Desencontros.

As veze estamos sozinhos, precisando de uma companhia para dividirmos as angustias ou compartilharmos do silencio e é  ai nestes momentos, que todos parecem estarem ocupados. Telefones não são atendidos, mensagens não retornam, nos condenando a dor e ao isolamento. Que leis são essas que nos amargam desencontros, que nos transformam em bichos acuados? Mas daí que no outro dia, tudo se inverte, o que fazer senão descartar a amargura?..

Sinais proféticos de verdade

É oito horas, eu chego na janela do apartamento à procura de sinais e onde estão os sinais?... Olho pra baixo e vejo o instrutor arrumando as balizas para iniciar sua aula pratica de direção, do outro lado da rua. Olho para a direita e percebo a mesma tranqueira no trafego da avenida Ipiranga, o sol se incidindo na mesma direção sobre a minha janela. Sabe de uma coisa, eu acho que nada vai mudar, se fosse mudar, alguma coisa desta rotina habitual estaria diferente, haveria um sinal mais perceptível. A avenida Ipiranga estaria vazia, ou os carros estariam andando no sentido contrario, o instrutor estaria fazendo peripécias de circo e eu talvez nem estivesse acordado tão cedo como sempre faço. Isto tudo me parece um sinal obvio, de que nada mudou, nem vai mudar tão cedo, haveria de ter um sinal pelo menos surpreendente que me fizesse acreditar em alguma mudança verdadeira.

Um preságio, um mal sinal.

Não, hoje eu não quero escrever mais nada neste blog, alem disto que sai agora como um desabafo, um suspiro de cansaço, por que me sinto esvaziado. Eu comecei a ter esta sensação logo que acordei, mas se evidenciou à tarde, quando minhas vísceras deram os primeiros sinais, que não valorizei, enquanto caminhava sobre aquele grosso tapete de propagandas politicas espalhados pela rua. Era um presagio, um mal sinal Então foram feitas as escolhas e eu me pergunto se era este o resultado que todos queriam? Quando retornava para casa, encontrei um senhor conhecido, que me disse o seguinte; Deveriam nos pagar  para votarmos, já que não elegemos políticos, mas carteis que vão mandar na nossa cidade! Em seguida me veio à cabeça, a ultima lei sancionada pela administração municipal, que restringe o uso do Largo Glênio Peres, um espaço publico tanto tempo esquecido e que pertence a o povo desta cidade, para o uso de manifestações culturais e politicas, que são elementos fundamentais para liberdade de expressão democrática.

Sarau em Guaíba.

Recebi o convite por telefonema ontem de noite e minutos depois, caiu uma chuvarada tão forte, que eu pense; Vão me ligar novamente, desfazendo o convite, mas não aconteceu. Fomos ao sarau da Denise do outro lado do lago. Assisti a apresentação de talentos acomodado na fila de cadeiras pretas, estufadas e fiquei pensando que cada um tem um artista dentro de si que precisa ser mostrado, apreciado, aplaudido, é uma das formas que as pessoas tem de se sentirem amadas, respeitadas e socializarem o que gostam de fazer. Gostei particularmente das apresentação de tangos argentinos acompanhados de teclado e gaitinha de boca e depois de uma outra apresentação solo de gaita e violão (a la Borguetinho). 
Não falei com a Denise que é a curadora do evento, que funciona já a cinco anos no museu da cidade, somente com a sua filha Hana, simpaticíssima, que cantou Esquadros da Calcanhoto no finalzinho do espetáculo e depois saímos com Josué e Welinton para jantarmos. O bate papo animadíssimo  regado a cerveja bock, obrigou-nos a aceitar seu convite para irmos até sua casa e continuar...
Encontramos um violão de desenho delicado, cuja afinação e som especiais são atribuídos a um parafuso que lhe foi colocado. Cantar é muito bom e parece limpar a alma.

DESAMARREM OS CACHORROS.


Depois da minha visita a exposição de Miguel Rio Branco, no Santander Cultural, aceitei o convite de um amigo, para visitar a Praia de Ipanema, na zona Sul de Porto Alegre. Saímos do Bom Fim, até o Santuário Madre de Deus, ouvindo Sidney Magal e Tim Maia, no radio de uma Kombe e depois seguimos até Ipanema cuja a água e a orla me pareceram mais limpas e menos movimentada do que das outras vezes que estive por lá de visita. Também era uma sexta-feira de tarde e desta forma, o movimento de pessoas na praia e o trafego de veículos, estavam menos ostensivos que nos Sábados e Domingos, quando costuma lotar todo o trecho de acesso a praia.
Caminhando pela orla meio vazia, eu fiquei lembrando de alguns momentos da minha infância  em que eu passava com a família por ali, para aproveitarmos os belos dias de sol em grandes piqueniques numa caminhonete DKV.


