O que é bom, simplesmente não me basta.




Uma amiga me perguntou na semana passada, no sarau, se eu já tinha ouvido o novo CD de Maria Gadu e Caetano veloso, com o proposito de investigar se valeria o investimento de assistir-los no show marcado para este mês de Outubro, aqui em Porto Alegre e que será no dia 27 às 21 horas num especial de lançamento do DVD 'Multishow Ao Vivo'. e eu fiquei pensando silenciosamente: Se tu soubesse o quanto eu sou complicado!..
O show será no Pepsi on Stage com preços que variam respectivamente de R$ 80,00 a R$ 240,00 e que eu não acho um absurdo de caro, em se tratando dos quilates que representam o cantor baiano e sua afilhada Maria Gadu, hoje conhecida e reconhecida entre os que apreciam MPB.
O talento de Caetano Veloso é incontestável e firmado numa carreira que ultrapassa mais de quatro décadas e uma obra musical marcada pela releitura e renovação, considerada de grande valor intelectual e poético. Maria Gadu dona de uma voz impar, grave, compassada, e muito atraente, descoberta por Milton Nascimento, João Donato e o próprio Caetano veloso em 2009 quando estourou no meio artístico e popular com musicas de sua autoria em seguida tocadas em novelas de grande audiência.
O que acontece, é que eu estou naquela fase emocional, onde o que já é conhecidamente bom  não tem me bastado, me tocado como era para eu mesmo esperar; como se o gosto mesmo comprovadamente bom, tivesse perdido a excelência por já ser conhecido. Acho que é uma fase, que vem e passa, mas enquanto não passa estou querendo dar atenção a outras vozes e ritmos menos óbvios. Gosto de Maria Gadu e indiscutivelmente de Caetano Caetano Veloso, mas sinto não estar receptivo como eu gostaria de estar neste momento. Quem sabe, como diria o próprio Caetano, eu venha me  arrepender, ou não!..

A Romaria dos Motoqueiros

Ontem de manhã, ouvia-se desde cedo o ronco de motocicletas circulando pelas avenidas de Porto Alegre. Eram tantas deslocando-se em grupos por entre os carros, que num dado momento eu cheguei a comentar com colegas na troca de plantão, que os motoqueiros estavam invadindo o mundo, perecendo uma praga bíblica de gafanhotos ruidosos. Riram do meu comentário humorado, dizendo que eu estava surtando,  que trabalhamos no SAMU e o maior indice de acidentes de transito que atendemos são com motociclistas envolvidos. 
Eu havia esquecido da Romaria dos motoqueiros em homenagem a Nossa Senhora Aparecida, que acontece todos os anos no dia 12 de Outubro, levando fiéis à pé e de duas rodas a arquidiocese de Porto Alegre para receberem a benção e depois seguirem procissão até o Centro Cultural Porto Seco. A romaria foi criada e incentivada pelo padre holandês João Peters, que exercia atividades sacerdotais na Igreja Nossa Senhora das Dores e na Brigada Militar, cuja corporação chamava carinhosamente de "briosa" e que faleceu aos 73 anos de idade por complicações cardíacas e respiratórias.
Ontem foi cerca de 40.000 fiéis presentes, sendo 25.000 motociclistas, conforme divulgou o RBS Noticias. Ora num transito caótico, ocasionado principalmente pelo excesso de automóveis que circulam pelas ruas da cidade e concorrem a vagas cada vez mais escassas de estacionamento e avaliando o baixo custo e benefícios de se adquirir uma moto é fácil crer que elas em algum momento dominarão o mundo.

Um erro consertado


A Caixa Econômica Federal começou a veicular uma nova propaganda em que mostra Machado de Assis sendo interpretado por um ator mulato, fazendo jus a etnia do escritor.
O primeiro vídeo em que mostrava um ator de etinia branca foi suspenso e refeito, após ter sido gerado grande polemica entre os telespectadores que se mostraram contra, pelo fato do escritor não ter a pele clara. O comercial recebeu criticas ate por parte do governo, já que a Caixa evidentemente é uma estatal. O banco fez uma retratação publica e consertou o erro.
A campanha comemora os 150 anos do banco e mostra a historia do escritor, como um fiel cliente da eterna caderneta de poupança do banco. Eu particularmente acho bom que este tipo de manifestação aconteça, para que seja respeitada acima de tudo a verdade histórica, sem o risco desse lapso parecer discriminação. Alguns erros são tão difíceis de serem reparados posteriormente, que eu cresci e virei adulto, tendo na minha cabeça, a imagem de Cleópatra, como uma mulher de pele clara e os olhos lilases de Elizabeth Taylor.

