, quantas vezes eu quis que ele sofresse um acidente na moto e morresse!. Neste momento a expressão de Luci era de raiva, enquanto que da menina era branda e parecia acostumada com toda aquela complexa situação de amor e ódio e desabafo público da mãe.
-Ele ainda não ligou minha filha? Vê se não mandou alguma mensagem!..
-Não mãe! - Respondeu a menina após olhar mais uma vez e telefone celular.
-Quando ele souber o que aconteceu com a gente, talvez sinta bastante remorso. É bem feito!- Disse Luci  chorando e sentindo-se vingada com toda a situação.

O gato abandonado

Apareceu um gato magro e abandonado, aqui no pátio do edifício e cada vez que saio ou  volto da rua, ele se enrosca em minhas pernas mendigando carinho e atenção ou seria um pedido de adoção?.. Eu  finjo não entender o que ele quer, me ponho duro e distante como um ser superior para não criar laços. Eu não quero virar um desalmado, um dia eu até o convido para jantar!

O tempo passou na janela e só Carolina não viu...

Algumas vezes penso com mais seriedade sobre esta postura das pessoas em geral,  irem se fechando para algumas possibilidades apresentadas pela vida, em função de pequenas situações que lhes desagradam e eu até me incluo entre elas.
Quanto mais avançamos na idade, mais seletivos ficamos e isto parece nos arrastar para uma intolerância maior na complexa arte de conviver em grupos, absorvendo conceitos e maneiras de viver, que nem sempre acreditamos e compactuamos. Esta postura nos deixa na contra mão de estarmos abertos para oportunidades que poderiam nos renovar em meandros nunca experimentados. Se tendenciamos à correr somente nos trilhos de nossas verdades, acabamos nos isolando em nossos  conceitos absolutistas sem provar o intercâmbio das diferenças.
Quem de nós pode afirmar que ler um bom livro de poesias, pode ser melhor que um roda de pagode, ou ainda uma grande viagem, melhor que um passeio no subúrbio com amigos?. Existem surpresas inusitadas quando derrubamos normas conceituais, adquiridas por dúvidas e medos.
Somos vaidosos com nossa cultura às vezes retirada de folhetins, por achar que nossas escolhas são melhores que a dos outros, até chegarmos no momento em que não nos servimos mais, pelo excesso de regras. Precisamos mais que aos outros, nos surpreender com nossos atos, ser mais simples, tolerantes, ousados, indiscutivelmente menos preconceituosos. A vida é como um rio que espalha seus braços em direção a o mar. Seguimos seu fluxo ou viraremos uma Carolina em que o tempo passou na janela e só ela não viu.

Egoísmo.

Nesta manhã - 5h.25min., fui socorrer um homem que sofreu um ataque dentro de um onibus, na Lomba do Pinheiro, quando ia para o trabalho. Conclui que estava se deslocando para o trabalho, pois vestia uma camiseta de uma empresa conhecida na cidade e carregava em sua pasta um sanduiche e duas bananas que talvés fossem lhe servir de lanche. 
O onibus estava parado na avenida com as luzes piscantes ligadas e todas as pessoas haviam sido evacuadas do coletivo pelo motorista e o cobrador. 
Era um homem negro, de estatura alta, forte e beirava seus 42 anos de idade. Estava caído no meio do corredor inconsciente e tinha a respiração difícil e ruidosa; Tivemos dificuldades para resgata-lo dali. No canto da boca, expelia uma baba densa, parecendo ter tido um ataque epiléptico. Depois de te-lo posto para dentro da ambulância, com a ajuda de meu colega e alguns passageiros e examina-lo melhor, concordei com a médica que se comunicava comigo via radio, que talvés fosse alguma coisa mais seria como um *AVC, levando-se em conta que ele apresentava uma hipertensão severa, alem de outras características significativas.
Mas não quero neste post discutir meu atendimento ou os problemas sérios que acometeram este homem, mas comentar sobre outra passageira que lá estava, completamente irritada e insatisfeita por que o onibus havia parado causando-lhe transtornos a seus possíveis compromissos.
Falava em voz alta e questionava as outras pessoas sobre a necessidade do onibus ter parado, atrasando à todos. Tentava incitar à todos contra aquela situação que desaprovava. Andava de um lado para o outro, com a bolsa à tiracolo, resmungando incansavelmente.
-Não quero ser desumana, mas enquanto resolvem o problema deste homem, as outras pessoas ficam aqui na mão! Quero saber se a empresa de onibus vai resolver os problemas que terei com o atraso de hoje?..[...]
A mulher era corajosamente provocadora e tentava estimular a ira entre as pessoas que pareciam assustadas e sensibilizadas com a situação geral.
Por sorte, ninguém lhe deu atenção!

