AMOR E CULPA

Meu filho saiu daqui de casa para ir numa festa. Tomou um demorado banho, vestiu a bermuda que lhe dei de presente de natal antecipadamente, lanchou sua cuca favorita com Nescau, escrafunchou alguns minutos no seu Msn e Orkut, deu-me um abraço e saiu em direção à parada de ônibus. Enquanto descia as escadas do edifício cronometrei o tempo que levaria até o portão e corri até a janela para -lo passar na calçada. na rua, me deu uma abanadinha e seguiu até desaparecer por baixo das árvores e onde meus olhos não o avistavam mais. Em casa, fiquei meio ansioso dividindo minha atenção entre a cena da novela das nove e a tela do computador que deixou ligado, meus pensamentos soltos, lembravam de sua imagem em pequenos fleches de memoria que me causavam uma pequena mas incomoda culpa sem um motivo claro. Corri até o meu quarto, calcei um tênis sem meias, mochila, chaves e peguei o carro na garagem. Com um pouco de sorte ainda o encontraria na parada de ônibus. Há alguns metros avistei-o parei o carro e buzinei. Ele veio em minha direção abrindo a porta e sorrindo enquanto se ajeitava no banco.
_Pensei, e achei que não poderia te deixar a estas horas numa parada de ônibus!
Ele ainda sorria me parecendo ser de alegria
.
_Quando o carro entrou na esquina da rua, eu pensei, é o meu pai!_ Me disse.
Depois de deixa-lo na festa, voltei para casa me sentindo mais leve, pensando que aquela atitude além de um carinho, parecia-me também um gesto para aliviar-me de alguma culpa que não sei qual o motivo e me pega de surpresa em alguns momentos como este.
Na madrugada, acordei com o alarme de sua mensagem no meu celular:
_Pai tô dormindo na casa do Gui. Relaxa!

Sinal Fechado

Sou um chato e não gosto de me sentir assim, excluído, por que esta sensação me destempera de tal forma que passa de uma desagradavel falsa impressão para um acontecimento. Quero dizer que ao me sentir deste jeito, transformo tudo numa verdade, num impasse e acabo me fechando com as pessoas que desconfio estarem me evitando por razões pessoais que desconheço ou desatenção. Então faço um processo inverso, eu que antes me sentia posto de lado as excluo por sentir meu orgulho de amigo ferido. Há alguns dias atrás, tentei falar com uma delas e por varios dias nada consegui. Telefone celular desligado, nenhuma resposta para as mensagens que eu colocava no messenger, e'mails, nada. Outra combinou de passar aqui em casa para conversarmos e então deve ter desistido e esquecido de me avisar, pois nem uma mensagem ou justificativa foi capaz de enviar-me. Sei que nossas vidas não giram apenas em torno de amigos, porque temos pendencias, problemas de toda ordem à serem resolvidos , mas particularmente não acredito na falta de tempo de levantar o telefone e justificar em poucas palavras nossas impossibilidades. Desta forma criamos lacunas que enfraquecem os afetos por desatenção e fechamos o sinal, fazendo da nossa vida como a antiga mas conhecida letra da musica de Paulinho da Viola:

"...Tanta coisa que eu tinha a dizer mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso beber alguma coisa rapidamente
Pra semana...
O sinal...
Eu procuro você...
Vai abrir!!! Vai abrir!!!
Eu prometo, não esqueço, não esqueço
Por favor, não esqueça
Adeus... Adeus..."

