A cara da cidade



Mas por falar em corpo e cara da cidade, lembrei-me de minha, nossa Porto Alegre, do cais do porto, da água escondida por traz daquele muro que fecha os olhos da cidade para o horizonte, para o mundo. Lembrei-me que alguns anos, ainda criança, eu passeava por ali com minha mãe para ver os navios atracarem entre compassos de silencio e buzinas barulhentas. Já li tantas citações e projetos no jornal para a abertura do porto que já perdi as contas. Acho que muitos esbarram em custos altos e interesses políticos, impossibilitando a obra. Li em algum lugar, que circula na prefeitura um projeto para redesenhar os 1.500 metros do Cais Mauá - que será aposentado como porto para virar espaço de lazer, cultura e convivência dos porto-alegrenses. Os armazéns A e B e do Pórtico Central serão recuperados. O novo cais do porto será chamado de Porto dos Casais. Poucos porto-alegrenses sabem que o pórtico do Cais do Porto foi produzido em Paris, no ano de 1919. Possui uma estrutura levíssima de ferro, emoldurada com vitreaux da época. Foi tombado pelo Patrimônio Histórico no ano de 1983. Era a porta de entrada da capital para os viajantes que chegavam a bordo dos das embarcações da época. Mesmo caminhando a passos lentos, a revitalização do porto da capital vem ganhando a atenção das autoridades do governo e das entidades ligadas ao turismo. A mercê de quase duas décadas de discussões intermináveis, tudo continua do mesmo jeito sem uma definição.

O corpo da cidade

Acho que a cidade tem corpo com braços que te esmagam, e às vezes te abraçam. Pulmões que te deixam respirar e te asfixiam em certas horas. Acho que a cidade tem sua própria voz, pelo som que transcorre no seu cotidiano louco. Penso que faço parte desta voz, deste grito desesperado, quando saio pelas ruas da cidade para fazer um socorro. Notei que ambulâncias e carros de policia têm suas particularidades: Fazem os transeuntes virarem a cabeça em suas direções. Preocupadas, assustadas com aquele ruído de alerta indesejado... De saia da frente, de temos pressa de chegar a algum lugar.

11/01/2008

A tempestade chegou cedo da manhã. Primeiro céu nublado então, em torno das seis horas, escuridão, ventania e tudo pareceu desabar em pouco menos de 10 minutos. Chuva forte com vento de deitar galhos de arvores, trovões, parecia que tudo ficaria inundado de uma hora para outra. Lembrei de alguns filmes que assisti e tinham cenas realizadas sob fortes tempestades como a de hoje. Depois fui me escovar, para enfrentar mais um dia de sorriso limpo. Observei minha cara atentamente no espelho e notei o aparecimento de novas rugas na cara, novos fios de cabelos brancos que pareciam não estar ali na semana passada. O tempo passa rápido depois dos quarenta, talvez depois dos trinta... Então fiquei ali, me examinando, me admirando, pensando nestas transformações que não estamos atentos e de repente nos tomam de surpresa. Mostrando que o tempo é apenas um artifício da vida e nós uns idiotas preocupados com o inevitavel.

A Vingança da Coruja.

Achei o texto "A vingança da Coruja."escrito pelo advogado Isaac Menda no Diario Gaucho de 09/01/2008, da maior criatividade e sensibilidade que não pude deixar de postar em meu blog.
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Nei e familia foram passar o fim de ano em Capão da Canoa. Na noite de réveillon, jantaram cedo e se dirigiram para a beira do mar, onde assistiriam ao espetáculo da queima de fogos. Estavam animados e felizes. Nei levava duas garrafas de espumante para os brindes da passagem de ano.
Antes da meia- noite, os comentarios entre o publico eram sobre a invasão de mães-d'agua no litoral gaucho, principalmente em Capão da Canoa. Varias pessoas relataram quemaduras e uma delas narrou o episódio acontecido naquela tarde, quando seu filho de 12 anos foi atacado por uma mãe- d'agua, e mostrou o braço do menino, que ainda tinha sinais de queimadura. Falaram de outros assuntos, como o tempo, a cor do mar, os pasteis, as casquihas de siri, o excesso de pessoas na praia. Olhavam para o relogio na expectativa da meia- noite. Derepente, foi anunciado que não haveria queima de fogos em consequência da existência de um ninho de corujas com filhotes perto do local dos artefatos. Frustrados, voltaram para casa. Nei a todo o momento, bradava que era um absurdo o cancelamento dos fogos por causa de uns bichinhos.
-E daí que fiquem assusados. O problema é das corujas. Quem mandou construir ninho na praia? -falava para a mulher.
No dia seguinte, sentado a beira- mar, Nei ainda curtia uma tristeza pela noite sem fogos. Depois de quatro cervejas, sentiu necessidade de fazer xixi. Olhou para trás e viu um banheiro ecológico. Levantou-se e...resolveu ir para o mar, pois estava mais perto.
-Grande coisa fazer xixi na água. Ninguem vai me ver- dizia para si.
Entrou no mar até que a agua encobriu sua cintura. Baixou o calção e começou a aliviar a bexiga. Logo deu um grito. Alguma coisa queimava seu membro. Saiu correndo em direção ao guarda-sol sem notar que estava nu. E carregando uma mãe-d'agua presa na genitalia. Começou uma gritaria geral quando Nei apareceu pelado na frente dos veranistas. Para os salva-vidas ele implorou:
-Tire essa coisa daí, está me queimando!
O salva-vidas olhou e com um palitinho de picolé, arrancou a mãe-d'agua, comentando:
-Bah, ficou com um aspecto de coruja.