Nesta época, eu com meus dez ou onze anos de idade, lembro-me de uma situação que me deixou muito envergonhado, impedindo-me de retornar a este lugar depois de me tornar jovem. Essas mazelas emocionais que adquirimos, pela falta orientação necessária, mas que depois passa!...
Eu era criança e lembro de estar sentado na areia, num desses dias de veraneio, quando percebi dois cachorros que se arrastavam, parecendo terem sido amarrados pelos rabos. Eu fiquei muito apavorado com o que me parecia uma maldade humana e gritei para todos os que estavam presentes, que os desamarrassem para não se machucarem ainda mais.
Houve um silencio geral, depois seguido de largas gargalhadas por causa da minha inocência, que foi mais encarada evidentemente, como uma estupidez. Depois levei uma daquelas xingadas, sem entender  o porquê.


Sou desses tempos, em que se aprendia sobre as coisas da vida, aos trancos e barrancos e quase sem nenhuma explicação, tempos em que a esperteza e o código de olhares com silencio, era uma arte e sinônimo de inteligencia, alem de outros valores invertidos. Tudo bem, eu sobrevivi com alguns defeitos evidentes e não mais recuperáveis, mas sobrevivi.


Ainda hoje pela manhã, na exposição do Miguel Rio Branco, no Santander, uma fotografia com cães grudados, me fez lembrar desta situação, e depois ir até Ipanema onde vivenciei esta experiencia desagradável a tanto tempo atrás, me fez refletir que certas situações se incidem na nossa vida para reviver e reorganizar certos erros e mal entendidos a que somos submetidos. Acho que é uma especie de chance dada, para nos perdoemos de culpas do qual nem somos responsáveis.



PONTO CEGO.

Nesta sexta-feira, dia internacional da cerveja, levantei cedo para compromissos inadiáveis. Depois de tudo resolvido, ou ao menos encaminhado, decidi dar uma passada no Santander Cultural, na Praça XV, centro de Porto Alegre, para reencontrar um amigo de viagem e ver a mostra de fotografias, desenhos, pinturas, colagens e videos do artista plastico Miguel Rio Branco, chamada de Ponto Cego. Primeira surpresa, o Santander estava intencionalmente quase às escuras, para que as obras do artista se tornassem ainda mais evidentes ao olhar dos visitantes.


São 110 obras, numa multiplicidade de cores, simbolismos e efeitos, retratando os que estão à margem da sociedade e que poucos tem curiosidade ou interesse de conhecer, fora de uma exposição, esta realidade tão cruel. Os painéis de fotografias principalmente e que mais chamou-me a atenção, retratam a tristeza, a pobreza, a prostituição, a ternura, marcas da violência, sedução, relações interpessoais marginalizadas e outros sentimentos transmitidos através de expressões oprimidas, resignadas, degradadas e identificadas nos semblantes castigados pela vida, nos olhares e gestos, marcados por uma falta de esperança que são imposto aos excluídos, aos que não possuem chance de uma melhor escolha.


O trabalho do artista é tão vibrante e a mesmo tempo tão impactante, que nos faz pensar em como tudo aquilo pode ser possível. A fotografia de um cão sarnento e abandonado na rua, assim como a de um homem sentado bêbado ou talvez drogado na calçada, colocam-lhes na mesma posição de desleixo e de abandono. Mulheres com cicatrizes pelo corpo e pelo rosto, marcadas por uma violência com impunidade e desumanidade. Detentos aprisionados em uma cela, como se fossem animais, crianças maltratadas, homens esmagados nm coletivo como se fossem simples cargas...


As obras que foram produzidas entre 1986 e 2012 para compor a exposição, são tão aflitivas quanto educacionais, no sentido de nos forçar a uma reflexão profunda e pessoal desses fatos que modelam uma sub-sociedade perversa e que alavanca regras e costumes tão violentos e aquém da nossa realidade de confortos e modernidades.


Alguns desses trabalhos fotográficos resgatados pelo artista, no Pelourinho em Salvador, em Cuba, e no Deserto do Atacama no Chile, mostram que a pobreza e a exclusão social não possuem fronteiras geográficas,  que pessoas apresentam atitudes, reações e sentimentos semelhantes independente de raças e nacionalidades, quando lhe são negados dignidade.


Bom, eu não acredito em simples coincidências e acho que o nome da exposição veio a calhar numa perfeita elucidação da realidade, já que ponto cego em particular é uma obscuração do campo visual, uma parte do campo de visão não percebida. O trabalho de Miguel Rio Branco vai alem da perfeita performance estética, mas como uma denuncia de cunho artístico, na sua mais intensa profundidade, sobre esses desdobramentos sociais e humanos a serem questionados com atenção. E nossa.., o olhar deste cavalo me pareceu estar dizendo tantas coisas!..

A chegada do Outubro.

Setembro se foi e já faz quatro dias que convivo com o Outubro, que me parece uma fotografia em branco e preto, cujo os dias são cinzas e de noite faz algum frio. Um período de contemplação, de convivência parcimoniosa entre a alegria e a melancolia, a mescla dos dois sentimentos em doses aceitáveis de convivência, parecido comigo. Outubro chegou me pondo de mãos amarradas, impondo esperas, resguardos, me proibindo de tomar decisões antecipadas, abrindo e fechando janelas que rangem ao entardecer dos dias. 

