SONHOS


Existem lugares que eu só conheço através de sonhos... São tão reais estes sonhos, que por vezes saio a procura-los na rua, por aqui, por ali, ou em algum canto da memória, esquecendo-me desta particularidade, que eu os conheci apenas em sonho.

URUTAU

Um dia caminhando numa estrada que fazia divisa com uma fazenda, no interior, vi um estranho pássaro pousado num tronco de uma cerca e nunca mais esqueci da sua exótica aparência. Estava quase anoitecendo e só consegui distingui-lo por pura sorte. Era um Urutau, pássaro solitário, de hábitos noturnos e que dificilmente se deixa ver. Estava estático naquele tronco, como se fizesse parte dele e mantinha o pescoço esticado para o alto e os olhos fechados. Sua cor mesclada em tons de marrom, preto e cinza, permitia-lhe ser confundido com um tronco velho de arvore e passando quase desapercebido.

1-Olha quem tá ali,
feito um galho seco, pra ninguém ver,
É o Urutau, ave de canto dito agourento.

2-Quem nunca viu, nunca vai vê-lo
em seu aposento.
Emenda Toco, como se fosse um complemento.

3-Ave Fantasma que vem trazer, algum sofrimento.
Pescoço em pé, feito um Page, de fundamento,
Ninguém aguenta ouvir de perto, o seu lamento.

4-É Mãe da Lua, que aparece, quando ela nasce.
De traz do mato, iluminando todo o espaço.

5-Tem olho magico, que enxerga tudo, quando fechado.  
Bebê que chora, pela mãe, abandonado.

 6-Seu canto triste, que se difere da passarada.
É um aviso da sua chegada pra toda a ninhada.
                   
7-É só um lamento, tristonho, de dor (amor).
É o Urutau, ave agourenta do mal.

E VEIO A CHUVA.



A chuva chegou sem desaforar, veio devagar sem causar surpresa no meio da tarde e a temperatura foi despencando sem fazer alardes. Quando percebi a rua estava exalando aquele cheiro de terra molhada e algumas plantas já  espalhavam seu cheiro peculiar de quando chove, e a gente corre pra fechar as janelas, ver os respingos na vidraça e olhar para as pessoas que passam.

DE ONDE VEIO O VENTO NORTE

Eu muito usei esta expressão: "Vento Norte" ou somente "Norte" para expressar ou complementar uma ideia nos textos que invento, que escrevo, sem saber ao certo sua significação. Por exemplo: "Estou em busca do meu norte!"
Mas alguma coisa me dizia (por adivinhação), que a expressão estava ligada a: Meu caminho certo, destino, minhas verdades...
Li então na coluna ocafezinho.com de Wellinton Calasans o significado da expressão Vento Norte que não está tão longe daquilo que eu pensei que fosse. No hebraico-diz ele, "Vento Norte" é definido como Aquilon ou tsaphown, é o vento que abre a nossa visão. Aquele que fala do desconhecido e permite a luz do Sol, pois faz com que os céus se abram ao afastar as nuvens. Show!

NÃO TEM EXPLICAÇÃO

Não posso mais beber vodca, como bebia antes, pura e gelada. Também não posso bebe-la como uma caipirinha com limão, que logo me causam náuseas, uma leve tonturinha e depois muita sede. 

É como algumas pessoas que transitam pela vida da gente, deixando esta desagradável sensação de secura interna. Não é possível aprecia-las, sem nenhum garrafa de agua por perto. 

UM POEMA QUALQUER

Faz algum tempo, me arrisquei a escrever poemas. Alguns eu gosto, de outros não e aprendi que assim como qualquer coisa que se constrói com sensibilidade, acaba tendo vida própria, onde você perde o domínio como autor e o próprio objeto, traço, desenho, pintura, escultura, escrita, se auto comanda. A própria composição determina seu caminho estético e então afloram, com pouco esforço seu. 

Existe um homem que tem meus traços,
A minha cara, minhas mãos,
meus braços.
Vejo ele através da vidraça quando passo.
No porta-retratos, no espelho, sobre o balcão da sala.
Ele toca violão e eu não.
Eu tomo analgésicos e ele não.
Ele canta, canta, canta e eu me encanto
com o seu canto.
Fico perplexo e sem atitude.
Me escondo, me fecho.
Ele é só meu reflexo e não tem nexo.
Eu que sou apenas 
complexo.

SEM CALCIFICAR DORES.

Sofrer isolado, não vale a pena, nunca valeu! A dor é sempre maior e o entendimento dela fica menor quando não existe troca de argumentos reais e entendimentos das partes. As vezes é necessário a ajuda dos não envolvidos, dos que estão de fora, ou que se mexa os pauzinhos mágicos dos neurônios, para o jogo virar e encontrarmos um norte, numa única sinapse. Se nada for feito, as dores e decepções, calcificam nossos sentimentos com amargura. 
Se a pagina não for virada, se não dermos um basta, um chega pra lá, o ressentimento ira pra nossa casa e dormirá na cama. Se olharmos pra dentro de nós, encontraremos as respostas, por que sempre temos as respostas para as nossas aflições e dores. Então: Vida nova, casa nova, amigos novos e emoções novas, sem a mediocridade dos que se acham grandes demais para você.

O SILENCIO DO NADA:

Fico aqui por horas, tentando materializar em palavras escritas, meus sentimentos e sua maior profundidade Azul, e o que somente consigo é o silencio do nada e a certeza de que me esvaziei por completo, por algo que me preencherá de maneira, a transbordar como vento ou agua, pra todos usufruírem  no depois.

Quando olho pra traz, percebo que o resto se transformou em peças de um jogo de sobrevivência, ou de vaidades. Razão clara do por que muitos desistem, fecham suas portas e partem pra outros lugares.

SERÁ QUE ERA O CAIO?

Eu posso jurar que vi o Caio numa noite de chuva, entrando num daqueles edifícios antigos e pouco iluminados, que quase não se percebe a porta de entrada, na rua Republica.

Será que estava embriagado? Seus passos largos eram tão irregulares, que quase caiu na irregularidade da calçada, desviando da lixeira, chutando baganas de cigarros e fazendo um movimento com o corpo, de quem já iria voar.

Eu posso afirmar que era ele, num daqueles dias em que não está bem e que um, dois, dez, infinitos goles lhe é apenas mais um gole, na defesa da vida e de mais um dia...

Talvez fosse o Caio, com seus óculos de aros arredondados, dentro da gaiola de seu próprio corpo franzino, tentando flutuar na calçada da Republica. Talvez não fosse ninguém, só uma lembrança, imaginação minha.


O OCEANO.

Entardecia e eu estava dentro de um barco, perdido no oceano, só eu e meus planos, assustado naquele ponto onde só se vê agua, um grande volume de agua formando volumes, se movimentando num único bloco e direção e mais nada. Não existia terra firme pra onde eu olhasse, só aquele gigantesco volume d'água, como um  pulmão liquido e volumoso num movimento sincronizado, como se estivesse respirando, respirando, me levando pra algum lugar, num cárcere ambulante. O oceano pode ser monstruoso e te puxar pra ele.


ABSOLUTAMENTE GRILADO.

Eu fiquei rouco de tanto gritar o teu nome, lá da janela do meu quarto, quando percebi que tinhas ido embora. Me joguei na cama arrasado e me pus a ouvir uma sinfonia de grilos, lá fora, que me fizeram adormecer absolutamente grilado. No outro dia, eles ainda faziam festa dentro da minha cabeça.

Postagem em destaque

TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...