Pedido de Socorro

Fui atender uma senhora de 75 anos que tinha passado mal. Quando cheguei a sua casa toda a família estava a sua volta, nervosos e sem conseguir entender o que se passava. Aproximei-me dela deitada em um quarto pequeno, sobre uma cama estreita de solteiro e um calor escaldante e resolvi abrir janelas e examiná-la em seguida. Tinha a respiração rápida e ofegante, os olhos semi- abertos e cabelos de um branco molhados pelo suor.

Chamei-a pelo nome, tentando indagar o seu estado de consciência e o que estava sentindo e então ela voltou seus olhos para mim, com aspecto de cansaço, num visível esforço de comunicação quase impossível, quase sobre-natural. Percebi naquele olhar um verdadeiro pedido de socorro, uma súplica desesperada em favor de sua vida, em favor de seus filhos e netos que ali estavam, comemorando seu septuagésimo quinto aniversário.

A procura das palavras perfeitas

Estou aqui na sala digitando qualquer coisa em meu laptop. A verdade é que estou tentando escrever alguma coisa em meu blog que vala a pena. Alguma coisa que seja importante pra meu ego impaciente. Daqui ouço meu filho ouvir Marcelo D2 em seu quarto- bagunça, a procura da batida perfeita. Estou tentando também encontrar, não as batidas mas as palavras perfeitas.

Paixão

Naquela noite não conseguia dormir. Cada vez que fechava os olhos à procura do sono, seu rosto aparecia diante do meu, radiante, cristalino, suave, manipulando, puxando minha alma para o seu encanto de sonho. Sentia seu perfume doce no ar, transformando-se em borboletas azuis.
Sua presença forte, seu sorriso de luz.
Cabelos negros em cascatas noturnas.
Cheiro de rosas.
Vulnerabilidade.
Inquietação.
Paixão, doce sentimento que aprisiona homens e destrói deuses.
Naquela mesma noite me apaixonei .
Amanhã não sei..

Amigos especiais

Encontrei uma amiga que não via há muito tempo e foi prazeroso te-la encontrado. Teremos uma nova incumbência, depois deste encontro. Vamos planejar sonhos, traçar metas e idéias que ficaram calados, guardadas nos baús das impossibilidades, nas gavetas dos sonhos, dos ideais esquecidos, substituídos pelas "responsabilidades nossa de cada dia."

Algumas pessoas em especial, tem este poder de nos fazer sonhar, de nos incentivar. Sonhar de verdade sem sentir culpa, vergonha, sem parecer-mos um idiota. Isto é bom, muito bom.

Jacaré fantasma

Hoje transformei-me em jacaré fantasma quando cheguei em casa. Meus sobrinhos estavam brincando na piscina e quando me viram foi uma gritaria geral. Pediram que eu trocasse de roupa e caísse na agua. Obediente que sou, coloquei um calção e bagunçamos por umas quatro horas, até ficar-mos cansados. Deitava de bruços enquanto eles subiam em cima de mim fingindo que eu era um jacaré morto em uma caçada no Mato Grosso e que retornava para se vingar dos humanos que o haviam exterminado. Depois quando estávamos saindo de dentro da agua, pediram -me que fosse outro monstro da próxima vez que entrar na piscina. Acho que serei um imenso tubarão branco com uma grandiosa história de aventuras para contar!


SÃO PEDRO DO ATACAMA - PARTE 2




Depois de cruzarmos a noite pelo deserto, dentro do ônibus, chegamos em São Pedro do Atacama pela manhã bem cedo. A cidade que é um Oasis no meio do deserto e reúne centenas de turistas do mundo todo, parecia estar adormecida. Logo que o dia clareou avistamos ao longe o vulcão Licancabur, o cemitério da cidade a nossa frente, e a torre da igreja, na praça principal à poucos metros.

A igreja pintada de branco com seu interior em madeira de cactos é um legado espanhol, datada de 1744. Já foi submetida a varias reformas e é hoje, um dos cartões postais da praça sem nome no centro da cidade. San Pedro lembra aqueles vilarejos de filmes de caubói mexicano, com construções baixas, paredes e telhados de adobe, ruas estreitas e muita poeira vermelha. Mas não se engane na primeira vista: Existe uma variedade de bares, pubs, restaurantes, pousadas, lojas de artesanato para atrair todo o tipo de turista. Afinas a cidade vive disto. Se durante o dia o calor aproxima-se dos 40 graus, à noite cai para temperaturas quase negativas.


