CRONOGRAMA DE ATIVIDADES.

Um jovem caminha na rua, com uma grande mochila presa nas costas. 
Ele vai ou vem de algum lugar... 
Do outro lado da rua, um idoso, com seu cão de estimação preso a uma guia, caminha no sentido contrario. 
Ele vai ou vem de algum lugar...
Eles se cruzam sem nada dizer um a o outro.
Eles vão ou vêm de algum lugar...
Isto cria alguns pontos de vista neste texto, que não cabem explicações, mas que levam para algum lugar... 
Será que isto tem alguma significação importante, alem de um cronograma de atividades?
Tudo vai ou vem de algum lugar.

ALMAS GÊMEAS.

Existem algumas facetas minhas impregnadas em ti, que ao te encontrar por acaso, ou não, percebo no teu olhar, nos teus gestos, nas tuas atitudes mais cruas. São pedaços de mim, da minha carne, dos meus ossos e nervos espalhados em ti, feito um remendo costurado com finas artérias, que pulsam e reagem aos incômodos da alma que também parece minha.
Dores, alegrias, inevitavelmente compartilhadas em corpos diferentes, mas cuja a alma se parecem similares, noutros momentos tão desiguais.
Alguns atitudes tuas, me levam a embriagues da alegria, outras a uma certa angustia natural de quem se vê e carrega certas culpas que não são de nossa inteira responsabilidade.
Beijar-te, é beijar a mim mesmo no espelho, com certa estranheza. Contrariar-te é dar as costas ao que sou.

A DANÇA DA LAGRIMA

A lagrima lhe caiu do olho e foi descendo pelos frisos do rosto até o canto da boca, como se tivesse vida própria. Seguiu dançando livre como Isadora, sobre o pescoço, a caminho dos seios, atravessou a barriga e umbigo, onde definitivamente parou, formando uma poça salgada.
Há certos balés da vida, que não admitem testemunhas oculares!.. Isto só é possível perceber com muita atenção e olhos fechados.

VINGANÇAS INOCENTES.

Sentia algumas vezes, que era alvo de pequenas e ardilosas vinganças, promovidas por algumas pessoas, mas daquelas vinganças sutis e disfarçadas de atitudes inocentes, cujo o objetivo não era o de destruir, mas de jogos de força ou alguma lição silenciosa de perspicaz intendimento.
Surgiam a o acaso, em doses pequenas, que  em certos momentos pareciam não ferir, mas noutros, surtir um angustiante sentimento de culpa a ser tratado.
Seria por tudo o que não deu certo e pelo tempo que foi perdido?
Já havia experimentado isto, com outras pessoas, o que o fazia repensar sobre te-las do seu lado, no pouco que lhe restava de vida.

OBJETO DE AZAR

Semana passada o corpo de um jovem assassinado, foi encontrado na calçada da rua do lado. Os vizinhos todos comentavam nas redes sociais aterrorizados com a violência que começa a chegar na porta de suas casas. Talvez a vitima não tivesse sido morto ali, mas noutro lugar e depois desovado na rua escura, que muitos passam e temem por assaltos.


Dos pertences da vitima, sobrou um par de tênis, esquecido, jogado na calçada, que ninguém tem coragem de descartado-lo num saco de lixo. Ficou meio que amaldiçoado, um objeto que pode atrair coisas negativas. Sei lá o que as pessoas pensam. 



MARAS, VALE SAGRADO DOS INCAS.


Maras é uma cidade que parece um vilarejo no Vale Sagrado dos Incas, no Peru, a 40 quilômetros ao norte de Cusco. A cidade é conhecida por suas lagoas de evaporação de sal, suas casas e a igreja,  que parecem uma grande escultura de argila vermelha feitas à mão, perfiladas em ruas estreitas da mesma cor. 


As pessoas que nela vivem, são de aspecto simples e te observam como se tu viesse de um planeta distante, até cumprimenta-las com um simples movimento de cabeça ou um sorriso de simpatia. Não puxam conversa a toa, mas respondem expressivamente ao primeiro contato.
Idosos sentados na calçada, crianças com trajes típicos ou uniformes escolares, desfilam pelas ruas empoeiradas dando seguimento a suas rotinas.
Maras te reporta a solidão de viver num lugar parado no tempo e de beleza impar. É também o caminho para as Salinas de mesmo nome e o sitio arqueológico Moray, uma especie de estação de experimentação agrícola, até hoje não comprovada.

