Crise de identidade indígena


Alem da questão da terra, outro grande problema enfrentado pelos índios em suas comunidades  atualmente, é a crise de identidade cultural, já que os mais jovens não sabem o que são e o que querem ser, se são brancos ou se são índios. Eles não são brancos mas se utilizam das coisas do branco como telefones celulares, walkmans, alem de outros objectos e do vestuário enjambrado.
A jovem indigena grávida que atendi hoje na reserva da Lomba do Pinheiro, só falava em guarani e seu marido, tambem seu interprete, me disse que ela se chamava Marcia, mas que não era seu nome verdadeiro, mas um apelido branco. Eles são tímidos, de pouca conversa para quem não conhecem e como todo o ser humano ficam fascinados por novidades electro/ eletronicas.
Fotografei estas crianças moradoras da Reserva, que me pareceram uma mistura de muitas identidades e que também adoraram ser fotografadas e muito curiosas com o modelo do meu celular. Ressalto ainda o colete do menino de calção vermelho na foto, com um colete de sacola de plástico, criado por ele.

Sabão de coco e cantos gregorianos

Terça- feira é um bom dia para se malhar de um jeito diferente, você não exercita  somente os músculos do corpo, mas o cérebro em algumas seções de paciência, resignação e auto controle.
Paciência de monge, para trafegar nas avenidas engarrafadas de Porto Alegre.
Resignação de dona de casa, para fazer compras no supermercado e lembrar que esqueceu da lista em casa,   
Auto controle, para tentar entender o porquê o notbook  se nega a localizar o endereço de IP e orçar os arranhões no carro feitas por sociopatas disfarçados de gente normal, que você encontra pelo seu caminho. 
Depois de tudo, mais paciência para aguentar a si próprio depois desta maratona.
Terça-feira é o dia em que não ouço Amy winehouse  e Marina Lima no radio do carro, não buzino, não atendo ligações telefonicas no celular, não assisto novelas e o Jornal Nacional e  quando chego em casa, tomo um demorado banho com sabão de coco e me jogo na cama para ouvir cantos gregorianos a meia luz.

Criança.

                     Vou
                        Vou levar
                            O tempo que for
                                      Vou
                                           Vou levar
                                                   Até desvendar caminhos e ver
                                                            Como eu chego em você...

                                                                                                   Vou

Eu gosto desta batida ritmada nas musicas de Marina Lima, a letra que parece não caber nos espaços e cai perfeitamente, recortada, urbana, tensa, sensacional.
A janela do carro aberta e o vento batendo na cara, lembra Marina gravida de um liquidificador. 

UMA FORMULA EQUIVOCADA.

É possível acreditar naquele André da novela das nove, fazendo caras e bocas e pose de Don Juan, usando e esnobando as mais belas e  charmosas mulheres que surgem na  frente dele, como simples pedaços de carne? Eu pergunto ainda mais: será que o diretor pensa que é possível a gente acreditar naquele estereotipo montado? 
Ora, sem desmerecer o grande ator Lázaro Ramos, mas fica difícil  acreditar que num  país  preconceituoso e racista como o nosso, é relevante construir um personagem como  este, que parece  ter estampado na cara, sou rico, bonito e gostosão e cuja as mulheres ficam de quatro com meia dúzias de palavras de sedução? De onde este personagem tira elementos para construir seu egocentrismo?
Tem algo de errado nesta fórmula, que sinceramente não me convence. Acho que o  Rock, personagem  em "O Pai, Ó", era mais  sedutor e convincente que este André, vocês não acham?

Por dentro

O silencio é bom enquanto penso.
Mas eu não consigo decifrar estes segredos, estas transformações absurdas.
Eu to surpreso...

Eu lanço um sorriso falso.
E sei que nada combina.

Eu to quase lá e não quero fazer cenas.
É isto.
Eu to quase lá.

Ainda na Sexta...