Parece mentira...

A semana começou mal e para tentar dar uma disfarçada  a este clima de morte e desassossego que anda vagando sobre a minha cabeça, no meu cotidiano, resolvi ao chegar em casa, abrir uma garrafa de vinho vagabundo que eu havia guardado num canto esquecido do armário, lembrando as palavras de minha mãe: "Não se pode resolver problemas, criando outros, filho!". Mas assim mesmo resolvi arriscar beber, somente para ver se este sentimento de peso aliviava meus ombros, meus pensamentos.
Acontece que hoje durante o trabalho, soube da morte de outro colega que eu nem imagina ter acontecido; tanto que seu falecimento ocorreu em Agosto passado e eu só fiquei sabendo agora, hoje, durante o plantão através de um outro colega.
Eu conheci o Paulo (que faleceu) e deixei de vê-lo antes dele ficar doente, de descobrir que havia contraído um câncer de intestino, de iniciar um tratamento invasivo e perceber que não havia mais nada a ser feito, morrendo depois, pouco mais de um mês ao ser  descoberto a doença. 
Pra mim foi um choque muito grande saber desta noticia, pois ainda tinha ele na minha lembrança como aquela imagem de homem saudável, alegre e bonito, que fazia algumas mulheres suspirarem em sua volta e admirarem sua voz de locutor de rádio.
Ele era mais jovem que eu e talvez estivesse beirando os 46 anos de idade. Engraçado como a morte parece não combinar com algumas pessoas que transmitem bom humor, vitalidade e alegria sob diversos aspectos. Estranho, muito estranho aceitar isto, acreditar em sua morte sem desconfiar que não seja uma mentira. Certa vez uma colega me disse que ele se parecia com Colin Farrell, ator da foto postada acima o que eu na época, não dei muita atenção, mas hoje observando melhor e talvez sob alguma influencia do vinho, percebo alguma semelhança. 

Há quatro horas atrás.

Agora eu tenho somente um silencio, quebrado pelos meus dedos batendo no teclado e um chiado conhecido saindo pelo lado esquerdo do antigo laptop. Há quatro horas atrás, ouvia gargalhadas, frases soltas, conselhos, reclamações, observações, musica tocando alto. E como as pessoas fazem observações quando estão em grupo, em festas, em horas inapropriadas para fazer isto. Tudo fica embalado ao som da musica alta, dando a impressão de que observações maldosas não são tão pessoais assim. Percebemos surpresos, o quanto algumas pessoas envelheceram por fora e outras continuam infantis por dentro. 
Não podemos alterar nada referente as atitudes das pessoas, somente observar e talvez também comentar com a mesma torpeza, entrar no fluxo, esquecendo que nossos defeitos também estão sob  rígida avaliação.
Bom, depois vem o "Parabéns Pra Você" e está tudo certo!..

Vento Litoral

Há duas semanas atrás, soube que meu colega havia sofrido um infarto. Estava baixado na UTI de um hospital, cuja a realização de exames determinaram pouquíssimas chances dele sair com vida. Neste Sábado ao chegar no trabalho, encontrei no mural de mensagens, este pequeno cartão com sua foto e um texto escrito por Renato Russo, bastante emocionante e que acredito ter sido delicadamente idealizado por sua esposa, também colega de trabalho. 
Deve ter sido ela a mentora desta iniciativa que é uma mensagem pública de despedida, de reconhecimento, de agradecimento por uma relação que pareceu ter dado certo, de muito amor, respeito e consciência e de que a vida deve continuar e que se entregar é uma bobagem. 

O texto escrito no cartão e que está ilegível na foto, chama-se Vento Litoral, letra da musica do vídeo postado logo abaixo para que possamos ouvir e pensar à respeito. 
A gente sabe que nossa vida caminha sobre uma linha esticada e tênue e que um dia ela arrebenta por não suportar mais o peso do nosso corpo, o acúmulo de nossos erros, acertos, emoções, sobrando apenas o que de nós é leve e que espalha pelo ar, virando vento, átomo, lembrança ou qualquer coisa deste tipo e que só podemos guardar dentro de nós em forma de saudades.



