Sem título

Eu fiquei tentado a fotografar o homem que atendi ontem e sua casa que era pior que um deposito de lixo, mas acabei por desistir. Fazia seis dias que não se alimentava e seu ultimo cardápio tinha sido cascas de batata que arrecadara no lixo de um vizinho. De tão magro e debilitado, era possível contar suas costelas salientes no tórax. Quase não conseguia levantar do que chamava de cama. Me contou ser usuário de crack,  HIV positivo e mais uma infinidade de doenças oportunistas.
Eu quase pedi para fotografa-lo e também sua casa, mas bati em meus princípios éticos e de respeito à privacidade, etc., etc.., que me põe desconfortado para algumas atitudes mais ousadas, como fotografar estas situações lastimáveis a que sou exposto quase que diariamente pelo tipo de trabalho que faço; mas por outro lado, fiquei pensando que seria instrutivo mostrar, a que ponto da vida chega o ser humano, diante da total desistência e abandono, colocando-se no mais alto grau de privação.

Burocratas da moralidade

Tô passado com alguns colegas de cabelos grisalhos e que ficam encostados no portão que as vezes cruzo. Eles falam tantas bobagens e sobre sacanagens alheias. Eles no fundo gostam destas proibições que eles mesmos inventaram e que para outros, pode ser alguns simples recursos para aumentar a felicidade. 
Eles se escondem atrás de suas mascaras de homens de dignidade que criticam e fazem piadas morais, embora abram pequenos fios de possibilidades que os  excitam a cometerem o que eles mesmos  chamam de sujeira. Também não é a toa que não fixam o olhar em ninguém e a nada, com medo de serem flagrados em seus pensamentos silenciosos.

Vida de cachorro

Quando conheci Bicudo, ele se chamava Rex, mas quando olhei para ele e percebi que um cão daquele porte, pequeno mas entroncado e forte, olhar desconfiado e focinho comprido lembrando  de um tatu ou um Bull Terrier inglês, pensei que ele jamais poderia ter aquele nome, tão simplificado de um cão  franzino e sem personalidade. Foi daí que eu o apelidei de Bicudo e assim ficou, um cão que atende por dois nomes.
Bicudo, não tinha nenhuma namorada, até chegar a Raíssa, uma cadela vira-latas e de pelagem amarela, que como ele, também foi deixada no pátio, onde funciona uma das bases do Samu, na Lomba do Pinheiro. Raíssa tem uma personalidade muito juvenil  e de tão brincalhona que é, só serviu para amizade e despertar o espírito de proteção em Bicudo. 
Acho que eles nunca transaram, embora ele até tentasse!..
Bicudo só despertou sua sexualidade e instinto machista, egoísta e dominador, quando surgiu uma outra cadela, de porte grande e aparência mais velha,  com jeito de experiente na arte da sacanagem, que apelidamos de Cadelona. Na verdade esta outra cadela, não foi muito aceita, pela equipe do Samu, que adotou Bicudo (e que inclusive tem plano de saúde); mas quando ele a viu, transando com outros cachorros que a perseguiam na rua, ele pirou de vez e passou a brigar com cães até maiores do que ele,  para também conquistar seu espaço junto a Cadelona. Inúmeras vezes, ficou desaparecido por dias, causando preocupação e a desconfiança de que  seria encontrado morto, esticado no meio da rua, atropelado por algum carro. Até que voltava todo machucado, magro e com cara de piedoso.
Algumas semanas se passaram, até Bicudo reaparecer com a Cadelona em sua companhia, dentro do pátio. Relação firmada, fazia sexo a todo instante e dava sua casinha de madeira, para a amada dormir, enquanto ele se acomodava em constante vigia ao relento. Dividia sua comida e tinha crises de ciumes quando um outro cachorro se aproximava.
Neste período, até Raíssa  foi esquecida e nem se aproximava do seu espaço de domínio. 
Mas sua paixão não durou para sempre, e um dia até a Cadelona foi deixada de lado e depois rejeitada. Expulsou-a de sua casinha e nem a comida quis mais dividir. Esta semana, Bicudo voltou a dar suas fugidas, não come direito, voltou a emagrecer e surgiu com o corpo todo machucado, provavelmente em luta por uma nova conquista.

CASCATA DA PEDRA BRANCA EM TRÊS FORQUILHAS.