Depois de ficar esperando de manhã, por convites para comer peixe nesta Sexta-feira Santa, resolvi desistir da espera e ir no lugar certo, a casa de minha mãe.  Ela nunca abandona estas tradições e portanto era o lugar oportuno de filar a bóia que evidentemente era peixe.
Depois de experimentar o assado, o frito, o escabeche, a salada de batata com camarão, o quibébe de abóbora, percebi que meu celular estava cheio de mensagens com convites para almoçar na casa de um colega e que eu nem percebi tocar. Mas já era tarde demais até para dar explicações e pedir  desculpas por não estar atento ao celular esquecido dentro da pasta.
De tarde, fui visitar uma amiga que fazia tempo que não via e que soube ter estado em Paris e  depois na Índia, lugares que tenho algum interesse de conhecer e que é sempre bom fazer especulações com quem já  foi. 
Rimos bastante das fotos tiradas em muitos recantos e dos comentários bem humorados, feitos  por ela sobre cada lugar onde esteve e em particular sobre os banheiros de Paris que não tem chuveiros e os da Índia onde não usam papel higiênico.
A tarde passou tão rápida  e intercalada por algumas pancadas de chuva forte e falta de luz, que quando percebi já era noite fechada.

Sexta-feira Santa

Hoje é Sexta- feira Santa e o dia nasceu ensolarado e com aquela cara de me aproveitem por favor e eu como sempre, não tinha me preparado para nadíca de nada...
Nas outras Sextas- Feiras Santas, que passaram por minha vida, sempre foram meia chochas, mesmo se fizesse um dia bonito como o de hoje, parecia ter um gosto de resignação, respeito e culpa. 
Minha mãe ensinou desde cedo pra nós (filhos), respeito e  culpa, principalmente culpa, que  parece existir em todas as consciências cristãs. 
Eu lembro de ser criança e de me perguntar como um homem em sua sã consciência, podia dar sua vida em defesa de pessoas que ele  nem conhecia e nos deixar com esta dívida nas costas. 
Fazíamos jejuam e também éramos proibidos de lavar o rosto e os dentes quando acordávamos. Pisávamos em ovos neste dia,  pois tudo tinha cara de pecado e de proibições e eu não via a hora de tudo passar e chegar o domingo de Páscoa. 
Os tempos mudaram, eu mudei e  acho que até a fé de minha mãe também mudou...

A cartomante

Eu não estava embriagado ou coisa parecida, embora eu tenha ouvido com muita disposição meu colega contar sua experiência numa cartomante na Restinga com detalhes. Eu normalmente driblo para não ouvir estas conversas que considero obscuras para minha compreensão, mas arrisquei e não doeu. 
Segundo ele, a mulher é muito boa e acertou tudo, do que ele já sabia e do que ele não sabia, deixando-o visivelmente preocupado.
Esta segunda parte, que me deixa inseguro em mexer com estas coisas. Eu não descreio nestas revelações e muito menos no poder de ninguém. Eu tenho é medo de descobrir fatalidades que não terei força emocional para suportar e que prefiro que me tomem de surpresa quando eu estiver tomando um sorvete da baunilha.

