Não aceito!

Minha ultima ocorrência no plantão de hoje: Garoto de 17 anos se joga do quarto andar do edifício onde mora. Correria geral equipe e ambulância, sirene ligada, luvas nas mão, ansiedade, pressa. Quando chegamos no local em seguida enxerguei-o caído no chão, boca ensanguentada, gemente, agitado, desorientado, amparado por um homem que a o reconhecer-me disse.
_Bah, vocês de novo?
Imobilizamos o garoto, examinamos, verificamos seus sinais vitais, acesso venoso, oxigénio.
_Dá outra vez, vocês atenderam a mãe dele que tomou um montão de comprimidos para morrer!
Chamamos outra ambulância com medico no local para os procedimentos avançados necessários. Trocamo-no de ambulância, da que eu estava, para a outra com o médico e foram embora. Formou-se um amontodo de pessoas atônitas e curiosas na rua, sem entender o que estava acontecendo. Meu Deus, o que se passa com o mundo, com as pessoas? Tenho na cabeça uma porção de respostas coerentes que justificam uma atitude destas, mas não me acostumo com elas, não as aceito!

Amor em lágrimas

Nesta manhã de pouco brilho, sem sol, nublada lembrei de Vinicius o de Moraes e sua poesia apaixonada, embriagada, sua poesia musicada, cantada. Talvez um dia eu venha sentir falta destes dias cujas manhãs me parecem tão insólitas e sem planos, tão abandonadas quanto o mar que soluça na solidão, nos pensamentos do poeta.

Ouve o mar que soluça na solidão
Ouve, amor, o mar que soluça
Na mais triste solidão
E ouve, amor, os ventos que voltam
Dos espaços que ninguém sabe
Sobre as ondas se debruçam
E soluçam de paixão
E ouve, amor, no fundo da noite
Como as árvores ao vento
Num lamento se debruçam
E soluçam para o chão
Deixa amor que um corpo sedento
Como as árvores e o vento
No teu corpo se debruce
E soluce de paixão.
                                                          *Vinicius de Moraes

PRÓLOGO E EPÍLOGO

PRÓLOGO:
No final da tarde, atendendo uma jovem de vinte anos, chamou-me a atenção seu sobrenome incomum e que era o mesmo de um amigo que não vejo a muito tempo. Durante sua remoção para um serviço de saúde, vinha conversando com sua tia que a acompanhava na ambulância e conversa vai, conversa vem, não deu outra, eram mesmo parentes, a jovem era filha deste amigo que hoje mora em São Paulo e que perdi o contato e que no passado trabalhamos juntos e nos tornamos bons amigos em momentos de alegria e também de dificuldades. 
Este fato fez-me pensar nas incríveis coincidências que a vida provoca e que tantas vezes pensei em tentar comunicar-me com ele, mas desisti por falta de pistas da sua localização e de coragem por não saber se seria recebido com o mesmo calor de antes. Acho que o tempo e a distancia destemperam muitas coisas.
EPÍLOGO:
Deixei-as no posto de saúde sem pedir mais informações a respeito dele e por insegurança ou inibição, finalizei esta história como quem fecha as paginas de um livro que foi bom, mas não queria modificar o seu epilogo.

FESTA NA USINA.




Hoje foi dia de festa na Usina do Gasômetro por ocasião do Natal 2009 e inauguração da árvore natalina com uma altura de 50 metros nas proximidades do Guaíba. Cheguei as 17h ainda dia e a festa já havia começado, com muita animação e o show da Dupla Fat Duo as 17h 30 min. depois com as bandas, Se Ativa e Pura Cadencia as 19 h. O movimento de pessoas e algumas tribos culturais foi crescente e os ponto mais altos da festa foram a apresentação do grupo Papas na Língua que iniciou as 20h mostrando suas musicas de maior sucesso e a contagem regressiva feita por eles para a iluminação da árvore as 21h acompanhada de muitos fogos de artificio. Concomitente as apresentações de palco haviam muitos outros palanques montados na beira do rio como grupos de Pagode e uma terreira de Umbanda que destribuiu Axé para todos ali presentes que desejavam beneficiarem-se com as bençãos dos Orixás. Valeu a pena estar lá!

Eu só queria exceções...

