De frente com o criminoso.

É dificil enterder estes ciclos ora de prazer e alegria, ora de tristeza e frustrações que ganhamos da vida, mas se não somos capazes de entendermos como funcionam esses mecanismos, pelo menos tentamos aceitar como uma forma de lição, para que nos tornemos individuos melhores. Acho que esta é a regra, algum resgate.
Ontem durante o meu plantão, quando fui atender um senhor de 78 anos que havia convulsionado em sua casa e vi seu rosto enrrugado, porem reconhecivel, fiquei para morrer, mas logo depois do susto e retomado folêgo, me refiz com uma sensação estranha, mas que já havia experimentado em outras circunstancias dificeis da minha vida e que por vezes me é complexo entender e com certeza explicar em palavras lógicas. 
Este homem de 78 anos, que eu pensava já estar morto, pelo decorrencia do tempo, foi o meu abusador e posivelmente o responsavel por uma serie de traumas psiquicos que se iniciou na minha infancia aos 8 ou 9 anos e se estendeu por grande parte da minha vida e que possivelmente não fui a unica vítima.
Descobri através de um vizinho presente no atendimento, que ele ainda trabalha na mesma atividade de barbeiro, que utilizava para abusar de meninos, porém num outro endereço. Eu lembro que ele colocava uma capa sobre sobre o corpo de seus clientes (normalmente garotos) para evitar que os restos de cabelos caissem sobre suas roupas e dai cometia os abusos por de baixo desta capa, que ocorriam evidentemente na propria barbearia.
Em alguns momentos eu fiquei tentado a me identificar, o que possivelmente ele nem se recordaria, mas por outro lado o meu silencio parecia ter um sabor maior do que qualquer vingança ou algo parecido, uma mescla de poder jamais experimentado por mim antes. Um poder de observa-lo em silencio e te-lo em minhas mãos, de saber quem ele era e do que ele foi capaz de fazer sem me reconhecer que fui uma de suas vitimas. Isto tudo é tão complucado e me causou uma mistura tão desconfortável quanto prazerosa por eu estar ali no anonimato, lhe dando assistencia. Uma mistura de raiva e também condescedência com a sua dor, com a sua doença, sei lá.

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