Ser muitos mas não ser todos



Às vezes oque ouço, nada me cabe e quando me serve fica faltando algum pedaço, não se acerta, me limita como roupa apertada num corpo inchado, que desconforta, que enlouquece e depois se rasga.
A o menos por enquanto, não quero mais cuidar do que não me pertence, não quero mais expor minhas costas para os loucos baterem e arrancar pedaços, não quero mais administrar as loucuras que não as são minhas e que são impostas pelos códigos sociais de uma certa convivência pacifica exigida e fingida. É isto que o mundo, a sociedade e as pessoas querem e te cobram, complacência, serenidade para entenderes estas loucuras alheias a tua vontade, administrar os erros e violências que não são tuas e que são enfiadas goela a baixo sem explicações e apontar culpados. Eu me sinto tão cansado, tão derrotado com tudo isto, que tenho saudades de um tempo em que eu era mais inconformado e que enxergava saídas onde hoje não enxergo mais. 
Cresce em mim uma perplexidade quando saio às ruas e vejo tanta falta de educação e de sensibilidade entre as pessoas, tantas violências e mortes, tantas rivalidades no transito, tanta rivalidade no trabalho por pura vaidade e acúmulo de frustrações. 
Quando abro a porta e recebo supostos amigos, observo-os e me surpreendo com o que há de pior neles e não encontro forma de desfazer a má sensação que causaram. 
Me pergunto o que mudou em nossos valores, que pra mim hoje, parece uma incógnita cuja regra é bater para não apanhar, enganar para não ser enganado. 
Tem dias em que me acordo com um sentimento de total impotência, de quem é subjugado por forças maiores, obrigado à fazer parte de um mundo onde o objetivo de estar nele, é viver ou morrer e para viver, tem que ser muitos mas não ser todos.




Contra o baixo astral


É possível encontrar tempo sim, quando temos necessidade de buscar alguma diversão nos momentos em que se está meio down e ter uma visão diferente de lugares que já se conhece. No domingo - 06/12, com intervalos de sol e uma leve garoa paulistana, que de tão fininha não incomodava, passeei de barco pelo Guaíba, observando a minha cidade por um outro ângulo. O preço é muito em conta, 10 reais por uma hora.

Festa de Integração

Dia 19 de Dezembro na cidade baixa em Porto Alegre acontecerá a festa de integração entre o pessoal que viajará para Machu Picchu dia 30 de Janeiro próximo. O objetivo da festa é se conhecer, tirar duvidas, se programar melhor e claro se divertir! 
A entrada será franca para quem estiver na lista. O local será na Pinacoteca Bar, na rua da Republica 409 à partir das 20h. O Tom é quem está armando esta!..
O lugar lembra os bares de Barcelona. Uma casa antiga com pé direito baixo com abobadas, paredes e piso detonado. A cerveja é muito gelada e no elenco de atendentes, o destaque fica com Pilinho, que além do cardápio, oferece também, frases de efeito! Como o nome sugere, a o bar também é um espaço cultural. Existem exposições de quadros, pinturas, fotografias durante o ano todo. Há espaço também para apresentações de esquetes teatrais e música. E nada melhor do que cerveja e deliciosos petiscos para acompanhar a movimentação cultural. O fone para contato é 51 321157 62.

Não aceito!

Minha ultima ocorrência no plantão de hoje: Garoto de 17 anos se joga do quarto andar do edifício onde mora. Correria geral equipe e ambulância, sirene ligada, luvas nas mão, ansiedade, pressa. Quando chegamos no local em seguida enxerguei-o caído no chão, boca ensanguentada, gemente, agitado, desorientado, amparado por um homem que a o reconhecer-me disse.
_Bah, vocês de novo?
Imobilizamos o garoto, examinamos, verificamos seus sinais vitais, acesso venoso, oxigénio.
_Dá outra vez, vocês atenderam a mãe dele que tomou um montão de comprimidos para morrer!
Chamamos outra ambulância com medico no local para os procedimentos avançados necessários. Trocamo-no de ambulância, da que eu estava, para a outra com o médico e foram embora. Formou-se um amontodo de pessoas atônitas e curiosas na rua, sem entender o que estava acontecendo. Meu Deus, o que se passa com o mundo, com as pessoas? Tenho na cabeça uma porção de respostas coerentes que justificam uma atitude destas, mas não me acostumo com elas, não as aceito!

Amor em lágrimas

Nesta manhã de pouco brilho, sem sol, nublada lembrei de Vinicius o de Moraes e sua poesia apaixonada, embriagada, sua poesia musicada, cantada. Talvez um dia eu venha sentir falta destes dias cujas manhãs me parecem tão insólitas e sem planos, tão abandonadas quanto o mar que soluça na solidão, nos pensamentos do poeta.