Alô alô, Oléria: Testando

Foi por acaso que eu liguei a TV no canal Câmera numa noite destas e me deparei com esta simpática cantora brasiliense com muita presença de palco, esbanjando voz e com um swing tão contagiante que eu pensei que ela fosse baiana. Nada haver, não é mesmo, já que basta ser brasileira.


Com muita energia e uma voz marcante, ela mistura samba, funk, soul, bossa nova, hip hop. Seu nome é Ellen Oléria e foi vencedora na categoria “melhor intérprete” no Festival Interno de Música Candanga de 2003 e 2006; no Festival e Música dos Correios de 2004 e 2006; e do Prêmio Sesc de Música de 2005; entre outros. Eu postei este vídeo que achei no Youtube para vocês conferirem o seu talento. Na minha opinião ela é das grandes e tem muita chance de ir longe.


Duos brasileiros.

Depois de muitas tentativas frustradas, para conseguir via Internet uma senha que eu deveria depois trocar por um ingresso de entrada no show "Duos brasileiros" desta Sexta- feira as 20h., no Salão de Atos da UFRGS, eu decidi pelo risco de ir assistir ao ensaio aberto na Quinta- feira, pois este não havia a necessidade de ingresso e me permitiria ao menos ter uma ideia do como seria o show, caso não conseguisse vê-lo. No final, a sorte foi minha aliada e consegui facilzinho, facilzinho, três ingressos para assistir ao show e também já assistir ao ensaio uma noite antes, que diga-se de passagem, estava muito, mas muito bom! 

A proposta deste mês de Outubro pelo projeto Unimúsica da Pró-Reitoria- UFRGS, foi de colocar no palco juntos nada menos que, Ná Ozzeti com seu vasto curriculo como cantora e compositora que eu já conhecia de outras apresentações, com André Mehmari no piano; Mônica Salmaso que eu não havia assistido em nenhuma apresentação ao vivo, mas que tenho a maior admiração por seu trabalho, técnica vocal e afinação indiscutível ao lado de Teco Cardoso saxofonista e flautista renomado; Izabel Padovani que foi pra mim a surpreendente revelação pela sua grande qualidade musical e o fato de não conhecer seu trabalho e a o lado do baixista gaúcho Ronaldo Saggiorato.

O Show:
Bem, eu não preciso dizer que o show estava magnifico e a plateia os aplaudiu de pé após cada musica. O encontro dos seis musicistas foi o casamento perfeito na arte de tocar e cantar, costurado de excepcional entrosamento, harmonia e sensibilidade, proporcionando aos presentes, momentos raros da melhor musica contemporânea brasileira. 


O Repertório:
As musicas escolhidas para o repertório do show, foram entre outras as indiscutíveis: Gabriela- de Tom Jobim; Pra Que Discutir com Madame- de João Gilberto; Canto Em Qualquer Canto- de Ná Ozzeti; Minha Palhoça- de J.Cascata; Baião De Quatro Toques- de Zé Miguel Visnik; Casamento De Negros- de Violeta Parra; O Ciume- de Caetano Velosos; Felicidade- de Lupicínio Rodrigues; Pés No Chão de autoria de Maria João e Mario Laguinho,  cuja musica soa como improviso vocal, mas possui letra em forma de jogo sonoro delicioso e sofisticado. Esta ultima, interpretada belissimamente por Izabel Padovani que você pode ouvir aqui e Mônica Salmaso durante a noite de ensaio e no espetáculo.