FÚCSIA.

Abriu a porta e saiu sem dar explicações de onde ia, caminhava na ponta dos pés, pelo corredor do edifício, como se não quisesse chamar a atenção. 
Cruzou a rua parecendo em fuga e foi de encontro a ele, que não tinha rosto dentro do carro de janelas escuras.
Da sacada, alguns curiosos a observavam silenciosos, o que parecia ser o seu mais recente segredo.

PRENÚNCIOS DA NATUREZA.

Um vento brando movimentava as arvores daqui, perto de casa, numa tarde ensolarada, em que homens gritavam em suas praticas esportivas, crianças corriam e cachorros latiam. De repente o vento soprou mais forte fazendo com que as arvores se inclinassem mais do que o normal. Delas saíram pequenas partículas flutuantes, que ao se aproximarem dos meus olhos, percebi tratarem-se de plumas de pássaros que levitavam no ar, indo para o leste. Os pássaros começaram a voar de todos os lados alvoroçados.
Este deve ser um acontecimento corriqueiro da natureza, que quase não percebemos, porque nossos olhos estão voltados para dentro, à espera de outras transformações, pensei. A desatenção,  nos faz perder certos prenúncios ocasionais de mudança. A chuva caiu impiedosa, minutos depois, parecendo que iria acabar com o mundo.

CUIDADOS REDOBRADOS.

Por alguns instantes, percebeu-se entrando em zona de conflito interno, que inúmeras vezes não conseguia controlar, disfarçar. Iniciava com uma certa tensão, que ia tomando-lhe o espaço até não conseguir mais respirar, deixando-o em completa desordem.
Longe de casa, do seu mundo particular, afastado de amigos, que lhe proporcionavam algum conforto e segurança, era possível relaxar, se mostrar e até cantarolar alto, errando as letras; Mas ali, cercado daqueles estranhos cordiais, cheios de sorrisos e gentilezas, não era possível ser ele mesmo e mergulhar em voos rasantes de suas verdades, era necessário redobrar cuidados e atenção, inclusive de si mesmo para não se trair.

PRENUNCIO DE DIAS PIORES


Às vezes, perdia-se de si, esquecia quem era e pra onde estava indo. Não reconhecia as pessoas, as ruas, os prédios, os cheiros que compunha a cidade, agora transformada num mundo estranho a sua volta. 
Perdia o norte e ficava girando feito uma bussola desorientada, ate encontrar um refúgio, uma porta fechada, uma parede que lhe parecesse sólida, para também apoiar-se e esticar as costas tensas que doía.
Forçava por alguns momentos, lembrar-se do objetivo que tinha, quando levantou da cama tão certa de si, trocou de roupa e ganhou a rua de cabelos soltos, boca pintada, com algum propósito debaixo do braço e uma certa apreensão contida.
Era somente disto que lembrava?..
Desconfiava que estava a beira de um colapso, pois não era possível aqueles esquecimentos repentinos, que a despersonalizava, deixando um grande vazio da sua existência e preenchidos pelo barulho desenfreado da cidade.
As pessoas olhavam-na como se percebessem que algo estava errado.
Sua cabeça girava e transformava suas lembranças num monte de pó, a se perder no vácuo.
Algo de pior estava por vir, pensava apreensiva enquanto caminhava sem rumo. Os esquecimentos eram algum prenuncio de dias muito piores a lhe surpreender.

DUETO DE CORDAS.


Quando ele passou distraído, sem perceber que estava sendo vigiado, ela escondeu-se entre os eucaliptos sem perde-lo de vista. Pensou consigo mesma, enquanto observava-o se distanciar:
Homens tem o caminhar firme e um cheiro próprio de homem que não conseguimos definir. Pele áspera, pelos que arranham na hora do carinho.
Reproduzem um som de violoncelo quando estão parindo poesia a o seu modo, em nossos ouvidos.
Dão-nos uma certa dor que temos que suportar quando se entregam e mostram seus segredos de dominação natural.
Pra nós, fica a habilidosa tarefa de tocar violinos sem desafinar a musica.

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