Guarana & Musica


Existe uma frase que diz: Antes só do que mal acompanhado. Felizmente não tenho tido más companhias nos últimos meses, todas são selecionadas e muito agradáveis, mas hoje resolvi -me por uma diferente. Eu, um copo de guaraná na beira da cama e Andreas Vollenweider- White Winds no compacto de som.

Shakespeare?

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. Você aprende que amar não significa apoiar-se e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas.

William Shakespeare.

COMO DIZ LEILA DINIZ.



Acordei as dez horas da manhã, com o sol batendo em minha janela, depois fui caminhar pelas calçadas, na praça a poucos metros de minha casa, observando o movimento das arvores, sentindo o vento forte e frio congelar meu rosto. Engraçado, mas enquanto caminhava, sentia que esta cena, já havia acontecido antes comigo, a muito tempo a traz. Apesar de estar bem abrigado, com calça grossa e casacos de lã, o frio conseguia ultrapassar todas as camadas de roupas e me atingir os ossos. Num determinado momento, durante minha caminhada, fui transportado mentalmente para outro lugar, outro período de minha vida onde lembrei da cena que parecia se repetir.
Era 14 de Julho de1972, quando saia para rua numa manhã como a de hoje e ouvi no rádio de pilhas de um amigo a noticia da queda de um avião na Índia sem sobreviventes. Entre as vitimas, uma brasileira conhecida, a atriz Leila Diniz. Isto já faz quase 36 anos e eu na época tinha apenas 14 anos. Lembro-me de ter ficado estarrecido com a noticia e ter chorado o resto da manhã. Pra mim era impossível não lembrar daquela mulher alegre, bonita e despojada e que foi fotografada grávida, de biquíni numa praia do Rio de Janeiro. A mulher que quando aparecia na tv, minha mãe trocava de canal, por ser muito desbocada. Quando retornei para minha casa, depois do passeio, sentei-me na frente do computador e resolvi saber mais sobre sua vida. Revitalizar lembranças que as vezes ficam meio apagadas pelo tempo. Pensei também que no dia que soube de sua morte ventava forte e fazia sol, como hoje.
Leila formou-se em magistério e foi ser professora do jardim de infância no subúrbio carioca. Aos dezessete anos de idade, conheceu o seu primeiro amor, o cineasta Domingos de Oliveira e casou-se com ele. O relacionamento durou apenas três anos. Foi nesse momento que surgiu a oportunidade de trabalhar como atriz. Primeiro estreou no teatro e logo depois passou a trabalhar na TV Globo, do Rio, fazendo telenovelas. Mais tarde, casou-se com o moçambicano e diretor de cinema Ruy Guerra, com quem teve uma filha, Janaína.
Participou de catorze filmes, doze telenovelas e muitas peças teatrais. Ganhou na Austrália o premio de melhor atriz com o filme Mãos Vazias
Leila Diniz quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o Brasil, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquíni na praia, e chocou o país inteiro ao proferir a frase: Transo de manhã, de tarde e de noite. Ganhou o título de A grávida do ano no programa do Chacrinha.
Era uma mulher à frente de seu tempo, ousada e que detestava convenções. Foi invejada e criticada pela sociedade machista das décadas de 1960 e 1970. Era malvista pela direita opressora, diva amada pela esquerda ultra-radical e tida como vulgar pelas mulheres da época.
Além de ser jovem e bonita, Leila era uma mulher de atitude. Falava de sua vida pessoal sem nenhum tipo de vergonha ou constrangimento. Concedeu diversas entrevistas marcantes à imprensa, mas a que causou um grande furor no país foi a entrevista que deu ao jornal O Pasquim em 1969. Nessa entrevista, ela, a cada trecho, falava palavrões que eram substituídos por asteriscos, e ainda disse: Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo.
O exemplar mais vendido do jornal foi justamente esse onde houve a publicação da entrevista da atriz fluminense. E foi também depois dessa publicação que foi instaurada a censura prévia à imprensa, mais conhecida como Decreto Leila Diniz. Perseguida pelo polícia política. Alegando razões morais, a TV Globo, do Rio de Janeiro, não renova o contrato de atriz. Leila ficou escondida no sítio do colega de trabalho e apresentador Flávio Cavalcanti, se tornando jurada do seu programa, no momento em que é acusada de ter ajudado militantes de esquerda.
Meses depois, Leila reabilita o teatro de revista, e começa uma curta e bem sucedida carreira de vedete. Estrelando a peça Tem banana na banda, improvisando a partir dos textos escritos por Millôr Fernandes, Luiz Carlos Maciel, José Wilker e Oduvaldo Viana Filho. Recebe de Virgínia Lane o título de Rainha das Vedetes. No carnaval de 1971, é eleita Rainha da Banda de Ipanema por Albino Pinheiro e seus companheiros.
Morreu num acidente aéreo, da Japan Airlines, no dia 14 de julho de 1972, aos 27 anos, no auge da fama, quando voltava de uma viagem feita para a Austrália.
Sua amiga, a atriz Marieta Severo e o compositor e cantor Chico Buarque de Hollanda cuidaram da filha de Leila Diniz e Ruy Guerra, durante muito tempo; até o pai da criança ter condições de assumir a filha, Janaína.
Um primo e advogado se dirigiu a Nova Délhi, na Índia, local do desastre, para tratar dos restos mortais da atriz. Acabou encontrando um diário onde continha diversas anotações e uma última frase, que provavelmente estava se referindo ao acidente: "Está acontecendo alguma coisa muito es...."
Leila Diniz, A Mulher de Ipanema, defensora do amor livre e do prazer sexual é sempre lembrada como símbolo da revolução feminina , que rompeu conceitos e tabus por meio de suas idéias e atitudes.
Você é livre? Perguntas bobas são sempre as mais perigosas, portanto pense um pouco antes de responder...

