PARAISO
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benção de criança
Estas eram as palavras mágicas ditas por minha prima Júlia, quando eu e meus irmãos, íamos a sua casa visita-la. Depois passava as mão em nossos rostos e sorria dizendo:
Estão curados, podemos brincar!
Será que existia alguma magia em suas palavras, em sua caricia em nossos rostos?
A verdade é que nos sentíamos melhor, mais aliviados como se aquilo fosse uma benção divina. Depois, brincávamos até perder o folego de tanto nos divertir. Guardávamos segredo sobre isto, para que ela não perdesse estes poderes mágicos.
Dona Noêmia
Depois de muita negociação, dona Noêmia abriu a porta e veio conversar comigo dentro da ambulância. Antes, trocou de roupa, maquiou-se, perfumou-se e se sentou na maca como uma dama convidada a tomar um chá da tarde. Contou-me sua história de vida de um jeito que parecia estar muito lucida e coerente naquele momento. Falou-me que casou-se uma vez só e deste enlace teve uma única filha, que lhe deu um neto. Criou este neto como se fosse seu filho pois a mãe fora assassinada quando o menino tinha apenas dois anos de idade. Morreu esfaqueada com mais de dez golpes, enquanto dormia em sua casa. Nunca descobriram quem a assassinou e por quais motivos. Sustentou, educou e deu amor ao menino até ficar homem, criar independência e casar-se. Disse-me ainda, que desconfiava das pessoas, e de seus parentes e que tinha saudades do neto-filho que não mais a visitava. Falou-me que era louca, por que nunca aceitou a morte violenta da filha, o esquecimento do neto e a falta de justiça... Que era louca por que não se calava, não aceitava, não compreendia o silencio cúmplice das pessoas em favor da injustiça e que jamais aceitaria enquanto vivesse aquela tamanha violência em sua vida. Despediu-se de mim na porta da emergência psiquiátrica com um aperto de mão e um pequeno sorriso nobre, discreto, talvez ciente de sua loucura e desconfiada de minha normalidade oportuna. Pensei em dona Noêmia com tristeza e um pouco de culpa. Culpa dos que podem fazer tão pouco por pessoas como ela. Pensei também que tínhamos algumas coisas em comum, talvez a insatisfação, a revolta, por situações ocorridas na vida que não se consegue entender. Dores acumuladas, disfarçadas mas que em certos momentos querem se exorcizar, se soltar com cara de loucura.
Eu conheço de perto a loucura
Cansaço estresse raiva.
Perguntas e respostas
AQUI
[Eu nunca disse que iria ser A pessoa certa pra você Mas sou eu quem te adora]
[Se fico um tempo sem te procurar É pra saudade nos aproximar E eu já não vejo a hora]
[Eu não consigo esconder] Certo ou errado, eu quero ter você Ei, você sabe que eu não sei jogar Não é meu dom representar] [Não dá pra disfarçar Eu tento aparentar frieza mas não dá É como uma represa pronta pra jorrar Querendo iluminar A estrada, a casa, o quarto onde você está] [Não dá pra ocultar Algo preso quer sair do meu olhar Atravessar montanhas e te alcançar Tocar o seu olhar Te fazer me enxergar e se enxergar em mim] [Aqui Agora que você parece não ligar Que já não pensa e já não quer pensar Dizendo que não sente nada] [Estou lembrando menos de você Falta pouco pra me convencer Que sou a pessoa errada] [Eu não consigo esconder Certo ou errado, eu quero ter você Ei, você sabe que eu não sei jogar Não é meu dom representar] [Não dá pra disfarçar Eu tento aparentar frieza mas não dá É como uma represa pronta pra jorrar Querendo iluminar A estrada, a casa, o quarto onde você está] [Não dá pra ocultar Algo preso quer sair do meu olhar Atravessar montanhas e te alcançar Tocar o seu olhar Te fazer me enxergar e se enxergar em mim Em mim... Aqui]
Suburbano coração
Que horas são
Isso não são horas, que horas são
É você, é o ladrão
Isso não são horas, que horas são
Quem vem lá
Blim blem blão
Isso não são horas, que horas são
A casa está bonita
A dona está demais
A última visita
Quanto tempo faz
Balançam os cabides
Lustres se acenderão
O amor vai pôr os pés
No conjugado coração
Será que o amor se sente em casa
Vai sentar no chão Será que vai deixar cair
A brasa no tapete coração
Quando aumentar a fita
As línguas vão falar
Que a dona tem visita
E nunca vai casar
Se enroscam persianas
Louças se partirão
O amor está tocando
O suburbano coração
Será que o amor não tem programa
Ou ama com paixão
Mulher virando no sofá
Sofá virando cama coração
O amor já vai embora
Ou perde a condução
Será que não repara
A desarrumação
Que tanta cerimônia
Se a dona já não tem
Vergonha do seu coração.
Composição:
Chico Buarque
LUZ E SOMBRA do Livro Morangos Mofados de Caio Fernando de Abreu
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