Ouve o mar que soluça na solidão
Ouve, amor, o mar que soluça
Na mais triste solidão
E ouve, amor, os ventos que voltam
Dos espaços que ninguém sabe
Sobre as ondas se debruçam
E soluçam de paixão
E ouve, amor, no fundo da noite
Como as árvores ao vento
Num lamento se debruçam
E soluçam para o chão
Deixa amor que um corpo sedento
Como as árvores e o vento
No teu corpo se debruce
E soluce de paixão.
                                                          *Vinicius de Moraes

PRÓLOGO E EPÍLOGO

PRÓLOGO:
No final da tarde, atendendo uma jovem de vinte anos, chamou-me a atenção seu sobrenome incomum e que era o mesmo de um amigo que não vejo a muito tempo. Durante sua remoção para um serviço de saúde, vinha conversando com sua tia que a acompanhava na ambulância e conversa vai, conversa vem, não deu outra, eram mesmo parentes, a jovem era filha deste amigo que hoje mora em São Paulo e que perdi o contato e que no passado trabalhamos juntos e nos tornamos bons amigos em momentos de alegria e também de dificuldades. 
Este fato fez-me pensar nas incríveis coincidências que a vida provoca e que tantas vezes pensei em tentar comunicar-me com ele, mas desisti por falta de pistas da sua localização e de coragem por não saber se seria recebido com o mesmo calor de antes. Acho que o tempo e a distancia destemperam muitas coisas.
EPÍLOGO:
Deixei-as no posto de saúde sem pedir mais informações a respeito dele e por insegurança ou inibição, finalizei esta história como quem fecha as paginas de um livro que foi bom, mas não queria modificar o seu epilogo.

FESTA NA USINA.




Hoje foi dia de festa na Usina do Gasômetro por ocasião do Natal 2009 e inauguração da árvore natalina com uma altura de 50 metros nas proximidades do Guaíba. Cheguei as 17h ainda dia e a festa já havia começado, com muita animação e o show da Dupla Fat Duo as 17h 30 min. depois com as bandas, Se Ativa e Pura Cadencia as 19 h. O movimento de pessoas e algumas tribos culturais foi crescente e os ponto mais altos da festa foram a apresentação do grupo Papas na Língua que iniciou as 20h mostrando suas musicas de maior sucesso e a contagem regressiva feita por eles para a iluminação da árvore as 21h acompanhada de muitos fogos de artificio. Concomitente as apresentações de palco haviam muitos outros palanques montados na beira do rio como grupos de Pagode e uma terreira de Umbanda que destribuiu Axé para todos ali presentes que desejavam beneficiarem-se com as bençãos dos Orixás. Valeu a pena estar lá!

Eu só queria exceções...

Algumas coisas nesta vida não valem a pena por que não cabem em nós e naquilo que acreditamos. Assim como, algumas pessoas não valem a pena e não merecem o nosso mínimo esforço de se ouvi-las ou alerta-las de seus erros, por serem uma grande perda de tempo, um atraso, alguns pontos a menos na nossa sabatina diária de vida. O mundo talvez fosse melhor sem elas e nós quem sabe, mais felizes se permanecessem de boca fechada, entretidas em si mesmas, em suas mesquinharias e ignorância sem contaminarem os outros de maldade e pessimismo. São elementos que fazem parte da obscuridade de nossos dias e cujo respeito pelos outros e por si mesmos desconhecem. Ocupam o nosso cotidiano com futilidades, mentiras, falsidades e como dizia a Clarisse da Ucrânia: "O que me mata é o cotidiano. Eu só queria exceções!"

Salvamento frustrado


No final da tarde, durante o plantão, um filhote de sabiá caiu do ninho. Eu e Garcia, meu colega de trabalho, após confisca-lo com cuidado, tentamos recoloca-lo no ninho sob os ataques ferozes de seus pais em voos rasantes em nossas cabeças. Nada conseguimos até chegar um terceiro colega que improvisou um andaime com mesa e cadeira.
Nossa, que trabalheira! Quando aproximou o filhote do ninho, mais dois filhotes assustados, pularam para fora. Acho que na tentativa de ajudar terminamos por complicar mais a situação. Voltei para casa frustrado e preocupado, se conseguiram enfim coloca-los em seu ninho, caso contrario, poderão ser alvos fáceis de gatos e cães que passeiam por lá. Também não sei se conseguiriam voltar para o ninho sozinhos, já que visivelmente ainda não sabiam voar!..

Postagem em destaque

TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...