Foi no final da visita a Casa do Tomate, na Estrada Linha Palmeiro- Caminhos de Pedra, que eu já dentro do carro com minhas amigas, percebi os dois homens no meio do mato, a o lado de uma casa branca, limando pedras, uma por sinal gigantesca espalhando poeira cinza no ar. Imediatamente parei o veiculo, dei marcha-ré e da janela gritei; _O que vocês estão fazendo aí, posso ver?.. Então surgiu um homem baixinho com cara de poucos amigos e desconfiado, se dizendo escultor de pedras já há muitos anos e nossa primeira impressão foi péssima, impessoal.
Uma das amigas que me acompanhava, empolgada com as varias esculturas espalhadas desorganizadamente pelo patio sem cercas perguntou-lhe; _Desde quando o senhor se descobriu um artista? E ele mais que depressa, numa expressão que não escondia irritabilidade com a pergunta, respondeu: _Não, eu não sou artista, artistas são aqueles caras que trabalham em Brasilia, eu sou escultor e já nasci com este dom.
Neste momento eu e minha outra amiga trocamos disfarçadamente nossos olhares, para não sermos percebidos na nossa cumplicidade e que possivelmente dividia a mesma ideia; _Mas que cara mais antipático!
Minutos depois como se quisesse desfazer o clima pesado que havia se instalado entre todos nós, se apresentou, Bez Batti e disse ter estudado com Vasco Prado, convidando-nos a entrar em seu ateliê e apresentar seus trabalhos em basalto, num salão branco onde expunha suas peças iluminadas pelos raios de sol que entravam pelas janelas.
Eram diversas esculturas em tamanhos, cores e formas, insinuando rostos, mascaras, corpos, traços e formas esteticamente bem trabalhadas na pedra polida e identificadas por nossos mais íntimos sentimentos. Formas que habitualmente não convivem no nosso dia a dia consciente, mas que interiormente sentimos estarem presentes de alguma maneira nas nossas vidas, quer em sonhos, fantasias ou delírios humanos, criando assim alguma intimidade que são despertadas ao serem materializadas.
Nos interessamos por alguns trabalhos do qual perguntamos o preço, e que o artista nos informou estar fixado de baixo das esculturas. Achei estranho o lugar onde ele escolheu fixar os valores, tornando pouco acessível e incomodo para as pessoas interessadas em compra-las, uma vez que teriam como nós, manipular as peças, muitas delas pesadas e assim retirando-as do lugar, planejadamente escolhido. Depois começo a falar mal dos museus de Porto Alegre que não incentivam o trabalho dos artistas gaúchos e da pobreza do acervo do MARGS, comparado a o do MASP do São Paulo, o que até pode ser uma verdade, porem expressando com certo rancor e deselegância.
No final fiquei pensando na importância de nos afinarmos não somente com os trabalhos criados pelo artista, mas também com o próprio criador, sub entendendo-se que uma coisa é fruto da outra e que quando rola impessoalidade, grosserias, nada mais é possível rolar além do simples reconhecimento da importância de sua obra.
Quando fomos embora, uma de minhas amigas ainda tentou contemporizar; _Ah, os artistas são assim, mesmo!.. O que eu particularmente discordo de que todos assim sejam.