Estavamos em San Pedro do Atacama, cidadezinha no meio do deserto, onde inacreditávelmente existe uma concentração de turistas do mundo inteiro falando todos os tipos de idiomas. Então fizemos uma reunião a céu aberto, nós membros da excursão, com o organizador (Ton), onde ele colocou em votação se ficaríamos mais um dia na cidade sem direito a hospedagem incluída, com a possibilidade de conhecer os Geyser del Tatio de manhã cedo, a 90 km dali ou partiríamos na mesma noite para Salta, cidade argentina com toda a infra estrutura onde ainda tínhamos direito ao ultimo pernoite incluído no pacote antes de retornarmos para PoA. A decisão foi quase unânime: 'Ficar e conhecer os geysers nas proximidades do Vulcão Tatio' o que significaria ficar uma noite na cidade sem desperdiçar o ultimo pernoite, já que levantaríamos muito cedo e os preços por ali eram fora das tabelas convencionais e cobravam o que queriam, pois afinal estavamos no meio do deserto! Nos organizamos num unico grupo e nos acomodamos entre bancos e muretas do jardim, no local que talvés fosse a unica praça da cidade arborizada e com cara de praça. Nossa noite de moradores de rua, como disse uma das meninas integrantes do grupo.
A medida em que a noite atravessava as horas da madrugada o bate papo foi diminuindo e o frio congelava os nossos corpos dificultando o sono. Eramos acordados pela polícia local, os carabineiros, de uma vez a cada hora e que me lembravam a mistura de policiais florestais e os de presídio de segunça maxima. Se comunicavam num espanhól rápido e agressivo, impondo mais medo do que respeito. Pediam que nos levantássemos e examinavam nossos pertences a procura de coisas ilícitas. Os carabineiros do Chile atuam como policiais. A diferença de lá para cá, é que eles tem autoridade para resolver qualquer tipo de problema. Estão sempre em ponto estratégicos e são muito respeitados por isso no país. Quando menos se esperava eles apareciam de carro, praça a dentro em alta velocidade, quase derrapando na nossa frente e armados com pistolas, acordando o grupo inteiro. Vigiavam até se as pessoas que passavam npor ali carregavam bebidas alcólicas, o que é terminantemente proibido nas ruas depois da meia noite mesmo estando a bebida lacrada (mandavam colocar fora). Em torno das 5h da manhã, nos dirigimos ao local onde sairiam as Vans que nos levariam a o passeio esperado. Eu particularmente estava cansado por dormir quase nada, sentindo frio e sendo acordado pela ronda dos carabineiros a toda hora.
...Continuando... As Vans eram todas brancas e sem identificação de que agencia pertenciam. As diversas agencias de turismo da cidade oferecem diversos pacotes de passeios e que dão descontos no caso de um grupo grande como o nosso que encheu uma Van e um micro ônibus. Nosso motorista era visivelmente um chileno nato pelos seus traços físicos rudes de (indígena) e espanhol despreocupado de ser entendido. Falava pouco e meio autoritário. Dirigia a camionete em alta velocidade sobre as estradas de chão com muita areia e pedregulhos que saltavam na lataria do veiculo e pó que invadiam as nossas narinas mesmo com as janelas fechadas. Subíamos montanhas a cima e em alguns pontos enxergávamos penhascos abaixo de nós que eu pensava comigo: Se cairmos daqui, não sobrará nada pra contar a história!.. Na medida em que cruzávamos pelo alto das montanhas, mais desconfortável eu ficava. Além daquela poeira terrível que entrava pelos orifícios de ventilação do veiculo, ia me faltando a respiração de modo que eu inspirava forçadamente três à quatro vezes para conseguir um pouco de oxigênio em meus pulmões. Ficava angustiado, irritado e lembrando de alguns pacientes que eu já atendera na eminencia de morte por edema pulmonar sofriam dos mesmo sintomas. Será que era o mesmo que estava acontecendo comigo, pensava sem fazer alardes e tentando posicionar a cabeça de forma a favorecer a respiração difícil. Eu sabia que era efeito da altitude e mesmo tendo tomado o tal chá de coca, pouca coisa pareceu ter ajudado naquele momento. Ter a sensação de morte por asfixia não é nem de longe algo agradável. Senti taquicardia, cansaço e um total desânimo. Quando chegamos no local dos geysers, ainda com pouca luz do dia enxerguei os vapores saindo da terra como uma visão inesquecível e ainda com a nítida sensação de morte. Dentro do veiculo eu e algumas pessoas, tentavam de alguma forma se restabelecer do mal estar das alturas, afinal estávamos a uma altitude de 4 .500 metros. Faz bastante frio no complexo do Tatio, onde as temperaturas chegam a ser muito negativas. Informaram-nos neste dia estar apenas -3 graus com uma sensação de -6 graus. Não é à toa que o passeio começa tão cedo, pois é o horário em que os vapores quentes em contato com a temperatura baixa, mostra toda a sua beleza e quando surgem os primeiros raios de sol, a luz reflete no vapor, formando imagens mais bonitas ainda. Ao mesmo tempo, o sol diminui o frio e logo a temperatura já se torna mais agradável.
Os mais jovens e corajosos do grupo enfrentaram a piscina térmica natural, com águas inacreditavelmente à 33 graus. Eu não me senti encorajado e por pouco passou desapercebido o café com pães, biscoitos, croassãs e sucos servido ali mesmo em meio aos geysers. Neste dia eu senti que iria morrer antes de chegar lá em cima, num dos lugares mais belos que já vi.