Em torno das 8 horas da manhã já havia movimentação de moradores locais deslocando-se para o trabalho e em seguida iniciamos a incursão pelo centro da cidade. San Pedro do Atacama é o centro cultural atacamenho e portanto precisávamos descobri-la. Batemos perna quase que a manhã toda entre lojinhas de artesanato, prédios culturais e agencias de turismos que nos levassem a outros pontos turísticos do lugar. Depois do almoço fomos à pé, conhecer o Pukara de Quitor à 3 quilômetros do centro da cidade e que é considerado um dos sítios arqueológicos mais impressionantes das Américas por seu tamanho e antiguidade. Seguimos por uma estrada onde notamos o escoamento de água por canaletas que abastece a cidade. Esta água escorre das montanhas por quilômetros de distancia. Depois de caminhar-mos por uma estrada poeirenta e muito sol na cabeça, chegamos ao Pukara de Quitor.


O Pukara de Quitor: é uma gigantesca fortaleza pré-Inca, datada do século XII, e foram construídas estrategicamente nas encostas dos morros e totalizam 2,5 hectares com mais de 160 cômodos, para defender o povo atacamenho dos ataques dos Incas, em 1450. Depois de ocupado foi a vez dos Incas defenderem-se contra os espanhóis nesta mesma fortaleza ocupada. Na entrada da fortaleza tem um posto de controle que vende ingressos para a visitação e um pequeno museu com exposição de utensílios da época.



Segundo informações de um guia, O local ficou conhecido como "Pueblo de Las Cabezas, pois os espanhóis decepavam as cabeças dos caciques e exibiam-nas ao povo sobrevivente, a fim de mostrar sua soberania. No dia de nossa visita, fez um calor de quase 40 graus, que nem o uso de protetor solar foi suficiente para nos proteger.





O retorno ao centro da cidade, fizemos de carro por que tem momentos em que 3 quilômetros parece ter mais três zeros.
Em San Pedro, fechamos o pacote turístico que nos prometeu levar no dia seguinte para conhecer outros lugares nas imediações da cidade e estava incluído: Visita ao Gêiseres Del Tatio com café e bufê, trilha sobre o Vale da Morte e subida até o Valle de La Luna para assistir ao Pôr do Sol sobre as montanhas. Como estávamos num grupo grande, conseguimos um bom desconto.
Como a saída para o passeio seria muito cedo, na madrugada, resolvemos por votação ficarmos na rua e aguardar o horário sem ter de pagar um pernoite por poucas horas de sono. "Ledo engano", percebemos nesta noite, como uma cama macia faz falta!..

Gêiseres de El Tatio:
No outro dia, a Van e o micro-ônibus nos pegou às 4 horas da manhã, no endereço marcado, para chegarmos cedo e apreciar o gêiseres com toda a sua magnitude. Faz bastante frio no complexo do Tatio, onde as temperaturas chegam a ser muito negativas. Informaram-nos neste dia estar fazendo apenas -3 graus com uma sensação de -6 graus por causa dos ventos fortes. Não é à toa que o passeio começa tão cedo, pois é o horário em que os vapores quentes em contato com a temperatura baixa, mostra toda a sua beleza.

Eu e outras pessoas que vinham penando no deslocamento, sentimos todo o tipo de mal estar e dificuldade para respirar, precisamos de alguns minutos para nos refazermos e contemplar toda a beleza do lugar, quando chegamos. A sensação é de que estamos fora de nosso planeta, num lugar cuja a beleza é indescritível. Depois do cafe o pessoal foi para um banho nas piscinas quentes de águas vulcânicas a poucos metros. Este foi pra mim o passeio mais difícil por causa do mal estar da altura e o frio, como também o mais gratificante por constatar tanta beleza. O Gêiser Del Tatio está localizado à 95 quilômetros de San Pedro, a 4.000 metros sobre o nível do mar e é o mais numeroso grupo de gêiseres do hemisfério sul.


Vale da Morte:
Com rara presença de vida, motivo pelo qual leva o nome de Vale da Morte, serve para a prática de sandboard e é disputada pelos turistas para ver o pôr-do-sol do alto de suas dunas. Com cerca de 2 km de extensão, fica no caminho para o Vale da Lua, próximo à cidade de San Pedro de Atacama, a 4 km do centro.


Valle de la Luna:
Localizado a 17 quilômetros de San Pedro de Atacama, na zona da Cordilheira do Sal. É um lugar muito visitado e declarado Santuário da Natureza por sua extraordinária beleza e semelhança com a superfice lunar.