Inverno, lareira, fondue..



Agora à noite, ventania quase derrubando janelas. Frio e chuva em luta cruzada, torcendo persianas, fazendo doer os ossos dos pés, das mãos que digitam no teclado. Isto tudo é uma delicia para quem tem um teto, uma cama quente. Lembrei desses dias de inverno, em que reunia a familia e alguns amigos em volta da lareira para o papo informal acompanhados de vinho tinto e fondue de carne.

Era casa era jardim...
Noites e um bandolim...
Os olhares nas varandas
E um cheiro de jasmim...

Era um telhado um pombal
Melodia e madrigal
E ninguém nem percebia
Que o real e a fantasia
Se separam no final...

G. Azevedo

Dorian Gray

Ontem vi o Mauro entrar em sua casa, embora ele não tivesse me visto. Passos lentos, cabeça baixa, tórax curvado, olhar fixado no chão como se ignorasse, tudo a sua volta. Difícil acreditar que aquele homem velho, eu conhecia de outros tempos. Pequenos traços ainda lembrava a beleza de sua juventude, porem só quem o conheceu para saber do que falo. Lembro-me também de sentir inveja de sua elegância, sua fartura de charme, sua beleza inegável, sua facilidade com as mulheres. Pensei então que trinta anos se passaram em nossas vidas, distanciando nossa amizade e alterando seus traços, suas formas. Os anos passaram cronológicamente igual para todos e sem dó, inclusive para mim, Mauro, e talvez Dorian Gray.