Pedido de Socorro

Fui atender uma senhora de 75 anos que tinha passado mal. Quando cheguei a sua casa toda a família estava a sua volta, nervosos e sem conseguir entender o que se passava. Aproximei-me dela deitada em um quarto pequeno, sobre uma cama estreita de solteiro e um calor escaldante e resolvi abrir janelas e examiná-la em seguida. Tinha a respiração rápida e ofegante, os olhos semi- abertos e cabelos de um branco molhados pelo suor.

Chamei-a pelo nome, tentando indagar o seu estado de consciência e o que estava sentindo e então ela voltou seus olhos para mim, com aspecto de cansaço, num visível esforço de comunicação quase impossível, quase sobre-natural. Percebi naquele olhar um verdadeiro pedido de socorro, uma súplica desesperada em favor de sua vida, em favor de seus filhos e netos que ali estavam, comemorando seu septuagésimo quinto aniversário.

A procura das palavras perfeitas

Estou aqui na sala digitando qualquer coisa em meu laptop. A verdade é que estou tentando escrever alguma coisa em meu blog que vala a pena. Alguma coisa que seja importante pra meu ego impaciente. Daqui ouço meu filho ouvir Marcelo D2 em seu quarto- bagunça, a procura da batida perfeita. Estou tentando também encontrar, não as batidas mas as palavras perfeitas.

Paixão

Naquela noite não conseguia dormir. Cada vez que fechava os olhos à procura do sono, seu rosto aparecia diante do meu, radiante, cristalino, suave, manipulando, puxando minha alma para o seu encanto de sonho. Sentia seu perfume doce no ar, transformando-se em borboletas azuis.
Sua presença forte, seu sorriso de luz.
Cabelos negros em cascatas noturnas.
Cheiro de rosas.
Vulnerabilidade.
Inquietação.
Paixão, doce sentimento que aprisiona homens e destrói deuses.
Naquela mesma noite me apaixonei .
Amanhã não sei..

Amigos especiais

Encontrei uma amiga que não via há muito tempo e foi prazeroso te-la encontrado. Teremos uma nova incumbência, depois deste encontro. Vamos planejar sonhos, traçar metas e idéias que ficaram calados, guardadas nos baús das impossibilidades, nas gavetas dos sonhos, dos ideais esquecidos, substituídos pelas "responsabilidades nossa de cada dia."

Algumas pessoas em especial, tem este poder de nos fazer sonhar, de nos incentivar. Sonhar de verdade sem sentir culpa, vergonha, sem parecer-mos um idiota. Isto é bom, muito bom.

Jacaré fantasma

Hoje transformei-me em jacaré fantasma quando cheguei em casa. Meus sobrinhos estavam brincando na piscina e quando me viram foi uma gritaria geral. Pediram que eu trocasse de roupa e caísse na agua. Obediente que sou, coloquei um calção e bagunçamos por umas quatro horas, até ficar-mos cansados. Deitava de bruços enquanto eles subiam em cima de mim fingindo que eu era um jacaré morto em uma caçada no Mato Grosso e que retornava para se vingar dos humanos que o haviam exterminado. Depois quando estávamos saindo de dentro da agua, pediram -me que fosse outro monstro da próxima vez que entrar na piscina. Acho que serei um imenso tubarão branco com uma grandiosa história de aventuras para contar!