*AVC- acidente vascular cerebral

Furnas de Sombrio

Às margens da BR-101, no km 434. à direita de quem  está retornando de Sta Catarina para o RGS, está localizado o complexo de Furnas de Sombrio. Trata-se de um conjunto de quatro grutas. A maíor delas tem 74 m de profun­dídade, 17 m de largura na entrada e 7 m de altura máxima. Esta furna, composta de um enorme salão, é a mais visi­tada - também por motivos turiscos /religiosos. Em seu interior inúmeras estátuas de santos, formam um altar para os quais os fiéis  dedicam orações e realizam promessas. 
A noite o lugar fica iluminado apenas por luz de velas, dando-lhe um aspecto mistico- assustador e com um pouquinho de atenção se pode encontrar alguns morcegos, de cabeça para baixo, descansando em suas paredes obscuras.  O local teve fama de no passado ter sido  mal assombrado, mas depois foi desmestificado por moradores locais. Da sua entrada é possível visualizar a Lagoa de Sombrio, a maior de água doce do Estado.
Ao lado de sua entrada tem um restaurante bem estruturado - (Restaurante das Furnas), onde são servidos lanches, almoços e jantares, alem de uma loja de souvenirs. 
Inumeras vezes, fiz deste local uma parada para descanso, tanto na ida quanto na volta de minhas viagens à Santa Catarina e com o intuito de também perdir proteção e tranquilidade durante meus deslocamentos.
Com as obras de duplicação da BR 101 e alguns desvios para favorecer o trafego de veiculos, o local passou desapercebido por mim quando retornei para casa neste final de feriadão de 15 de Novembro, sob intensos engarrafamentos.

PEGADAS

Estou lendo um livro chamado "Pegadas", que ganhei de seu autor Dirk Hesseling, num final de tarde num Cafe em Viamão. Ele me presenteou seu livro com uma carinhosa dedicatória e usando uma expressão que a algum tempo tenho ouvindo de pessoas que se referem a mim. Artista, é este o termo e que  particularmente não me considero, pelo fato de não produzir nada nesta area que  possa enquadrar-me, a não ser minha grande apreciação pela arte e pequenos rabiscos sem importância  que faço em pedaços de papeis ou aqui no blog.
De qualquer forma, ouvi de alguém que para ser um "artista", não é necessário se "fazer" algo, mas somente "ser". sinto um temeroso lisonjeio...


Mas voltando ao Dirk, ele me fez lembrar de algumas pessoas que conheci no passado, e que agora  não encontram-se mais entre nós. Seus traços físicos, gestos e pequenas  expressões faceias que iam se apresentando na medida em que falava, me trazia de volta toda a energia  e vivacidade destas pessoas que convivi e fazem parte do que sou hoje. É estranho dizer isto, mas somos pedaços de outras pessoas, do que aprendemos com elas, do que observamos e absorvemos de nossas convivências mais profundas ou superficiais.


Desta forma, tenho a nítida sensação de que Dick será parte de mim. Ele é um provocador em sua essência, audacioso, sensível, alegre, carismático.
Dirk Hesseling é holandês e veio para o Brasil em 1954, quatro anos antes de eu nascer e agora ainda mantem um certo vigor. É formado em Filosofia, Teologia e Relações Publicas, mora em Viamão e até hoje engajado em movimentos sociais e populares.

Estamos indo de volta pra casa...

Um fato curioso, para não chamar de "penoso" é que depois de três dias em lugares paradisíacos, convivendo com pássaros pela manhã, mar, sol, montanhas, o tempo passa rápido e temos que impreterivelmente retornar para casa, para nossas rotinas diárias, ao caos que nos sustenta e nos dá subsídios a esses momentos maravilhosos. 
No retorno, enfrentei dois engarrafamentos na BR- 101 que me deixaram quase arrependido de ter visitado o paraíso. Seria este o preço?..   
Foram quase 12 horas naquela situação cansativa de anda, para, anda mais um pouco, numa fila interminável de veículos cujo os olhares de seus ocupantes iam aos poucos sendo transformado em pura insatisfação.
O dia foi se terminando e a noite chegou sobre as pessoas confinadas em seus veículos numa estrada sem fim, coberta de pequenos pontos vermelhos e luminosos.  
O cansaço, sono, dor nas articulações, fome eram palavras que possivelmente se encaixavam a todos naquele momento de igual situação. Por alguns instantes é possivel perceber na pessoa descomhecida do carro vizinho, alguma expressão de cumplicidade, de estamos presos no mesmo barco.
Saimos de Garobapa às 13h 45 depois do almoço e cheguamos em casa 01h 20, querendo esquecer este penoso caminho de volta pra casa.

PINHEIRA EM STA CATARINA E OS PÁSSAROS DE HITCHCOCH

Num determinado momento, eu me senti magicamente transferido para dentro de uma cena de cinema, nesta  foto que bati em Pinheira, lembrando-me do filme "Os Pássaros" - de Alfred Hitchcock, que assisti à algum tempo atras. 
Algumas cenas do nosso cotidiano, são capazes de despertar em nós algumas lembranças e nos transferir magicamente para outras dimensões, nos provando que a arte está tão próxima da realidade quanto o sonho que nos desperta para a vida. 