No Sábado pela manhã, dia 02/04/2011, fui fazer o passeio pela Rota do Sol, em direção a Três Forquilhas, cujo roteiro eu havia idealizado no mês passado e que foi adiado em função dos fins de semanas chuvosos. A rota inclusive foi planejada com a ajuda de um colega de trabalho o Eduardo Justin, que foi guarda florestal na região e desenhou um mapa de orientação à mão pra mim,  com algumas referencias de lugares bacanas que eu deveria conhecer, mas que em decorrência do pouco tempo, (um dia apenas), se tornaria difícil de conhecer todos. Tudo é muito bonito lá pra cima e a gente fica tão admirado, que quando percebe as horas já se passaram e não deu tempo pra ver tudo!
Saí em torno das 9 horas da manhã de Viamão pela RS 118, até a BR- 290 (Freeware) em direção à BR-101, com seus dois novos túneis que deram um aspecto de primeiro mundo à  rodovia, depois cheguei na Rota do Sol, que cruza por cima da BR- 101 em forma de um viaduto. A Rota do Sol foi inaugurada em 2007 pelo governo do Estado  se tornando o orgulho do povo gaúcho, depois de uma espera de 38 anos. Neste ponto de acesso da BR 101 para a Rota do Sol é preciso estar atento, pois há pouca sinalização.


De Viamão, até o acesso à Rota do Sol, em Terra de Areia, (ponto de partida  para quem vem do litoral com destino à Serra), são mais ou menos 141 quilometros e  até  Três Forquilhas mais 7,3 quilômetros de rodovia com asfalto liso, bem sinalizado e alguns controladores de velocidade.
Entre tantas placas na Rota do Sol, uma indicava o acesso à Três Forquilhas e a  Cascata da Pedra Branca, na altura do quilômetro 58, que eu tinha curiosidade de conhecer.


Três Forquilhas é uma cidade pequena, limpa, de aspecto organizado e com uma igreja matriz na área central, como qualquer outra cidade do interior do Rio Grande do Sul.  Sua economia baseia-se principalmente no cultivo de hortifrutigranjeiros,  em pequenas propriedades locais e sua formação étnica, é basicamente de descendentes de origens alemãs, açorianos, portugueses, italianos e uma pequena parcela de índios e africanos (que eu não vi pelo caminho). 


Para se chegar a cascata é necessário entrar no centro da cidade e seguir em direção a área mais rural, margeando-se o rio, até a parte mais isolada, no meio da mata preservada e com imensos paredões de pedra visíveis à uma certa distancia. A estrada é de terra e em alguns pontos pedregosa  ficando à cerca de 30 quilômetros do centro da cidade. As informações para se chegar são desencontradas, pois não existe sinalizações e cada morador informa uma distancia diferente. O jeito é ir parando, perguntando e observando o rio sempre a esquerda, até o momento em que a estrada acaba, obrigando a  cruzar para o outro lado, numa pequena ponte sobre rio. Neste momento o rio fica à nossa direita. Anda-se mais uns dois ou três quilômetros pelas encostas do morro até chegar.


Na medida em que vai-se aproximando da cascata, a paisagem vai ficando mais selvagem, o rio mais limpo e turbulento e a estrada mais pedregosa e úmida, propiciando sem a devida atenção, do carro atolar ou derrapar sobre o barro e pedras soltas na estrada.


Em cada canto que a gente para, em contemplação à natureza é posivel se surpreender, se admirar e se encantar com a beleza de um lugar,  que nos remete a simplicidade, bucolismo e inocência de uma cidade do interior,  como esta Ponte Pênsil, escondida sobre a mata e que cruza o rio até a outro lado da margem. A ponte é feita de madeira e fios de aço, mas quando subi sobre ela começou a rangir como se a qualquer momento fosse rebentar.


Depois deste ponto, já no carro, passei por uma estrada coberta de folhas azuis, que ao chegar mais perto, pude observar se tratarem de borboletas. Elas estavam sobre a estrada úmida e quando me aproximei, alçaram voo em direção as árvores, que formavam um túnel natural sobre a rústica estrada vazia.


Mais adiante, onde o carro já não podia mais subir, à cerca de uns 100 metros de distancia, a Cascata da Pedra Branca, esculpida pela natureza, saltava de uma altura de 110 metros por entre os paredões rochosos de uma pedra com manchas branca e que possivelmente seja esta a razão de seu nome. Estas pedras também se espalhavam por todo o leito do rio turbulento.


Sua visualização é algo fora do comum e de muita beleza, talvez por isto, eu tenha sentido um certo receio de me aproximar de sua base, onde forma uma piscina de aguas revoltas, que eu desconheço a profundidade e não arriscaria tomar banho. Mas mesmo não entrando na piscina, se chega muito perto da cascata, que salpica todo o nosso corpo, com água  e a sua volta, forma-se uma especie de nevoa muito fina e gelada.