Os cantores do muquifo no Partenon

Rodrigo e eu nos encontramos num boteco indicado por ele, para tomarmos umas cervejas e reclamarmos um pouco da vida e do trabalho.
No final optamos por beber vinho, pois o frio desta semana, não estava propicio para beber cerveja. Escolhemos um muquifo sem ventilação, relativamente perto do trabalho, pros lado do Partenon, por que não queríamos gastar muito tempo com deslocamentos e tínhamos pressa de iniciarmos a seção de lamentações, que já tínhamos combinado ha dias, talvez semanas.
Botecos me parecem feitos para isto mesmo, reclamar, chorar, reivindicar, soltar demônios, fazer muito alarde, ao contrario de boates que são para dançar, namorar, encontra um grupo de amigos e fazer a festa. Não se pode fazer lamentações na frente de tantos amigos juntos, com o risco  de sermos corridos. Um muquifo é o lugar certo.
Rodrigo necessitava, muito mais do que eu, falar, então dei-lhe a oportunidade de sair na  frente, o que acabou ele falando muito mais do que eu. Não me senti no prejuízo com isto, ouvi-lo mais, poupou-me de gastar meu discurso repetitivo, mais do que  isto, pareceu promover  meu ego a uma posição mais confortável e de superioridade emocional. Por que tem horas que ouvir é melhor do que falar.
E daaa-le reclamações, insatisfações, discursos sociais e os cambaus.
Depois de algum tempo, Rodrigo levantou da mesa e gritou pro homem atrás do balcão:
_Ferreira, bota aquele CD que eu gosto. Ta com ele ai?
Ferreira desajeitado secou as mãos num pano encardido de gordura de X-burguês e se ajeitou num canto atrás do balcão.
_Este tá bom?
E os três começaram a cantar juntos, Rodrigo, Ferreira e Caetano:
Quando eu chego em casa nada me consola
Você está sempre aflita
Lágrimas nos olhos, de cortar cebola
Você é tão bonita
Você traz a coca-cola eu tomo
Você bota a mesa, eu como, eu como
Eu como, eu como, eu como, Você...
Naquele momento eu percebi que não tínhamos mais do que reclamar, a não ser do inevitável:
_Traz mais vinho Ferreira, a jarra tá vazia!..

O vinho da missa

Ganhei de um colega, uma garrafa de vinho tinto, desses que são fabricados artesanalmente e que levam fama de serem bons por que o padre da paróquia X ou Y aprovaram e também utilizam  para o seu consumo, mas que na verdade é um ledo engano acreditar  que sejam realmente bons e acabo me decepcionando quando bebo o primeiro gole.
Aprovar vinhos, me parece uma coisa muito pessoal, até para os especialistas, que não é o meu caso. Eu bem que tentei, mas não consegui ir alem da meia taça. 
De qualquer forma deixei-o na geladeira para um doce de sagú ou uma posivel situação de urgência a se deflagrar, nunca se sabe quando!

Vida provisória

Sempre existe a possibilidade de optar-mos por uma posição mais cômoda sem ter que escolher os extremos. Entre o amor e o ódio, a mentira e a verdade, a consciência e a inconsciência, existe um espaço mental intermediário capaz de oferecer alguns momentos de trégua e descanso a esses sentimentos mais (turbulentos) e de difícil manejo humano, assim como os tropeços diários que nos provocam sustos e que por vezes não temos condições de vivencia-los em sua totalidade. 
Assim é  nossa vida, cheia de momentos bons, ruins, tristezas, alegrias, decepções e muito trabalho e energia para aguentar-mos este fluxo que demanda ações continuas em diferentes posições emocionais, em  nossas vidas. 
Um momento de trégua acontece quando estou dormindo e passo a me acordar, experimentando momentos de uma vida provisória cujos os valores são menos potencializados por  dores  e expectativas criadas. Onde meu estado que consciência se divide entre minha realidade e a subjetividade no mesmo grau de importância neutralizando divergências. Por breves instantes eu consigo dar muito menos valor as coisas que me escravizam, quando estou neste momento de transição entre o dormir e o acordar, onde tudo parece menos complicado e muito mais aceitável. Sinto que estou experimentando momentos de realidade e fantasia incorporadas, de possibilidades e impossibilidades,  que  vistas na pratica seria impossível administrar com naturalidade e coragem se estivesse dormindo ou acordado. 
Hoje de manhã quando acordei, entrei neste estagio enquanto estava enrolado no edredon. Parte de mim se sentia sobre a cama, a outra voava  sobre o improvável. Um insigth?.,Um delirio?.,eu não sei dizer, qualquer coisa me  causou mudanças radicais imediatas e sem reações traumáticas de apego as preocupações óbvias que diariamente sinto e que parecem não apresentarem soluções. Nada havia mudado além dos sentimentos que são imprimidos em cima de algumas circunstancias que neurotiso e necessitam com urgência de um olhar mais pacificador e menos culposo. O que eu gostaria, era  continuar sentindo tudo  isto, depois de estar definitivamente acordado.

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TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...