O Ensaio Aberto:
Eu ainda não havia participado de ensaios aberto ao público e achei por demais interessante, pela oportunidade de se conhecer a construção de arranjos, harmonia vocal e alguns improvisos necessários na montagem de um espetáculo. Além disto parece surgir entre os músicos e a platéia que os assiste, uma certa cumplicidade do tipo, quando é mostrado os segredos de uma boa receita antes do prato ficar pronto. Nestes momentos (de exercício musical), nada é definitivo e por isto é ensaiado varias vezes uma mesma musica na busca da perfeição final. Isto termina por oferecer uma gama de interpretações em vozes e tons diferentes que acaba enriquecendo quem ouve e gosta de boa musica. 
Às vezes tudo parece estar pronto, mas um pequeno detalhe, faz com que a musica ou a letra perca ou ganhe uma valorização maior e necessária, o que é preciso rever, ajustar, produzir novos efeitos. O ensaio aberto passa ser não só um prolongamento antecipado do que será o show, mas uma continuidade dele, um show à parte.
Como disse Mônica Salmaso sentada no chão do palco, ao lado dos outros músicos, num papo descontraído conosco da platéia. "A gente combina, combina e na hora do show descombina tudo do que foi combinado!" Risos.

CHEIROS INCONFUNDIVEIS

Hoje saindo do edifício onde moro, depois de abrir a porta do elevador, senti aquele cheiro forte de perfume Lancaster, que nem sei se ainda existe no mercado para venda e se existe deve ter baixado de posto por sua fama de perfume extremamente forte e usado por boêmios de conceitos duvidosos. Era desta forma que minha família relacionava o perfume a pessoa. Lembro-me de seu cheiro forte desde os tempos da adolescência quando ganhei um vidro e me perfumava excessivamente com sua essência e minha mãe reclamava do cheiro. 

Os tempos são outros e acho que não só caiu de moda pela substituição de outras fragrâncias mais modernas, como também se eternizou na lembrança das pessoas que viveram nos anos 60 e 70, junto com a aparecimento do jeans nos meados dos anos dourados. 
Cheiros como o Lancaster, do Almíscar Selvagem e do Patchouly, ficaram gravados na memoria olfativa e emocional de quem os usou ou conviveu com o seu cheiro, marcando personalidades subjetivamente como  forma de vida e de atitudes de uma época.
Muita gente que usava o Patchouly, acreditava que sua fragrância era feito da maconha, assim como o Almíscar do sêmen de um bode oriundo de Malta. É claro que isto não é verdade. Hoje temos tantas fragrâncias à nossa disposição, que  até nos confundimos com os diversos cheiros que por vezes são tão similares. 
Uma coisa eu sei, mesmo depois de muito tempo e de saírem de moda, estes perfumes são inconfundíveis até hoje.

Nos buracos haviam monstros

Eu estava num hotel ou numa pousada, quando da janela do quarto, no segundo andar, percebi um grande buraco e muito profundo, rente a estrutura do prédio. Curioso e impressionado com aquela descoberta, desci até a rua para saber do que se tratava e com uma maquina fotográfica para registrar, o que me parecia por demais estranho. 
Algumas pessoas, moradoras do lugar que caminhavam pela rua, me confirmaram a sua existência, alertando-me para que eu tivesse cuidado, pois a região era cheio deles e muitas pessoas e também casas, já haviam sido literalmente engolidas por eles.
Gritei para o meu colega Garcia e para o Junior, filho de uma amiga, que estavam hospedados comigo, mas eles pareciam não me ouvirem, demonstravam a certa distancia, desinteresse ao meu chamamento. 
Irritado com a desatenção deles, cruzei por um terreno íngreme e de pouca vegetação para ter acesso ao estranho buraco, quando percebi no caminho uma enorme pedra com pequenos orifícios onde haviam olhos atentos que me observavam. Os olhos eram assustadores e não humanos; eram tão grandes como destas figuras mitológicas assustadoras. Aproximavam-se e afastavam-se dos orifícios de pedra demonstrando algum receio de terem sido descobertos. Eu sentia não ter forças para continuar o caminho ou retornar, somente acordar daquele pesadelo e esquecer aqueles olhos que me observavam desconfiados.

Quantas vezes se morre?

_O que o senhor esta fazendo aqui moço, se eu morri ontem? Me perguntou o idoso, deitado sobre a cama, com os olhos de pouco brilho e aspecto de doente.
_Como o senhor pode ter morrido ontem se esta falando comigo e agindo como se estivesse vivo? Revidei num clima de brincadeira.
Risos.
_Eu morri  quatro vezes senhor. Hoje voltei, pouco antes do senhor chegar, mas ninguém acredita em mim, dizem que invento façanhas como um mentiroso. Morrerei muitas vezes ainda e agora pode ir, estou bem!

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...