O deslumbre por sua beleza é tão grande, que não dá  vontade de ir embora, mas apenas ficar ali, olhando e ouvindo o ruído de sua força, raspando os paredões de pedra e transformando-se num rio selvagem e turbulento que desce montanha abaixo formando  os braços do Rio Três Forquilhas que deságua na Lagoa Itapéva e dos Quadros ao lado da BR-101. A mata ao redor é coberta por um tipo de samambaia gigantesca que cresce nas partes mais altas da beira da estrada e que eu acredito ser encontrada somente neste lugar de muita umidade.



De lá, fiz o caminho de volta retornando à Rota do Sol no sentido a cidade de Tainhas, cruzando por novos túneis e viadutos cujo a altura é de tirar o fôlego e onde se tem uma visão privilegiada  da serra, inacreditavelmente bela.


Ainda na estrada, pode-se encontrar alguns estabelecimentos e quiosques que vendem produtos coloniais, como pães, biscoitos, queijos, mel, rapaduras, doces, licores, salames, etc., alem de restaurantes e estabelecimentos que oferecem cafés coloniais. Cheguei em São Francisco de Paula já à noite, com a intensão de retornar para casa pelo município de Taquara, via RS 020.


Bem, todo o passeio foi compensador e de muita beleza, mas o ponto alto, sem sombra de dúvidas, foi a Cascata da Pedra Branca, que um dia pretendo fazer outra visita, pela impressionante sensação de liberdade, imponência e misticidade que me causou.
 

Até o próximo passeio!

Fruta azeda

Na adolescência, quando eu  fazia algo de errado, sentia uma espécie de arrepio que me doía o canto da boca, algo parecido com a sensação de comer uma fruta muito azeda onde a língua ficava áspera e um gosto desagradável se espalhava por toda a boca...
Um dia ouvi meu pai dizer que só aceitaria dentro da sua casa, pessoas com cigarros na boca, se pudessem sustentar o seu próprio vicio. A palavra "sustentar", tinha pra mim um peso muito grande, um peso que elevava qualquer pessoa à uma categoria de poder e liberdade, de ser dono de seu próprio nariz. Então passei a fumar escondido dele com alguns amigos de rua, sentindo este arrepio desconfortavel. Depois veio o vicio, o primeiro trabalho com a falsa sensação de "sustentar-se", mas a liberdade de fato, ainda estou atrás.
Meu pai nunca foi, nem poderia ser referencia positiva para ninguém; Era analfabeto, alcoolatra, ausente, incapaz de manifestar qualquer tipo de carinho aos filhos e na maioria das vezes apresentava  atitudes de desvio de carácter, herdado de sua educação cheia de preconceitos, traumas e desafetos. Um dia eu jurei pra mim mesmo, nem de perto, ser parecido com ele, embora eu seguisse caminhos que buscassem a sua aprovação.

Pequenos algozes

Aos onze e dez anos de idade, eu me minha irmã, éramos as crianças mais cruéis da rua onde morávamos. Atraíamos a atenção de alguns amiguinhos da vizinhança para o nosso pátio e torturávamos somente para sentir prazer. Claro que pegávamos os mais franzinos e inocentes que aceitavam nossos convites para brincar, curiosos com a nossa mentira de um brinquedo novo.  
Levávamos a vitima para o fundo do pátio, vendávamos seus olhos, amarrávamos seus pés e braços nas goiabeiras e daí iniciávamos as seções compostas de puxões de cabelos, beliscões, formigas nos pés, comer frutos podres caídos das árvores e banhos de agua fria. 
Inventávamos uma história qualquer que só nos sabíamos e então motivávamos as torturas fazendo perguntas insistentes que a vitima evidentemente não saberia responder. Quando a soltávamos, alertávamos que se falassem alguma coisa para alguém, da próxima vez seria pior, muito pior!
Um dia minha irmã veio com a história de que poderíamos ser presos se fossemos descobertos e achava que deveríamos parar de vez.  Então por medo, deixamos nossos dias de criminalidade de lado. Na verdade não tínhamos nenhum conhecimento ou orientação moral sobre este tipo de violência e seus malefícios, embora soubéssemos que estávamos fazendo algo errado e que poderíamos ser punidos por isto.

LAGRIMA SOLITÁRIA.


Lágrima solitária é aquela que escorre do olho, sem que se  saiba o motivo pela qual está escorrendo, por que faz parte de mecanismos autônomos, do qual  não se tem nenhum controle sobre eles.
É como se nossas próprias entranhas estivessem chorando por nós, em soluços incontroláveis e nos emprestando uma profunda e amarga tristeza.
Depois que tudo passa e ficamos mais aliviados, basta apenas fingir que nos emocionamos com qualquer coisa tão boba que nem lembramos o que é ou alguma cena da novela das nove;  Depois se anseia-se pelo próximo capitulo.