SÃO PEDRO DO ATACAMA - PARTE 2




Depois de cruzarmos a noite pelo deserto, dentro do ônibus, chegamos em São Pedro do Atacama pela manhã bem cedo. A cidade que é um Oasis no meio do deserto e reúne centenas de turistas do mundo todo, parecia estar adormecida. Logo que o dia clareou avistamos ao longe o vulcão Licancabur, o cemitério da cidade a nossa frente, e a torre da igreja, na praça principal à poucos metros.

A igreja pintada de branco com seu interior em madeira de cactos é um legado espanhol, datada de 1744. Já foi submetida a varias reformas e é hoje, um dos cartões postais da praça sem nome no centro da cidade. San Pedro lembra aqueles vilarejos de filmes de caubói mexicano, com construções baixas, paredes e telhados de adobe, ruas estreitas e muita poeira vermelha. Mas não se engane na primeira vista: Existe uma variedade de bares, pubs, restaurantes, pousadas, lojas de artesanato para atrair todo o tipo de turista. Afinas a cidade vive disto. Se durante o dia o calor aproxima-se dos 40 graus, à noite cai para temperaturas quase negativas.


Em torno das 8 horas da manhã já havia movimentação de moradores locais deslocando-se para o trabalho e em seguida iniciamos a incursão pelo centro da cidade. San Pedro do Atacama é o centro cultural atacamenho e portanto precisávamos descobri-la. Batemos perna quase que a manhã toda entre lojinhas de artesanato, prédios culturais e agencias de turismos que nos levassem a outros pontos turísticos do lugar. Depois do almoço fomos à pé, conhecer o Pukara de Quitor à 3 quilômetros do centro da cidade e que é considerado um dos sítios arqueológicos mais impressionantes das Américas por seu tamanho e antiguidade. Seguimos por uma estrada onde notamos o escoamento de água por canaletas que abastece a cidade. Esta água escorre das montanhas por quilômetros de distancia. Depois de caminhar-mos por uma estrada poeirenta e muito sol na cabeça, chegamos ao Pukara de Quitor.


O Pukara de Quitor: é uma gigantesca fortaleza pré-Inca, datada do século XII, e foram construídas estrategicamente nas encostas dos morros e totalizam 2,5 hectares com mais de 160 cômodos, para defender o povo atacamenho dos ataques dos Incas, em 1450. Depois de ocupado foi a vez dos Incas defenderem-se contra os espanhóis nesta mesma fortaleza ocupada. Na entrada da fortaleza tem um posto de controle que vende ingressos para a visitação e um pequeno museu com exposição de utensílios da época.



Segundo informações de um guia, O local ficou conhecido como "Pueblo de Las Cabezas, pois os espanhóis decepavam as cabeças dos caciques e exibiam-nas ao povo sobrevivente, a fim de mostrar sua soberania. No dia de nossa visita, fez um calor de quase 40 graus, que nem o uso de protetor solar foi suficiente para nos proteger.





O retorno ao centro da cidade, fizemos de carro por que tem momentos em que 3 quilômetros parece ter mais três zeros.
Em San Pedro, fechamos o pacote turístico que nos prometeu levar no dia seguinte para conhecer outros lugares nas imediações da cidade e estava incluído: Visita ao Gêiseres Del Tatio com café e bufê, trilha sobre o Vale da Morte e subida até o Valle de La Luna para assistir ao Pôr do Sol sobre as montanhas. Como estávamos num grupo grande, conseguimos um bom desconto.
Como a saída para o passeio seria muito cedo, na madrugada, resolvemos por votação ficarmos na rua e aguardar o horário sem ter de pagar um pernoite por poucas horas de sono. "Ledo engano", percebemos nesta noite, como uma cama macia faz falta!..

Gêiseres de El Tatio:
No outro dia, a Van e o micro-ônibus nos pegou às 4 horas da manhã, no endereço marcado, para chegarmos cedo e apreciar o gêiseres com toda a sua magnitude. Faz bastante frio no complexo do Tatio, onde as temperaturas chegam a ser muito negativas. Informaram-nos neste dia estar fazendo apenas -3 graus com uma sensação de -6 graus por causa dos ventos fortes. Não é à toa que o passeio começa tão cedo, pois é o horário em que os vapores quentes em contato com a temperatura baixa, mostra toda a sua beleza.