Estávamos na Guarda do Embu, eu Beto, Cristina, Germano, Athos, Caroline, Tania e Rosane, quando resolvemos pegar o carro e visitarmos Pinheira, numa manhã onde haviam pescadores vendendo peixes na beira da praia. Isto atraiu os pássaros que invadiram o local numa verdadeira festa gastronômica.


A imagem diante dos meus olhos me fez lembrar do filme "Os Pássaros". Evidentemente que as aves  do filme do Hitchcock eram inexplicavelmente agressivas e atacavam os personagens do filme até a morte, completamente diferentes destas que de tão mansas, voavam baixo e caminhavam entre as pessoas esperando sobras de peixes que eram jogados pelos pescadores na beira da praia. Não só  a imagem quanto o som destes pássaros eram de indescritível beleza, causando a sensação de estarmos fora da nossa realidade, por vezes tão comum e  absolutamente óbvia.


Até a próxima viagem!

TRILHA DA PEDRA DO URUBU.


A Pedra do Urubu é um mirante natural nas proximidades da Guarda do Embaú, cuja a caminhada não exige maiores esforços de quem deseja conhece-la.
A caminhada leva em trono de 1/2 hora, em ritmo de passos normais, somente  em sua proximidade  é que o grau de dificuldade aumenta.


A pedra em si não foge da normalidade de uma pedra encravada no meio do mato e que pode ser vista sobre o morro, de qualquer ponto do vilarejo da Guarda do Embaú, mas o ganho de se subir a o seu topo é a surpresa de se enxergar lá de cima, belezas naturais como a Praia da Pinheira, Guarda do Embaú, Ilha dos Corais, Praia da Gamboa, Rio da Madre, Paulo Lopes e sua lagoa.


A entrada da trilha está localizada à esquerda, na direção do  morro, após a ultima casa na trilha principal da Guarda do Embaú, que leva à  praia do Bar do Evori e ao costão.


Seguindo pela trilha, na primeira bifurcação, pega-se à esquerda, na segunda bifurcação à direta. Chega-se no mirante cruzando por um trecho com pedras e subidas íngremes.
No topo existe dois mirantes diferentes. Um à esquerda de fácil chegada e outro à direita, onde para subir é necessário usar uma palmeira como apoio.

 

Ainda na mesma trilha principal, seguindo pela direta, margeando o costão, pode-se chegar à Prainha, que fica normalmente vazia de banhistas, por sua distância da vila, uma vez que para chegar até ela deve-se cruzar o morro por caminhos fáceis, porém pedregosos. Num pequeno recanto  cercado por pedras, o mar invade o local e fica represado, formando uma piscina natural com águas límpidas e rasas.

SARAU A O FIM DA TARDE



Na quinta três de Novembro à tarde, tive o prazer de conhecer no "Café da Praça" em Viamão, um grupo de pessoas apaixonadas pela arte; A arte de pintar, de desenhar, de escrever poesias, de sonhar com dias melhores através da delicadeza de traços, rimas, versos, prosas, contos, não importa. Este encontro aconteceu por ocasião do lançamento do livro de poesias "Arquivo Poético" - de Fernanda Blaya Figueró, que fez seu primeiro lançamento na Casa de Cultura Mario Quintana e depois nos presenteou com um sarau poético no finalzinho da tarde. 
Posto aqui abaixo uma de suas cronicas, entre tantas que me tocaram e que indelicadamente surrupiei em seu blog: assim com a foto acima.

O galho.
Já comecei tantas coisas sem terminar, hoje mais uma conexão rompe. É o vício de andar só. Ou de só andar. Todas essas pessoas tem um diferente motivo para estar aqui, o rapaz arruma a boina na cabeça como se acomodasse a vida. O jornal esconde as preocupações do velho senhor. As moças batem os pés sentadas em uma muralha e riem. Como as mulheres riem em público e entristecem em privado. As pessoas não querem saber de grandes teorias, só querem continuar sendo, vivendo em bandos, idolatrando alguns ícones de carne e osso. Querem que alguém conte sobre suas vidas e mortes. Tem um galho sendo arrastado pela correnteza, talvez sejam os restos mortais de uma grande e imponente árvore, ou somente um galho que anonimamente se deixou levar. Mas estou eu aqui lamentando a falta de uma máquina para registrar este impressionante fato. Para que? Uma foto, um quadro, uma cantiga , um relato reafirmam a vida. Talvez todos estes pássaros, que não consigo ver, mas que ouço claramente, estejam cantando para o galho dançar dentro do rio. Acho que foi o sol que convidou toda esta gente para participar deste pequeno espetáculo a céu aberto. Talvez eu esteja aqui só para registrar toda essa beleza e deixar para algum futuro a lembrança desse dia. O dia em que os pássaros cantavam, o rio servia de palco para a dança de um galho livre e o sol brilhava no céu, não podemos esquecer que estava frio. Preciso ir e isso rompe esta bela conexão de alguns minutos com o rio, o galho, o sol, o pássaro, o rapaz, as moças, o senhor, sem teoria.


Fernanda Blaya Figueró.

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TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...