DÊ SORVETE AOS PASSARINHOS.

Eu e meu colega aguardávamos nossos sorvetes de cascão com duas bolas ficarem prontos, durante uma rápida paradinha na vila Bom Jesus, quando percebemos a presença de um menino, observando na porta de vidro da sorveteria, todo a preparação que a moça atendente fazia, enquanto listava pra nós, os sabores disponíveis. O menino franzino, que parecia um passarinho, permanecia calado, do lado de fora, assistindo a tudo, sem manifestar nenhuma atitude. Parecia em alguns momentos estar petrificado
Então lhe perguntei se queria um sorvete e ele ainda sem nos olhar, sacudiu a cabeça positivamente. Tinha seus olhos fixos apenas nos sorvetes que estavam sendo preparados pela moça.
Quando saímos da sorveteria, com os nossos sorvetes, ficamos observando-o passar por nós, dando saltos de alegria, que parecia uma tentativa de alçar voo, enquanto equilibrava com as duas mãos, aquele enorme sorvete-cascão, que começou a dividir com outros dois passarinhos que se aproximavam numa esquina.


Enquanto eu comia meu sorvete, fiquei pensando por alguns instantes, calado, que se uma imagem daquela, um olhar, um gesto, um silencio que for, não nos sensibilizar e não nos fizer apostar num simples desejo de criança, que pode ser grande pra ela e tão pequeno pra nós, então não vale a pena perder tempo com mais nada. Devemos mudar de caminho, fechar nossos olhos e seguir no escuro, até a morte vir e nos negar, quem sabe, um simples sorvete.

RELEMBRANDO PARIS.

Quando eu coloquei os meu pés em Paris pela primeira vez, eu não acreditei que estava lá. Pra dizer a verdade, em todos os outros lugares que visitei pelo mundo, fiquei incrédulo até que algo se identificasse pra mim fazendo-me ter certeza de que eu estava no lugar que escolhi para visitar. Era como se faltasse uma peça que não se encaixava no mosaico da minha satisfação, até eu encontra-la. 


Em Paris inicialmente, todas as sensações me levavam a acreditar que eu estava num lugar comum, andando por ruas cheias de carros e pessoas diferentes, falando em vários idiomas, algumas com roupas exóticas, ruas sujas, algumas com o esgoto correndo a céu aberto, ladrões e golpistas, o que poderia ter em qualquer lugar, menos na Paris que eu havia idealizado.


Eu estava hospedado em Crimée, na 19ª arrondissement, que me parecia uma localização difícil, quando não se domina o idioma e também não se está acostumado a andar em metrôs, que trafegam no subterrâneo e daí não visualizamos pra onde estamos indo. Também me faltava alguma referencia visual que eu não sabia dizer o que era, para que eu e a cidade fossemos enfim apresentados. Uma estranha sensação de desconforto, que durou uns dois dias, até surgir a primeira identificação.


Numa tarde, passeando com alguns amigos por uma das ruas que levam a Champ de Mars, localizei um dos pés da torre de ferro, que aparecia pela metade e logo sumia por de traz de alguns prédios antigos, criando alguma coisa meio inexplicavelmente assustadora, dentro de mim. 
Este jogo de esconde esconde, durou alguns minutos, até chegarmos diante daquele gigantesco monumento, que me deixou quase paralisado, com toda a sua estrutura apoteótica. 


A tarde já estava acabando e com o sol se pondo, quando decidimos subir na torre, que naquele dia e horário, havia pouquíssima concorrência de turistas. Quando a noite chegou e as luzes da torre foram acesas, a visão lá do alto mostrava, o por quê Paris é chamada de A Cidade Luz.
Enxergávamos o belo desenho da cidade, o rio Senna,  o Palácio de Chaillot, o Trócadero, o Arco do Triunfo e tantos outros monumentos espetaculares, que a cidade podia mostrar iluminados e que ainda iriamos conhecer nos próximos dias.


Mesmo sendo uma estrutura segura, subir na torre não deixou de me dar aquele friozinho na barriga que eu não sabia dizer se era por causa da altura, ou por estar sobre algo que representa tanto na cultura e historia mundial e de um país como a França.
Naqueles momentos em que estive diante dela e sobre ela, pensei comigo em silencio; Agora sim, cheguei em Paris!

GAVETAS CHAVEADAS

Ela era feita de muitas gavetas que alguém abriu um dia, vasculhou, fechou, depois esqueceu onde guardou as chaves. Ela só precisava conhecer o que tinha em seu interior que o fizera desistir sem dar explicações. Era somente uma curiosidade que lhe tirava o sono e às vezes comprimia-lhe o peito de angustia.

COPIANDO, COLANDO E COMPARTILHANDO.

Por que as pessoas repetem tanto, o que outros já disseram nas redes sociais?. Copiam o que os outros escreveram e faz da opinião alheia a sua própria opinião, sem nenhum senso critico e ainda sem acrescentar o minimo de criatividade, de personalidade. Vão apenas copiando, colando, compartilhando, contaminando e acreditando numa ideia que não sabe de onde surgiu e pensando que isto vai trazer alguma diferença pro mundo. 

A RAZÃO DE EU ESCREVER TANTA MERDA.

Sabe por que eu escrevo tanta inutilidade aqui neste blogue? Não, não é paras as pessoas lerem e aplaudirem, me acharem o máximo, ou para obter milhares de seguidores e assim me tornar uma pessoa popular e ser entrevistado no programa do Jô.
A verdadeira intensão de escrever tanta merda, é eu ouvir a minha própria voz.

CONTO DE FADAS.