Recantos de Paris/ Praga & Restinga


No final da tarde, ja quase noite, desceu uma neblina em alguns pontos da cidade que eu parecia estar em um outro lugar, outro pais. Lembrei -me daqueles filmes europeus e de época que tanto gosto de assistir em que as cenas abusam de paisagens simples e bucólicas. De repente, entrei numa ruela que parecia uma vila no interior de Paris, ou quem sabe Praga! As árvores, algumas sem folhas, pareciam pintura à óleo. As luzes dos postes, enfileiradas, lembravam arranjos de natal. Carros andando de vagar, sem pressa, pessoas encolhidas ajeitando o cachecol, o casaco, a toca de lã.
Algumas pessoas não gostam do inverno, preferem o verão por acha-lo triste. Mas eu acredito que este período de frio tem algo de resgate de emoções, de auto analise. De vinho, de chocolate quente, de sexo de baixo das cobertas, de revelações pessoais, moletons coloridos. Artifícios para manter nosso corpo e alma aquecidos.

pensamento solto...

Hoje mais uma noite que promete ser fria. Lembrei que estarei sozinho neste apartamento sem perspectiva do que fazer. Estou sem vinho, sem uísque, resfriado, de nariz congestionado, dor de cabeça, sem paladar e talvez sem vontade de fazer amor. Será que se pode fazer amor de nariz entupido e com aquela coriza irritante e nojenta escorrendo até a boca?
O dia foi infernal. Filas em bancos, cheques devolvidos, respostas evasivas, Fechadura do carro com defeito novamente, orçamentos sem retorno. Amanhã, mais um dia de trabalho, talvez tudo mude para melhor.




Eu e a Brisa

Ontem, como estava muito frio deitei-me cedo. Nada de interessante para assistir na tv, procurei algum livro para rabiscar com os olhos e liguei o radio na sala para fazer-me companhia, ja que meu filho do meu lado, na cama, dormia como um justo. Então começou a tocar uma musica, do qual sempre fui apaixonado pela beleza da letra e delicadeza de seus acordes. Fechei o livro que estava lendo e deixei envolver-me pelo clima.
Pensei que Johnny Alf quando a compôs deveria estar apaixonado. Nada mais explica as palavras de pura sensibilidade e poesia desta composição. Na verdade também pensei que não precisa-se ter alguém para se estar apaixonado, para criar e declamar tamanha poesia. Acho que dormi com o livro nas mãos e o rádio ligado!
EU E A BRISA

Ah! se a juventude que esta brisa canta 
Ficasse aqui comigo mais um pouco 
Eu poderia esquecer a dor de ser tão só 
Pra ser um sonho 
E aí então quem sabe alguém chegasse 
Buscando um sonho em forma de desejo 
Felicidade então pra nós seria 
E depois que a tarde nos trouxesse a lua 
Se o amor chegasse eu não resistiria 
E a madrugada acalentaria nossa paz 
Fica, oh! brisa fica 
Pois talvez quem sabe 
O inesperado faça uma surpresa 
E traga alguém que queira te escutar 
E junto a mim, queira ficar, 
Queira ficar, queira ficar.






Assim caminha a humanidade

Num dia destes fui tão mal recebido por uma profissional médica de um hospital de Porto Alegre que se eu não tivesse imbuído na minha responsabilidade profissional, teria abandonado o paciente ali mesmo na sala de emergência e fugido pela porta de incêndio. Era um paciente acamado e que sentia muita dor abdominal. Mesmo claro, para todos que ali estavam presentes a sua situação de enfermidade, a médica me perguntou se ele poderia aguardar consulta no corredor.

Respondi que não, pois ele sentia muita dor. Então com ar de pouco caso respondeu-me que para nós do SAMU, tudo era muito grave e mesmo sabendo dos problemas de superlotação dos hospitais nós insistíamos em jogar pacientes lá dentro. Depois se virou para o familiar que acompanhava-nos e concluiu com arrogância: -Viu como está isto aqui?... Depois quando morrem a culpa é nossa!

Esta cena dramática é que me faz pensar na situação caótica, que vive nossos serviços de saúde. Com suas salas de emergência, sempre lotadas e com profissionais pouco preparados como esta. Senti-me extremamente desconfortável por fazer parte do mesmo sistema.

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TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...