Pra declarar minha saudade

Agora pela manhã, recebi no celular uma mensagem que me dizia: 
_Vem jantar aqui hoje à noite, não me abandonem... O amor não é suficiente para ficar sem amigos! _Confirma!..
Confesso que fiquei angustiado com o convite e com nós querendo sair da garganta, quando deveria ficar lisonjeado e feliz, mas os sentimentos por vezes, são tão tortuosos e estranhos dentro da gente, que confundem a nossa razão, nas atitudes mais simples e delicadas; Acho realmente importante a companhia de amigos, então confirmei. 
Existem outros nós de tristeza a me sufocar desde o inicio do mês, que não tenho encontrado uma forma de desata-los e transforma-los em pétalas. Ah!.., e esse novo toque musical no meu celular com Maria Rita cantando: "Pra declarar minha saudade", me põe ainda mais sensibilizado, quando ouço!

Indiferença

Hoje o dia foi daqueles, que não fazia nenhuma diferença se me oferecessem banana verde com pão d'agua, ou um enfeitado prato de salmão com alcaparras e vinho tinto; tudo me parecia tão igual e sem novidades.  E é incrível  como os dias se tornam mais longos nestes momentos em que os pensamentos parecem estar  tão longe (e livre), mas também não se fixam em coisa alguma.
O que eu lembro ao final do plantão, foi de um colega dizer para sua chefe ao ser cobrado por algo que não fez ou esqueceu de fazer:  _Mas se eu der tudo de mim, ficarei sem nada!..

Num corredor de supermercado.

Enquanto isto, agora à tarde no corredor do supermercado, fui abordado por uma senhora com uma garrafa de vodka na mão, me perguntando se a bebida era muito forte. Eu meio perdido com  a pergunta inesperada, disse  que achava que sim, mas...que; e ela sem me dar fôlego e  percebendo minha dificuldade em dar uma resposta objetiva, já foi complementando uma nova observação e uma nova pergunta em cima, fazendo comparações com a cachaça e a bebida em sua mão. Dali, esticou a conversa para falar sobre sua vida pessoal e a do seu companheiro para quem estava levando a bebida e que segundo ela se transformou numa outra pessoa depois que a conheceu num baile da terceira idade a seis anos atrás.
Ficamos conversando por mais de  quinze minutos sobre a sua vida, seu companheiro e filhos adultos, que num corredor apertado de supermercado, parecia uma eternidade de uma avenida engarrafada na hora do hach em que todos pareciam ter pressa. Na verdade eu a ouvia mais do que falava e me preocupava por estar obstruindo o fluxo das outras pessoas no corredor, o que ela não parecia  nem um pouco estar preocupada. Ela tinha os cabelos num tom avermelhado, estatura baixa, gordinha e do tipo que prendia as pessoas com sua simpatia e prosas pessoais, sem parecer inconveniente. Eu acredito que ficaríamos por horas conversando, se não fosse o local inadequado, com pessoas a todo o instante, pedindo com licença. Depois, antes de se despedir, desculpou-se  por ter tomado meu tempo e finalizou dizendo que eu era uma pessoa que lhe passava uma sensação de bondade e credibilidade, por isto teve vontade de parar para conversar.

Uma questão de gerenciamento

A U.P.A- Unidade de Pronto Atendimento na Lomba do Pinheiro, responsável por inúmeros atendimentos de emergência da região, passou por um longo período de reformas que por vezes  colocavam em risco a eficácia de seu funcionamento, em função da demora da obra que restringia  o espaço disponível para o atendimento dos pacientes. As equipes de saúde, também se queixavam da  falta de funcionários no seu quadro de serviços. Mas outra questão de importância  a ser abordada, é o  espaço inadequado para as ambulâncias do SAMU que não conseguem estacionar, durante o fluxo de chegada e saída de pacientes que necessitam serem atendidos ou removidos. O espaço alem de pequeno, serve como estacionamento para veículos particulares que ocupam e obstruem toda a área. Muitas vezes a ambulância é estacionada longe da entrada do posto e alguns pacientes precisam ser  transportados sobre as macas em terreno pouco seguro e desviando de carros e buracos. Em dias chuvosos, a situação se torna ainda mais complexa e constrangedora, uma vez que os pacientes são molhados pela chuva, ate serem levados para as dependências do posto ou para o interior das ambulâncias. Acho que esta ultima questão esbarra muito mais num problema de gerenciamento do que na disponibilidade de uma área física disponível. Inúmeras vezes foi colocado para as chefias imediatas do posto, sobre as dificuldades e riscos de se trafegar com pacientes no local, sem que fossem tomada as devidas providencias. Ontem, diante desta repetida situação, resolvi fotografar o local e postar  aqui no blog.

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TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...