Na beira do Dilúvio em pleno ataque de nervos.

De onde surgem os surtos coletivos, de amigos influenciáveis, da mídia, do inconsciente coletivo, de algum vírus desconhecido, ou da gente mesmo, do nosso interior, que tenta reprimir ao máximo a chateação com Lexotan, Fluoxetina, Diempax e que de uma hora para outra, deixa de funcionar pelo excesso de sobrecargas emocionais e fazem as pessoas jogarem tudo pro alto, explodirem publicamente para quem quiser assistir ao show gratuito?
Eu agora vou falar é das placas de propagandas politicas espalhadas por toda a cidade, que não é nenhum segredo a insatisfação da população que se vê intoxicada com esta poluição visual por todos os lados por onde se olha. E não só nas ruas, os panfletos, santinhos e mensagens, superlotam a nossa caixa de correio e invadem nossos celulares inoportunamente. Seriam elas, as propagandas, o estopim para deflagar alguma explosão desta natureza? Não, não se pode afirmar, acho que qualquer motivo, até o mais banal, pode acender o estopim da bomba. Eu entendo que os candidatos precisam se fazerem conhecer, mas há de se pensar em outros métodos menos invasivos e mais eficientes... Ontem eu vinha pela avenida Ipiranga, nas proximidade da universidade da PUC, quando percebi a presença de um jovem no canteiro central, que margeia o Arroio Diluvio, caminhando como se fosse um robô e que por vezes, fazia gestos que lembravam uma luta marcial. Andando quase em linha reta, ele seguia na direção das placas de propaganda politica enfileiradas, que simplesmente não desviava, atropelava todas, sem olhar pra traz e constatar se realmente tinha concluído seu objetivo, que aparentemente era destruí- las. Ele deve ter derrubado pelo menos umas cinco ou seis e seguia em frente sob os gritos e buzinaços dos motoristas que dirigiam pela via movimentada naquela hora da manhã. Eu não estava portando minha maquina fotográfica para registrar a cena e mesmo que estivesse, não seria possível, pois eu estava no volante, em silencio de surpresa, sentindo-me fazer parte daquela massa exacerbada. Eu fiquei pensando que a atitude do rapaz, provocou um verdadeiro alvoroço em quem passava de carro naquele momento, que eu não sei explicar se de revolta ou de apoio a depredação. Nestes surtos coletivos cada um tem seus motivos pessoais, fomentando as grandes massas a tomarem atitudes descabidas, talvez este não fosse o caso, mas abre um precedente a se pensar.
A proposito, eu li no site da RBS, que em 2010, o lixo produzido pelas campanhas eleitorais não pode ser reciclado. Apesar de serem compostos basicamente por plástico, papel e madeira, os cavaletes, placas e santinhos ao serem jogado nas ruas, tornam-se poluídos em função de sujeira como areia, poeira etc. O material era levado para um aterro sanitário. Atualmente não sei se o procedimento será o mesmo no final das eleições.

Mais arte nas Ruas de Porto Aegre

Quem anda por Porto Alegre e possui um olhar mais atento, deve ter percebido alguns painéis, (outdoors), espalhados em alguns pontos da cidade, exibindo pinturas de antigos artistas gaúchos  Esta ação acolhida pela secretaria Municipal da Cultura, foi presenteada pelo Grupo LZ, que comemorou 40 anos de atuação no mercado de mídia, inserindo esta ideia no Projeto Arte nas Ruas, que a cada mês, escolhe cinco artistas para colorir a cidade. São 21 obras de 14 pintores escolhidas pela Secretaria Municipal da Cultura. Esta ideia alem de reavivar as obras de artistas da Pinacoteca Aldo Locatelli, transforma o cenário urbano numa especie de galeria de arte a céu aberto. Atualmente os painéis podem ser encontrados no Parque Marinha do Brasil, Parque Farroupilha (Redenção), Parcão, Centro de Cultura e a Praça Carlos Simão Arnt. O de minha preferencia é o que mostra a antiga ponte de pedra.

Quanto tempo leva para a fluoxetina fazer efeito?

Neste mundo globalizado, a sociedade é uma grande empresa de representações, subdividida em pequenos departamentos representativos em busca de seus interesses sócio-econômicos. Construíram grandes salas com terminais de computadores para responder a estas demandas. Treinaram pessoas para se tornarem representantes orgulhosos destas representações que viciados nestas rotinas, seguem manuais de orientação, levam para o seu dia a dia metas e exercícios, que são aplicadas aos seus vizinhos, filhos, cônjuges e animais de estimação. Transformaram-se em células multiplicadoras dessas representações. Meu Deus, quando é que a minha fluoxetina vai começar a fazer efeito? São gerentes, síndicos, supervisores, operadoras de telemarketing, seguindo normais e traçando interesses cujo o alvo é a gente.

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...