Algumas coisas nesta vida não valem a pena por que não cabem em nós e naquilo que acreditamos. Assim como, algumas pessoas não valem a pena e não merecem o nosso mínimo esforço de se ouvi-las ou alerta-las de seus erros, por serem uma grande perda de tempo, um atraso, alguns pontos a menos na nossa sabatina diária de vida. O mundo talvez fosse melhor sem elas e nós quem sabe, mais felizes se permanecessem de boca fechada, entretidas em si mesmas, em suas mesquinharias e ignorância sem contaminarem os outros de maldade e pessimismo. São elementos que fazem parte da obscuridade de nossos dias e cujo respeito pelos outros e por si mesmos desconhecem. Ocupam o nosso cotidiano com futilidades, mentiras, falsidades e como dizia a Clarisse da Ucrânia: "O que me mata é o cotidiano. Eu só queria exceções!"

Salvamento frustrado


No final da tarde, durante o plantão, um filhote de sabiá caiu do ninho. Eu e Garcia, meu colega de trabalho, após confisca-lo com cuidado, tentamos recoloca-lo no ninho sob os ataques ferozes de seus pais em voos rasantes em nossas cabeças. Nada conseguimos até chegar um terceiro colega que improvisou um andaime com mesa e cadeira.
Nossa, que trabalheira! Quando aproximou o filhote do ninho, mais dois filhotes assustados, pularam para fora. Acho que na tentativa de ajudar terminamos por complicar mais a situação. Voltei para casa frustrado e preocupado, se conseguiram enfim coloca-los em seu ninho, caso contrario, poderão ser alvos fáceis de gatos e cães que passeiam por lá. Também não sei se conseguiriam voltar para o ninho sozinhos, já que visivelmente ainda não sabiam voar!..

Ai, ai...

Tem dores antigas que ressurgem parecendo ser a primeira vez, mas que de uma hora para outra revive na memória o velho desconforto e sentimento de arrependimento pela certeza da culpa, nossa máxima culpa!.. Não, não estou falando de dores da alma, de emoções não correspondidas, mas de dor física mesmo, no abdome em forma de fisgada após comer um desses sorvete de casquinha, deliciosos e sabor leve, vendidos nas esquinas e que minutos depois perde toda a leveza e começa a pesar na barriga como serragem molhada. Ontem de tarde, caminhando na Osvaldo Aranha com aquele sol quente, não pude resistir, arrisquei e pronto, lá estava eu lambendo um sorvete e algumas horas depois desejando um buscopan na veia, um chá de boldo quente ou qualquer coisa como voltar no tempo para evitar tudo aquilo e assim desaparecesse aquele mal estar e a promessa cínica de que sorvetes, nunca mais.

Outros nortes...

Acabou a congruência de ideias. Os passos já são largos e definem as diferenças que afastam para outros nortes. Talvez exista nas relações algum tipo de duelo inconsciente que tenta demarcar territórios perdidos que não são estes vividos no presente, até que se conquiste um outro, até que se ache novas referencias para se acreditar em outras possibilidades.

Tango

Todos dançavam o mesmo tango, homens com homens, mulheres com mulheres sem o menor pudor e às vezes se trocavam de par. Dançavam de costas, de frente, de pé, deitados, sem perder a estética dos movimentos e o ritmo do bandoneon. Os que assistiam calados, não sabiam quem era quem na penumbra do saloon, por que afinal, era desnecessário questionar coisas tão banais diante de tanta beleza e paixão.

Fiquei pensando!...
















O que me impede de puxar a corda da descarga?... Chutar aquela pilha de baldes ou mandar tudo para a puta que o pariu?... O medo de abrir a janela e conquistar o novo, mesmo sabendo que o velho é só referencias?... E referencias são tão subjetivas!..





A ultima cena



Deitada sobre o corpo dele nu ela sorria. Então ele perguntou meio ofegante:
_Em que está pensando?..
_Em arte! _Respondeu ela, passando os dedos sobre os mamilos dele, que se arrepiavam.
_O ato sexual jamais diminuirá o grande abismo entre as pessoas, só por alguns momentos como este!_ Disse rolando  nua, sobre ele, numa espécie de brincadeira que tinha feito antes.
Ele então sorriu, enquanto pensava nas estranhas palavras ditas por ela.

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TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...