Eu e outras pessoas que vinham penando no deslocamento, sentimos todo o tipo de mal estar e dificuldade para respirar, precisamos de alguns minutos para nos refazermos e contemplar toda a beleza do lugar, quando chegamos. A sensação é de que estamos fora de nosso planeta, num lugar cuja a beleza é indescritível. Depois do cafe o pessoal foi para um banho nas piscinas quentes de águas vulcânicas a poucos metros. Este foi pra mim o passeio mais difícil por causa do mal estar da altura e o frio, como também o mais gratificante por constatar tanta beleza. O Gêiser Del Tatio está localizado à 95 quilômetros de San Pedro, a 4.000 metros sobre o nível do mar e é o mais numeroso grupo de gêiseres do hemisfério sul.


Vale da Morte:
Com rara presença de vida, motivo pelo qual leva o nome de Vale da Morte, serve para a prática de sandboard e é disputada pelos turistas para ver o pôr-do-sol do alto de suas dunas. Com cerca de 2 km de extensão, fica no caminho para o Vale da Lua, próximo à cidade de San Pedro de Atacama, a 4 km do centro.


Valle de la Luna:
Localizado a 17 quilômetros de San Pedro de Atacama, na zona da Cordilheira do Sal. É um lugar muito visitado e declarado Santuário da Natureza por sua extraordinária beleza e semelhança com a superfice lunar.

O Salar do Atacama: está a 55 quilômetros ao sul de San Pedro e o acesso é por um caminho que permite observar a impressionante beleza dos vulcões Lascar e Licancabur. Na rota, primeiro deixa-se para trás o povoado Toconao e finalmente chega-se à Laguna Chaxa. O enorme campo salgado mede 100 km de comprimento e 80 km de largura. É o terceiro maior salar do mundo, depois do Uyuni na Bolívia e do Grande Lago Salgado de Utah, nos Estados Unidos.


O Salar do Atacama se caracteriza por seu ar limpo e seco que permite ver o outro extremo do salar a mais 70 quilômetros. Sob o campo de sal oculta-se um lago que aflora em pequenas lagunas; a mais visitada é Chaxa, que forma parte da Reserva Nacional Os Flamingos. Admiráveis são as aves, guallatas, gaivotas andinas, chorlo de la puna, colegiales e flamingos.
Machuca - Esse povoado há mais de 4.000 metros de altura também faz parte de roteiros turísticos que levam aos gêiseres de El Tatio e apresenta construções muito similares às de Río Grande. No entanto, o maior charme desse lugar é o fato de viverem ali apenas 6 habitantes, o que lhe garante um ar de cidade perdida no deserto. As poucas famílias que viviam em Machuca foram deixando o local para garantirem uma vida melhor em cidades maiores do Chile. Os que decidiram ficar sobrevivem da pecuária e de turistas que passam por ali em busca da famosa empanada de queijo de cabra e churrasquinho de ilhamas.


Uma sugestão é visitar a zona entre as 5 h e 7 h da manhã, quando a intensidade dos jorros é muito mais forte e podem alcançar alturas de 10 metros ou mais. Além disso, no setor existem poços termais para um reparador banho na metade do dia.

Toconao:
Um típico povoado colonial a 39 km de San Pedro. É famoso por seu artesanato de pedra liparita de origem vulcânica. A torre do campanário da igreja foi construída com o mesmo material. Ao redor de Toconao está a Quebrada de Jerez, cuja característica são seus peculiares petróglifos. Neste vilarejo há um restaurante e uma casa de alojamento do lado da praça de armas. Por suas ruas se podem ver lhamas e vicunhas dividindo o espaço com as crianças e os jovens.

Primeira manhã de 2008

Hoje pulei cedo da cama e me debrucei no parapeito da janela para ver o primeiro dia de 2008. Quando olhei para a rua percebi que nada havia mudado a minha volta. E que aquela cena, de levantar-se, ir até a janela tinha se repetido muitas vezes na minha vida em fragmentos de dias, meses, anos atrás.
Em algum lugar li a idéia de Nietzche sobre o eterno retorno, ou seja,
que todos os acontecimentos da vida de cada um, e da história da humanidade, irão repetir-se inúmeras vezes; que tudo o que acontece já aconteceu antes e irá se repetir. Porém o escritor Milan Kundera em seu romance, "A insustentável Leveza do Ser" nega esta idéia, dizendo que o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, e que a ausência total de fardo faz com que os movimentos humanos sejam tão livres e leves quanto insignificantes. O que escolher então? Se é que podemos escolher: O peso ou a leveza? Será que podemos decidir?
Desconfio que fizemos parte de uma equação complexa que não sei para que serve e pra onde nos levará.

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...