Acreditem, que em pleno século XXI, mesmo cansadas, deprimidas, desrespeitadas, magoadas, desconfiadas, muitas mulheres ainda com um resto de entusiasmo, acreditam que irão encontrar o homem de seus sonho? Aquele cara inteligente, bonitão, honesto, trabalhador, sedutor, sexual incansável, fiel, que as livrará das dificuldades e atrasos do passado, que abrirá oportunidades, que transformará seus sonhos numa realidade completa de vitórias...
Bom, sonhar é livre e se tem que sonhar, que seja com o que há de melhor pra sonhar. Se o príncipe tiver a metade das qualidades almejada, considere-se uma privilegiada.
Mas nos dias de hoje, é bom ficar em alerta, pra não andar no conto de fadas e cair no do vigário. Está difícil para os dois lados.
As fichas ainda não caíram? Este cara não existe mais e se existisse, o Cristiano Ronaldo já teria pego.


FELPUDA.

Ainda nesta vibe do Diz Croquettes, abri minha gaveta de memórias e de repente sem esforço, a o natural, deparei-me com uma lembrança de mais de 30 anos. Alguém se lembra, ou já ouviu falar de Luíza Felpuda? Não, eu acho que não!.. Nem eu lembro do seu rosto, mas sei de sua história!
Felpúda era um conhecido travesti de Porto Alegre e descendente de uma família ilustre do estado, que mantinha uma casa de encontros para homossexuais em pleno anos 60. Felpuda era respeitada, mas também evitada.
Foi morta por seu jovem amante com varias golpes de faca. Além da morte trágica, Luíza Felpuda foi fadada ao esquecimento pelo que foi e representava.

CAFE FRIO E SEM AÇÚCAR, EU PASSO...


Chega de ranços, de margarina e chimia misturadas no pão, de correntes solidarias no Facebook, das mesmices, das queixas que ouço diariamente, da violência nas ruas, do estupro, do desaparecimento de alguém, de atropelamentos com mortes.
Tá na hora de abrir a porta e ir de encontro as novidades positivas e a tantos outros prazeres que a vida pode oferecer e contar.
Se me vierem com chorumelas, dor disto e daquilo, da gotinha de sangue encontrada no vaso sanitário, tô fora, tô saindo pela porta de emergência.
Em 2017, quero ouvir e viver coisas novas, conhecer pessoas, viajar mais, experimentar coisas que ainda não experimentei. Então não venha com café frio e sem açúcar, que eu passo pro uísque sem gelo.
Mas isto são planos, vamos que caia um meteorito sobre a Terra?

DZI CROQUETTES.

E eu estava aqui na ponta do pais tomando chimarrão e aprendendo a dançar chula, quando aconteceu esta revolução de costumes. Eu queria ter visto este show de perto e não pude ver, por que se deu no Rio de Janeiro por tão pouco tempo, antes da censura se dar por conta e proibir. 


Na década de 70, mais precisamente em 1974 no Rio de Janeiro, treze homens jovens, másculos e peludos entravam no palco com figurinos glamourosos: Saias curtas, sapatos altos, maquiagem carregada (purpurina, enormes cílios postiços) e corpos quase nus, em plena vigência do ato institucional nº 5, na ditadura militar no Brasil.
Em poucos anos, foram responsáveis por uma revolução de comportamento, libertando-se de valores morais com relação à masculinidade e feminilidade,


O grupo chamado Dzi Croquettes era composto por Lennie Dale, Wagner Ribeiro de Souza, Cláudio Gaya, Cláudio Tovar, Ciro Barcelos, Reginaldo de Poli, Bayard Tonelli, Rogério de Poli, Paulo Bacellar, Benedictus Lacerda, Carlinhos Machado, Eloy Simões e Roberto de Rodriguez.
A androginia do grupo chocou as autoridades do regime militar e o espetáculo foi censurado. O grupo se exilou então em Paris, onde reestreou a peça e se apresentou no Le Palace com grande sucesso.


O grupo acabou esquecido por mais de duas decadas pela falta de memória nacional, porém no ano passado, voltaram a ser lembrados através de um documentário premiado pelo juri e publico do Festival Rio. O nome Dzi Croquettes surgiu, quando dois de seus componentes, Ribeiro e Tonelli encontraram-se na Galeria Alaska, tradicional ponto gay em Copacabana. A inspiração veio de uma banda dos anos 60 de S. Francisco, chamada The Croquettes, que resolveram aportuguesar para Dzi Croquettes

PRA QUE DISCUTIR COM A MADAME?

A madame viaja de ônibus ou de carona e chega disfarçada de boa camaradagem, sedução e idéias prontas, articuladas como o movimento elegante de suas pernas. 
Tenta enredar em suas teias, contando historias destorcidas e algumas pitadas de veneno.
Tem oito pernas para saltar, oito olhos para vigiar.
Seu coração é endurecido e ciumento, busca fazer seguidores para as suas crenças e propósitos egocêntricos. É mal resolvida em seus afetos e no seu olhar, carrega um brilho que violenta, o pico da piramide, o veneno da aranha, que paralisa suas vitimas.
É sutil, ardilosa, elegante. Usa batom vermelho, faz trico com gestos elaborados e bebe cerveja ouvindo jazz. Pra que discutir com a madame?

UM SONHO EM PARTICULAR

Como é possível alguém do presente, invadir com um jeito envaidecido, meu sonho particular? Era somente um sonho esta manhã, que acontecia no passado e que me fez reconhecer tudo em volta e chorar de saudades.
Ah!... Não venha comer minhas amêndoas e beber  todo o meu suco de uva...

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TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...