O Salar do Atacama: está a 55 quilômetros ao sul de San Pedro e o acesso é por um caminho que permite observar a impressionante beleza dos vulcões Lascar e Licancabur. Na rota, primeiro deixa-se para trás o povoado Toconao e finalmente chega-se à Laguna Chaxa. O enorme campo salgado mede 100 km de comprimento e 80 km de largura. É o terceiro maior salar do mundo, depois do Uyuni na Bolívia e do Grande Lago Salgado de Utah, nos Estados Unidos.


O Salar do Atacama se caracteriza por seu ar limpo e seco que permite ver o outro extremo do salar a mais 70 quilômetros. Sob o campo de sal oculta-se um lago que aflora em pequenas lagunas; a mais visitada é Chaxa, que forma parte da Reserva Nacional Os Flamingos. Admiráveis são as aves, guallatas, gaivotas andinas, chorlo de la puna, colegiales e flamingos.
Machuca - Esse povoado há mais de 4.000 metros de altura também faz parte de roteiros turísticos que levam aos gêiseres de El Tatio e apresenta construções muito similares às de Río Grande. No entanto, o maior charme desse lugar é o fato de viverem ali apenas 6 habitantes, o que lhe garante um ar de cidade perdida no deserto. As poucas famílias que viviam em Machuca foram deixando o local para garantirem uma vida melhor em cidades maiores do Chile. Os que decidiram ficar sobrevivem da pecuária e de turistas que passam por ali em busca da famosa empanada de queijo de cabra e churrasquinho de ilhamas.


Uma sugestão é visitar a zona entre as 5 h e 7 h da manhã, quando a intensidade dos jorros é muito mais forte e podem alcançar alturas de 10 metros ou mais. Além disso, no setor existem poços termais para um reparador banho na metade do dia.

Toconao:
Um típico povoado colonial a 39 km de San Pedro. É famoso por seu artesanato de pedra liparita de origem vulcânica. A torre do campanário da igreja foi construída com o mesmo material. Ao redor de Toconao está a Quebrada de Jerez, cuja característica são seus peculiares petróglifos. Neste vilarejo há um restaurante e uma casa de alojamento do lado da praça de armas. Por suas ruas se podem ver lhamas e vicunhas dividindo o espaço com as crianças e os jovens.

Primeira manhã de 2008

Hoje pulei cedo da cama e me debrucei no parapeito da janela para ver o primeiro dia de 2008. Quando olhei para a rua percebi que nada havia mudado a minha volta. E que aquela cena, de levantar-se, ir até a janela tinha se repetido muitas vezes na minha vida em fragmentos de dias, meses, anos atrás.
Em algum lugar li a idéia de Nietzche sobre o eterno retorno, ou seja,
que todos os acontecimentos da vida de cada um, e da história da humanidade, irão repetir-se inúmeras vezes; que tudo o que acontece já aconteceu antes e irá se repetir. Porém o escritor Milan Kundera em seu romance, "A insustentável Leveza do Ser" nega esta idéia, dizendo que o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, e que a ausência total de fardo faz com que os movimentos humanos sejam tão livres e leves quanto insignificantes. O que escolher então? Se é que podemos escolher: O peso ou a leveza? Será que podemos decidir?
Desconfio que fizemos parte de uma equação complexa que não sei para que serve e pra onde nos levará.

Ecce Homo - Nietzsche muito além da Filosofia

Sobre a ponte eu estava, Há dias, na noite cinzenta Ao longe ouvi uma canção: Ela pingava gotas de ouro. Pela superfície trêmula Gôndolas, luzes, música - Ébria ela nadou para a escuridão... Minha alma, um alaúde, cantou a si, invisível e ferida, uma canção veneziana, e segredou, trêmula de ventura colorida. Será que alguém a escutou?

fragmentos

Cortaram-me em tantos pedaços que já não tenho voz.
Não tenho passos, não tenho expressão.
Respiro silencio, resignação.
Proibiram-me de tudo, quase tudo, menos pensar, menos viver.

Subterfúgios

Desde pequeno sou assim, do tipo que inventa,
que cria subterfúgios sutis.
As vezes pacato, as vezes explosão.
Carrego marcas comigo,
pedras em meus bolsos,
mijada na cara e sombras que assustam.
Me escondo em porões escuros sob cantos de corujas.
As vezes vôo, perdido e sem direção.

A chuva

Depois de uma tarde quente, na capital, o céu pareceu desabar em trovoadas e chuva forte. Eram quase cinco horas da tarde quando começou e não parou mais. Sentei-me dentro da ambulância e começei a observar as pessoas que passavam na rua com seus trajes de verão, apresadas, fugindo da chuva, rostos molhados, almas lavadas como presente de Deus.
Quis estar entre elas, fugitivas, preocupadas. Totalmente encharcadas, desprotegidas de si mesmas.

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TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...